Capítulo 12 - A Revelação
Aviso de gatilho : Uso de drogas e violência
Para quem estava desesperado por drogas, os subúrbios de Tertullian era agradáveis e cheios de oportunidades. O que Cosmo disse teve um efeito contrário em Leonis e agora ele procurava ansiosamente pela Simulakronos e Simulastral. A garoa típica deixou aqueles subúrbios mais frio e agora ele não só tremia de ansieadade, mas como também de frio. Tentando identificar onde ele estava, o loiro parou e esfregou as duas mãos em busca do calor dado pela fricção. Ele gemeu de dor e levou uma das mãos na cabeça, a realidade pareceu tremer, e sentindo-se observado, ele olhou para trás para ver a sombra do espectro de Silas. Espere por mim, disse Leonis apenas para si mesmo.
Tateando os tijolos úmidos de chuva para se apoiar, Leonis finalmente avistou a entrada antiga do metrô de Tertullian que estava toda pichada. Apesar dos passos calmos de Leonis, a antiga Mestra Vibennis que estava apressada para um café da tarde acabou chocando seu corpo contra o de Leonis. O capuz que ela usava para ocultar sua face foi para trás, e mesmo naquelas condições, em pouco tempo o loiro reconheceu Destinia.
— Vibennis? — Perguntou Leonis com uma das sobrancelhas erguidas.
— Ah não....De tantas pessoas que isso poderia acontecer....Leonis Sitientem. — A ruiva pareceu decepcionada. Não demorou para que ela notasse o estado do soldado. — Parece que você viu um fantasma.
— Tsc..... — Ele resolveu não responder. — Ouvi dizer que você veio realmente para Tertullian, mas não imaginava que você veio se enfiar nesse tipo de lugar.
— Eu não me enfiei. — Destinia disse entredentes. Odeia ter que conversar com esse homem. — Por eu ter desistido do cargo de Mestra eu fui rejeitada pela família do meu pai, e como você sabe bem, a única Vibennis viva além de mim é a Saga.— Ou seja, mesmo que sua tia esteja viva, para ela dado a relação complicada entre as duas, tudo que Destinia sente é que agora está sozinha no mundo.
— Você....Você agora usa drogas? — Perguntou Leonis receoso, mas ele não pode segurar a curiosidade.
— Ah...Que pergunta inconveniente, mas já que me encontrou aqui, eu não posso simplesmente negar, você não iria acreditar em mim. Eu fumo erva às vezes, faço chá...Depende do meu humor, mas não é algo que faço tanta questão no dia-a-dia.
— O que você chama isso? De causalidade?
— Pode ser. E nem considero a erva uma droga. Ela também é sintética, mas já vi venderem as ervas de verdade. — Dizer que fuma às vezes é uma coisa, agora dizer que as vende para Destinia é outra. — E você?
— Nunca... — Os dois se encararam. — Destinia.... — O loiro não desviou o olhar, ele parecia estar ainda aflito com uma possível reação. — Aqui vende Simulakronos e Simulastral?
A pergunta pegou Destinia despreparada. Ela olhou confusa para o soldado e sustentou aquele olhar por alguns segundos. A ruiva conhece bem aquela droga, mas nunca ousou experimentar ou sequer imagina os efeitos assombrosos.
— Você quer....Misturar as duas? Seu louco.
— Diga o que quiser. — Disse Leonis de maneira arrogante. — Mas preciso das duas para reviver algumas coisas que não estão claras para mim. Não me importa o preço disso.
— Pois deveria se importar. A junção do pior dos dois mundos, verdades são reveladas que ficaram perdidas no subconsciente. Porém, tudo isso é uma ilusão.
— Eu não me importo! Eu preciso disso, eu nunca ficarei em paz. — De repente, o loiro pegou os ombros de Destinia. — Eu preciso correr esse risco, mesmo que o passado não possa ser mudado.
Os dois se encaram por alguns segundos. Destinia parecia assustada por dois fatores, a força de Leonis e pelo tormento dele. Particularmente se tem algo que ela quer fugir com certeza é o passado e de seus fantasmas, buscá-los parecia uma loucura masoquista.
— O que você acha? — Destinia tomou forças para se livrar das mãos de Leonis. Estranhamente não conseguiu ficar enfurecida com ele. — Esse metrô é praticamente um mercado, e quem procura, acha. Mas isso que você quer, Sitientem, seria melhor não achar.
Os dois sustentaram o olhar tenso por mais alguns segundos.Os olhos castanhos de Leonis se moveram lentamente para a entrada.Então era verdade, ali dentro ele poderia achar tanto que queria, e isso lhe deu um arrepio que começou na nuca e desceu para o corpo inteiro.
— É isso? Então eu vou. — Disse finalmente Leonis passando pela ruiva.
— Sitientem! — Ele parou o passo e Destinia fechou os olhos frustrada. Ela poderia deixar ele sem dizer mais nada, mas sua consciência não permite. — Não faça isso, você vai se arrepender.
O loiro respirou fundo e começou a andar com um semblante confuso. Pelo que ele se lembra bem, ele não tratou Destinia tão bem na primeira vez que a viu, e sente que a mesma não lhe deve nada, nem mesmo consideração mesmo que seja por ser uma boa pessoa. Nesse momento, o próprio Leonis se sente indigno de muita coisa, por isso não vai exigir nenhuma boa vontade de ninguém.
Dentro do metrô o ar se tornou abafado e doce, em alguns túneis o ar ficava com um cheiro forte do que o soldado não soube identificar, pois, nunca havia fumado erva em sua vida. No caminho ele passou por várias pessoas que estavam em brisas calmas, outras estavam em um estado frenético. Conforme ele se adentrava, Leonis ouvia tudo ao mesmo tempo, conversas, risadas, gritos e cantoria.
Ele havia chegado na pior parte do metro, onde corpos de pelo menos nove pessoas estavam no chão, seus olhos estavam revirados e de segundo a segundo os corpos se mexiam brevemente como se sofressem um choque. Nenhum deles estavam mortos, isso era efeito da junção da Simulakronos e Simulastral. No final do túnel sem saída, e abaixo da única luz amarelada dali, ainda piscando, estava o vendedor com um manto. Toda aparência daquele homem se resumia a um manto roxo escuro. Apenas o queixo e a boca pálida podiam ser vistos. Do lado dele tinha o corpo de uma mulher nos efeitos das duas drogas. A mão do vendedor estava sob a cabeça dela dando ''tapinhas'' de conforto.
— Um cachorro da Monarquia, não? Leonis Sitientem... — A voz do vendedor era grave.
— Você me conhece? — Perguntou o loiro com receio se aproximando lentamente.
— Em quatro anos é possível conhecer qualquer soldado da Duo Corvus.
— Eu que—
— Eu sei o que você quer. — O homem interrompeu Leonis. — Ora...Não é difícil imaginar o que alguém quer por aqui. Você quer a verdade das suas memórias, assim como eles... — A mão que tocava a cabeça daquela mulher se levantou rapidamente para fazer menção às outras pessoas. — Mentes desesperadas não pelo vício, mas pela verdade que se esconde entre os caminhos distorcidos de um cérebro. É isso... — O homem concordou com a cabeça.
— Qual o preço? Você tem as duas, não? Kronos e Astral.
— Claro que tenho, o preço é sempre dois. Aquele que você me paga, e aquele que vai pagar para si mesmo. Me dê uma boa quantidade de dinheiro e você leva as duas.
Encarando o homem, Leonis tirou do bolso um bolo de dinheiro. O vendedor estendeu a mão para pegar a quantia, e de forma automática seu rosto foi erguido minimamente, assim Leonis viu um olho azul e outro vermelho.
— Garoto cheio de vantagens de dinheiro.... — O vendedor riu baixo. — Os mais ricos são meus clientes favoritos, principalmente os que pagam de santos.
— Eu não sou um santo.
— Aqui está. — O vendedor pegou as duas pílulas, uma vermelha e outra azul de uma pequena bolsa de couro.
Sem agradecer, o loiro pegou as duas pílulas com as mãos trêmulas. Era necessário sentir aquelas duas pequenas coisas em suas mãos, eram reais, a verdade estava segura. Ele poderia usar bem ali naquele metrô e se juntar com aqueles corpos mas não lhe pareceu uma boa ideia. Nada disso era uma boa ideia.
Leonis começou a se afastar, e cada vez mais longe, o vendedor parecia um espectro no meio daquele lugar que parecia uma linha entre a vida e a morte, um lugar onde o som se misturava com gemidos de dor, gotas caindo, o eco contínuo de uma fala difícil de entender. Leonis respirou fundo e saiu correndo dali, não por medo, mas, porque mal conseguia esperar para ingerir as duas pílulas.
Quem viu Leonis indo embora foi a antiga Mestra Vibennis. Ele é louco, pensou ela consigo mesmo tendo a certeza que o loiro realmente comprou a Kronos e Astral. Ela não deveria, mas voltou para o local de trabalho com a intenção de fazer uma ligação para que algo pudesse ser feito.
— Chefe... — Destinia estava com os ombros encolhidos.
— O que foi? — O chefão estava lendo um pequeno livro.
— Posso usar o telefone secreto daqui?
— Por qual motivo? — O chefe perguntou sem deixar de tirar os olhos do livro.
— Eu não vou mentir, quero ligar para o prédio espiral avisar que um dos soldados tem Kronos e Astral.
Ambos se encararam.
— Você não aguenta a própria bondade que tem né. — O homem sorriu de lado. — Ligue, mas seja rápida.
— Certo, obrigada chefe. — A ruiva agradeceu com um sinal com a cabeça e pegou o celular.
Achar o número da administração do prédio espiral era fácil. O número foi digitado, e por um segundo Destinia hesitou ligar. Leonis....Ela pensou naquele homem, ou melhor, naquele momento marcante na Torre Tempus que lhe dá uma tremenda agonia no estômago, mas ela percebeu...Ele não tinha o mesmo olhar feroz e árduo, parecia uma pessoa assustada e perdida. A ruiva apertou o botão de ligar.
''Administração do prédio Espiral, boa noite, com quem falo?''
— O soldado de vocês, Leonis Sitientem foi visto comprando as drogas Kronos e Astral.
''Desculpe, como sabe disso, quem é você?''
— Cuidem dele.
O loiro pegou as entradas dos fundos do prédio Espiral. A subida do elevador pareceu demorar muito dessa vez. O olhar de Leonis parecia vidrado em algo, naquela cena do metrô, os olhos do vendedor que atravessaram sua mente.
Finalmente ele havia chegado no andar dos quartos, a porta foi aberta e fechada atrás de si. Leonis sentou-se na beirada da cama e pegou as duas pílulas. Ele podia ver seu reflexo naquelas drogas, e antes de colocar as duas dentro da boca de forma rápida e impulsionada seu corpo foi para trás e agora ele estava deitado olhando para o teto. No primeiro minuto ele não sentiu nada. Dois, três minutos e no quarto ele não sentia seu próprio corpo, era como se ele não estivesse ali, quase como não existisse sinal de sua própria existência. As pupilas de Leonis aumentaram muito e ele não via mais o teto do quarto como antes, pouco a pouco parecia que ele estava afundando naquela cama e o teto ficava longe. Por fim, o loiro respirou fundo sentindo que seu coração batia em um ritmo lento, porém muito forte.
Em um piscar de olhos Leonis estava deitado na cama dentro do seu quarto na Invitus, o local estava frio, acinzentado e o cheiro não era bom. Havia gotas de sangue no chão, gotas secas e outras úmidas. Sangue era praticamente a decoração da Invictus e Leonis naquela época parecia ser o maior decorador entre os meninos. Desde a sua chegada e sua reação, Sirius e seus homens já viam aquele menino loiro como uma das maiores promessas daquele projeto.
Leonis se assustou com a imagem que viu, era ele mesmo, porém como um menino tão jovem. O olhar de sua versão mais jovem parecia frio e morto, era mais um daqueles dias que eram mais cansativos do que os outros. Algo era muito claro, Leonis odiava desde sempre toda aquela violência, e no começo foi muito difícil se acostumar com aqueles desafios. Quem vê Leonis hoje em dia, um homem que parece que deseja a ação e que procura uma boa desculpa para lutar, mal imagina que ele era o primeiro a repudiar isso antes de agir, ele sabia que depois que ele aceitava a situação, nada segurava seus punhos.
''Urbain, Natalio, Eco, Cassius, Nostianus, Columbus, Elmo, Valence, Constancio, Apolo, Expedito, Balazar.''
A voz do jovem Leonis era fraca, mas o verdadeiro Leonis entendeu tudo muito bem, porque ele conhecia aqueles nomes.
— Urbain, Natalio, Eco, Cassius, Nostianus, Columbus, Elmo, Valence, Constancio, Apolo, Expedito, Balazar.....Balazar....
Aqueles nomes eram o mantra de Leonis, e o último nome, Balazar causou uma ferida em seu coração, não só aquele dia como agora, pareceu doer tanto mesmo naquela ilusão que o loiro levou a mão para onde ficava o coração. Eram os nomes dos garotos que morreram ao longo da Invictus, o último nome era dos irmãos mais velho de Silas. Nunca que Leonis iria imaginar que uma parceria começaria por ter matado o irmão de alguém, acontece que Balazar tinha uma maturidade incrível sobre a Invictus.Certamente Balazar odiava tudo aquilo, mas ele não caia nas palavras áspera de que aqueles meninos deveriam olhar um para os outros como miseráveis inimigos. ''Não fazemos isso porque odiamos os outros meninos, estamos sendo obrigados. Tenho certeza que se fosse possível, todos nós estaríamos fora disso.''
Poucos minutos depois dessa frase, a luta entre Leonis e Balazar começou. O menino não teve chance, Leonis era muito mais forte, e naquele momento em que ele ficou sob Balazar, o loiro ouviu o comando de algum superior de que ele deveria golpear seu inimigo na boca e assim Leonis fez. Em seu punho sujo de sangue, ele pode ouvir algo se quebrando a cada soco na boca, talvez fosse os dentes ou alguma parte de algum osso.
No final, o corpo de Balazar foi levantado por um dos guardas como se fosse um saco, geralmente os guardas simplesmente tiraram os corpos dali, mas dessa vez aquele menino foi servido como exemplo.
'' Quero que olhem bem.'' Disse Sirius com um semblante sério. ''É isso que acontece quando um de vocês focam em palavras e não em ações. Cuidado com o que vocês falam por aí. Nenhum de vocês estão aqui para discutir, e sim para lutar. Eu fui claro?''
''Sim Senhor!'' Os meninos responderam em conjunto.
Os meninos foram liberados para cada um ir para seus quartos, Silas, parou na frente de Leonis. Naquela época o loiro segurava muito sua personalidade, Leonis era quieto e só respondia se Sirius ou algum superior pedia. Aquele menino não era dono de si mesmo, era quase como um robô.Já Silas, era o menino famoso por ter opinião própria, assim como Balazar.
— Escute, não vou me vingar pelo que fez por Balazar, mas agora você me deve, Leonis Sitientem. — Disse Silas determinado. Como esperado, Leonis não disse nada, nem ao menos perguntou o que devia. — Estamos em cinco agora, eu e os outros meninos...Você deve saber, queremos ir embora. É isso que você me deve agora, Leonis Sitientem, a ajuda para escapar daqui. Se entendeu, faça um sim com a cabeça.
Leonis, que olhava com indiferença para o outro, demorou para concordar com a cabeça, e então passou pelo outro quase deixando escapar sua verdadeira expressão no rosto. Ainda muito tranquilamente ele entrou em seu quarto, e após ouvir a tranca, ele correu para a cama e praticamente se jogou ali. Seu choro era quieto, e ele fazia grande esforço para permanecer no silêncio. As lágrimas desciam pelo rosto de forma constante, olhos arregalados e dentes rangendo com força. Suas mãos tremiam enquanto subiam para as laterais da própria cabeça. Essa tristeza era sim de falar com o irmão mais novo de quem ele matou pessoalmente, e também...De outras coisas que ali dentro ele nunca superou.
Sempre havia uma brecha no almoço em que os meninos conversavam entre si, com o passar dos tempos os guardas ficavam menos preocupados com a conversa dos participantes da Invictus. Era o momento que Silas mandava e trocava mensagens com os meninos restantes, sempre com um grande cuidado.
Certo almoço, não resistindo ao remorso ou curiosidade, Leonis começou a mandar essas mensagens para Silas.
''Você não quer se vingar? Não está bravo? Eu matei seu irmão.''
''Balazar sabia da situação que ele estava. Todos nós sabemos. Não nos odiamos, mas é isso que eles querem.''
''Tem certeza que não me odeia?''
''Tenho.''
''Não acho que eu mereço sair daqui.''
''Merece sim, Balazar ia querer isso.''
Aquela última resposta pegou Leonis de surpresa, tanto que ele olhou abismado para Silas que confirmou com a cabeça aquelas palavras, o loiro sentiu até mesmo responsabilidade dessa escapatória, isso também era por Balazar, e por todos os outros meninos que vieram para cá contra sua vontade.
A primeira parte do plano era não causar mais mortes, por mais que os castigos fossem mais cruéis, pois os superiores sentiam que a paciência estava sendo testada. Silas saiu com um dos braços quebrados em um castigo por não conseguir matar um dos participantes, mas o olhar de pura determinação dele inspirou seus outros colegas, dando fé que ele iria seguir com o plano até o fim.
Segunda parte do plano era seguir normalmente com a rotina de exercícios, porém prestando atenção à volta deles, seja o cenário ou conversa dos guardas. Um dos meninos, Savino, percebeu que os guardas começaram a ficar muito animados para o fim de semana e que falavam muito em bebidas e mulheres dentro da Invictus.
''É nossa oportunidade, esse fim de semana, no jantar, vamos conversar.''
Essa foi uma das mensagens de Silas no almoço um dia antes. Todos os meninos restantes conseguiam sentir um novo tipo de ansiedade, não aquela ansiedade que lhes foram ensinadas a sentir por conta de alguma luta, mas, porque a ideia de uma escapatória era realmente algo novo. Com o passar dos dias, Leonis sentia que sua confiança em Silas estava evoluindo, e sua admiração também. Silas, apesar de sempre parecer na defensiva com o loiro, porque querendo ou não, a cena dele matando seu irmão era uma cicatriz em suas memórias, ele admitia para si mesmo que o loiro parecia ser o mais dedicado à causa.
Na primeira sexta-feira, eles aproveitaram a animação dos guardas para conversarem baixinho sobre o plano da próxima sexta. Silas deixou confirmado que daqui sete dias, eles iriam escapar na hora do almoço. Todos ali tinham a chance e força de abater os guardas. Sete dias se passaram, o comportamento dos meninos, apesar da ansiedade, todos eles agiram de uma forma extremamente calma e quieta, pois isso era costume da parte deles.
— Essa noite eu consegui uma garrafa muito boa para nós. — Disse o guarda mais velho.
— É mesmo? Você gosta de nos surpreender com essas bebidas, qual é dessa vez? — Já o outro guarda era muito mais novo.
— É uma bebida que tem a mistura de raízes de 56 tipos de plantas clonadas de Viride.
— Maravilha. — O mais novo bateu as palmas e as esfregou. — Mal posso esperar para hoje à noite.
A conversa sobre a grande noite continuava. Silas olhou para Leonis nessa hora, e o loiro já sabia o que fazer. Ele segurou o garfo com firmeza e pegou outro do colega ao lado. Silas se levantou e jogou a cadeira na direção dos guardas. Tudo foi muito rápido e ao mesmo tempo. Enquanto os guardas tiveram de três a cinco segundos para reagir e entender o que se passava, Leonis também se levantou e correu na direção do guarda mais velho para enfiar o garfo na garganta dele várias vezes. Uma faca seria com certeza mais útil, mas esse tipo de coisa não era oferecido aos meninos quando eles comiam.
Silas não perdeu tempo e deu uma rasteira no guarda mais novo que ficou horrorizado e triste ao ver seu colega de trabalho agonizando de joelhos enquanto o sangue esguichava na direção de Leonis manchando sua roupa. O pescoço do guarda foi quebrado por Silas que odiou fazer isso, mesmo que fosse homens que sempre o tratou mal, ele simplesmente queria deixar de apelar para a morte.
Os outros três meninos correram para abrir a porta de saída do refeitório, agora dois correram até o final do corredor.
— Vamos rápido! — Disse o mais baixo da equipe. — Antes que mais guardas dêem as caras.
— Leonis, vamos! — Disse Silas pegando no braço dele como incentivo para que ele corresse. — Eu vou à frente.
— Certo. — O loiro confirmou com a cabeça.
Silas correu arfando de ansiedade. A luz estava ali no final, quase como uma forma poética de que a tão aguardada liberdade chegou. Porém, finalmente chegando ali, a liberdade não o recebeu, e sim uma rajada de tiros. Naquele momento inacreditável para Silas, por poucos segundos o mundo lhe pareceu lento até que ele começou a sentir um calafrio ao mesmo tempo que sentia seu sangue quente que começava a escorrer daqueles pequenos buracos de tiros em sua barriga.
Não....Pensou Leonis com medo de avançar, mas ele sabia que não teria como fugir do que ele já esperava. Quando Leonis chegou, seu olhar com o Silas se encontraram e ambos estavam aflitos.
— Leonis... — O garoto se virou completamente para o loiro, ele chegou a tentar andar, mas no primeiro passo, Silas caiu no chão.
— Silas! — O jovem Leonis se ajoelhou no chão para segurar Silas.
Leonis respirava de forma acelerada, ele olhou para os outros guardas e depois para os restantes meninos que ficaram frente aos guardas.
— Vocês.... — Leonis rangeu os dentes. — Vocês mentiram! Traidores! Traidores! — Gritou Leonis rasgando as cordas vocais de ódio para depois chorar. — Silas....Não merecia isso, porque não foi eu no lugar dele?
— Le-leonis. — Disse Silas quase sem voz, ele tinha algo para dizer para o loiro, mas infelizmente sua vida chegou ao fim. Leonis sabia que Silas ainda tinha algo para dizer, mas nunca vai saber.
— Não..... — Leonis sentiu que suas mãos ficaram trêmulas.
De repente tudo ficou obscuro para Leonis e ele só via o rosto de Silas. Não entendia como isso poderia ter acontecido. Apesar da obrigatoriedade da luta, era visível que Silas não fazia aquilo por querer, e também para demonstrar a firmeza de sua negação para com o Invictus, ele se desculpava com os meninos no almoço ou jantar, e isso acontecia várias vezes. Ele era um bom garoto, e não merecia estar ali.
Os três garotos perto dos seguranças eram Eloy, Amadeus e Favian, que por mais que fossem traidores, estavam transtornados com toda a situação.
— Leonis, não tínhamos chance... — Começou a dizer Eloy. — No fundo, todos sabiam disso. Sirius disse que nos pouparia se entregassem Silas.
Isso não interessava para Leonis que estava possesso de ira e tristeza. Ele respirou lentamente e o ar dentro de seus pulmões parecia extremamente quente. Seus olhos continuavam em Silas, mas então, ao arregalar os olhos agora com um semblante neutro ele olhou para aqueles malditos e covardes.
— Não vou perdoar vocês, vão se arrepender amargamente dessa decisão. Vocês apenas adiaram suas mortes. Mal posso esperar para a próxima vez que vou ter que lutar com cada um.
Aquelas palavras serviriam como um fantasma consumidor naqueles três garotos. E Sirius ouvindo aquelas palavras decidiram fazer uma mudança nos planos da Invictus.
— Peguem os garotos, os separem. Vamos deixar assim por um bom tempo. Um cachorro faminto por anos quando encontra sua comida come com muito mais gosto.
A ordem foi dada e Leonis foi pego por um dos guardas, mas seu olhar ficou vidrado nos três traidores até onde ele pode.
Sirius foi praticamente um sádico naquela decisão. Ele deixou os meninos separados por anos até se tornassem adultos com 22 anos. O treino foi separado, mas Leonis manteve a o que chamavam de ''qualidade'' em suas lutas. O mantra dos nomes continuava em sua cabeça. Urbain, Natalio, Eco, Cassius, Nostianus, Columbus, Elmo, Valence, Constancio, Apolo, Expedito, Balazar, Silas .Cada nome era uma ferida e força para continuar. No fundo algo lhe dizia que vingança não era algo que Balazar ou Silas queria que fosse feito no nome deles, mas aí Leonis se perguntava o que ele deveria fazer então com toda aquela raiva. Não importava a dor de golpes que recebia dos homens de Sirius, dos castigos de chicotadas nas costas por ser muito rebelde, de algum braço quebrado, ele simplesmente ignorava todos os seus limites.
Os anos passaram, e o dia final havia chegado. Leonis, Eloy, Amadeus e Favian eram homens, ou melhor, máquinas de matar. Sirius conseguiu o efeito que queria, assim que Leonis viu os traidores, ele cerrou os punhos até que sua mão tremeu. Vocês adiaram suas mortes, disse ele em sua mente, mas hoje é o grande dia.
— Ouçam bem. — Era possível ouvir a voz de Sirius. — Daqui a pouco essa sala vai virar uma simulação de cenário de uma prisão abandonada. A simulação terá hologramas tocáveis, então objetos podem ser usados. Não há regras de moral aqui, e vocês sabem, apenas um terá de sobrar.
— Já sabemos quem. — Disse Leonis baixo.
As luzes apagaram, e o som típico do sistema de simulação foi escutado. Quando as luzes se acenderam, aquela sala vazio era uma cela fria, parcialmente escura, pois a lâmpada no teto piscava e também suja. O loiro viu uma garrafa de vidro no chão e a pegou para quebrar na parede. O impacto e o som dos estilhaços lhe pareceu bastante fiel com o que seria uma garrafa quebrando na realidade. Com isso, Leonis se sentiu pronto para se misturar com as sombras e tirar proveito de tudo que podia.
Andando naqueles corredores, ele percebeu que havia uma presença a mais. Não lhe importava se era Eloy, Amadeus ou Favian, para Leonis que buscava a morte dos três, encontrar qualquer um era lucro. Leonis chegou a pensar se por acaso os três iriam se juntar contra ele, mas aquela luta final era uma corrida pela sobrevivência.
O loiro se escondeu atrás de um dos pilares da prisão quando percebeu que um dos traidores estava passando e simplesmente esperou silenciosamente. Particularmente, ele odeia agir dessa maneira, Leonis sempre foi do tipo de lutador que se expõe, mas nessa situação era o melhor a se fazer.
Uma corda estava próximo à Leonis. Ele não hesitou em pegá-la, porém com cuidado para não causar tanto barulho. O loiro já sabia que dos três, Favian não era dos melhores e sabia a falha do outro, de que ele se distraía facilmente. Tanto tempo aqui e parece que o Favian não deve ter aprendido sobre o erro que ele comete, pensou Leonis consigo mesmo. Vamos ver....Ele pegou uma das pedras da prisão e jogou na direção do sujeito, e logo o mesmo ficou em alerta. É ele mesmo, Favian, concluiu Leonis já se aproximando habilidoso e silencioso como um gato.
Leonis deu um chute nas pernas de Favian e o mesmo caiu de joelhos, e sem tempo para reagir, logo sentiu a cordas passando em seu pescoço. Atrás de si ele pode sentir Leonis, mas tudo era difícil de ligar já que agora estava difícil de respirar.
— Que decepção, Favian. — Disse o loiro apertando mais a corda. — Digo, uma decepção para Sirius, eu só estou aqui para cumprir com o eu disse.
— Le...Le....Leonis. — O nome saiu baixo dos lábios de Favian.
Se o companheiro de luta pudesse falar, diria que cedo ou tarde todos morreriam, e esse momento comprova essa verdade. O corpo de Favian começou a se debater e Leonis apertou mais ainda a corda ao ponto de suas mãos ficarem vermelhas. Primeiramente, aquele que foi asfixiado desmaiou, mas isso não era o suficiente para o loiro. Com o corpo de Favian caído no chão, ele quebrou o pescoço do mesmo para garantir sua morte. Seus olhos castanhos olhavam com desprezo para Favian enquanto ele arfava. Todos esses anos pra algo tão rápido...Assim como todas as outras mortes.
A jornada continuava mesmo que suas palmas estivessem com os arranhados por culpa da corda que mesmo que fosse um holograma, foi muito útil. Por mais sem graça que isso fosse, quanto mais cedo, melhor.
Andando um pouco ele, Leonis começou a andar novamente, sempre muito atento porque ele não queria ser pego de surpresa, logo ele começou a ouvir golpes físicos sendo trocados. Eloy e Amadeus trocavam golpes pesados e ambos apresentavam roxos em sua cara, a diferença de nível entre eles de ferimento, era de Amadeus que tinha sangue escorrendo pelo canto da boca.
Leonis ergueu uma das sobrancelhas com desgosto dessa cena. Logo o loiro partiu para separar os dois, não porque ele era um bom rapaz, mas, porque Leonis não podia permitir a morte de um deles ali, quem deveria fazer isso era ele.
— Ora ora...Dois coelhos numa cajadada só. — Comentou Leonis sorrindo de lado.
— Leonis... — Amadeus limpou o sangue em sua boca. — Veio cumprir a sua vingança?
— Claro que sim, nunca me esqueci da traição de vocês.
— Como somos estúpidos. — Comentou Eloy cansado. — Deveríamos sair aqui. Nos ajudar e nos separar depois disso.
— É muito tarde para isso, e eu já não posso confiar mais em nenhum de vocês. Deveriam ter pensado nisso quando Silas teve a boa vontade.
— Você nunca vai superar isso, Leonis? — Perguntou Amadeus irritado. — Será que isso não é culpa por ter matado o irmão do seu amigo?
Aquele fato era a ferida viva de Leonis e o motivo de tudo isso. Ele mal consegue esconder o desagrado com essa fala, Amadeus vai pagar o dobro por isso, pensou Leonis.
— Eu vou lidar com você Amadeus. — Disse Leonis direcionando o olhar para Eloy. — Porque vou te dar só mais alguns minutos de vida, eu vou começar por você, Eloy.
Eloy engoliu um seco sentindo-se totalmente azarado pela escolha do outro. No fundo, ele tinha medo de Leonis, afinal ele viu de perto por muito tempo o que ele era capaz de fazer e como ele não recuava nem com superiores, não era à toa que ele era o grande favorito de Sirius.Amadeus chegou a olhar para trás para um segundo depois, começar a se afastar.
— Não! Por que eu, Leonis? — Perguntou Eloy aflito.
— Não se engane, Eloy, só vai sobrar um aqui.
Após aquela fala, eles começaram a lutar, e nesse mesmo tempo, Amadeus resolveu fugir tentando traçar um plano para derrotar Leonis enquanto ouvia o som da luta. Amadeus se afastou rapidamente, mesmo assim ele pode ouvir os gritos de desespero e dor de Eloy ecoando pela prisão falsa. Eloy não durou muito com tantos socos distribuídos em seu rosto até que deformasse.
Leonis saiu de perto daquele corpo sem vida com as mãos úmidas de sangue.
— Amadeus, vamos seu covarde! — Gritou o loiro correndo. De repente, um pequeno sorriso se rasgou em seu rosto. — Venha, eu não tenho medo de você, seu porra.
Amadeus que estava escondido nas sombras, respirou fundo frustrado consigo mesmo. Droga, não consegui pensar em nada, disse ele para si mesmo saindo de onde estava.
— É isso? Você acabou com Eloy? — Perguntou Amadeus sabendo o óbvio.
— Sim, e agora chegou a sua vez.
— Entendi... — O traidor sorriu forçadamente e olhou para baixo por alguns segundos. — Vamos fazer como nos velhos tempos?
— Se você quer assim...
Leonis tirou o casaco e depois a regata, e Amadeus fez o mesmo. As botas coturno também foram retiradas e chutadas para um canto qualquer daquele cenário falso. Isso trouxe para os dois amargas lembranças.
— Valendo objetos? — Perguntou Amadeus.
— Tanto faz. — Respondeu Leonis estralando o pescoço.
A luta começou com golpes desferidos que ambos conseguiam desviar, mas aquilo não poderia durar para sempre. Um deles eventualmente iria falhar, e o primeiro foi Leonis que recebeu um soco bem-dado na lateral do rosto. O loiro não demorou para fazer a mesma coisa. Troca de socos era o que poderia resumir a luta nesses poucos cinco segundos. No último soco que Leonis recebeu, ele acabou batendo o rosto em uma das grades da prisão, mesmo se sentindo tonto ao levar a mão para os olhos, ele não demorou a reagir correndo na direção de Amadeus. Ele não chegou tão longe para perder, talvez para ser humilhado como agora sim, mas perder não.
Amadeus caiu no chão com o impacto da corrida, mas a cabeçada dada em Leonis o conseguiu livrá-lo de algo pior, já que o loiro acabou indo para trás automaticamente por conta da dor. Enquanto Leonis se recuperava, Amadeus viu um pedaço de ferro no chão e sem pensar duas vezes o pegou.
— Até aqui...Está fácil. — Comentou Leonis se levantando, sangue escorria de seu nariz.
Com um grito, Amadeus avançou levantando o pedaço de ferro, mas Leonis desviou e deu um soco na barriga do traidor, e não contento com isso, também pegou o pedaço de ferro da mão de Amadeus para golpeá-lo com aquele mesmo pedaço na mão do portador antigo.
O grito de dor de Amadeus não foi para menos, afinal os ossos da sua mão acabaram de ser quebrados. Leonis segurou os fios de cabelo de Amadeus e o empurrou para a grade da prisão. Uma vez, duas, três, quatro e cinco vezes ele bateu o rosto de Amadeus ali. O traidor estava com o rosto cheio de sangue, e os olhos do traidor pareciam perdidos naquela luta. Leonis o soltou ofegante de ódio com um olhar perturbador sob Amadeus que não resistiu em ficar em pé.
— Não acabou ainda, você falou demais, desgraçado.
Era impossível considerar que Leonis também estava em boas condições, ele também parecia perdido e sua condição mental não era das melhores. Mesmo com dificuldade, ele pegou novamente o pedaço de ferro quase cambaleando. O loiro voltou para Amadeus e se ajoelhou para ficar sob o mesmo que nem reagiu, mas ainda estava vivo ali.
— Vou te fazer engolir essas palavras, Amadeus.
Leonis ajeitou o rosto de Amadeus e abriu sua boca inanimada. O pedaço de ferro foi erguido e a mira estava para dentro daquela boca ensanguentada.
Cosmo Adranos entrou no prédio Espiral abaixando o casaco que estava molhado, lá fora chovia e isso não era um problema em particular para ninguém que vive na cidade grande. Claro que um bom banho quente e um café lhe cairia muito bem. Passando pela recepção, uma das secretárias chamou a atenção do moreno.
— Senhor Adranos, — A secretária chamou a atenção do soldado. — o Senhor Sitientem...Ele estava com você?
— Não. Não o vejo faz muito tempo. — Respondeu Cosmo.
— Ah...Senhor Adranos, recebemos uma ligação de uma mulher que não se identificou, mas rastreamos que a ligação veio de Tertullian.A mulher disse que o Senhor Sitientem tinha posse das drogas Kronos e Astral.
— Verdade? — De repente, Cosmo focou sua atenção na secretária. — Quanto tempo faz isso?
— Faz quase vinte minutos.
— Que merda, bosta. — O moreno deixou a secretária e olhou no relógio e ativou o holograma. Os soldados da Duo Corvus tinham um chip nas costas da mão como uma identificação e também a localização.
Cosmo respirou fundo ao ver que ele estava ali no Prédio Espiral. Ele nunca pensou que uma subida de elevador demoraria tanto. As portas se abriram e Cosmo praticamente correu até o quarto de Leonis que estava destrancado. Ali estava o corpo trêmulo de Leonis sob a cama e o vômito vermelho como sangue começava a escorrer de sua boca.
O moreno levou alguns segundos para ver aquela cena, então foi assim que me viram quando usei essas drogas? Cosmo foi salvo pelos seus amigos, e só ele sabe como foi ruim se recuperar, ele havia vomitado também, não só aquele vômito ácido com sangue, mas parecia que toda sua consciência parecia ter sido expelida por alguns segundos.
— Porra Leonis, você usou mesmo essas porcarias?! Vai doer antes e depois.
Cosmo tirou o casaco, ergueu o tronco de Leonis mas não em um ângulo que ele ficasse sentado, era necessário que o rosto do loiro ficasse inclinado para baixo. A mão do moreno levantou e ele golpeou o estômago do soldado Sitientem duas vezes. Além da dor do golpe, Leonis sentiu mais ainda o ácido estomacal subindo pela garganta, e de forma automática ele se virou abruptamente, se livrando dos braços de Cosmo para vomitar e tossir por quase um minuto.
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