Capítulo 13
(Música: Risco- Marcela Taís, Na mídia)
Aquele dia havia sido totalmente diferente, cantar e tocar violão após um gostoso café da manhã ao ar livre não era um privilégio que tínhamos todos os dias. Marina e Augusto era o casal de namorados mais entrosado que eu conhecia, levando em consideração o fato dela ser extrovertida e falante e ele uma pessoa introvertida de poucas palavras, tudo parecia ser harmonioso. Enquanto a mim, poxa, tinha violão e cantoria, então estava muito bem obrigada! Timóteo era incrível!!! Um rapaz divertido e inteligente, em nenhum momento jogou indiretas ou me paquerou, se Marina havia planejado algo além daquilo que estávamos vivenciando ela, provavelmente, ficaria um pouco desapontada.
Finalizamos o passeio almoçando em uma churrascaria ali perto, rimos muito e conversamos de tudo um pouco, em alguns momentos tive a sensação que Timóteo queria me perguntar algo, e tive essa certeza quando ele foi direto:
- O que achou do que eu escrevi!? - estávamos caminhando até os carros de Guto e Marina, o casal estava um pouco a frente de nós. Eu não fazia ideia do que Timóteo me perguntava e ele percebeu - No envelope...
- Nossa! - arregalei os olhos - Me esqueci completamente!
- É sério!? Eu imaginei que… - Timóteo parou por um momento - Bom, quando a Marina me chamou para o passeio de hoje aceitei de cara, mas quase desisti porque pensei que você não me quisesse aqui.
- Eu nem sabia disso tudo - sorri - Mas, porque acha que eu não iria querer você aqui!?
Não pensem que sou uma pessoa falsa galera, claro que fiquei brava com a Marina, mas foi porque realmente achei que ela estava, pela milésima vez, tentando ser meu cupido! Contudo, eu gostava da companhia de Timóteo. Era um bom rapaz, se fosse em um outro momento… bom, deixa pra lá! Seguimos com a vida, ou melhor, com a história!
- Em algum momento na vida você já arriscou algo que nunca arriscou antes!? Digo, você já teve coragem de fazer algo que nunca fez antes por causa do encorajamento de outra pessoa!? Não qualquer pessoa… Hã… estou sendo muito confuso!?
- Eu só não entendi aonde você quer chegar. - sorri - O que um risco tem a ver com nosso passeio!?
- Olha, eu tive medo de vir hoje e você não gostar e ir embora, tive medo da sua reação! Mas, eu arrisquei e vim assim mesmo! - ele suspirou - Na vida temos que correr vários riscos para vivê-la plenamente sem arrependimento de não ter tido determinadas atitudes. Leia o que tem no envelope e depois conversamos melhor sobre isso, tudo bem!? Só assim, o que estou dizendo fará sentido.
- Então, você escreveu uma carta!? - voltamos a andar e de repente eu queria estar em casa procurando aquele envelope azul. Timóteo riu alto.
- Você nem sequer abriu o envelope!?
- Eu joguei na bolsa porque naquele dia estava muito atarefada na empresa. - falei sem jeito. - E acabei esquecendo.
- Eu só te perdoo porque sei que dentro da bolsa de cada mulher tem a entrada para um outro mundo onde uma rainha disputa poder com um leão! - gargalhei com Timóteo - Não sei como vocês conseguem carregar tanta coisa!
- Vou ler assim que chegar em casa!
- Depois de uma semana - Timóteo falou dando ênfase na palavra “semana” - Antes tarde do que nunca!
- Ah não seja abusado! - sorri abrindo a porta do carro de Marina enquanto Timóteo deu a volta para alcançar a porta do carro do Guto, que já estava no volante - Senão eu jogo o envelope no lixo sem ler a carta!
- Duvido! - ele alterou a voz sorrindo - Sua curiosidade não lhe permitiria isso!
Entrei no carro ainda rindo da ousadia do rapaz, Marina observava tudo, colocou o cinto e deu partida com o carro, mas não antes de dizer:
- Ele é um fofo, né!? Eu sempre tenho um ótimo faro para bons meninos - ela disse séria - Não vejo a hora de vocês começarem logo um romance, afinal já faz pouco mais de um mês que o conhecemos.
- Você está contando!?
- Eu!? Imagina! Claro que não - sorri com o sarcasmo de Marina - É que foi na mesma época que a Marinês se acidentou...
- Ah é verdade! Ainda bem que ela já voltou a andar e poderá ir ao encontro de casais! Aliás, temos que correr com as coisas, hein!
- Agatha, não fuja de nossa conversa!
- O quê!?
- Dou um mês para ver você e Timóteo juntos!
- Você está completamente louca! Sabe que isso não vai acontecer!
- Dois meses então!? - Marina me perguntou olhando de soslaio com um riso no canto dos lábios enquanto saia com o carro de dentro do estacionamento - Três!?
- Se concentre no trânsito, Mari.- sorri - É o.melhor a ser feito!
Cheguei em casa focada em procurar o envelope, estava subindo a escada de dois em dois degraus quando minha mãe gritou:
- Agatha, é você!? - ela vinha da cozinha, voltei apenas alguns degraus para responder:
- Sim, sou eu - e subi os degraus de volta.
- Como foi o passeio? - ela estava na frente da escada olhando para meu jeito afobado.
- Foi ótimo! - desci alguns degraus novamente para encará-la.
- Vem comer um bolo que fiz, está uma delícia!
- Depois eu preciso ler…
- Deixa pra ler seus livros depois, menina - mamãe me interrompeu - Vem comer.
- Eu acabei de sair de uma churrascaria, mãe. - falei agoniada, queria logo saber o que Timóteo havia escrito.
- Então vamos comigo ao mercado! - mamãe começou a tirar o avental - Preciso de ajuda com algumas coisas.
A minha vontade foi dizer não, correr até meu quarto e procurar o envelope azul. Mas, ao invés disso o que fiz foi descer os degraus contra a minha vontade, largar minha mochila no sofá e seguir minha mãe porta a fora para irmos ao mercado.
Aquela era a prova de fogo, administrar minha ansiedade em ler o que Timóteo havia escrito, dar a devida atenção à minha mãe, ajudá-la com a lista de compras e os cálculos para vê se tudo estaria dentro do orçamento! Meu cérebro iria entrar em colapso, e eu não estou brincando!
Quando chegamos ao corredor de laticínios respirei fundo e tentei encontrar o motivo para tanta ansiedade, vamos lá, o que poderia ter motivado Timóteo escrever algo!? E pelo o pouco que o conhecia não podia ser algo ruim, ou tão fora do normal, apesar de não ter entendido o que ele havia dito mais cedo, no fundo, eu sentia que era algo bom e leve! Todo aquele peso e tensão estavam sendo ocasionados por mim mesma, eu deixei o envelope em algum canto da minha bolsa por uma semana, porque justamente naquele momento tinha que abri-lo!? Concentrei-me nos iogurtes tendo uma leve sensação de que meus pensamentos e nervos estavam se estabilizando, peguei duas garrafas e voltei a olhar para minha mãe, ela havia parado de falar e olhava além de mim, como se estivesse vendo um fantasma, estava tensa.
Virei-me para ter a mesma visão que ela e lá estavam Luíz e Débora, pareciam felizes e conversavam sobre algo que não entendi, eu sempre imaginei que quando esse dia chegasse - ver os dois juntos, como um perfeito casal - eu surtaria! Entraria em um estado de nervos complicado, ou apenas choraria, ou quem sabe diferiria insultos e maldições sobre os dois para que todos soubessem o tipo de homem que Luiz era. Mas, vamos pensar comigo: Do que me valeria tudo aquilo!? O homem que Luiz era não tinha mais importância para mim! Se ele realmente amava Débora era com ela que tinha que ficar, e eu!? Eu seguiria vivendo muito bem! Naquele instante, percebi, que de forma plena, aliás!
Luíz foi o primeiro a nos ver, perdeu a graça de imediato, seus olhos encontraram o de Débora e só então, ela percebeu tudo. Eu sentia que eles seguiriam dali para trás, talvez, estivessem com medo da minha reação, não que eu fosse um tipo de… como posso dizer!? Barraqueira. Mas, senti isso deles. Eu segui em direção a eles, minha mãe veio em meu encalço com o carrinho de compras quase cheio.
- Olá, tudo bem!?
Quando me percebi estava sorrindo naturalmente, nada passou por minha mente naquele instante, isso foi o mais engraçado, incrível, era como se eu estivesse apenas cumprimentando meus vizinhos. Não me preocupei em mostrar o quanto estava bem e mudada ou que eu não ligava o que eles pensariam de mim, pelo fato de ainda não carregar nenhuma aliança no dedo, enquanto eles já usavam uma de noivado.
- Tudo… e você!? - Luíz estava com um “pé” atrás e Débora estava muda.
- Estou ótima.
- Tudo bem, Dona Suzana? - Luiz se dirigiu a minha mãe.
- Tudo bem, Luiz. - mamãe estava serena, mas não esboçou sorriso algum - Mande lembranças à sua mãe.
- Pode deixar. - ele disse sem olhar para mim.
- Até mais. - eu disse - Mande um beijo para todos.
- Ah sim, claro. - Luíz soltou um sorriso amarelo enquanto minha mãe e eu seguimos pelo corredor, parei na prateleira de queijos e risquei a palavra “mussarela” da lista. Mamãe me encarava com um semblante leve, um sorriso discreto se formou assim que meus olhos focaram nela.
- Filha, você é linda! - mamãe se aproximou e beijou minha bochecha - Com certeza carrega o Espírito Santo nesse seu coraçãozinho teimoso!
Sorri de volta pra ela, peguei o queijo da prateleira e coloquei dentro do carrinho. Com certeza era mesmo o Espírito Santo, meu coração acelerou e lágrimas embaçaram minha visão, o motivo!? Eu, realmente - finalmente - estava curada, meus amigos! Não havia mais dúvida!
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top