Capítulo 20 - Apenas entre Nós

Após o último e inesperado encontro, a mente de Ravena caiu em tormentos que de horas em horas voltava a lhe assombrar. Parecia estar tão distante nos últimos sete dias que era impossível não responder estar bem sendo que não estava. Não dizia a verdade porque não sabia se podia confiar nas pessoas para conversar sobre isso. Na verdade, ela tinha, Leonis era seu amigo desde sempre e não consegue ver o loiro a julgando tão mal pelo aconteceu, bastava um lugar mais privado e um pouco de coragem para se abrir um pouco.

   Ela sentiu um alívio ao ser avisada que Leonis estava esperando que a porta de sua sala fosse aberta, uma vez que ele estivesse ali dentro não poderia mais fugir do que gostaria de falar. A porta foi aberta e se fechou automaticamente assim que Leonis entrou.

― Me chamou, Ravena? Quer que eu faça algo?

― Chamei, ahn.... ― Ela respirou fundo. ― Não é uma missão. Sente-se. ― O Soldado puxou a cadeira em frente a mesa de Ravena para sentar-se. ― Queria conversar.

― Ah, não, eu fiz algo de errado? O quê? Lucius já veio falar alguma merda sobre mim? ― Estava acostumada com a falta de papas na língua de Leonis, mas Ravena ficou um pouco surpresa dessa vez.

― Não, Leonis, você não fez nada de errado, espero eu.

― Hm, foi mal. Pode falar. ― Ele coçou o pescoço demostrando estar um pouco constrangido. ― Do que você quer conversar? É o que vem te deixando tão estranha ultimamente?

― Você me conhece tão bem. ― Ela sorriu de lado. ― Você é a única pessoa que posso contar sobre isso. ― Ravena exibiu a sinceridade em seu olhar, deixando ainda mais forte a confiança entre eles. O soldado até inclinou seu tronco para frente mostrando certo interesse. ― Do que você se lembra sobre Solaris?

― Solaris.... ― Ele olhou para cima porque ficou pensativo. A mente fez certo esforço, mas não se lembrou de absolutamente nada que fosse de revelador. Ele não se incomodava em lembrar, não era mesma situação de Ravena em que agora após tanto tempo quer saber sobre isso. Acontece que Adastrea foi seu gatilho. ― Eu não me lembro de tantas coisas como eu deveria. ― Leonis acredita que se foi algo tão marcante, deveria lembrar. ― O que me lembro com clareza sou eu sendo colocado em um caminhão com outras crianças, tinha muitas delas e fora do caminhão eu conseguia ouvir muita gente chorando.

― E antes disso, sua família? Só se lembra do dia que a usina explodiu?

― Ravena, eu não faço a miníma ideia da minha família, deve estar morta a esse ponto, se eles se tornaram Rebeldes eu ia ficar com raiva. Não consigo lembrar nem de seus rostos.

― Isso não é estranho? ― Ravena suspirou. ― Não acho que éramos tão jovens ao ponto de esquecer isso facilmente.

― É isso que vem te atormentando, Raven? ― A pergunta fez com que a loira comprimisse seus lábios um contra o outro. De repente, sentiu um nó na garganta querendo segurar seu verdadeiro tormento entre as cordas vocais.

― Queria me lembrar de certas coisas, Leonis. ― Disse desanimada, não conseguindo liberar outras palavras que vagavam em sua mente. ― Acha que procurar notícias da época possa ajudar nisso?

― Acho que sim. ― Ele deu de ombros descrente que isso poderia ajudar muito.

― Você disse antes que ficaria com raiva se sua família estivesse com os Rebeldes. Mataria eles?

― Com certeza, Raven. ― O loiro não demorou a responder, era estranhamente assustador a normalidade com que Leonis respondeu. ― Ok, eu sei que isso possa ter soado muito ruim. ― Ele apoiou os braços sob a mesa. ― Mas isso seria parte do meu trabalho, e acho que não doeria tanto por justamente não se lembrar deles.

― Isso é reflexo do que você aprendeu na Invictus.

    O comentário fez com que o soldado arregalasse os olhos. Os dois se fitaram de tal maneira que Ravena sentiu-se mal pela expressão que caiu sobre o rosto de Leonis que parecia recair em culpa. Ele abaixou a cabeça por alguns segundos e respirou fundo. Ele sabe que poderia ter sido incrivelmente rude com sua amiga, mas a vontade e força lhe falta. Podia ter sido qualquer um e sua ira tomaria conta de si, mas com Ravena isso é impossível, diante dela, o que não consegue esconder é tristeza.

― Não é o reflexo, eu sou a Invictus, Raven. ― A voz saiu pesada. Os dois trocaram olhares sombrios e preocupados. ― Todas as ideias, todo o sangue, toda a rebeldia e toda esperança, eu herdei tudo isso. ― Ele deu levemente de ombros. ― Fiquei com as vozes de outras pessoas que já não estão entre nós. Você sabia, não? Do que precisávamos fazer.

― Quando eu soube, Leonis, era tarde demais, meu amigo. ― Ela respondeu soturna. ― Muitas pessoas suspeitavam das crueldades da Invictus, eu sei que pessoas da Morada Real trataram disso pagando para que nada fosse revelado porquê.....Os que foram escolhidos eram praticamente crianças.

― Na Ecclesia não foi assim, certo? Espero que não tenha sido.

― Era duro, mas tirando as ordens, eu era bem tratada, era a situação típica de que se eu não fizesse algo de errado, tudo daria certo comigo.

― Não acho que sua opressão tenha sido na Ecclesia. ― O loiro fitou sua Líder seriamente. ― Desde a festa na Morada Real a presença da Rainha te deixou....Um pouco estranha. Eu senti isso. ― Ele confirmou com a cabeça. ― Não desvie o assunto só porque é a Rainha, não é como se ela fosse tão certa. Essa mulher vive me ligando para treinarmos juntos e eu só vou porque ela é a Rainha, mas a verdade é que ela não passa de uma vadia.

― Cuidado com o que fala, Leonis.

― É, eu também acho que as pessoas deveriam tomar cuidado com a verdade. Raven, no dia da festa ela mesma me disse que o Rei sabia do comportamento dela, das traições que ela deve fazer por aí. Inclusive, ela quer que eu faça parte da lista suja dela. O que fez com você?

    O assunto foi desviado do original e agora Ravena não sabe se isso é bom ou ruim. Regina é uma ferida viva que precisa lidar todos os dias, com o que acaba de ouvir de Leonis, percebe que precisa policiar suas expressões perto da Rainha. Se Leonis sabe, quem mais poderia saber? Nessa hora só consegue pensar em Saga Vibennis com seus olhos frios lhe julgando mal. Sentiu uma vontade de desabafar sobre isso, então se levantou para encher uma taça com vinho. Pensava que aquelas garrafas ficariam ali de decoração, não achava que cairia na tentação tão cedo, nem achava certo ter bebidas em salas de pessoas com cargos altos.

― Eu posso não me lembrar de Solaris, mas eu me lembro bem das palavras da Rainha desde que chagamos aqui. Ela nunca gostou de mim, Leonis. ― Ravena tomou um gole do vinho e voltou-se a sentar na cadeira. ― E não é como se eu tivesse falando isso no sentido em que vou me sentir mal se a Rainha não gostar de mim, o que me deixa mal mesmo foram as coisas que ouvi dela, cabelos puxados, tapas no rosto. Dias livres eram meu pesadelo. ― O olhar recaiu para o líquido roxo avermelhado, fitando assim, seu próprio reflexo. ― Era quando eu saia da Ecclesia e voltava para a Morada. Eu não me via indo contra as palavras da Rainha, mas me parecia inveja por parte dela. Não sei exatamente do que, não parecia ser por causa do Rei apesar de que ele sempre tenha me tratado bem, mas Leonis.... ― O suspiro de Ravena foi pesado. ― Você sabe que ele tratava você e eu bem, éramos crianças privilegiadas que conseguiram um lugar na Morada.

    A vontade de Leonis era de falar que esse privilégio não lhe rendeu para nada, se o Rei lhe tratasse tão bem por completo como sua amiga acaba de alegar, Thales nunca teria concordado com a existência da Invictus.

― Estranhamente fomos escolhidos, é só nisso que penso. ― O soldado negou levemente com a cabeça, expressando que ele realmente não sabe o motivo. ― Em seu treinamento, eles maltratavam você?

― Não. ― Ela não demorou a responder. ― Se eu errava eu era repreendida e nada mais.

― Acho que sabendo isso não vou entrar em detalhes do que faziam comigo. ― Todos os castigos estão marcados em suas costas. ― Na verdade, acho melhor a gente parar com o assunto, não me deixo levar pelas coisas que tive que passar, mas ouvir de você é outra coisa.

― Você sempre foi assim, Leonis. ― A mulher sorriu docilmente. ― É por isso que confio em você.

― Sabe que sempre estarei aqui se você precisar. ― Ele se levantou e olhou no dispositivo em seu pulso. ― Menos agora. ― O tom de sua voz foi um pouco divertido. ― Não vou sair por querer, só tenho que lidar com uma coisa, a Rainha.

― Leonis..... ― A Conselheira olhou preocupada para seu amigo.

― Por que me fez esse olhar? Ela está me chamando na Morada para treinar, e com certeza, vai tentar fazer algo. Mulheres como ela são tão fáceis de ler.

― Não faça nada que vá se arrepender depois, Leonis.

― Irei me lembrar disso, eu vou indo, Ravena.

       Assim como o Prédio Espiral, a Morada também tinha sua área de treinamento interna exclusivo para o Rei e Rainha e para os Conselheiros. Tirando os servos que estão ali para receber ordem dessas pessoas, se você é convidado por um Conselheiro ou Rei, você pode ficar à vontade para o treino, para alguns isso seria uma honra, mas para Leonis.....Ficar na mesma sala com a Rainha parece ser apenas um azar muito grande. Ela não se segurou nem na frente de sua serva Ligia, o que fez Leonis chegar na conclusão de que a serva da Rainha estava totalmente consciente desse comportamento e deveria ser sua confidente.

   As habilidades de Regina eram boas, mas apenas boas, e para não insultar a força que a mulher tinha, Leonis treinava despreocupado e deixaria até Regina acertar um golpe. Mesmo que Regina sempre diga que sabe lutar e utilizar bem uma espada graças ao legado de sua família Dise, o soldado sabe bem que os Dise não passam de colecionadores de espadas e usam a luta como um hobby e não para matar. Todo o orgulho que Regina tem para expor só tem efeito nos ignorantes.

― Querido, por que está pegando leve comigo? ― Ela perguntou avançando em Leonis, ele se defendeu facilmente do golpe.

― Do que está falando, se acertasse, teria perfurado meu peito. ― E teria mesmo, mas Regina não tem a capacidade. A indiferença na resposta de Leonis era irritante para a Rainha.

― Não se finja de bobo, Leonis. ― O canto dos lábios carmim se levantaram em um sorriso malicioso. ― Vamos lá, não vão te culpar caso eu saia ferida.

    Ela não percebeu, mas a cada ataque que fazia, Leonis se defendia de forma praticamente automática. Ele andava para trás para chegar mais perto de uma das colunas pratas daquele lugar fechado e espaçoso. Dessa vez ele não se defendeu, se esquivou e com um movimento rápido e técnico pressionou a Rainha contra a parede utilizando seu próprio corpo. Os dois já não seguravam mais a espada. Os braços de Regina ficaram a cada lado de sua cabeça, perto do jeito que estava agora, Leonis pode até sentir o cheiro do perfume, ela estava preparada para algo, porque pelo que o que ele sabia, ninguém se perfuma como ela para treinar.

― É assim que você pega pesado? ― Ela perguntou olhando de canto para o loiro com um pequeno sorriso.

   A Rainha não teve uma resposta, não verbal. A mão esquerda de Leonis puxou os cabelos da Rainha com força a partir da nuca. Ela mordeu os lábios sentindo-se incomoda com a dor nos primeiros segundos, mas depois sentiu que seu corpo aceitou o que acabou de ser feito graças ao arrepio que sentiu. Ela acha graça, mas o que Leonis está imaginando é forçar a cabeça dela contra a coluna várias vezes até que a bela cabeça da Rainha fique deformada. Ligia olhou um pouco chocada para os dois, mas assim como Leonis havia pensado, ela já estava acostumada com a Rainha nesse tipo de situação em versões mais obscenas.

― Acredite, não vai querer que eu pegue pesado, mas você merecia, mas não do jeito que você anseia. Quando eu estava longe, o que fez com Ravena?

― Não acredito nisso. ― A expressão de Regina mudou severamente, o nome da Líder da Duo Corvus lhe dá um gosto amargo. ― Nunca ouviu que citar o nome de outra mulher pode dar problemas?

― Eu dúvido que esse problema estúpido seja maior que os problemas que você deu à Ravena. ― A partir daqui, o respeito não existe mais por parte de Leonis. A Rainha e sua serva perceberam isso, não há como não perceber.

― Todas as crianças precisam ser colocadas em seu lugar, Leonis, é isso. ― Ela respondeu calma. ― Se tivesse ficado saberia como ela se sente.

― Você não teve filhos até hoje, e isso não me surpreende. ― No lugar do Rei, também desprezaria essa mulher vulgar. ― Você deve descarregar sua ira em Ravena até hoje quando tem a oportunidade. O Rei nos travava como protegidos dentro da Morada, quase como se fossemos os filhos dele.

― É, mas vocês nunca foram sangue do meu sangue. ― Foi a primeira vez em tanto tempo que Leonis viu um semblante de raiva em Regina, essa era verdadeira face distorcida dela.

― Essa desculpa de não ser o seu sangue não posso nem pegar como desculpa. O fato de que eu e Ravena não temos o sangue real não nos tirou o direito de ter proteção.

   Ele soltou a Rainha que rapidamente se virou de costas para ele, andou rapidamente para sua espada, e após pega-la, apontou a mesma para Leonis. Queria uma revanche, uma digna que pudesse colocar esse homem no chão. Ficaria acima do corpo do soldado para dar um golpe final e colocá-lo para dormir com o impacto de seu golpe. Isso seria um sonho para Regina que acaba de se formar dentro de seus pensamentos, mas lhe falta a força. Tudo que Leonis vê em sua frente é uma mulher fraca que merecia no mínimo alguns tapas na cara, mas apesar da vontade, a ideia de bater em uma mulher não lhe agrada.

― Abaixa isso, Rainha. ― O loiro passou pela mulher tranquilamente. Espera que tudo que acaba de fazer e dizer cause um ódio no coração dela para que finalmente possa ficar em paz. ― Não vale à pena, assim como não vale à pena insistir em muitas coisas.

   Com um suspiro pesado ele se agachou para pegar a espada de treino do chão e colocá-la no lugar de origem. O soldado pegou seu casaco e saiu do lugar do treino sem ao menos pedir a devida permissão para sair. A Rainha soltou um grito de raiva e jogou a espada no chão.

― Rainha..... ― Ligia se aproximou lentamente da mulher com um pano. Uma vez perto usou o pano para secar o suor da testa de Regina. ― Não perca sua paciência e tempo por conta do soldado Sitientem. ― Ela sabe que não são essas palavras que fará a Rainha se acalmar, é claro que Regina não gosta de ser rejeitada. Acaba de ganhar uma grande ferida de rejeição que está pulsando e ardendo.

― Que miserável, quem ele pensa que é? ― Disse entre dentes. ― Foi Ravena, ela deve ter dito alguma coisa. Aquela menina infernal....Não pensava que ela teria a audácia de falar algo, especialmente para o idiota do Leonis. ― A Rainha respirou fundo. ― A menina vai me pagar, eu até que havia me esquecido da existência repugnante dela, mas já que Ravena insiste em se lembrar do passado, eu farei isso com muito prazer. ― Respirando novamente e deixando o corpo totalmente reto, soltou seus cabelos negros e andou até o banheiro do local. ― Eu irei demorar um pouco, Ligia, não me espere. Com isso, você está livre por enquanto. ― Ligia pressionou os lábios um contra o outro, a Rainha tinha coisas a resolver coisas consigo mesma. ― Mandarei uma mensagem para você.

   A jovem fez um ''sim'' com a cabeça e foi a segunda a sair do local de treino. Assim que entrou no elevador, seu celular vibrou e quando viu o número na tela, suspirou pesadamente antes de atender.

― Conselheiro Erimon. ― Disse apertando o touch do elevador.

Ligia querida, porque tem que me chamar desse jeito? Adoraria ouvir apenas meu nome no seu tom de voz. ― O jeito flertador de Nero causa Ligia no mínimo, suspeitas.

― No que posso ajudar?

Está livre? Ou melhor, está livre e está na Morada? Me diga que a Rainha te deu um tempo.

― O Conselheiro ligou no momento certo, ela acaba de me dar um tempo livre.

Ótimo, eu gostaria de conversar com você, que tal nos encontrarmos em algum bar que lembre nossa terra? Ouvi dizer que Dinastai tem de tudo.

― No centro há um bar chamado Skorpiós.

Então vamos nesse, me mande o endereço e te encontro lá em 40 minutos.

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