Capítulo 13 - Olhares


Antigamente quando morava na Torre, Destinia não sentia tanta perseguição como agora. Se queriam alguma entrevista era apenas agendar, e como quase nunca saia da Torre, raramente conseguiam uma foto dela. Agora sente olhos de várias pessoas e seu péssimo julgamento sobre si. E pior, algumas pessoas são ousadas o suficiente para se chegarem e dizer o que pensavam sobre a saída dela da Torre de uma forma tão rude que Destinia ficava abismada, para não dizer abalada. Desde que saiu teve que engolir muita coisa calada ou fingir concordar com certas coisas ditas sobre seu respeito.

     Talvez fosse melhor comprar logo alguma casa fora da cidade de Tempus, mas agora não podia lhe dar esse luxo. Uma casa em Salvavit ou Pompilia seria ótimo. Está mais acostumada com a estética de cidades antigas, mas Salvavit não seria nada mal, afinal é cidade mais bem protegida da linha Regio.

    Quem a visse agora, voltando para a casa não iria reconhecer de primeira vista se não fosse por seu grande cabelo ruivo. Ela já não usa mais as roupas elegantes que precisava usar em seus dias da Torre. A maquiagem de uma nobre já não tem mais espaço em seu rosto, apesar de que a nobreza ainda lhe cerca porque ela pode até tentar fugir da Torre Tempus, mas não pode fugir do sangue que tem nas veias. O cabelo sempre solto ou às vezes preso com um rabo de cavalo a deixa ser apenas mais uma na multidão. O que usava agora era uma calça negra e um ponche marrom-claro e por baixo um casaco negro.

    Trancar a porta atrás de si parece ser a melhor parte de seu dia sem dúvida nenhuma, pois toda vez que faz isso tem uma sensação de tranquilidade quase sem explicação.

    A ruiva respirou fundo e olhou para o chão, tinha uma carta com o símbolo da Morada Real perto da porta. Ela pegou a carta com um olhar duvidoso, sabia bem o que era. Um convite para a festa que já estava acontecendo. Destinia suspirou e nem se deu o trabalho de abrir para ler o óbvio. Acha que foi Saga quem insistiu para mandar o convite, mas, na verdade foi Nero. Se ela abrisse iria descobrir isso, mas preferiu rasga-la.

    Assim que acendeu a luz para a sala, seu coração pareceu pular do peito. Os rasgos da carta até caíram no chão. Temple estava sentado na cadeira com os braços apoiados na mesa redonda, exatamente ali onde Destinia fazia todas as suas refeições. O Rebelde notou a surpresa e espanto no rosto de Destinia que pareceu enraizar ali. Ele não usava a máscara, mas ela reconhece o rosto dele.

― Boa noite, Mestra Vibennis. ― Ele se levantou apenas para pegar os papéis rasgados e estender para Destinia. ― Ainda posso te chamar de Mestra?

    Desviou o olhar para as mãos de Temple e respirou fundo lentamente. A presença dele era um incomodo muito grande, principalmente porque o evento em Tempus era muito recente, como se fosse uma ferida que com poucos toques poderia romper a pele que protege o ferimento.

― Destinia, apenas. ― Respondeu seca e pegou os rasgos da carta.

― Destinia, então. ― Ele a olhou de cima para baixo. ― Se acalme, eu não vim lhe fazer mal, ou tudo isso é raiva? ― Destinia não teve coragem de responder. ― Vamos conversar. ― Ele fez um sinal para que a ruiva o seguisse até a mesa onde minutos atrás o mesmo estava sentado. Em movimentos e passos robóticos, Destinia sentou-se depois do Rebelde. ― Devo dizer novamente que sinto muito pelo que aconteceu em Tempus, aqueles idiotas poderiam ter te matado apesar de estarem do nosso lado.

― A repercussão foi negativa o suficiente para eu sair de uma vez.

― Não queríamos que fosse desse jeito, não estava em nossos planos.

― Seus planos? Da Armada?

― É muito mais esperto ter você como amiga do que como uma inimiga.

    Destinia olhou surpresa para Temple.

― O plano original era te ajudar na investigação do roubo do ponteiro.

― Em troca vocês iriam querer saber os segredos da Torre.

    Sua fala foi seca e com desprezo, quase como Saga faria. Para Destinia, isso estava bem claro. A Mestra não iria colaborar com Rebeldes, parece mais um problema para lhe dar dor de cabeça. Não acha que ela será morta por negar o pedido, por ser uma Mestra da Torre ela se torna uma pessoa preciosa por saber tantos segredos. Ela e Saga ganham seu destaque em livros de história. Nem mesmo Saga que agora está tão perto do Rei é obrigada a dizer tudo que sabe. As duas tem conhecimento do que devem fazer desde pequenas.

― As histórias.....Não são apenas histórias? ― Temple perguntou com uma sobrancelha erguida. ― Ou são?

― Lendas que foram inventadas por servos que deixaram de trabalhar para nós. Como pode acreditar em coisas tão....Absurdas?

― Toda lenda tem um fundo de verdade, Destinia. Mas eu já entendi.... ― O loiro sorriu. ― Eu sei que você não vai me falar nada, eu ouvi como você negou até mesmo se juntar com a Patronis. Me pergunto se aquilo foi coragem ou suicídio.

― Nenhum dos dois, Temple, foi o meu dever que ninguém pode entender. A não ser que você seja um Vibennis.

― Poxa, Destinia.... ― O mais velho se levantou de repente. O barulho da cadeira se arrastando fez Destinia engolir um seco. ― Eu não tive a sorte de nascer em uma família Empírea como você, mesmo que você não seja uma Vibennis puritana de aparência, você faz parte da sua família com todo o direito de seu legado. A Saga deve ser o maior exemplo de uma Vibennis de toda a linhagem de vocês. Eu olho para aquela mulher e vejo uma verdadeira cobra, olhos ameaçadores e frieza, parece que ela pode dar um bote a qualquer hora. Toda vez que eu a vejo falar algo na TV parece que tem veneno. É uma mulher com presença.

     Ela respirou fundo, a tia não estava ali, mas é como se sentisse um fantasma de Saga atrás de si. Ela é tudo que Temple acaba de descrever, uma mulher que não está no nível de mulheres tão ordinárias. Saga era um abismo fundo, conhece-la de verdade parece ser impossível.

― Eu não vou ajudar vocês. ― A ruiva com firmeza.

― Eu sei que não vai, Destinia, mas a conversa valeu à pena. Espero que sua vida volte ao normal.

    O Rebede passou por Destinia que permanência sentada olhando para frente e tocou seu ombro. E então, Temple saiu pela porta da frente seriamente, sabia que Leander não gostaria de saber que não conseguiu nada com a conversa com a Mestra da Torre.

    A ruiva se levantou e pegou o controle da TV. Sabe que assim que ligasse teria uma transmissão da festa na Morada. Ela respirou fundo e largou o controle. Saber daquela festa não faria nenhuma diferença em sua vida. E além do mais, ela não era nenhuma masoquista. Destinia negou com a cabeça lentamente e se dirigiu à janela e sem pressa abriu o vidro. Conversando com Temple ela não notou que havia começado a chover. Naquele céu nublado só existia uma coisa que iluminava entre densas nuvens cinzas, era a lua de brilho lilás.

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