Segundo dia
Outro dia do Exame Nacional
Mas o jornal já não liga.
Fora do local de prova
Bem menos gente esperando
E os que vieram
Venderam seu CPF
Para as particulares.
O que é sua identidade
Diante da chance de
Ganhar um sorteio?
Antes da prova
Conversa geral.
Leveza do fim de ano
Dispersou o nervosismo
E descobria gente
Que estudava no mesmo colégio
E que nunca vira na vida!
Mas na volta pra casa à noite
Pra onde foi a felicidade?
Todos os jovens peregrinavam
Exaustos pras suas casas
Conversando sobre nervosismo
Já pensando na correção do gabarito
Uma mãe se gabava da filha
Dizendo que tirou 980 na redação
Do outro ano e gostou dos temas.
Era uma gênia. Cursava administração
(Não mencionou a faculdade)
E agora queria direito
— Mas precisa gostar de ler
— Ah! Mas ela adora!
Toda perfeita a filha dela.
Mas a gabação acabou em narcisismo
Quando mencionou que ela reprovou
No exame físico da PF
— Minha filha, você nem come direito
E é preguiçosa. Como que
Vai dar tiro em bandido?
E seguia para outras mães nessa conversa torta.
Da janela do carro, caos do trânsito.
Vi um velho esbravejar com o filho
Que segurava a prova com cara fechada
E logo depois o velho levantou as mãos
Pra um motorista estacionado ali perto.
O tempo todo, só pensava
No que estaria fazendo naquela hora
Se eu fosse pequeno.
Talvez brincando no condomínio
Ou na praça do Ipsep
Até o Sol cair
E voltar com mamãe e papai
Suado e feliz, mal sabendo
Do que viriam nos próximos anos.
Estavam brincando assim quando cheguei
Os meninos do meu prédio.
Até os amigos demoraram pra surgir.
Só quando já corrigiram os gabaritos extraoficiais
Estando arrasados, indignados, humilhados
E uma penca de adjetivos depreciadores
Contra o governo de esquerda.
Só eu parecia apático
Mesmo tendo feito boa prova.
Será que meu sonho não é tão forte?
Não é o direito um sonho de anos?
Não conseguia achar motivo
Para esse distanciamento
Do mundo dos jovens que o ENEM para.
Quem sabe não me descobri poeta.
Infelizmente?
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