Solaris é uma terra banhada pelo sol. Era um tanto longe do caos, do frio soturno e clima cinza da capital Dinastai. Parecia ser um paraíso atual na terra de Reminiscentia, isto porque a cidade Ataraxia estava perdida em algum lugar do reino, deixando apenas as folhas douradas da árvore Elpidia dançando pelo ar de Solaris. A tecnologia por ali era diferente, ainda tinha o charme da época onde o vapor era valorizado em lojas e casas. Outros optavam pela tecnologia da Capital, mas não era tão nocivo ao ambiente de Solaris.
Crianças correndo de alegria, risos, festas e o calor do sol um dia foram reais e lembrar-se dessa visão tão bela arde nos olhos como se fosse uma ferida que se abriu agora. Agora Solaris não é reconhecida como terra do sol, mas sim, à terra vermelha.
A usina nuclear de Solaris extraía Florubi daquela terra, uma pedra cristalina vermelha que em seu estado natural parecia uma flor de pétalas pontiagudas. Quando se junta duas Florubis é possível ouvir um barulho semelhante a uma descarga elétrica. Essa pedra carrega uma grande energia que após ser estudada foi constada que poderia ser usada para produzir energia elétrica para algumas cidades. Era uma usina que era bem vista pelas pessoas de Solaris porque o cuidado das pessoas da Usina estava beirando a perfeição, até que um dia raro de chuva chegou em Solaris.
Um raio atingiu a usina causando uma descarga tão forte que centenas de pedras se destruíram, causando assim um desastre nuclear. A explosão matou completamente os funcionários e pessoas de residências próximas. Solaris teve seu acesso proibido por conta da poeira vermelha que tomou conta da cidade que havia sobrado das Florubis. Aqueles que sobreviveram ficaram expostos à radiação da pedra. Não existe um padrão do que a radiação pode fazer fisicamente com alguém. Escleras vermelhas, manchas igualmente vermelhas é o mais comum da radiação, às vezes pode alterar até a cor de seus cabelos ou unhas. Boa parte da população sobreviveu, mas agora são vistos como portadores de pragas.
O esquecimento da Monarquia com Solaris gerou uma revolta muito grande com os ditos portadores de pragas. Faz anos que o fundador da Armada causou seus danos na Capital para ser ouvido, mas foi morto pela Corvus, ou melhor, quem ficou com a glória de defensor foi Lucius Nox, na época o General dos corvos havia recebido muitos elogios e agradecimentos pela mídia. Porém, matar um Líder não significa que é o fim.
A Armada estava apenas em sua terra natal lidando com suas feridas para atacar de novo. O primeiro Líder se foi em campo de batalha, mas todos da Armada já sabiam quem iria tomar seu lugar. A Capital tem seu herói que mais uma vez irá ter sua ascensão, Lucius Nox Albicilla, a águia da noite, e Solaris tem seu herói que o mundo há de conhecer. A aparência passada dele não mais importa. O cabelo loiro estava comprido demais para ele, e agora estava sendo cortado por uma mulher. Ele queria dar um fim naquele cabelo de uma vez por todas, mas por insistência de Ruzena, esta que está cortando o cabelo de Leander, resolveu deixar o cabelo apenas bem cortado. Estão somente os dois em uma velha sala de estar, sem candelabros ou vasos para decorar o vazio da mesa.
― Está pronto, você pode abrir os olhos agora.
Com a permissão de Ruzena, abriu os olhos castanhos que afundavam em escleras vermelhas. Ele se demostrou satisfeito com seu cabelo novo.
― Que ótimo, assim o cabelo não vai me atrapalhar. ― O vento bagunçava seu cabelo e consequentemente impedia sua visão na maioria das vezes.
― Meu amor... ― A mulher de longos cabelos compridos e negros puxou uma cadeira frente à Leander, ela tinha algumas manchas vermelhas em suas mãos. Difícil foi a aceitação da radiação em sua pele, as manchas em seu ventre são as que menos lhe incomodam por não vê-las a todo tempo. ― Está ansioso? Nossos planos vão começar logo, assim que a Duo Corvus for iniciada, o caos se colidirá.
― Você e seu tom poético, é tão lindo, Ruz.
― Estou falando sério. ― Ruzena cruzou os braços com um sorriso de quem gostou do que ouviu, mas não quer ser distraída do assunto inicial.
― Você é uma Ruzena nova, de tons avermelhados que o mundo ainda está para conhecer, terá de cavar fundo para acha-la. ― Segurou as mãos da moça, e com isso, a seriedade dela estava desfeita, não poderia mais ficar tão séria perante essas palavras que aqueceram seu coração.
Ruz, como ele gosta de chamar na maioria das vezes de forma tão dócil e afetiva, deve ter sido sua luz naquela tragédia vermelha. Leander havia se voluntariado a se juntar à Armada como um fiel soldado até sua morte, não tinha experiência em combate, mas se forçou a aprender para se tornar útil. Ruzena, por outro lado vinha com a proposta de seu próprio projeto Clona, vestes especiais que podiam copiar a aparência de alguém.
E como não havia mais formas de protestar, entregou-se ao beijo de Leander e suas volúpias. Com isso, podia entender que seu Líder não estava ansioso, nos últimos dias ouviu notícias boas de que havia mais pessoas de fora de Solaris se juntando à causa, e melhor que isso, um pequeno grupo mandado para as ruínas da casa Aravaensis na cidade abandonada de Nebula em busca dos dados Nemo que poderiam chegar a qualquer momento, Ruz só espera que não seja agora que tem a atenção do Líder toda para si.
Estava em um abraço carinhoso com Leander e sua cabeça encostava-se ao peito dele. Quando está em missão, Ruzena não parece ser a mulher carente que é perto do Líder.
― Leander, você se arrepende de não ter casado quando... ― Pressionou os lábios um contra o outro por um breve momento. ― Quando os dias eram bons. Você não queria ter filhos?
― Vendo a situação agora, está bom assim. ― Respondeu com certo pesar. Não era a dúvida de não ter tido uma vida pacata e comum, e sim a nostalgia de dias que não iram voltar. ― Parece muito cruel condenar uma criança para nascer nessa cidade, ou nesse mundo.
― Isso é muito triste de se dizer, mas me faz pensar que se a vida talvez não sentido.
― Talvez tenha, ou não tenha. Estamos trabalhando nisso, não? ― Agora o tom foi um pouco mais divertido. ― Não tive um filho, mas meu sobrinho foi o que eu mais cheguei perto de ter uma criança. Se tudo deu certo, ele foi tirado na evacuação e agora está vivo em algum lugar.
― Nem me fale dessa evacuação injusta. ― A mulher respirou fundo e sentou-se. Seus cabelos bagunçados impediam a exposição de seus seios. ― Milagres acontecessem. Boreas não ter sido infectado com o pó me provou isso.
― Boreas é um garoto forte. ― Alisou as costas de Ruzena, bem na linha de sua coluna. ― Sem nenhuma mancha da infecção ele poderia deixar Solaris sem problemas.
― Mas ele vai ficar. Vai ficar porque ele é igual o pai, vai lutar pelo que acha certo.
O bipe do celular chamou a atenção dos dois. Leander sem demora pegou o aparelho que estava em cima do criado-mudo ao lado da cama e o atendeu.
― Sim? ― Ruzena virou-se para Leander, interessada na ligação. ― Que bom que todos voltaram, mas o que eu se poderia esperar de uma terra abandonada? Imagino que o clima deve ter sido bem estranho. São boas notícias, estarei aí com Ruz em duas horas. Claro, claro, até lá. ― Leander finalizou a ligação com um sorriso.
― Daqui a duas horas, Leander? ― Perguntou com uma expressão de quem suspeitou essa decisão do Líder. ― Pra que tudo isso se nosso ponto de encontro fica há vinte minutos daqui?
― Meia hora para nos arrumarmos, meia hora até o ponto.
― E essa uma hora?
― Voltamos a fazer o que estávamos fazendo. ― O Líder disse em um tom malicioso.
― Leander você...... ― A mulher riu sem graça. ― Não tem jeito mesmo.
― Você gosta.
Diferente das roupas usadas na Capital que se aproveitava sobretudos, capas e ponches, em Solaris o clima abafado convidava aos residentes dali usarem roupas com tecidos mais leves e que deixam pelo menos os braços à exposta. Leander e Ruzena gostavam de combinar seus trajes por acharem divertido, a decisão de hoje foram peças em tons de roxo. Ruz está com um vestido roxo longo e seu querido Leander com uma calça roxa escuro, apenas sua regata é preta.
No ponto de encontro que era o Museu de Solaris, um lugar que além de fotos do que aquela cidade era, tinha um espaço para armas muito antigas que estão sendo renovadas e personalizadas para o uso de combate.
Um homem muito alto e musculoso estava à espera de seu Líder. Cornelio tinha um cabelo loiro acastanhado um tanto desarrumado e isso era piada entre amigos, seu bom humor o levava a fazer piadas consigo mesmo. Seu olho esquerdo era a única infecção em seu rosto, a esclera estava totalmente vermelha.
― Leander! ― Cornelio saudou Leander com um abraço apertado.
― Bom te ver de novo com vida, Cornelio. ― Disse com sinceridade, pois Cornelio parece não reconhecer limites quando o caso é arriscar sua vida.
― A missão foi tranquila, acho que me fez bem ir para um lugar tão antigo.
― Ninguém de Katharsi te viu? ― Perguntou Ruzena.
― Não. ― Ele negou com a cabeça. ― É como se Nebula fosse toda nossa. E também, não há motivos para ter uma patrulha de Katharsi pelas costas, não vimos nenhum robô deles.
― É o ódio por aquela terra. ― Leander comentou. ― E os dados?
― Claro.... ― Cornelio sorriu e pegou uma caixa e colocou sobre a mesa. Abriu com muito cuidado e certa lentidão.
E quando foi aberta, revelou uma outra caixa, eram de tamanho médio e prateado. No centro havia uma septagrama cinza, símbolo da família já não mais existente de nome Astra. Os dados Nemo é uma tecnologia muito antiga, mas não quer dizer que não pode ser usado. A caixa não se abre facilmente nem com o uso da força.
Leander pegou a caixa Astra para analisá-la em suas mãos.
― Acabamos de dar um passo grande. Mesmo assim, estamos longe do objetivo. ― O Líder continuou a olhar a caixa de forma pensativa, seu dedo polegar esfregou levemente a septagrama.
― Talvez não. ― Disse Cornelio. ― Agora precisamos de uma pessoa para ser o corpo dos dados Nemo. Eu tenho um palpite. ― Ruzena e Leander encararam o homem. ― Ravena.
― A Conselheira nova? ― Indagou Ruzena incrédula. ― Mas Cornelio, chegar perto para trazê-la para nós será complicado.
O Líder deixou a caixa Astra em seu devido lugar e andou pela sala de reunião até chegar à sua mesa particular. Em cima da mesa estava uma arma com estética antiga com algumas modificações. Era uma foice de lâmina bronzeada, impossível não ficar intrigado ao ver que a foice não está mais curva como deveria ser. Quase perto da ponta da lâmina há uma saída circular relativamente grande, e atrás dessa saída há uma pequena caixa onde se coloca balas.
A foice foi pega com firmeza por Leander. Ele se virou para seus dois companheiros com um semblante sério e com seu queixo um pouco erguido.
― Estamos acostumados com tudo que é complicado. ― O Líder segurou o cabo da foice com mais força. ― Se planejarmos bem, conseguiremos Ravena e iremos ter nossa Nemo. Cornelio, você disse que um rapaz que sabe manejar a tecnologia da corrupção estava interessado em se juntar a nós. Mande alguém para Requila e me traga o garoto.
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