Capítulo 5
Deus havia me ensinado algo: Não julgar as pessoas ou não fazer distinção entre elas! Em Tiago capítulo 2, condena-se a acepção de pessoas! Nos versículos 8 e 9 diz :
“Se vocês obedecerem à lei do Reino, estarão fazendo o que devem, pois nas Escrituras Sagradas está escrito: “Ame os outros como você ama a você mesmo.” Mas, se vocês tratam as pessoas pela aparência, estão pecando, e a lei os condena como culpados.”
Eu havia julgado Anderson antes mesmo de conhecê-lo, claro que suas atitudes não eram boas, mas em nenhum momento até aquela quarta-feira de dia frio e ensolarado eu havia me aproximado dele para entendê-lo ou até mesmo compartilhar do amor de Deus com ele. Grande hipócrita eu era! Pensando apenas em mim, em como eu poderia me machucar e blá, blá, blá! Não pensei em como o coração de Anderson poderia estar, tenho certeza que se fosse um rapaz da igreja eu não teria sido tão dura como fui com ele anteriormente.
Eu esperava poder ajudá-lo e queria muito que ele se permitisse sentir mais de Deus em sua vida, ele já conhecia a Bíblia - Até mais do que eu - Mas, a questão não era conhecer os textos, mas sentir a presença de Deus em cada palavra e vírgula contida neles! Eu havia dito isso a ele naquela noite na hamburgueria, e após alguns minutos ele finalmente disse: “Você tem razão, foi isso o que sempre me faltou”.
Ele pediu que eu passasse meu número de celular para podermos nos falar com mais frequência, já era sexta-feira quando ele me mandou a primeira mensagem.
“ Hoje decidi abrir a Bíblia … Li em Salmos 1… acho que não tenho sido um Bem-aventurado.. Rsrsrs então, decidi procurar algumas músicas que me fizessem pensar mais em Deus! Encontrei essa:
"Eis-me aqui prostrado outra vez
Pra tudo entregar, pra tudo entregar
Leva-me perto de ti Senhor
Anseio por ti, anseio por ti
E eu me rendo
Enche-me da graça e do teu amor
Sacia meu ser, sacia meu ser
Abraça-me ouve o meu clamor
Fala pra mim, fala pra mim
E eu me rendo, eu me rendo
Pra conhecer-te mais, pra conhecer-te mais
Eu me rendo, eu me rendo
Pra conhecer-te mais pra conhecer-te mais
Vento de poder sopra em meu viver
Faz teu querer, faz teu querer em mim
Como um vendaval sobrenatural
Faz teu querer, faz teu querer em mim
E eu me rendo, eu me rendo
Pra conhecer-te mais pra conhecer-te mais
E eu me rendo, eu me rendo
Pra conhecer-te mais, pra conhecer-te mais"
(Eu me Rendo - Gabriel Guedes)
Na mídia
Sorri ao ouví-la, era mesmo uma linda música e uma forte declaração. Mandei a mensagem de volta:
“É uma bela música! E tem grande significado, você entende esse significado, não é!?”
Quando recebi uma resposta já estava no metrô a caminho do trabalho, pronta para vencer aquela sexta-feira fria e chuvosa.
“Acho que sim… chorei feito criança ao ouví-la. Escutei enquanto tomava banho e não sabia mais o que era lágrimas e água..rs Queria falar com você sobre isso, pessoalmente, assim que puder me ouvir”
“Quando quiser” - mandei de volta.
“Segunda-feira” - Anderson respondeu bem rápido - “Quero te contar tudo completo”
Não consegui entender muito bem sobre a última mensagem, mas fiquei feliz em saber que Anderson tinha o coração aberto para Deus. E como Deus o ama! Preparou mais que uma simples conversa entre nós, toda aquela correria das Tulipas me fiz confiar mais nele, quando fomos para a hamburgueria já me sentia bem em sua compainha e consegui ouví-lo e aconselhá-lo sem preconceitos. E tudo isso para que ele pudesse se reerguer, era o que faltava, uma palavra de ânimo para fazê-lo confiar e entender o quão profundo e detalhista é o amor de Deus! Não só ele, toda situação foi uma baita lição para mim!
Aquele dia passou mais depressa do que imaginei, já estava no shopping esperando que Edu, Marinês e João aparecessem quando meu celular tocou:
- Alô!?
- Gatinha!?
- Fala, Edu.
- Nosso passeio não vai rolar!
- Porque!? Já estou no shopping!
- A Marinês quebrou o pé, estou no hospital.
- Quebrou o pé!? - eu duvidei, achei que tudo não passava de uma “emboscada” - Como assim??
- É sério! Longa história, te explico depois! - Edu falou rápido demais - Avisa o João, não consegui falar com ele ainda.
- Beleza! - disse sem ânimo. Se aquilo fosse alguma mentira ou pretexto para que eu e João ficássemos a sós o Edu ía me ouvir! E muito!
Fiquei alguns minutos olhando para o celular enquanto andava até uma cafeteria à procura de um bom cappuccino, eu tinha que me preparar para o frio que me aguardava do lado de fora. Minhas ligações para João caiam na caixa postal, talvez ele tivesse desistido antes mesmo do “acidente” de Marinês.
Sentei-me em uma mesa redonda de dois lugares com meu cappuccino em mãos, antes do primeiro gole meu celular vibrou na mesa as letras brilhando na tela formavam “JOÃO”.
- Agatha!?
- Sim..
- Puxa! Onde você está!?
- No shopping… em uma cafeteria.
- Eu também estou aqui.. meu celular havia descarregado, Edu acabou de me contar o que houve... Será que posso te encontrar??
Eu queria dizer “Não”, mas eu já havia aprendido com Deus que não se deve julgar as pessoas pela aparência, no fundo eu estava julgando João. Sim, em minha opinião ele se sentia a última bolacha do pacote! Suas conversas eram em torno do que havia comprado, dos elogios do chefe… Dos destaques na faculdade… Enfim, eu não sabia se podia suportar aquilo sozinha.
- Tudo bem! - me segurei para não suspirar - Estou em frente à livraria.
Da cafeteria decidimos ir comer comida japonesa em um restaurante na praça de alimentação do shopping mesmo, João me fazia rir as vezes, mas odiava os momentos que ele me falava das garotas que estavam no pé dele, parecia orgulhoso daquilo e era como se me dissesse “Viu!? Tem um monte de garota no meu pé! Você é sortuda em me ter aqui.”
- E você!? Não tem ninguém em vista!? - João parecia ter ficado tenso por um momento que não consegui mensurar - Digo, não se interessa por ninguém!?
Coloquei um hot roll na boca antes de dar-lhe uma resposta grosseira, o observei enquanto terminava de mastigar. O que será que ele queria ouvir de mim!? Que eu não tinha ninguém!? Que estava interessada nele? Ou o quê!? Sorri antes de iniciar o papo que ainda era meio difícil pra mim, e pedi graça à Deus para ser educada e não me deixar levar para o fato de ser um pouco resistente ao jeito metido de João.
- Não… não tenho interesse em ninguém no momento - passei o guardanapo de papel sobre os lábios - Estou bem tranquila quanto à isso, não quero pensar em relacionamentos agora.
- Mas, porque!? É tão jovem!
- Assim como você! Você também não está comprometido, não é!? - João não soube o que dizer então prossegui - Exatamente por estar jovem, creio que seja um bom momento para eu focar em outros projetos.
- Alguns projetos saem melhores se feitos a dois!
- João… eu tive uma experiência dolorosa…
- O Edu me contou. - João me interrompeu - Eu não sei o quanto você sofreu, mas sei que você não mereceu nada daquilo! Você merece ser muito feliz, existem outras pessoas no mundo.
- Como você!?
- É tão óbvio!? - João parecia desconcertado - Meu interesse!?
- A forma como meu irmão fala de você parece óbvio. Foi ele quem te jogou pra cima de mim!?
- Não - o sorriso era nervoso - Eu o procurei para que me ajudasse… Você é admirável! Queria muito conhecê-la melhor.
- Lamento, João! - suspirei - Sempre estarei aqui quando precisar de um conselho… um ombro amigo! Mas, para relacionamentos amorosos é bom que saiba que não estou disposta! Não quero que perca seu tempo comigo.
- Eu “perderia” o tempo necessário se me desse esperança.
- Não tem esperança para esse assunto!
Eu sei o que deve estar pensando, que eu sou a “coração gelado” da história! Em nenhum momento me senti bem com aquela conversa, eu não queria passar uma falsa esperança para João e nem mesmo pedir que ele esperasse por algo que nem eu sabia se teria jeito, pelo menos não achava que teria! Não era justo para ele.
Naquela noite demorei a dormir, meu objetivo não era entristecer João ou colocá-lo para baixo. Está certo que eu não suportava o jeito metido que João tinha em muitos momentos, mas isso não significava que eu queria vê-lo sofrer.
Rolei por toda extensão da cama antes de iniciar uma oração, uma oração com choro, meu coração estava totalmente indiferente ao “amor” ou ao menos, a possibilidade de um novo amor. Quando parava para pensar sobre o assunto era como se meu interior estivesse se rasgando ao meio. Eu queria muito mudar aquilo, muito mesmo, mas algo me acorrentava… Eu queria poder me levantar e dizer “EU ESTOU PRONTA”, mas eu não estava! Me sentia uma tola sempre que olhava para trás, sempre que me lembrava como me declarava e abraçava meu ex-noivo, sempre que me lembrava de como fiquei naquele vestido branco… Meu vestido de noiva. A primeira prova havia sido de emoção, risos e lágrimas nos olhos, lágrimas diferente daquelas que molhavam meu travesseiro.
Porque eu tinha que ficar presa à algo que aconteceu à um ano atrás!? Porque eu simplesmente não poderia seguir a vida sem dores!? Amar… meu Deus! Como aquilo doía! Deus já havia dito que tiraria toda dor que havia em meu peito, mas eu não o deixava tirar… Conscientemente eu estava presa a coisas que eu deveria ter deixado para trás! E pouco a pouco desistia do meu sonho, na verdade, era isso o que mais doía!
Compreendam, Luiz, meu ex-noivo foi meu primeiro namorado, eu acreditava piamente que ele era o homem da minha vida, após um ano de namoro nós já estávamos noivos, preparavá-nos para um casamento que eu acreditava ser meu “sucesso” na vida! Mas, não era… Luiz era um engenheiro civil recém formado, bem sucedido, aquilo havia me chamado a atenção, ele sempre tratou-me bem não posso reclamar quanto a isso mas, depois que toda a emoção passa e deixamos a racionalidade tomar conta de nossa mente, tudo vem a tona! Tudo aquilo que não queremos enxergar ou que, pela euforia do momento, ignoramos.
Lembro de um dia que ele não disse estar certo de querer casar, mas foi antes do nosso noivado, quando ele decidiu-se pedir minha mão em casamento me senti tão feliz, tão realizada que nem havia percebido o que hoje faz todo sentido! A frase dele foi a seguinte:
- Agatha, eu sei que esse sempre foi seu sonho, e gostaria de realizá-lo. Aceita casar comigo!?
Eu disse sim mais de duas vezes e em seguida o abracei e beijei, estávamos em uma reunião de família, tanto a família dele quanto a minha estava presente em um churrasco que até aquele momento não tinha motivo. Todos estavam felizes com aquele avanço em nossa relação, eu não me continha com tanta alegria. Mas, reparem na frase “Seu sonho”, não era “Nosso Sonho” ou “Meu sonho”, Luiz não tinha o sonho de formar uma família comigo. Ele estava comigo porque não poderia estar com a ex-atual-namorada! Ele queria me fazer feliz, mas como poderia se ele mesmo não era feliz!? Como seria possível se seu coração não estava ali comigo!?
Não importa o quão bem sucedida possa parecer uma união ou o quão belo pode ser um casal, se não houver amor, se não tiver os mesmos ideais e objetivos não haverá alegria, não haverá “sucesso”. Temos aí a velha história do julgo desigual.
Na Bíblia o julgo desigual é tratado para falar sobre a diferença de religiões e costumes, no entanto, ele está relacionado até mesmo na perspectiva de vida de cada um. Caminhávamos em julgo desigual Luiz e eu, pena eu ter compreendido tarde demais.
🌹🌹🌹🌹🌹🌹🌹🌹🌹🌹🌹🌹🌹🌹🌹
Parece que a Agatha ainda tem muito o que organizar dentro de si.
Será que ela foi radical demais com João!?
Deixe sua opinião nos comentários.
Ah, e se gostou no capítulo não deixe de votar ;)
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top