Capítulo 28 - Nuncii Vermelha

     Os dezessete Corvos — contando com Lucius Nox — estava dentro da aeronave de metal escuro em direção à Nuncii. Alguns membros da Corvus estavam em outras cidades e a ordem direta do General era de que eles permanecessem no lugar caso outro ataque acontecesse, Lucius ainda não descartava ataques feitos ao mesmo tempo, para piorar a situação. Caso fosse necessário esforços, estes que estavam longe seriam chamados.

    Seria ótimo atacar o prédio por cima e por baixo no intuito de deixar os Rebeldes sem uma saída tão óbvia, porém Lucius tem em mente algo que Ravena não precisou lhe lembrar, os homens importantes que estão sendo feitos de refém.

— A cabeça desses filhos da puta deveriam ser explodidas de vez, é culpa deles brincarem com fogo. — A voz de Lucius parecia estar carregada de repúdio, fazendo com que Leonis e Falco olhassem um para o outro um tanto surpreso, pensam que seu General está o tempo todo do lado da Monarquia. — O que foi? É o que eu penso.

— Ainda assim estou chocado. Acho que quem deveria ter mais ódio desses caras é o Leoleo. — Comentou Falco descaradamente.

— Já disse que não é para me chamar assim, e por que eu deveria ter raiva? Eu não lembro de quase nada do dia da Usina, e também, estou do lado do Rei e pronto. — Respondeu o loiro.

— Já colocaram os trajes de vocês? Daqui a oito minutos chegaremos em Nuncii e se vocês caírem lá embaixo e se estraçalharem não terei a quem culpar a não ser vocês mesmos. — O aviso de Lucius veio em tom de mau-humor.

— Estou com as botas antigravidade, eu só não testei nada antes. — Disse Falco tentado parecer engraçado.

    O traje de combate da Duo Corvus ainda mantinha sua elegância. A camiseta roxa escura era social com um cinto bem na cintura. A calça era um pouco solta, mas a partir do tornozelo a calça se colava ao corpo por conta das botas antigravidade. As luvas ficavam bem firmes nas palmas e o tecido parecia ser áspero. Por fim, a capa era prata com o símbolo da Duo Corvus sendo que a recomendação era que ela fosse usada da forma tradicional para deixar seu torso à mostra. As roupas de Lucius eram as mesmas, mas era completamente prata e com várias condecorações no peito. Os tecidos eram grossos por conta da barreira à prova de balas e golpes que precisam estar carregadas a cada nova missão. Por ser algo que se carrega, essas roupas podem ter certas falhas, mas a proposta é que elas aguentem o máximo possível de qualquer coisa que lhes dê dano.

    Leonis se levantou para ajeitar sua capa e pela janela da aeronave pode ver vários pontos vermelhos de fogo em Nuncii. Pensou que na Armada a falta de comunicação deve causar muitos problemas. Suspirou massageando com o dedo indicador a têmpora direta só de pensar que terá de ser cuidadoso nessa situação. Sabe que se um refém morrer eles não vão perder uma pessoa, perderá uma pessoa de peso e importância para o ciclo social do Rei Thales, este que diz lamentar seriamente a situação de Solaris e que não pode fazer nada se a Armada não se render.

    E também, existe outro ponto, um muito mais importante para a DuoCo do que salvar homens que por debaixo dos panos são corruptos e egoístas, salvar as ovelhas negras da Armada....Da própria Armada. Isso parece mais como uma missão de resgate do que com uma missão de verdade, pensou Leonis consigo mesmo demostrando estar aborrecido. Parece que a chance de demostrar o que aprendeu nunca chega.

— Chegaremos em um minuto, então quero todos preparados.

    A voz prepotente do General fez com que todos se levantassem e pegassem seus armamentos pessoais. Lucius apertou o botão para que a porta da aeronave fosse aberta ao mesmo tempo que ela diminuía sua velocidade. Na vez de Falco, o próximo era Leonis e este estava atrás de seu amigo.

— Boa sorte com a queda, vê se cai direitinho lá em baixo? Ouviu? — A ironia de Falco enojava seu amigo Leonis.

    O tom ridículo de mãe preocupada de Falco fez com que Leonis o empurrasse para a queda livre deixando no ar o estranho grito de Falco.

— Não deveria ter feito isso, ele pode cair em uma posição errada. — Disse Lucius.

— Ele ainda pode cair direitinho. — O sorriso de Leonis era travesso. — Te vejo lá em baixo.

    O loiro pulou da aeronave com o corpo flexionado para baixo, uma vez que chegou nas alturas dos prédios ele deixou seu corpo reto e o dispositivo antigravidade foi ativado automaticamente. Seus pés atingiram o chão suavemente feito uma pluma, logo que estava no chão a pistola com munição de pura energia foi segurada com firmeza. Falco não demorou a aparecer detrás de Leonis depois que conseguiu dar um jeito de ter uma queda segura, mas pode-se dizer que ele está com certa expressão de enjoo.

— Não faz essa cara, eu tenho certeza de que foi divertido.

— O caralho que foi! — Falco gritou de volta e logo levou a palma para a boca como se impedisse si si mesmo de vomitar.

— Não me lembrava de você ter um estômago fraco.

— E não tenho. — Confirmou respirando fundo e pegando seu par de espadas de metal esverdeado e lâmina vermelha, era a primeira vez que Leonis estava vendo uma linha de espadas feitas para pesarem o menos possível, garantindo assim ao portador movimentos rápidos e certeiros. — O ruim é que os alvos precisam ser destabilizados e só, então se segura, Leonis.

— Digo o mesmo para você, vamos fazer uma rota alternativa?

— Sem problemas, mas vamos primeiro fazer uma limpa pelos arredores para nada nos atrapalhar lá em cima.

    No andar superior do prédio, ou melhor, no décimo sétimo andar, o que agora de chamavam de Ovelha Negra observava o movimento da cidade com um semblante sério e inabalável diante à situação. Notus Liuz era um jovem de 27 anos com uma fúria enorme presa ao seu coração. Tinha se juntado à Armada sendo levado por seu espírito de justiceiro extremamente radical, o que lhe falta é paciência, não acha que toda essa luta deveria levar tanto tempo quase como se fosse uma burocracia. Quer fazer um grande golpe, este que fará a Monarquia saber de vez por todas com quem está lidando.

— Notus, Cinder 02 está se aproximando, é o segundo movimento de aeronave detectado. — Disse a moça olhando as informações de seu tablet, seus olhos refletiam o brilho azul da tela.

— O primeiro movimento foi da Corvus, não? Aqui está prestes a virar um campo de guerra.

— Você é um idiota. Todos vocês são idiotas, tenho vergonha de estar vivo aqui com vocês....

    A voz cansada do dono do prédio e o mais influente dos reféns foi acompanhada de uma risada. Ainda sentia o gosto de sangue em sua boca por conta dos socos que recebeu de Notus. Os outros quatro homens estavam de cabeça baixa temendo o que apenas um olhar poderia lhes causar. Nardo Abandiades era cinco anos mais velho que Liuz e foi quem mais o provocou. É um jovem chefe que ainda não conquistou o respeito de seu cargo herdado já que seu pai morreu ano passado.

    Liuz suspirou e sacou o revólver de seu coldre. Era um revólver de design antigo da época em que o vapor era o que fazia o mundo que ele conhece funcionar. Não adiantaria eficiência em uma batalha agitada, mas agora perto de Nardo e com o cano do revólver encostado em sua testa suada iria ser o suficiente por enquanto. O olhar dos dois homens para o outro era de total desprezo.

— Você não tem manchas, não é de Solaris, então por que você se juntou a eles? — Perguntou Nardo ignorando o revólver.

— Eles queriam mais pessoas, estas que se viam na causa.

— Tudo que vocês querem fazer é porra de uma bagunça, não vai mudar nad

      Antes que terminasse sua fala, Notus segurou o jovem dono pelos cabelos e colocou o cano do revólver dentro da boca do mesmo de forma bruta, quase fazendo que alguns dentes se quebrassem no rápido e ameaçador processo.

— Agora me diz, com essa droga de cano dentro dessa sua bocona se alguma coisa pacífica adiantou no passado. Quanto mais pacífico, melhor para vocês controlarem, porém, a mensagem que trago aqui é da ação ou da morte.

    O som do tiro assustou os demais reféns, entre alguns ali, os olhos foram fechados com força porque a escuridão era uma forma para fugir do sangue, ainda assim, um ou dois se mancharam com o sangue daquele que não veriam mais. Os respingos de sangue estava no rosto de Notus, foi limpo com as costas de sua mão que ainda segurava o revólver como se fosse um mero objeto que não poderia matar, nas mãos dele parecia algo inofensivo. O choro baixo daqueles homens temendo a morte não comoveu Notus, acha que quem morava em Solaris chorou muito mais que eles. A moça que estava ali presente segurou sua reação perante a cena grotesca. Em um movimento sutil ela levou a mão direta sob os lábios como se proibisse de vomitar. Seus olhos arderam de lágrimas, mas não era de tristeza, era de esforço para manter sua compostura.

    Notus andou lentamente para a mesa onde estava a maleta de armas, apertou o botão e ela se abriu sozinha expondo algumas granadas que poderia servir para mais tarde, mas o que ele queria estava no centro, a automática que foi recarregada sem pressa, e com isso feito, ele respirou fundo sentindo a estranha responsabilidade e consequências de seus atos. O som seguidos dos tiros que ecoaram pelo prédio anunciando a morte daqueles homens passou novamente a mensagem que Notus passou sem dizer uma palavra sequer.

    E com isso, não demorou para que Lucius entrasse em contato.

''Os reféns foram executados, eu repito, os reféns foram executados no décimo sétimo andar. E para piorar.....Os Rebeldes estão aqui.''

— Ouviu essa merda? — Disse Falco olhando para seu companheiro. Os dois estavam subindo pela parede do prédio. — Tudo caiu de vez, Leonis, o cara lá em cima teve mesmo a coragem de meter bala em todos os reféns.

— A sorte dele é que não podemos matar ele, tenho certeza que Lucius pediria isso, o pior de tudo é que agora teremos de defendê-lo dos amiguinhos.

    O barulho da eletricidade se desligando fez com que os dois Corvos olhassem para cima. Não eram as luzes do prédio de Nuncii, era fina barreira que manipulava a gravidade que acabara de ser desligada. Sentiu algo invisível o empurrar para baixo, antes os corpos de Leonis e Falco pareciam estar leves, mas eles já tinham noção de isso poderia acontecer. Ainda assim, tiveram se segurar do melhor jeito que podiam entre as janelas. Soltando-se com a mão direita, Leonis pegou sua pistola e atirou na janela. Assim que pistola voltou para seu lugar de origem, fez o esforço para impulsionar o corpo para cima mesmo sentindo alguns cacos de vidro entrar em suas mãos. O soldado tirou alguns cacos e empurrou com o pé aqueles que estavam no chão.

— Falco. — O loiro se agachou na entrada da janela. — Eu te pego, vamos.

O amigo de infância estava um pouco longe janela, conseguiria se levantar sozinho, mas fazer isso com a ajuda de Leonis foi mais fácil.

— Não precisava. — Falco disse um tanto constrangido enquanto arrumava seu uniforme.

— Ah, você precisava sim.

— Faz alguma coisa com a sua mão, vai lutar desse jeito?

— Ah, isso, não tem importância. — O loiro deu de ombros chacoalhou a mão para tirar o pó do vidro quebrado, o costume daquela ferida não era de seu treino na Invictus, era algo muito mais profundo e pessoal.

    O barulho de gritos, o som do aço de espadas e tiros era uma sinfonia de terror dentro do prédio, mas para dois homens acostumados isso não passava de um incómodo simples pela sonoridade que poderia atrapalhar a troca de uma ou duas palavras. No caminho eles encontravam algumas ovelhas negras, em combate distante ou próximo, os ataques não eram mortais propositalmente. Para Falco essa ordem não lhe causava nenhum problema, mas Leonis não deixa de expressar certo descontentamento com isso, por um momento, quase que ele mata uma das ovelhas ou talvez um Rebelde se Falco não estivesse ali para impedi-lo. A esse ponto ele realmente não sabia mais com quem estava lidando, tirando as situações de quando conseguia ver manchas vermelhas no corpo de alguém.

— Ter você como parceiro nessas horas é realmente uma droga, Leonis. — Resmungou Falco enquanto recarregava sua pistola. — Não sou sua babá para ficar te controlando.

— Se você mesmo diz que não é minha babá porque você insiste em agir feito uma? — Retrucou o loiro. — Cuide dos seus alvos e me faça o favor de não se intrometer nos meus senão acabo te acertando também.

   Leonis tem sempre algo a dizer, e se não continuou sua fala foi justamente o desvio de atenção ao reconhecer a voz de Regina por ali perto, até mesmo sua expressão de dureza mudou para surpresa.

— Fomos avisados de que a Rainha estaria aqui? — A pergunta de Leonis soou realmente duvidosa e suspeita.

— O quê? — Falco também não estava entendo a suposta presença de Regina.

    Os dois seguiram a voz estranha de Regina, tinha algo pesado em sua voz, a malícia que antes Leonis reconhecia como puramente sexual agora era na vibração da maldade. E lá estava ela em uma das salas totalmente revirada. A roupa de Regina era de combate, era um tipo de macacão vermelho e branco, ela também usava uma capa branca e todo o tecido de sua roupa tinha o sistema de defesa das roupas dos Corvos. A espada de Regina era de tamanho médio de ferro escuro com uma única linha vermelha no meio da espada que brilhava. Fumaça saia da espada como se fosse uma mensagem secreta de que o ferro estava quente, na verdade, era justamente aquela linha vermelha que fornecia o calor para a espada.

    Certamente Regina não estava sozinha, assim como havia ordenado antes de ir para Nuncii, Ligia estava ali também com roupas de proteção e apenas com uma pistola. Estava com o semblante desconfortável porque nunca teve um treinamento para ser colocada nesse tipo de situação e agora está ali porque foi arrastada por sua Rainha.

— Minha Rainha — Chamou Leonis. — não deveria estar aqui.

    Falco ergueu a mão direta para entrar em contado com Lucius, mas ao ver a Rainha levantando a espada em sua direção logo desistiu.

— Não ouse entrar em contato com o General, Falco. — A mulher soou séria para depois surgir um sorriso em seus lábios. — Isso não tem nada a ver com ele.

— O que está fazendo aqui? — Perguntou Leonis.

— Coisas minhas, coisas minhas.... — Repetiu secamente.

— E você fez tudo isso? — O soldado fez um sinal para as mesas reviradas.

— A bagunça não é minha. — Regina abaixou sua espada. — Garotos....Não acham que este ambiente combinam com vocês? — A pergunta dela não precisava de resposta. — É tão grande que achei uma surpresa termos dado de cara, mas não se preocupem, eu tive que matar alguns deles, mas vai sobrar mais do que o suficiente para o General.

— O Rei sabe que está aqui? — Continuou Leonis a perguntar.

— Esqueceu de que ele não se importa comigo?

    A mulher passou pelos dois sendo seguida por Ligia. Leonis e Regina se olharam nos olhos, ele sentia algo de errado emanando dela, mas ainda não sabia distinguir o que poderia ser, só parecia ser.....Familiar.

— Boa caçada garotos, lembrem-se de honrar o compromisso de vocês como Corvos, e nada de falar que estou aqui, Falco, se fizer isso, eu vou saber.

   As duas mulheres desaparecem do ponto de vista de Falco e Leonis, e uma vez sozinhos, não sabiam como agir ou falar. Leonis olhou para os corpos mortos e suspirou, sabe que Regina tem experiências com armas, mas isso ainda não a faria capaz de fazer o estrago que fez.

— Aviso para Lucius?

— Não. — O loiro respondeu sem demora. — Ela disse que saberia se você fizesse isso, e dessa vez algo me diz que ela não está mentido. Vamos subir para o andar dos tiros e acabar com isso, o líder das Ovelhas ainda é nossa maior chance de saber o que queremos. 

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