Capítulo 5 - A escolha de Um Perdido
Da janela do trem era possível ver a praia totalmente vazia da costa sul de Requila. A água tinha um tom acinzentado, mas ao horizonte o tom ficava azul. Quando mais se está perto de uma cidade, mais morta a natureza fica. Era uma visão melancólica, geralmente cidades costeiras carregavam um ar de agitação e alegria, mas Requila não há cores vivas, nem mesmo os famosos neons que falam e admiram tanto nas cidades maiores. Se por aí há luzes, são poucas.
Agora os olhos de Romanus foram para a tela de televisão no trem. Era o jornal local e dizia que a presença da Armada estava forte pelas ruas longe da central de Requila, causando medo nos civis. Isso não é nenhuma novidade para Romanus, ele já sabia que Rebeldes estavam por ali, e viu isso como uma chance que ele vem aguardando há muito tempo.
Quando ele saiu do trem, teve de colocar o capuz da blusa de moletom azul-escuro, estava garoando e queria chegar em sua kitnet antes que a garoa se transformasse em chuva. Não era o medo de ficar doente, pessoas da cidade já criaram imunidade para gripes ou resfriados, é muito tempo convivendo com esse tipo de clima. O que Romanus não quer é chegar encharcado em casa.
E foi no momento certo! Quando abriu a porta para entrar no prédio de sua kitnet o brilho azulado do raio foi visto e depois o barulho do trovão o fez encolher os ombros, e segundos depois a chuva começou a cair com força. Aquela kitnet não era das melhores, a luz da escadaria vivia apagando e ligando, mas era o que ele podia pagar. Ele vivia sozinho e tinha certeza de que não precisava de uma casa ou apartamento grande, mas não nega que queria um pouco mais de conforto.
Uma vez em sua kitnet, a bolsa preta foi colocada no sofá para depois tirar seu moletom. Direcionou-se para a janela fechada. A cortina era uma persiana inicialmente branca, mas como toda cor alva, depois de um tempo ela se torna acinzentada graças ao pó. A janela estava fechada, Romanus preferia dessa forma assim que decidiu querer se juntar à Armada. Decisões perigosas exigem certos cuidados, principalmente se estamos falando de chamar atenção. Ergueu uma das lâminas da persiana de alumínio para dar uma olhada nas ruas. Mesmo na chuva, é possível ver dois homens da Armada. Para ignorantes mais preocupados com suas vidas dominadas de cansaço, aqueles homens são apenas vagabundos ou loucos que preferem ficar debaixo da chuva.
Agora, se você é uma pessoa sabida que quando procura certamente acha, sabe o motivo deles estarem ali. Eles sabem que há alguém por ali querendo fazer parte da causa, Romanus deixou rastros disso pelo local porque ouviu em um bar que pessoas da Armada sabem que você quer se juntar a eles assim que você começa a frequentar lugares que eles estão presentes constantemente ou passa diversas vezes pelo símbolo da Armada nos muros. O símbolo era um sol em vermelho, para se lembrarem de que agora aquela cidade não brilha mais com o ameno raio de luz do sol. Romanus não gostava de bares, mas foi graça aquele lugar com cheiro de tabaco que ele teve uma forma de se aproximar da Armada indiretamente. Ele nem ao menos morava antes naquela kitnet, foi um sacrifício que ele teve de fazer. Dois meses atrás ele morava no centro de Requila onde tudo era mais fácil.
Tudo isso tem um motivo.
Ele era uma criança de Solaris também, com a amargura guardada no peito, esperando a chance de devolver o que fizeram. Ele pode ter sido uma das crianças que tiveram a chance de sair de Solaris antes da tragédia, mas sua família ficou lá e agora o fantasma da dúvida o persegue. Valia mesmo estar vivo com uma família que pode estar morta?
O rapaz suspirou e esfregou os olhos, esse pensamento é um veneno até para sua concentração. Amanhã sem falta ele vai se aproximar daqueles homens, e quer estar um pouco mais apresentável, a barba estava grande demais. Foi para o banheiro, no curto caminho tirou a blusa e lavou o rosto. Depois que cortou a barba parece nada mais que um jovem adulto. Ele tem 24 anos e a vida dele pode estar por um fio graças à distorção do Tempo. Os olhos são castanhos escuros, a mesma cor está em seus cabelos de fios grossos. Cortar o cabelo ele já não tem coragem, não por conta do comprimento, tem o medo de errar o corte e precisar cortar o cabelo todo. É só passar em algum cabeleireiro e isso fica resolvido. O corpo dele não é definido, isso não incomoda ele porque Romanus não pretende ficar entre os homens que lutam. A inteligência dele bastará.
O corte de cabelo foi rápido, agora Romanus estava com cada fio de cabelo aparado. Agradeceu ao cabeleireiro, deixou o dinheiro na mesa e foi embora ouvindo que ele precisava pegar o troco, mas Romanus não se importou.
O céu estava cinza, exatamente de acordo com a previsão do tempo. Em dez minutos se ele continuasse essa caminhada rápida ele chegaria até aqueles homens, mas o ronco de fome de sua barriga foi tão forte que ele parou o passo levando a mão direita ao lugar que se originava a fome. Ele acordou tão cedo essa manhã para se preparar que não tomou seu dejejum. Enfiou a mão no bolso para pegar a carteira e certificou-se da quantidade de dinheiro que tinha. Ótimo, podia comer algo salgado e o mais importante, ele poderia tomar uma xícara de café para se manter ativo.
Romanus saiu dos becos para se achar em uma rua mais movimentada. Barulho de carros que flutuam um tanto longe do chão e conversas das pessoas espantava qualquer silêncio. Havia um grupo com um rádio ligado bem animado, era um evento de dança de rua que atrapalhava a locomoção na calçada, mas ninguém do grupo se importava com os rostos que tinham um sinal de desaprovação. A roupa dos dançarinos eram jaquetas com algumas luzes neons na manga e na gola, era moda entre as pessoas descoladas.
Finalmente ele chegou à lanchonete e sentou-se perto da janela e não demorou para que o garçom chegasse para atende-lô.
― Boa tarde, Senhor, qual será seu pedido?
― Pão na chapa, e café, com duas colheres de açúcar.
― Estamos com a novidade do café cremoso, o Senhor tem interesse em experimentar?
― Ahn... ― Desviou o olhar rapidamente com uma careta. ― Claro, parece bom. Ao invés do café pode ser esse...Café cremoso.
― Irei trazê-los, Senhor.
Sozinho novamente, ele olhou para a janela. Ainda podia ver a roda de dança dali, a esperança das pessoas que querem caminhar tranquilamente pela calçada é a chuva. Não há motivos para dançar na chuva então o grupo tenta achar um lugar coberto. Esperar pela chuva passar é necessário paciência e muito tempo livre, nas cidades da linha de trem Regio, a chuva é tão normal quanto respirar.
― Eles são um grupo legal, não? ― A voz masculina quebrou os pensamentos de Romanus. Os dois se olharam e ele não pode deixar de notar, o tal homem olhava para ele tranquilo, enquanto Romanus...Bem, ele estava um tanto confuso. A confusão só aumentou quando o homem resolveu sentar-se na cadeira à sua frente.
― Eu posso te ajudar? ― Romanus perguntou em um tom duvidoso.
― Você é quem precisa de ajuda aqui, Romanus Jovan.
Ouvir o nome completo o fez sentir arrepios pelo corpo todo. Será que a Armada o achou primeiro? Achava que a sensação disso seria boa, mas foi justamente o contrário. Não achava que um deles iria se revelar assim tão tranquilamente em uma simples lanchonete.
Enquanto Romanus processava o que acabou de acontecer, o tal sujeito olhava para o grupo. Ele era mais alto que Romanus, seu rosto era severo, um rosto típico de traços pesados, mas esse homem parecia estar bem tranquilo ali. Era mais velho também e um tanto assustador graças aos músculos do braço. O cabelo era um pouco longo e enrolado, muito enrolado, e metade de seu cabelo estava amarrado em um meio coque. Já a cor do cabelo, era um castanho escuro, em lugares sem luz podia ser facilmente confundido com preto. Os olhos era cor avelã.
O café e o pão foram deixados na mesa e o mais novo não tocou nem mesmo no café, foi como se a fome tivesse sumido.
― Hm? ― O homem olhou de canto para Romanus com uma sobrancelha erguida. ― Não vai comer?
― Você... ― Romanus inclinou o corpo para frente. ― Você é da Armada? ― A pergunta foi sussurrada.
― Como é que é? Claro que não!
O tom alto da de negação chamou a atenção das pessoas da mesa de trás.
― Meu nome é Jinx, pode ser só Jin.
Em um piscar de olhos a face de Jinx assumiu seus verdadeiros traços acompanhado de um olhar severo, era a desaprovação quanto à decisão de Romanus. De repente, sentiu o rosto dele cravar em sua mente como se fosse uma imagem autoritária que o impedisse de fazer algo errado.
― Você não sabe onde está se metendo, Romanus. ― As sobrancelhas de Jinx se arquearam em preocupação. ― Você deixou claro a sua procura pela Armada.
― Como sabe disso se você não é da Armada? ― A pergunta saiu em um tom de pura frustração.
― Eu sou a pessoa que está tentando te impedir de ir para o lado errado dessa história. Nunca parou para pensar na forma que vão usar seu dom te tecnologia neurológica?
O jovem olhou chocado para Jinx, como ele sabia dessas coisas?
― Você é um miserável intrometido, é isso que você é! ― Romanus disse entredentes. ― Você não me conhece e não sabe dos meus motivos para querer isso. Não se aproxime de mim de novo. ― Abriu a carteira e bateu as notas com força na madeira da mesa, era uma forma de descontar a raiva. Um estranho acabara de ferrar com seu humor com uma abordagem tão direta.
Jinx foi deixado para trás e aquele suposto estranho observou tudo de braços cruzados com o olhar estampando a indiferença. Com isso, chegou à conclusão que Romanus não aguentaria a própria escolha.
Quanto à Romanus, este andava pela rua com passos apressados. Não lhe interessava a opinião de Jinx, ele nem era seu amigo para ter uma opinião válida. E ele sabe demais sobre que Romanus pode fazer, sentiu que foi observado como se sua vida fosse um espetáculo com um único telespectador oculto.
Ele havia chegado finalmente ao ponto dos dois homens da Armada. Sem demora ambos reconheceram Romanus e se aproximaram. Estes não eram pessoas que moram em Solaris, não havia nenhuma infecção vermelha que pudesse comprovar isso, eram apenas pessoas que acreditavam na causa da Armada assim como Romanus. A dupla parece ter a mesma idade, poderiam até serem irmãos por conta da aparência semelhante. Nenhum deles tinha cara de boa companhia.
― Ei, Manvel, esse é o interessado que te falei. ― O primeiro a falar segurava o cigarro entre seus lábios.
― Você está preparado, jovem? ― O outro perguntou analisando Romanus de seus pés até a cabeça.
― A gente parece ter a mesma idade. ― Respondeu Romanus, não da forma como aquele homem queria.
― Há! Ele pode ter razão, Hilarion. ― O homem chamado Manvel cutucou o braço de seu companheiro em provocação ― Somos todos crianças cuidando de crianças no final das contas.
― Não diga uma merda dessas, é a imagem que quer passar para ele? Que somos dois incompetentes? ― Hilarion soltou a fumaça pelo nariz como um dragão irritado. ― Vamos parar com as brincadeiras, Romanus Jovan, certo?
― Sim. ― Confirmou com a cabeça. ― Eu era um morador de Solaris.
― Tá, você não vai voltar uma vez que se juntar à causa. ― Os dois começaram a andar, Romanus os acompanhava sentindo uma decepção amarga. Ele estava se juntando à Armada não só para fazer os culpados caírem, havia um forte motivo pessoal ali. ― Sabemos que a infecção não passa para as pessoas, mas se você vai pra Solaris, em alguns dias as manchas começam a ferrar seu corpo.
― Seguinte, Romanus. ― Quem tomou o rumo da conversa foi Manvel. ― Estamos te levando à pequena base que temos aqui em Requila. É um containêr, vamos te passar algumas regras e quando tudo ficar certo, um dos ajudantes do Líder vai vir aqui só pra te dar uma benção, legal, huh? ― Manvel parecia bem entusiasmado. ― O que você faz mesmo?
― Mexo com a mente das pessoas, tecnologia neurológica.
― Sinistro, é a arte de corromper alguém. ― A expressão de Manvel foi de horror.
― Saí da faculdade, mas saí faltando um ano para me formar. Estava fazendo o curso para fazer mudanças mentais que ajudassem pessoas com casos de esquizofrenia e seus tipos variados.
― Eu não sabia que tinha vários tipos de esquizofrenia. ― Agora Manvel pareceu surpreso.
― Normal, você nunca foi muito bom na escola. Não prestava atenção em merda nenhuma. ― Comentou Hilarion.
― Cala a boquinha, Hilaron.
A conversa entre os dois era engraçada e Romanus não se proibiu de rir na presença deles. Manvel e Hilarion não eram irmãos, mas sim amigos de infância e conhecia a vergonha um do outro para tornar isso uma piada. Havia pequenas discussões entre eles, mas nada muito sério.
Finalmente no contêiner, Hilarion jogou o final do cigarro no chão e o pisoteou, era proibido fumar lá dentro porque nem todos se agradavam com o cheiro do tabaco.
― Espera... ― Manvel parou em frente à porta. ― Tem algo de errado, Hilarion.
― O que é? ― Bastou ouvir aquelas palavras para que ele retirasse a arma de seu coldre, na animação da conversa, Romanus não havia reparado que a dupla estava armada.
― A porta do contêiner, ela está com―
Com uma bolinha vermelha estranha, essa seria a fala completa de Manvel, mas a explosão jogou seu corpo para longe do contêiner e sua morte foi instantânea com queimaduras por todo seu corpo. Era uma bomba de fogo que ao explodir, fez Romanus cair no chão tonteado com um zumbido agudo em seu ouvido. Hilarion gritou, mas naquele momento nada teve som.
― Romanus, Romanus! Droga! ― Hilarion foi até o caído para ajudá-lo, teve de ignorar a dor que lhe rasgou o peito ao ver o amigo morto daquele jeito. Rangia os dentes para controlar as lágrimas.
Com a mão esquerda pegou o capuz do moletom de Romanus e começou a arrastá-lo para um lugar seguro, a mão direta segurava a pistola que já disparava tiros em uma das silhuetas que apareceram na fumaça cinza. Não eram policiais ou soldados, o ataque deles não eram executados assim. Eram pessoas normais de Requila contra a Armada.
― Vamos, Romanus, levanta!
O jovem piscou algumas vezes, o olhar estava turvo, mas Romanus retornou à consciência. Ao ver o corpo de Manvel e sua respiração se acelerou e seu rosto se empaleceu de medo. Era Manvel! O homem que estava sendo alvo de comentários maldosos de seu amigo, como foi difícil de acreditar. Levantou-se desconcentrado, mas caiu novamente porque foi empurrado por Hilarion para trás de um monte de lixo, o mesmo não tinha certeza se Romanus ficaria a salvo da troca de tiros, mas pelo menos já não estava mais na vista dos atiradores.
Entre tantos tiros, Hilarion conseguiu abater um, mas na troca de balas, foi atingido no braço que segurava a pistola. Gemeu de raiva e dor, mas logo caiu de joelhos para segurar a arma com a mão esquerda. O segundo tiro que o atingiu foi no ombro esquerdo.
― Malditos! ― Nesse grito de raiva, as lágrimas desceram finalmente de seus olhos. Outro grito, essa morte não era esperada para si ou Manvel. Nenhuma morte gloriosa lhes foi prometida. Mais três tiros no Rebelde Hilarion, agora na área estomacal. Ali não há saída, as balas entraram quentes em sua carne. Ele respirou fundo e sem força nenhuma, a mão esquerda abriu-se contra sua vontade e arma caiu e depois seu corpo. Respirou fundo olhando para Manvel.
― A gente deveria ter voltado em outra hora...Manvel. ― Estendeu o braço para tentar tocar seu amigo, mas o trabalho foi finalizado pelos atiradores. Todo o ar foi expelido dos pulmões de Hilarion como um último suspiro de vida.
― Não precisamos da sua raça aqui! ― Gritou um dos atiradores.
Romanus estava chocado, sentia que seu coração poderia explodir, era primeira vez dele de cara a cara com dois corpos mortos.
― Tem um ali atrás do lixo, é um deles também.
Nem mesmo isso Romanus foi capaz de ouvir, agora era vez dele. Recarregaram suas armas, como ele era o último, Romanus teria todo o pente das pistolas disparado em si, mas não o fizeram. O barulho do motor de um carro congelaram aqueles homens em seu lugar, se fosse a polícia eles seriam levados, mas não era o carro da polícia.
Jinx saiu de seu carro vermelho segurando uma metralhadora. Vamos ver quem lida um com outro de maneira eficiente. O mais velho olhou para os corpos de Hilarion e Manvel e suspirou pesadamente.
― Se eu fosse vocês eu não estaria mais aqui ou tentasse atirar em um homem com uma metralhadora. Vocês já lidaram com a Armada.
― E o homem atrás dos sacos de lixo? ― Um deles perguntou.
― É só um perdido na vida. ― Respondeu Jinx olhando para Romanus. ― Caiam fora, daqui a cinco minutos a polícia pode estar aqui graças ao barulho que vocês fizeram. Sejam espertos, a porcaria aqui já está feita.
Reconhecendo a situação, os quatro se retiraram suspeitos com Jinx. Ele não teria tempo para dar um bom lugar para os corpos da dupla, mas ele fechou seus olhos. Respirou fundo e se ajoelhou na frente de Romanus, este olhava para aqueles que seriam seus futuros companheiros.
― Romanus, você precisa levantar. ― Jinx não teve resposta. ― Romanus... ― Bufou e segurou o rosto dele com às duas mãos de forma bruta. ― Romanus, eu não posso agir por você, mas posso ajudar você. Eu sei que você está chocado, mas isso não é nem metade para alguém que se junta com os Rebeldes.
Romanus respirou fundo, o tom de voz de Jinx era forte, aquilo com toda certeza era uma bronca, mas agora ele não conseguia odiar Jinx por isso. Se não fosse por ele estaria com os olhos fechados assim como aqueles dois homens. Levantou-se finalmente sentindo o estômago se embrulhar. Realmente ele era um perdido na vida.
― Eu sei que não tivemos nossa primeira conversa de uma forma muito boa, mas eu vim te salvar para te fazer uma proposta. Uma proposta que não envolva tiros ou bombas de fogo. A nossa luta é outra, Romanus.
― A nossa?
― Sim. ― Jinx confirmou com a cabeça. ― Uma luta contra o problema de todas as pessoas. Vamos comigo para Pompilia, e eu te garanto que você não será mais um perdido.
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