49. Requiém, parte II

Feliz dia das crianças 💜
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A lama escorregava por entre os dedinhos do pé da garotinha.

Correndo imprudentemente e sentindo a grama fazendo cócegas em seus tornozelos, ela se escondeu atrás de um grande vaso de barro há muito tempo abandonado. Ela usava um vestidinho branco de babados, agora sujo de terra, balançando nervoso em volta de si enquanto ela lutava para se manter quieta.

Há poucos metros dali, um garoto alguns centímetros maior, seu irmão, vasculhava cada cantinho do gramado com uma espadinha de plástico barata, usando uma capa de super herói amarrada por nós frouxos. Uma garoa fina começava a se instalar, a garotinha tremeu em antecipação — o ato final estava próximo.

      Quando ela ouviu a grama se quebrando nas redondezas, ela se apoiou em um joelho, e esperou.

— Há! — A garotinha apareceu na frente do irmão, assustando-o. Ele cambaleou para trás, abrindo brecha para que ela surrupiasse a espada de sua mão e saísse correndo, rindo.

— Ei! Volte aqui! — o garoto gritou de volta, não demorando para voltar à brincadeira. A garoa estava mais forte agora, uma chuva cheia de ventania, que passava dobrando o caule de flores e causando arrepios na pele.

Em um lugar perto dali, uma voz feminina demandou que as crianças retornassem para casa. Elas, no entanto, estavam imersas demais na própria diversão para darem ouvidos.

A garotinha parou de correr, se virando com um sorriso maléfico no rosto para encarar o irmão. Ele fez o mesmo, parando há alguns passos de distância, entrando numa dança circular, pesquisando a melhor forma de atacar a oponente baixinha.

— Você não pode fugir de mim, Maria, eu vou pegar o Sabre do Poder de volta. — o que a garotinha respondeu apenas mostrando a língua.

O garoto investiu, cortando a distância entre eles, mas a menina foi astuta e rapidamente desviou. As árvores uivavam ao fundo, o céu tomando um estranho tom alaranjado, a súplica da mãe ficara mais forte. Nesse momento, o garoto percebeu que já era hora de voltar.

Ele correu atrás da irmã, gritando por seu nome, mas ela só sabia correr e rir, pequena demais para saber distinguir a chamada angustiada do garoto.

Sem avisos, o chão começou a tremer, forte, como se uma manada imensa de búfalos avançasse, desequilibrando Maria. O garoto cambaleou, quase caindo, ainda com os olhos grudados na caçula.

— Maria, volte já para cá. Precisamos voltar para a mamãe.

A garotinha olhou, confusa, sem saber se deveria seguir a ordem. Não houve tempo suficiente para que eles reagissem ao estrondo das árvores tombando, dos passarinhos batendo em retirada e, finalmente, do rasgo quilométrico que se abriu na terra.

Um fosso de milhares de metros de profundidade cortava a superfície como faca quente, engolindo tudo que se pusesse no caminho. Na boca dele, magma puro corria pelas aberturas criadas, derretendo tudo que fosse vivo e transformando em mais combustível.

O garoto impulsionou o corpo para frente, se jogando para frente no segundo exato para agarrar a mão da irmã. A garotinha gritou, suspensa na ponta do precipício. O chão continuava a tremer e tremer, dando amplitude ao rasgo que continuava se estendendo à frente deles sem dar qualquer sinal de trégua.

— Segura firme!

— 'Rick, eu tô com medo! — a menina fungou, com os olhinhos já marejados. O garoto tinha apenas uma mão a segurando, a outra estava cravada na grama, impedindo ele mesmo de cair no buraco.

A chuva havia deixado suas mãos escorregadias, seu aperto era consideravelmente mais fraco e ele suava frio. A menininha balançava sob sua mão, tremendo ainda mais à medida em que ela ouvia o fogo estalando no fundo da ravina, crescendo em seus ouvidos como se estivesse se aproximando.

Naquele mesmo gramado, os pais corriam desesperados na busca de seus filhos, enxergando muito pouco através da tempestade e das trovoadas. O casal apoiava-se um no outro para se sustentarem de pé, titubeando sem direção até enfim ouvirem os gritos das crianças.

Atrás deles, outro rasgo se formava no sentindo oposto, correndo a fim de cruzar o primeiro. Os adultos arregalaram os olhos, o coração na boca, competindo com o rasgo para chegar até as crianças.

A trilha de morros começara a desmoronar, resultando numa cascata de pedregulhos e maciços blocos de terra descendo por todas as direções. De onde estavam, eles podiam ver claramente os dois filhos na ponta do rasgo, os cortes vermelhos na mão da menininha, causados pela unha do mais velho, que lutava para segurá-la, e o toco de terra que ele pobremente usava para se manter estável.

— Nós estamos chegando, crianças, aguentem firme! — o pai gritou, logo antes de ter que desviar de um pedaço de terra que desmoronou sob seus pés. O chão agora era uma malha instável e quebradiça, partindo-se sem avisos por todo canto. Sem dizer mais nada, ele deu um olhar de aviso à esposa, que entendeu na mesma hora: eles precisavam se apressar.

A mão do menino já não conseguia mais segurá-lo, e o peso da garotinha o puxava para baixo junto com ela. Os dois gritavam, aterrorizados, e a garotinha fechou os olhos para não encarar a lava abaixo dela.
Num golpe de sorte, os pais alcançaram as crianças, conseguindo puxá-las do abismo e rolando com elas para o lado, antes que a terra da borda do rasgo desmoronasse abismo abaixo.

Sujos e ensopados, os pais abraçaram os filhos com as lágrimas correndo soltas pelo rosto de ambas as partes, agradecendo aos céus por terem sobrevivido.

Em outras partes do mundo, outras crianças não obtiveram a mesma graça.

**

O zumbido no ouvido, por mais dolorido e irritante que fosse, era o indício de que ele não havia morrido.

A cabeça de Jimin girava como um tornado, sentindo-se muito mais pesada do que deveria. Com a visão parcialmente escurecida por pontos negros, ele apoiou as mãos sangrentas com dificuldade no chão de pedra destruído. Ao redor dele, caos.

Jimin insuflou os pulmões com dificuldade antes de conseguir erguer a cabeça.
A capela havia sido totalmente destruída. O castelo em torno deles começava a desmoronar pedra por pedra, e o núcleo da destruição era fácil de rastrear: no meio de todos os gritos desesperados, sangue, e sons de trovões, Jungkook pendia acima do chão como um deus da morte.

Uma estranha luz vermelha cintilava ao redor dele, enfatizando suas órbitas totalmente negras. De seus braços, vinhas vermelhas se estendiam até o chão como uma praga, matando as plantas e infertilizando o solo agora enegrecido. A pele estava acinzentada, numa aparência mórbida, e seus lábios estavam levemente abertos como se o garoto estivesse num estado catártico, muito além da realidade.

Jimin chamou por ele, mas o íncubo mal podia ouvir sua própria voz sob a atmosfera barulhenta. A maior parte dos membros da Igreja havia sido morta ou severamente ferida pelo impacto da explosão, o lugar estava contaminado pelo cheiro ocre e metálico de morte, gentilmente ressaltado pela Lua de Sangue.

Olhando ao redor, Jimin finalmente se deparou com o cadáver de Seokjin. Instantaneamente, o horror tomou conta de si. Se arrastando pelo chão, Jimin chegou até o lugar em que ele jazia.
Sentindo as lágrimas escorrendo pelo rosto, Jimin fechou os olhos do amigo.

— Descanse em paz, Seokjin... Eu espero que, mesmo nessa situação, você ache a paz que você merece. — O íncubo sussurrou. — Eu vou parar isso, essa é minha última dívida com você, ok? Eu prometo que não vou parar até que Jungkook esteja à salvo. Eu juro.

Sem conseguir segurar mais, o íncubo afundou o rosto no ombro de Jin.

Os céus sabiam o quanto Jimin se arrependia. Por ser teimoso, por ser estúpido e por não ter descoberto a armadilha em que foram postos, tudo isso era culpa dele. Jimin tinha achado que seu amor por Jungkook seria suficiente, mas oh, ele estivera muito enganado. Ele sempre seria um demônio, e como tal estava fadado a sofrer a punição eterna por todos os seus pecados. Sua penitência era justa: ver a morte de todos os seus amigos, do mundo que ele tanto gostava e, mais uma vez, a aniquilação do ser amado.

Naquele momento, Jimin quis gritar, amaldiçoar os céus por permitirem aquele sofrimento, por permitirem que pessoas inocentes pagassem o preço por algo que não tinham culpa.

Dentro dele, sua forma feral pulsava de ódio. Dentro de Park Jimin, havia sede de vingança.

— Jimin? Jimin! Você está bem?

O loiro levantou os olhos para a figura que se aproximava. Carregando Hoseok pelos ombros, Taehyung se arrastava com dificuldade para encontrar Jimin. No momento em que se encontraram, Jimin se jogou sobre ele.

— Tae! Acabou tudo, está tudo arruinado. Jungkook...

O leviatã repousou delicadamente o curandeiro inconsciente no chão, ainda extremamente debilitado, e acolheu o amigo como eles sempre fizeram em tempos de crise.

— Ei, ei. Eu sei, eu vi tudo também. Nós vamos dar um jeito nisso, você é a porra do Park Jimin. — ele tentou animá-lo, envolvendo o rosto de Jimin com as mãos. — Lúcifer nos perdoe deixar humanos imundos como esse destruírem  tudo que nós fizemos, claro que não! Nem que nós morramos tentando, nós vamos acabar com isso, entendido?

—Olhe para ele, Tae, olhe no que ele transformou Jungkook. Como eu... — sua voz falhou no último minuto, e o íncubo se permitiu calar.

— Você vai dar um jeito, você sempre dá. Você ja lutou com exércitos maiores que a Guarda Nacional, Jimin, você é imbatível. — Jimin resfolegou em resposta, claramente abalado.

— Não é sua culpa, Jimin, não é culpa de ninguém. — ele ergueu o queixo do íncubo. — Ele não é a Rebecca, e você não é o mesmo homem de 300 anos atrás. Você pode e vai salvá-lo, ok?

O loiro franziu as sobrancelhas, assentindo. Era inacreditável o quão forte Taehyung conseguia fazê-lo sentir-se, o quão assertivo e firme ele conseguia ser sobre os sentimentos mais sombrios que ele possuía. Jimin não tinha mais dúvidas, não tinha mais medo.

No entanto, uma voz conhecida chamou a atenção deles.

Erguendo-se fracamente sobre um dos joelhos, o reverendo Kim usava suas últimas forças para falar com Jungkook.

— Isso, isso! Ó grande Besta, ó grande Deus, receba estas vidas como o seu presente. EU sou seu mestre, EU te trouxe do pó para o mundo mortal. Dê-me seu poder, Dê-me sua força, demônio! — gritou ao vento o homem lunático.

A essa altura, as vestes finas de ouro do homem haviam ficado em frangalhos, seus braços eram um misto de terra e sangue, e ele ria despreocupadamente com a cena, nem um pouco aflito pelos gritos dos companheiros.

Na realidade, ele mesmo havia encerrado a vida de alguns com o punhal que, incrivelmente, não deixara sua mão após a explosão. Por todo o local de destruição, os cadáveres do Papa e de bispos permaneciam com rostos atônitos e cortes enormes ao redor do pescoço — uma cachoeira de sangue imundando as roupas sagradas.

Jungkook, ou a carcaça do que algum dia fora ele, se virou para o homem com os olhos vazios. O homem comemorou, cedo demais, no momento em que Jungkook estendeu um braço na direção do homem, e as vinhas se enrolaram ao redor do pescoço dele, levantando-o há muitos metros do chão.

— O-O quê?! Me solte agora, me ponha no chão! — o homem se debateu. — Eu sou seu dono, você é meu, pare! — ele gritou quando o aperto no pescoço ficou maior.

No chão, Jimin, e Taehyung observavam a cena em estado de choque.

O reverendo continuou se debatendo e gritando palavras indistinguíveis e, sem nenhum aviso, a cabeça do homem explodiu em um milhão de pedaços. O restante do corpo foi então chicoteado no ar pelas vinhas, e Jungkook simplesmente desviou o olhar, inabalado.

Erguendo os braços, Jungkook começou a fazer o chão tremer. Ao mesmo tempo, centenas de rasgos começam a rachar o chão em milhares de quilômetros.

— Cuidado! — Jimin gritou, puxando Taehyung e Hoseok antes que eles caíssem em uma fenda.

Simultaneamente, incontáveis rugidos ferais tomaram conta da atmosfera, juntamente com o som de gritos humanos. Taehyung e Jimin uivaram de dor, apertando o peito com as faces distorcidas em dor.

— Que merda é essa? Você tá sentindo isso? — Taehyung falou entredentes.

— Ugh. É como se estivessem furando meus órgãos com fogo. Eu vou enlouquecer! — ele gemeu.

— S-Só pode ser Jungkook, ele está fazendo alguma coisa com os demônios.

— Isso não é o Jungkook, isso é aquela coisa dentro dele! E-Eu acho que Jungkook deixou que ele o dominasse, eu não sei.

Taehyung deu um meio sorriso de escárnio.

— Se for isso, nós estamos fodidos. Você acha que tem poder suficiente? — Ele apontou com o queixo para o peito do íncubo.

— Mal consigo sentir, aquela porra de fungo ainda deve tá na minha corrente sanguínea, parece que tô chapado. Afinal, como eles conseguiram aquilo??

— Provavelmente no mesmo lugar em que eles descobriram que podiam conjurar uma besta demoníaca, há.

Jimin e Taehyung pararam de falar ao ouvir gemidos vindos do lado deles. Hoseok começara a murmurar alguma coisa, os olhos ainda pesados, mas ele começava a recobrar a consciência.

— Hoseokie? Você está bem? — Taehyung estendeu uma mão sobre sua testa fervendo. — Você está com febre. É infecção, precisamos achar um abrigo pra você.

— Nhnh, não... E-Eu tô bem. — o ruivo gemeu. — J-Jungkook, pr-precisamos ajudar... — Hoseok tossiu, expelindo fluídos do fundo da garganta na grama logo abaixo dele.

— Tae, você consegue andar? Vocês precisam ir pra um lugar seguro, sou eu que preciso resolver isso. — Jimin agarrou o punho dele.

— O quê?! Você tá completamente maluco se você acha que eu vou deixar você encarar aquele troço sozinho! — Taehyung arregalou os olhos, subitamente com raiva pela imprudência e pelo simples pensamento de ter que abandonar Jimin.

— Tae, é o melhor. Você fica muito enfraquecido e vulnerável sem as pílulas, e Hoseok vai morrer se deixarmos ele sozinho. Você quer isso? — Taehyung comprimiu os lábios. O ponto fraco dele. — Eu não posso perder vocês também. Escute, você mesmo disse. Eu sou Grão Senhor dos demônios, não sou? Quem mais poderia fazer algo senão eu? É meu dever, Tae, por favor me deixe fazer isso. Por Jungkook, e por Seokjin.

Taehyung suspirou pesado, olhando para o ponto no céu em que Jungkook estava. Ele mordeu os lábios, e por um momento Jimin achou que ele não aceitaria.

— Está bem, mas me prometa que você não vai morrer. Eu juro por Lúcifer, Park Jimin: se você morrer, eu me mato só pra ir no Além te infernizar. Estamos entendidos?

Jimin riu, dando um abraço apertado e desajeitado nele, ignorando a fisgada em seus braços machucados e os olhos marejados.

— Eu te amo. Eu prometo — ele sussurrou, mesmo sabendo que muito provavelmente ele não conseguiria cumprir a promessa.

Taehyung se despediu e, olhando uma última vez para Jimin, ele colocou Hoseok nas costas e saiu correndo com o homem. Se fosse possível, o loiro provavelmente diria que foi naquele momento em que o coração dele se despedaçou. Mas ele tinha que juntar os cacos, domar suas confusas emoções humanas antes que fosse tarde demais.

Ele puxou o fio de sua onda de poder, sentindo aquele calor familiar voltar a formigar a ponta de seus dedos com muito esforço até que finalmente começou a se estender pelo corpo. Com um pouco de persistência e muita paciência, ele domou as agulhas de fogo de Jungkook, comprimiu-as no fundo de sua mente, suprimindo-as até que a dor não passasse de uma martelada irritante, mas suportável.

Ele só rezava para que Taehyung também conseguisse suportar até o final da noite.

Jimin se levantou, sustentando o peso do corpo ferido nos dois pés. Sentindo os olhos fervendo em arcos dourados, ele gritou a plenos pulmões:

— Jungkook! Eu estou aqui!

Num reflexo, a besta se virou para ele. Num movimento simples, ele de alguma forma ordenou dezenas de demônios sobre Jimin. Em ondas intermináveis, eles chegavam correndo de todos os lugares. Pulando cercas, telhados de casas, alguns com pedaços humanos ainda nas presas, eles corriam famintos na direção do íncubo.

— Puta que me pariu. — Jimin rosnou.

Jimin atacou-os com toda a força que tinha, usando seus poderes para jogá-los longe, e aqueles que arriscavam se jogar sobre ele eram cortados por uma lâmina invisível dominada pelo loiro. O íncubo suava, sofrendo com diversos arranhões e cortes profundos de garras no seus membros.

As feram eram muito mais do que Jimin podia contar, surgindo de todos os lugares como pragas, aterrorizando qualquer pessoa ou animal que encontrassem. O loiro sofria com cada súplica desesperada que chegava aos seus ouvidos, todas curtas demais, todas interrompidas antes mesmo que alguém pudesse chegar para ajudá-las.

Os demônios eram implacáveis sobre Jimin, estavam muito além da consciência ou do reconhecimento, e o íncubo as exterminava com a mesma raiva contaminante. Aqueles eram seus súditos, amigos, velhos parceiros de jornada, todos família de alguma forma, e ele estava sendo obrigado a massacrá-los a sangue frio.

Mesmo nas formas bestiais, os demônios ainda mantinham alguns traços que os tornavam reconhecíveis, principalmente para Jimin. O pior de tudo era o cheiro que exalavam, o dor seco e pungente de madeira queimada, gasolina. Uma vez naquelas formas, eles nunca voltariam ao normal, estavam fadados a perecer naquela forma imunda e nojenta imposta a elas. Nenhum deles havia escolhido nascer, mas todos o faziam com a promessa de que suas vidas seriam resumidas a matar e serem mortos.

E no meio de tudo isso, Jungkook balançava pelo céu com uma tranquilidade angustiante, se movendo até a área residencial da cidade e deixando atrás de si um rastro de destruição. As vinhas que ele produzia, semelhante a vasos sanguíneos, corriam pelo chão e pelas paredes, subindo pelas laterais das casas, postes de luz, carros e construções, duras como cobre e morbidamente fétidas.

Os rasgos, incrivelmente, acabaram sendo de ajuda para Jimin empurrar as bestas abismo a baixo. Algumas eram muito fortes, usando as garras para se segurar na borda, mas a grande maioria caía na lava sem muito esforço. Jimin podia ouvir o relógio tiquetaqueando dentro da cabeça, ele sabia que tudo aquilo era uma grande perda de tempo, uma distração para que Jungkook aproveitasse sua destruição sem inconvenientes.

Após mais alguns minutos, O íncubo já conseguira matar demônios suficientes para ter alguns segundos de alívio, para que tivesse tempo de olhar ao redor e rastrear uma forma de chegar até Jungkook.

Ele sabia o que fazer: desviando dos rasgos e das bestas, Jimin conseguiu correr de forma sobrenaturalmente veloz até finalmente avistar o garoto. A cidade já estava parcialmente destruída, com casas sem telhados e muitos trechos de estrada interrompidos por buracos enormes, mas ele conseguiu usar as vinhas para escalar até o topo de um prédio comercial de poucos andares.

Do topo, ele enxergava claramente onde Jungkook estava. Ele se jogou sobre o telhado de um outro prédio, um pouco maior, e continuou nisso até pousar num outro ocalizado nas costas de Jungkook. Por sorte, o barulho era alto demais para que Jungkook pudesse ouví-lo chegando, havia o som de explosões e veículos em chamas por todo canto.
Exalando o ar com dificuldade, Jimin travou os olhos na figura de Jungkook.

E então, ele saltou.

Jimin voou pelo ar, conseguindo agarrar por muito pouco a gola da camiseta de Jungkook, fazendo-o se desequilibrar. O garoto rugiu, tentando agarrar o íncubo atrás de si.

— Jungkook, por favor, sou eu. Você tem que acordar, você tem que domá-lo! — Jimin gritou, mas o garoto agia como uma besta selvagem, incomunicável naquele estado.

Jimin desferiu golpes, usando os dedos para eletrocutar o pescoço de Jungkook, o que o fez gritar. Jungkook se balançou furiosamente pelo ar, as vinhas se contorcendo com a mesma fúria embaixo dele, se enroscando nos pés de Jimin. O loiro chutou-as, mas nesse pequeno momento Jungkook conseguiu se virar e agarrá-lo pelo pescoço.

Jimin arfou, lutando para se livrar do aperto.
Jungkook o ergueu no ar, cerrando os dentes.

— Jungkook... por favor... eu te amo.

As lágrimas correram pelo rosto de Jimin, e ele se viu impotente sob a força do moreno.

Envolvendo as mãos sobre a de Jungkook, Jimin percebeu que ele não podia matá-lo, ele simplesmente não conseguia. Era impossível se imaginar num mundo sem ele, sem aquele garoto estúpido e humano.

O poder de Jimin se encolheu em submissão à Jungkook, o laço que eles ainda mantinham era uma lembrança dolorosa do amor que Jimin inutilmente nutria por ele, desarmando-o completamente. E a dor que o íncubo sentira não era nada comparada ao que ele experienciava naquele momento, ao tentar olhar para a mente de Jungkook e só enxergar escuridão.

— Eu sinto muito por falhar com você, Jungkook, eu sinto muito mesmo.

O aperto de Jungkook ficou ainda mais forte, e a cabeça de Jimin começou a girar. Enquanto ele perdia a respiração, o íncubo rezou, rezou de verdade para os céus, para Deus, para qualquer anjo que pudesse ouví-lo. Salvem ele, por favor.

Com lágrimas nos olhos, invisíveis ao íncubo, Jungkook sugava seus últimos suspiros de vida.

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