Capítulo 11

EMMA JOHNSON

Cheguei na porta do orfanato, onde sempre fui muito bem acolhida, porém hesitei várias vezes em apertar o interfone. Me sentia suja, fracassada, fraca em voltar para cá. A sensação é que levei o pior dos chutes na bunda e estou voltando com o rabinho entre as pernas.

Quando finalmente fome já coragem, o portão fez o click indicando que o mesmo estava aberto, então sem pensar duas vezes adentrei, correndo, querendo buscar logo o conforto em alguém.

Mal percebia meus passos rápidos, mas pude ver irmã Valery na porta, com o semblante totalmente preocupado e quando a vi, corri mais depressa possível e me atirei em seus braços.

— Oh, minha querida — ela falava enquanto afagava meus cabelos — São tantas perguntas, mas porque está assim?

— São tantas sensações aqui dentro de mim, irmã — falei ainda em seu abraço me debulhando em lágrimas — Eu não sei nem por onde explicar.

— Venha, entre. Vamos tomar um chá, talvez você se acalme.

Irmã Valery me levou ao seu escritório, e no automático entrei no cômodo e me sentei no pequeno sofá ao lado da mesa de trabalho. Minha mente estava tão longe que mal percebi a irmã colocando a xícara com o líquido quente e cheiroso na frente do meu rosto.

Forcei um sorriso em sua direção e bebi aquela maravilha que só ela sabia fazer.

— Impossível não comentar essa loucura, se é que podemos chamar de loucura, que Ethan acabou de cometer — ouvi atentamente — Eu sempre esperei tudo da família Mitchell, mas na minha visão de uma velha sem experiência, é a primeira vez que vejo algo dessa forma.

— Eu sofri a morte dele, irmã. Você viu, você estava lá naquele enterro. Eu quis morrer junto com ele — só de pensar me dava um nó gigante na garganta — Ele resolveu fazer isso sem mim, sem me consultar. Me colocou nessa porra de vida da máfia americana, me pediu em casamento para no final, fazer uma atrocidade dessa? Ethan brincou com os meus sentimentos, irmã.

— E como você está se sentindo, minha querida?

— Não vou negar, estou muito feliz que ele esteja vivo, mas essa felicidade é muito inferior ao sentimento de mágoa, traição que estou sentindo nesse momento. Não sei se sou capaz de perdoá-lo um dia.

— E porque ele chegou a fazer algo nesse extremo? Não me leve a mal, minha filha, conheço a família Mitchell a muitos anos, praticamente vi todos aqueles garotos crescerem, Ethan é o que mais puxou ao pai. Rude, autoritário, mandão... algo de ruim, muito ruim aconteceu para que ele tomasse uma atitude tão descabida dessa maneira.

— Ele alega que tem pessoas muito poderosas invadindo o sistema da família, e segundo ele, depois que a ex namorada — que o diabo a tenha, pensei — invadiu a casa dele, ele ficou paranoico.

Eu teria que esconder algumas informações da irmã Valery, ela jamais me perdoaria em saber que matei uma pessoa a sangue frio por vingança e ódio. Certamente, ela jamais me aceitaria de braços abertos como está fazendo agora.

— Oh, sim! Aquela menina que morreu esfaqueada no meio da rua — concordei como se não soubesse de nada — Que Deus a tenha — falou fazendo sinal da cruz e eu a acompanhei.

— Isso, então ele decidiu fazer essa trolagem comigo e com o país todo e me deixar de fora do seu plano maquiavélico.

— Mas minha querida, pense pelo lado positivo, talvez tudo isso tenha algum propósito.

— Irmã, no fundo eu achei que havia encontrado alguém que eu pudesse encontrar refúgio, que eu pudesse contar sempre que eu precisasse de colo. Eu ja vim de uma família que só sabia me fazer sofrer e tirar proveito de mim, aí simplesmente o meu coração decide se apaixonar por um homem altamente poderoso, perigoso, que está acima do bem e do mal, para no final ele brincar de me fazer sofrer, como todos sempre fazem comigo.

— Oh minha querida... — irmã pegou na minha mão em um gesto carinhoso e as lágrimas desceram com força — E o que pensa em fazer?

— Ainda não sei, por enquanto eu posso ficar aqui?

— Claro que sim, sempre será bem vinda.

— Eu preciso pensar. Eu tento acalmar meu coração, mas eu estou muito mas muito magoada. Eu vou tentar seguir minha vida normal, e se tudo der certo, irei embora desse país e tentar a vida longe daqui.

— Ethan aceitará isso? Aquele menino sabe ser teimoso quando quer!

— Ethan vai aprender que mesmo tendo poderes em mãos que o transformaram em um arma humana perigosa, nem sempre as coisas vão ser do jeito que ele quer — suspirei cansada — Eu o amo, irmã, com toda minha vida. Infelizmente me apaixonei por um mafioso, mas não estou pronta para perdoa-lo.

Conversamos mais alguns longos minutos, a irmã Valery como sempre conseguiu me acalmar. Depois de umas três xícaras de chá, subi para meu antigo quarto, e no caminho praticamente todas as irmãs vieram me abraçar e perguntar se estou bem.

Eles estavam apreensivas se Ethan viria atrás de mim aqui, eu falei que isso era bem possível mas as acalmei falando que ele não faria nada de mal aqui. Ethan era louco, mas não a esse ponto - assim eu espero.

Cheguei ao quarto, sentei na cama de solteiro e suspirei mais uma vez e me abaixei para tirar meu tênis, e quando ergui meu corpo me deparo com um homem moreno muito bem vestido me olhando na minha direção, encostado no canto da parede que dava de frente para a janela, no qual ele jogava a fumaça do cigarro para fora.

Eu sabia que Ethan não me deixaria em paz.

— Oi cunhada — o irmão mais novo de Ethan me cumprimentou tímido.

— O que faz aqui? — falei já cansada desse joguinho que Ethan faz.

— Calma, eu vim em missão de paz — ergui a sobrancelha desconfiada.

— Ethan te mandou aqui.

— Como você sabe? — revirei os olhos, retirando o casado e colocando em cima da cama — Bom, ele mandou, mas saiba que eu falei a verdade, vim em missão de paz e se isso de conforta, eu recusei umas vinte vezes em vim ao seu encontro. Sou péssimo nisso.

— Certo... — falei em sua direção perguntando em silêncio seu nome e ele me disse que era Julian — Julian, o que faz aqui?

— Te entregar isso — ele em alcançou uma sacolinha e eu já sabia o que era dentro.

— Devolva para o dono, não preciso que ele continue me rastreando — falei devolvendo a sacola que continha um celular novo dentro.

— Não me leve a mal cunhada e odeio do fundo da minha alma por que não gosto de admitir, mas Ethan não precisa de um celular para te rastrear.

— Sei...— revirei os olhos mais uma vez.

— Convenhamos, cunhada, você acha mesmo que se ele quisesse, não seria ele aqui na sua frente ao invés de mim? — isso era verdade.

— Olha, Julian, eu não quero mais contato com a sua família por um longo tempo, Ethan acha que tudo é um parque de diversões e eu não tenho mais idade e nem disposição para brincar.

— Caralho... — Julian disse me admirando pro algo que eu disse — Agora eu entendi o porque aquele lunático é doente por você.

— Doente ao ponto de forjar a própria morte e com a ajuda dos irmão, para variar, um deles está aqui na minha frente e fico sabendo que foi você que "atirou" nele.

— Ok, Emma, eu já entendi — Julian disse com as mãos erguidas —Já falei a você que vim em missão de paz.

— E o que quer dizer com isso, Julian? Seja mais específico.

— Olha, vou ser sincero com você. Está na cara que Ethan me pediu para "cuidar de você", foi a força mais carinhosa que ele encontrou de respeitar o seu espaço, mas quero que saiba que se você quiser, tudo o que conversamos aqui, nada chegará até ele.

— É mesmo? Você ganha o que com isso? — meu desconfiômetro gritava na minha cabeça sem parar.

— Paz? Sossego? Eu vivendo minha vida normal mesmo sendo da máfia...

— Ainda não entendi. Essa história está mal contada, desculpe Julian.

Ele sentou na poltrona e me pediu para sentar na cama, pelo visto a conversa vai ser longa e estranha.

— Emma, quero dizer que pode confiar em mim. Eu fui um puto a minha vida toda, mas chegou a hora de sossegar a minha vida, não sou mais um garoto, por mais que minha aparência diga o contrário — ele sorriu com a língua entre os dentes. Porque essa família tinha que ter homens bonitos? — Eu não tenho paciência para esse negócio de babá, não ficarei na sua cola, mas ele vai pensar que sim, mas a única coisa que eu peço, não faça nada de imprudente, minha cabeça está em risco quando a isso.

— Ou seja, você quer se aproximar de mim, fingindo ser meu amigo, dizendo que não falará nada dos meus passos para ele, mas na verdade é bem isso que você vai fazer? Acertei? — Julian gargalhou alto.

— Vamos ser francos? Você faz parte da máfia, não sei se você se deu conta...

— Não quero estar nisso, quero sair, não estou mais com ele.

— Não é tão simples, uma vez que você está dentro da máfia, você não pode mais sair. Você só sairá agora depois de morta — que reviravolta meu coração deu agora, eu irei matá-lo — Você tem o mesmo poder que meu irmão querido, ou seja, você está protegida, querendo ou não, todos os seus passos estão sendo monitorados. Você terá inimigos na sua cola, terá todo tipo de gente querendo chegar perto de você e que Deus me ajude que Ethan nunca saiba o que vou dizer agora, mas a sua aparência não ajuda em nada.

— Ou seja, estou condenada — ele soltou um "aham" cínico — Então se eu quiser te colocar para fora daqui a ponta pés, eu posso?

— Pode, se é isso que você quer. Mas você não irá fazer isso com uma pessoa tão legal como eu, vai?

— Sou obrigada a ter um relacionamento com Ethan também?

— Ele jamais faria isso com você, por mais sabendo que aquele louco irá infernizar sua vida — Julian revirou os olhos e eu fiz o mesmo.

— Julian, eu preciso ter meu espaço, sem nenhum de vocês na minha cola. Eu amo seu irmão, mas isso que ele fez mexeu demais comigo, estou muito magoada. Achei que eu teria um parceiro pra vida toda, mas já vi que eu estava enganada.

— Emma, Ethan jamais faria isso por nada. Ele fez por algo muito maior, e olha que não sou de defendê-lo assim tão fácil, tanto que fui obrigado a participar dessa missão.

— Porra, vocês me viram sofrer, cada dia que passava. Poderiam pelo menos me dar uma pista que eu pudesse entender o que tudo estava acontecendo, o impacto seria menor.

— Acredite em nós, para eu estar envolvido nessa, para Ethan apelar para o caçula sem responsabilidade da família atirar em seu peito, é porque a coisa saiu do nosso controle.

— O que você sentiria se soubesse que nunca mais iria ver o amor da sua vida, que ele estaria a sete palmos do chão, que toda a felicidade que você tinha foi arrancada de você?

Silêncio. Julian me olhava tão profundamente que eu tinha certeza que ele poderia ver minha alma quebrada e magoada. Devolvo o mesmo olhar para ele sentir que meus sentimentos não era brincadeira.

— Eu não tenho como responder, porque ainda não cheguei a me apaixonar por alguém, como eu disse, era uma mulher diferente a cada noite. Mas estou tentando me por no seu lugar, e certamente meu coração estaria em pedaços e eu não sabia viver sem a pessoa que amo.

— Então eu não preciso dizer mais nada a você.

Levantei a caminhei até o armário e graças a Deus tinha algumas peças de roupas minha lá ainda. Não conseguia encarar essa situação por muito tempo, precisava que Julian fosse embora.

— Ele quer que você volte ao apartamento.

— Eu volto se eu não ver nenhum de vocês lá, assim como tem um dos irmãos metralha aqui agora na minha frente sem que irmã Valery saiba.

— Fácil assim? Eu já estava me preparando para algum chilique seu...

— Que tipo de mulheres vocês são acostumados?

— Quer mesmo que eu responda?

— Vou gostar da resposta?

— Depende, quer pagar para ver?

— Está vendo porque quero distância de vocês?

— Doeu, Emma. Achei que seríamos amigos, mas já vi que não posso confiar em ninguém nesse mundo.

— O drama desnecessário é de família mesmo.

Comecei a arrumar uma mochila que eu havia guardado por anos e colocar alguns pertences meus dentro dela, sentindo o olhar enigmático de Julian na minha direção.

Sim, eu iria voltar para o apartamento, mas porque eu não queria mais depender da irmã Valery depois de tudo o que acometeu, e estando lá, eu tentaria arrumar um emprego mais fácil e fugir, novamente desse país.

— Você vai mesmo voltar para os apartamento? — Julian perguntou sorrindo como se não estivesse acreditando.

— Vou. Porque?

— Sério, esperei de você um "jamais, diga ao vagabundo do seu irmão que eu sei me virar sozinha e blá blá blá...".

— Eu já disse, irei voltar porque tenho planos, mas não quero nenhum de vocês em cima de mim. Já que tenho os "poderes da mafia" — fiz aspas com os dedos — Não hesitarei em usar contra vocês.

— É isso aí, cunhada! Acaba com a raça daquele cachorro sem dono.

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