A Kitkat
A K i t k a t
— Boa noite — Catarina disse a todos os seus colegas enquanto eles saiam.
— Kitkat — Jéferson a chamou e ela olhou, recebendo um kitkat, o doce para o seu apelido no trabalho — o carro do seu namorado está ali embaixo te esperando.
— Já disse que Guilherme não é meu namorado! — ela disse furiosa, pegando a sua bolsa e percebendo que já eram sete horas da noite e ela não viu o dia passar.
Se ela terminasse a parte de dentro até o dia seguinte, ela poderia trabalhar nos bancos e no painel principal pela tarde...
— Não é o Civic preto, é um Cruze branco — ele a corrigiu e ela despertou dos seus pensamentos — trocou de amorzinho sem consultar a equipe? Sabe que somos muito dedicados a sua vida amorosa.
— Sei — ela revirou os olhos, mordendo a barra de chocolate — até demais — ela sorriu, despedindo-se dele.
Ela pensou que Bernardo á havia ido embora com a demora dela, ainda mais que ele não havia ligado para ela ou mandado uma mensagem, porém, aparentemente, ele a esperou.
Saindo do prédio, ela avistou Bernardo em uma conversa casual com José Paulo e Heitor. Não havia nada que ela temia mais do que seus colegas de trabalho dentro da vida pessoal dela.
— Boa noite a vocês — ela deu a volta no carro e entrou no banco de carona, colocando o cinto — acelera que não vai atropelar ninguém.
— Mas já? Seu amigo aqui é legal, já até aceitou beber uma cerveja com a gente... — José Paulo gracejou e ela mostrou o dedo do meio a ele, esquecendo-se de Bernardo que também estava ali.
— Vocês já me dão trabalho demais no expediente, não preciso passar mais tempo com vocês para saber que seria um erro — ela olhou para Bernardo — por favor, ignore esses caras e vamos embora.
— Kitkat, assim você nos machuca — Heitor riu, porém bateu no ombro de José Paulo, o chamando — vamos deixar a mocinha sair no encontro com o amorzinho supersecreto dela.
— Não é um encontro! Ele não é meu amorzinho! — ela berrou internamente com frustração da insistência deles — ele mora comigo!.. oh não.
— Mora com você? — os dois perguntaram ao mesmo tempo.
— Acelera, pelo amor de tudo que é mais sagrado, acelera! — ela implorou e, desta vez, Bernardo acatou o seu pedido mesmo que ele estivesse rindo tanto que seus olhos estivessem lacrimejando.
Eles deixaram os colegas de trabalho para trás, ambos com rostos surpresos e cheios de perguntas. Oh, ela sabia que teria que responder cada uma delas no dia seguinte, porém ela não estava com paciência para eles naquele momento.
— Sou seu amorzinho? — ele indagou, depois de alguns minutos de silêncio, assim que eles pararam no primeiro congestionamento até sua casa.
— Não. Vou. Comentar — ela falou pausadamente, tentando aparentar estar brava, porém ela mesma sabia que falhava miseravelmente com aquilo, então logo desistiu — não pode alimentar a mente deles. Eles já me importunam demais normalmente, não preciso que você dê combustível para eles me incomodarem amanhã — ela disse, previamente cansada do dia seguinte.
— Isso foi o troco por você ter aparecido na minha mesa de almoço daquela maneira. Acha que foi fácil para mim? — ele indagou, tentando fingir indignação.
— Então... aquela era Ana? É bem bonitinha — Catarina sorriu, mordendo sua boca e o olhando, apoiando sua cabeça no banco mesmo que ele não estivesse olhando para ela.
— Não — ele meneou a cabeça — quero dizer, sim, a Ana é bonita, mas não tem nada a ver comigo — ele buzinou para o carro que cortou a sua frente, freando bruscamente.
Os dois se assustaram, porém não havia sido nada grave.
— Vamos ficar no trânsito por um tempo — ele comentou, olhando o mar de luzes a sua frente.
— Normal, pelo menos não estou no ônibus — ela comentou com um pouco de alegria.
— Pensei que você viria de carona, mas sua carona cancelou — ele questionou sem perguntar, roubando uma olhada na direção dela, vendo que a mesma estava concentrada em seu celular.
— Acertou, nós tivemos um pequeno desentendimento naquele momento — ela abanou o fato com a mão — mas tudo certo agora.
— Ah, que bom — ele comentou, porém ela percebeu que ele não se importava com aquele fato, porém havia algo que ele ainda queria saber.
— Pode perguntar — ela ofereceu, sabendo que se não quisesse, não precisava responder, o que ela normalmente fazia.
— Quem era? O rapaz? — ele indagou, mostrando genuína e inocente curiosidade.
— Meu amigo Guilherme, nós nos conhecemos no colégio e somos amigos até hoje — ela respondeu, pois aquela era a verdade.
Ele voltou a murmurar respostas, porém nenhuma delas parecia traduzir o que ele estava pensando, e ela deixou aquilo passar, pois ele não precisava entender o relacionamento conturbado dos dois.
Ela e Bernardo apenas moravam juntos, não precisavam ser melhores amigos.
— E como foi a sua reunião de manhã? — ela perguntou.
Bernardo desatou a falar sobre empresas e termos do mercado financeiro que ela jamais havia ouvido falar em sua vida, porém ela o incentivou a falar com pequenas palavras ou comentários colocados em momentos propícios.
Então ele perguntou sobre o dia dela e ela realmente falou, falou sobre a oferta do setor de aerodinâmicos e sobre a horrível reunião da sua manhã.
— Ele não pode ter falado que o desenho do carro parecia fezes felinas — Bernardo pareceu horrorizado e admirado com o nível da reunião, achando graça em passagens que ela sentia vergonha de contar, porém aquilo a incentivava a revelar mais detalhes constrangedores da sua equipe.
— Sim! E o Paulo deu algumas sugestões pouco gentis sobre o que ele deveria fazer com aquilo — ela respondeu, gargalhando com ele, percebendo que o trânsito estava mais fluído.
— E o que você falou? — ele olhou para o espelho retrovisor e virou a esquerda, aproximando-os de casa.
— Eu nunca falo nada nesse tipo de reunião — ela estremeceu apenas por pensar — só mostro meu progresso e fico calada. Odeio confrontos ou discussões, elas normalmente me deixam desconfortável.
— E isso não é ruim? — ele franziu o cenho.
— É o jeito que eu aprendi a sobreviver ali — ela confessou — fazer ou falar algo que foge do script deles não é bom para mim.
— Mas por quê? Se você é tão boa, eles deveriam te ouvir e respeitar a sua opinião — ele disse com obviedade, pois aquilo deveria ser algo óbvio.
— Eu sou mulher, Bernardo, não tem como ter respeito no mundo da engenharia sendo mulher — ela cuspiu as palavras, fazendo com que ele se calasse e refletisse sobre o assunto.
O clima no carro havia ficado pesado e denso, com Bernardo olhando para rua enquanto Catarina olhava para a paisagem de luzes ao redor deles.
— Acho que temos que comemorar a sua pseudopromoção — ele comentou com tom de voz suave, como se tentasse testar o território para saber a aprovação dela.
— Não foi uma promoção — ela murmurou, porém, depois de um longo suspiro, acabou concordando que ela merecia uma comemoração digna — mas podemos comemorar.
— Eu conheço um bar muito legal que nós podemos ir na quinta-feira. Você pode chamar seus...? — ele foi interrompido quando ela começou a negar aquilo com a cabeça, não o permitindo terminar a sua frase.
— Não posso na quinta — ela falou sucintamente.
— Bem, tudo bem... quinta é dia de happy-hour e os seus colegas já haviam me convidado para... — novamente ele foi interrompido, porém desta vez com o olhar fulminante dela.
— Você o que? — ela gritou, fazendo com que ele se assustasse com a ira que ela exalava — não! Pode desmarcar agora!
— Por quê? Eles pareciam pessoas boas — Bernardo retrucou, incomodado com o temperamento da garota para com aquilo.
— Porque eles são insuportáveis. Eles sempre se metem na minha vida e gostam de complicar tudo! Guilherme não os conhece, pois eu sei que eles vão me constranger na frente dele. Meus amigos não os conhecem, pois eu sei que eles vão falar mais do que devem — ela espirou, tentando controlar seu coração descompassado — não é que eles sejam pessoas ruins, eles apenas são expansivos demais e... eu não sou assim. Eu gosto das coisas separadas, gosto de ter dois mundos diferentes.
— Bem... — ele comentou depois de avaliar calmamente suas próximas palavras — eu os conheço e moro com você, acho que não há nada que eles possam falar que eu talvez já não vá descobrir.
Ela abriu os lábios para falar, porém logo os fechou pela racionalidade apresentada no argumento dele. Realmente, ele morava com ela e havia conversado já com os rapazes, então qual seria o mal de sair com todos?
— Eu só... eu não costumo muito sair para beber em bares — ela falou indiferente, abrindo uma bala e a jogando dentro da sua bolsa.
— Por que não? É um ótimo lugar para socializar — o rapaz disse com animação, pois o bar de toda quinta era a única coisa que o mantinha funcionando o restante da semana.
Era a única coisa que o ajudou a superar Sophia.
— Eu prefiro livros ou séries. Tenho Netflix, HBOGo e um Kindle. E livros físicos também — ela falou aquilo como se tudo fosse explicado.
— E esse Guilherme jamais tentou te levar a nenhum pub legal? Vocês simplesmente ficam em casa? — ele estava ultrajado, ela poderia notar, pois o rosto dele havia ficado com uma cor avermelhada e a sua voz estava mais aguda.
— Não é o tipo de coisa que fazemos — ela respondeu, tentando manter a voz tranquila, pois parte dela dizia o oposto, que tudo seria melhor se aquilo fosse exatamente o tipo de coisa que eles fizessem.
— Essa sexta nós vamos sair, então — Bernardo anunciou — prepare-se que vou te mostrar que ir ao bar é algo legal.
Catarina queria dizer que não era necessário, porém sabia que ceder as vezes era mais fácil do que negar um milhão de vezes. Ela poderia ir, ficar uma hora, dizer que estava cansada e ir embora. Assim as pessoas parariam de incomodá-la sobre sua inatividade social.
— Tudo bem, sexta — ela concordou — mas hoje vou abrir uma bela garrafa de vinho para comemorar comigo mesma.
— E eu aqui pensando em te pagar um jantar hoje — ele meneou a cabeça com falsa frustração — acho que fui deixado de lado.
— Não seja tolo, não vou beber uma garrafa de vinho sozinha — ela sorriu para ele.
Aquilo era tão fácil que ela mal percebeu que por este mesmo motivo, aquilo seria perigoso. Não fisicamente, porém para seu coração.
A/N:
Kitkat <3 Bernardo ainda não tem um apelido tão bom quanto kitkat, mas estou trabalhando nisso!! Ideias e sugestões são sempre em vindas hehe
E o que estão achando? Muito rápido? Muito lento? Não acham nada? Podem me contar tudo que eu amo ouvir o que vocês tem a me dizer hehe
Espero que estejam gostando
Beijinhos e até a próxima!
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top