Capítulo 22 - A Nova Situação
Os olhos de Ravena estavam quase escondidos por conta das pálpebras que pesavam, nas reuniões do Conselho do Rei na Morada a loira costumava prestar bastante interesse e atenção e falava nas horas certas, mas agora parece quieta como uma pessoa que está em luto. Parecia cansada, do tipo que ela poderia ouvir a pergunta se estava doente ou algo parecido, mas seus companheiros Conselheiros se fingiram de cegos, algo que fazem sempre que podem. Sabendo desse estranho estado de Ravena, o chefe dos Conselheiros, Benedetto Renate fez até mesmo um rápido e discreto sinal com sua mão para os outros a deixassem em paz por mais que o assunto fosse interessante para Ravena. Isso resultaria em um pequeno problema com Rei Thales mais tarde, ou com sorte, o Rei entenderia o estado de Ravena. Era justamente Benedetto que pegava todas as informações da reunião e as passava para seu Rei.
Nero não se importava de encarar Ravena em alguns momentos onde esperava uma resposta, senão pelo menos uma pequena reação, mas não teve absolutamente nada, e isso era um incomodo para ele. Não acha que isso seja apenas uma noite em claro ou que mal dormida. Talvez pergunte mais tarde o que se passa com a outra.
Quando a reunião se encerrou, as únicas pessoas que ficaram na sala foram Ravena e Saga, diferente dos outros, a antiga Mestra Vibennis ignorou friamente Ravena, mas não é como se tivesse se fingido de cega como fez os outros, nada passa por Saga, ela presta atenção nos mínimos detalhes e pequenos movimentos, assim como uma cobra faria, mas Ravena não era sua presa, apesar que a abordagem de Saga parece sempre ser ofensiva.
— Ravena. — O nome da Conselheira foi dito de forma breve e seca. Saga não se esforçou nem para olhá-la, sua cabeça continuava reta, era como se Ravena fosse uma sombra. — Sua conduta hoje não foi das melhores, preciso te lembrar que você é uma Conselheira?
O olhar lilás de Ravena se ergueu e carregava uma irritação mortal por ouvir a voz de Saga, a loira também não fez questão de fixá-la e se não disse nada até agora é porque está mantendo a língua atrás dos dentes. Sabe que dizer que seu estranho cansaço não adiantará de nada para Saga que não aceita desculpas. A própria Ravena não sabia explicar seu cansaço, sentia-se sugada de energia e essa noite ela dormiu, com certeza dormiu.
Algumas palavras estavam lhe rasgando a garganta, como se uma voz interior estava a impulsionando a ir contra Saga, como se ela própria fosse uma Rebelde fraca pronta para chutar o altar que deixava Saga tão superior, aquela mulher era uma lenda viva, porque mesmo com todas as polêmicas que a cercam, existia uma admiração praticamente masoquista apresentada à Saga. Como se pode admirar uma mulher que parecia ter um abismo no lugar de seu coração?
— Não me lembro de ter ouvido sua voz opinando também, Conselheira Vibennis. Ao invés de se importar comigo, deveria ter dado sua opinião quando deveria, se hoje não falei nada é porque não tive nada a dizer, e se for preciso que eu encare Vossa Majestade que assim seja. Agora... — A loira se levantou com as duas mãos apoiadas na mesa, e finalmente olhou diretamente para Saga com olhos afiados para ela, na mesma capacidade venenosa que a antiga Mestra sabia fazer. — A forma em que você falou comigo é realmente desagradável, porque acho que a Senhora acaba de falar comigo como se eu fosse a sua sobrinha que abandonou na Torre Tempus.
O silêncio de Saga foi mortal, agora quem se levantou foi ela em um movimento lento. Estava pronta para acabar com a jovem Conselheira, todas suas palavras estavam pesadas e destruidoras, assim colocaria Ravena em seu lugar porque para Saga agora não importa se ela está em seu nível por ser uma Conselheira, não.....Ravena nunca vai estar em seu nível. Existiam tantas verdades a serem ditas, mas Saga não devia nada para a outra, e o que admitiu apenas para si mesma foi que Ravena também falou uma verdade, não há desculpas ou algo para se defender por abandonar a criança de sua irmã. E também...
Após respirar fundo e pesadamente foi em direção à porta, e antes de sair de uma vez disse:
— É melhor procurar alguma ajuda, Patronis, quando está esgotada você fica terrivelmente abusada.
Assim que Ravena ficou com sua própria companhia, sentiu seu espírito de afronta ser invadido com uma tristeza que estava adormecida. Precisou sentar-se novamente para chorar, tampou o rosto com as duas mãos abafando assim o som da sua lamúria. Às vezes arrumava o cabelo para trás e voltava a tampar seu rosto novamente, senão, limpava suas lágrimas. Precisou respirar fundo várias vezes para tentar se acalmar. Como pude falar assim com Saga? Sentiu a vergonha a corroendo por inteira. Após engolir um seco se levantou para finalmente ir em silêncio até a saída da Morada Real, não queria conversar com ninguém e se alguém se aproximasse, seria no mínimo educada e breve. Cansada ou não, ela ainda tinha que trabalhar e tentaria conversar com o Conselheiro Renate antes que ele se apresente para o Rei.
Parecia que hoje era um dia dedicado à reuniões, após ter uma conversa particular com Benedetto, a Conselheira Patronis foi imediatamente para o prédio espiral e no caminho mandou uma mensagem para Lucius para que ele preparasse os integrantes da Duo Corvus para uma reunião, e se fosse possível, que Icarus estivesse presente, porém a resposta foi logo recebida dizendo que o financiador não estava por lá hoje. ''De qualquer jeito a reunião acontecerá com Senhor Icarus ou sem ele.'', essa foi a resposta imediata de Ravena que parecia estar ficando mais ativa aos poucos.
Ao entrar na sala de reuniões todos se levantaram em respeito à Líder da Duo Corvus, a mesma coisa aconteceu quando Lucius entrou.
— Tenho atualizações importantes sobre a situação com a Armada. — Disse Ravena em seu caminho para a mesa acima do pequeno palco, ela fez um sinal para que todos se sentassem e por último, sentou-se também. — Parece que temos um justiceiro agindo por aí, e o Conselho Renate não acha que isso seja uma imagem boa para a Duo Corvus, isso pode gerar a dúvida das pessoas e o pior, a dúvida de nossos apoiadores. Eu gostaria e muito que o Senhor Icarus Corvus estivesse conosco nessa reunião porque ele é o nosso melhor e principal fornecedor. Querendo ou não, uma pessoa que paga o que precisamos é mais importante do que eu aqui dentro, então precisamos prezar nossa imagem porque isso também atinge o Senhor Icarus. Porém.... — O silêncio de Ravena foi breve. — Creio nosso justiceiro deve ser um oportunista, porque a verdade não é como se ele estivesse nos atrapalhando....Ou exatamente nos ajudando.
— Mesmo que ele seja um fora da lei? Sabemos que essa pessoa nem deveria estar fazendo isso em primeiro lugar. — Lucius expressou seu ponto de vista em um tom neutro.
— O que acha sobre isso, General? O que faria? — Perguntou Ravena direcionando o olhar para o mais velho.
— Não acho que ser oportunista seja uma má ideia, para ser sincero. Acontece que não podemos abusar disso justamente por conta da nossa imagem e dos fornecedores, com isso, até a imagem de Vossa Majestade possa ser julgada como impotente. Vamos seguir as dicas desse tal justiceiro.
— Então o mais óbvio é mandar uma investigação atrás dele ou dela também, assim mostra que estamos contra ele. Temos uma mensagem da pessoa também, existe uma movimentação de Rebeldes em Tempus. — A Conselheira pegou um pequeno controle e a diminuiu as luzes da sala, e apertando em seu dispositivo com um arrastar do dedo indicador na tela para frente, o mapa de Tempus apareceu junto com mais seis telas holográficas com gravações da cidade. — Já sabíamos que existiam certos pontos com da Armada em Tempus, mas desde o incidente na Torre o movimento aumentou, não só perto da Torre, mas também aqui. — No mapa, o zoom foi exatamente em uma das casas, e todas as telas com gravações passaram a ser imagens de Destinia andando pelas ruas. — A casa nova da Mestra da Torre, Destinia Vibennis.
Até ali, o presente soldado Sitientem estava julgando a situação como normal, apesar desta grande oportunidade com o justiceiro, ouvir o nome da Mestra da Torre o fez levantar a cabeça um pouco mais em sinal de interesse.
— Descobrimos que Temple Emira fez uma visita à Destinia na noite da festa na Morada Real, que inclusive, sei que o Conselheiro Erimon havia convidado a Mestra. Vamos questionar a Mestra Vibennis por isso e também quero uma estratégia traçada para Tempus, eles estão de olho em Salvavit para pegar a tecnologia de proteção de naves, sabemos que eles possuem uma de nossas naves e sabemos o poder de estrago. General — A loira se levantou olhando para o ruivo. — deixarei a estratégia em suas mãos e eu irei atrás do nosso justiceiro.
Lucius apenas fez um sim com a cabeça e suspirou quando Ravena lhe deu as costas para sair, já se foram os dias que ele foi a grande autoridade do lugar, sente-se quase desvalorizado como um General. Fechou os olhos demostrando estar pensativo por poucos segundos e assim que ouviu a porta abrindo e fechando-se para Ravena sair, ele abriu os olhos um pouco desanimado, mas com isso, olhou diretamente para Leonis que sorriu de lado para o General e deu de ombros.
— Muito bem. — Lucius tomou o controle da situação. — Vamos nos dividir em dois grupos, um em Tempus e outro em Salvavit. Tempus parece ser apenas uma distração por conta da Mestra Vibennis, se a Armada conseguir a tecnologia de proteção teremos problemas irritantes, dois soldados que vão ficar em Salvavit farão o papel de espiões. Eu sei que dois é pouco, mas quanto menos soldados da Duo Corvus, menos suspeitas.
— Posso ficar com o caso da Destinia? — Se manifestou Leonis sem pedir licença para falar, o General apenas bufou dizendo para si mesmo que Leonis não aprende nada mesmo.
— Qual seu interesse?
O soldado Sitientem sentiu olhos curiosos para si, além de ouvir comentários baixos de que cansou de levar foras de Ravena e está partindo para Destinia. Claro que o caso não era esse por mais atraente que Destinia fosse, quem se importa com a beleza dela? A mulher que ele realmente queria o tratava apenas como amigo e ele não faz ideia de como vai mudar isso.
— Já estive em contato com ela na Torre, ela vai se lembrar de mim com toda certeza.
— Então você vai odiar o que vou lhe dizer Leonis. — Lucius fez uma pequena pausa. — Mas se você fosse o Senhor Erimon, no qual também tem o interesse de resolver o roubo da Torre, seria bem mais apropriado.
— Apropriado para um Conselheiro que flerta com qualquer mulher? General, o Conselheiro vai fugir do nosso objetivo, deixe que com Destinia eu lido.
Lucius respirou fundo sem deixar de fitar Leonis.
— Então vá para Tempus agora mesmo, antes que eu mude de ideia. Você fala sobre o comportamento do Conselheiro, mas não é como se eu não te conhecesse, Sitientem. — O conhece como um irmão mais novo ou quem sabe, o filho que nunca ousará ter. — Você tem um pavio curto, Sitientem, e estresse é o que a Mestra não precisa nesse momento.
Isso é verdade e Leonis não pode discordar, os ensinamentos de um interrogatório ensinado nas fases finais ad Invictus não eram suaves. Primeiro o interrogatório era feito com um holograma de uma pessoa com um perfil antigo de criminosos, mas depois, o holograma foi trocada por pessoas de verdade. Gritos de dor, de misericórdia ecoavam na Invictus, é nessas horas que Leonis sentia-se longe do que é ser humano, porém......Nenhum dos interrogatórios era com uma mulher, e ele não acha que tem coragem suficiente para agredir uma. No final das contas, talvez Leonis seja a melhor pessoa para dar uma visita à Destinia.
— Sabemos disso. — O loiro concordou com a cabeça e se levantou. — Mas deixando seus avisos de lado, eu posso ir para Tempus?
— Vá, Leonis, e me traga boas notícias.
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