45. Memento mori
Memento mori: "remember that you will die"; a reminder of mortality or the inevitable transformation of life into death
—-----------------------------------------------
Jungkook se orgulhava por ser uma pessoa relativamente resistente.
Ele estava acostumado a treinos intensos, pesos que o forçavam até o limite da dor — ele amava o desafio e a sensação de satisfação ao se olhar no espelho vermelho e todo suado. Jungkook estava longe da academia há apenas algumas semanas, mas as consequências já eram perceptíveis.
Apesar de ainda ter o abdômen e bíceps firmes, eles já não tinham o mesmo volume, ou o mesmo atrativo de antes. Eles pareciam mais como armaduras; rígidos ao toque, e lisos. Talvez aquilo fosse devido à tensão em que ele se encontrava, ou talvez fosse alguma metamorfose esquisita causada em seu físico pela presença do Outro.
O fato era que, mesmo sob influência de forças maiores e muito mais poderosas, ele ainda estava subordinado a um corpo humano. E, quando corpos humanos se cansam, eles ficam abatidos. Mas, quando se exaustam, eles colapsam.
Nem ele poderia dizer em que momento adormeceu. Em um momento, ele estava a todo vapor, dopado de adrenalina e roendo cada uma das unhas dos dedos obsessivamente enquanto esperava por Namjoon. E em outro, ele se pegou encostando na cadeira. Mas não era para dormir, não, ele só queria descansar as costas um pouco, e então...
...
O garoto foi despertado do sono com uma tontura lancinante.
À primeira vista, ele não entendeu o que estava acontecendo. No entanto, nos segundos que se passaram até seus sentidos despertarem, ele notou uma pressão forte contra sua boca e nariz, uma mão caleijada puxando seus cabelos, vozes altas e estridentes atingiram seu ouvido sensível... Aquilo foi uma explosão?
Ele não teve tempo ou força para reagir enquanto os ouvidos zumbiam, os braços estavam moles e pendentes como pesos, ele os agitou inutilmente no ar para se livrar de seu algoz, mas ele era impassível à presença de Jungkook, como se ele fosse apenas outra carga a ser transportada, outro objeto.
Quando finalmente abriu seus olhos, ele teve a visão breve de Jimin sendo arrastado quase inconsciente por dois homens de preto. A cabeça estava pendida para baixo, sangue escuro pingava de sua cabeça em poças, enquanto pés se arrastavam pelo chão.
— J-Jungkook... — Ele tentou estender a mão na direção do garoto.
Ao mesmo momento, Jungkook rapidamente mergulhava em um sono profundo.
**
A moleza que vinha com a dor de cabeça era a pior parte.
Quando acordou novamente, seu primeiro instinto foi correr, mas era óbvio que suas pernas não o acompanhariam porque 1°, ele havia ficado deitado sobre a própria perna por muito tempo e elas estavam dormentes; 2°, porque suas mãos estavam algemadas e, quando tentou se levantar, elas ricochetearem nele mesmo e, 3°, porque ele bateu a cabeça no teto com força e quase desmaiou de novo.
Mas, ah, não era só isso. Jungkook logo percebeu que a pressão sobre a boca vinha de uma fita tampando-a.
"Onde eu estou?!"
Ele tentou gritar através da fita e balançar os grilhões, infelizmente, tarde demais para que ele notasse os dois homens que se escondiam na penumbra.
A golpeada em sua nuca o fez expulsar todo o ar dos pulmões.
— Quieto. — Uma voz grave se pronunciou, retornando à mesma posição como um robô.
Jungkook olhou atordoado para o homem, mas seu rosto era praticamente invísivel na escuridão. Um sobressalto no lugar fez com que seu corpo escorregasse contra a parede. Foi então que ele percebeu que estava num veículo em movimento. "Para onde estão me levando...?"
Parecia ser os fundos de uma van preta, talvez um furgão, mas o interior escuro preenchido apenas com bancos de ferro não lhe davam muitas pistas. Fora isso, ele duvidava que, mesmo que pudesse falar, os brutamontes responderiam às suas dúvidas.
"Jimin!"
A imagem do íncubo ensanguentado retornou até ele como um tiro. Ele estava muito ferido quando Jungkook o viu, para onde ele foi levado? Não, quem o levou? E por quê?
Namjoon deveria ter chegado, mas era óbvio que ele não conseguiu cumprir a missão — alguém chegou antes dele. Mas quem poderiam ser? Inimigos de Jimin? Monges furiosos de Montserrat? Demônios? Mercenários? Agentes do governo?
Poderia ser literalmente qualquer um, Jimin nunca fora exatamente do tipo amistoso. Aquele filho da mãe...
Os homens permaneciam calados e de braços cruzados. Um à sua frente, e o outro à esquerda. Eles estavam tão quietos e imóveis que por um momento Jungkook se perguntou se eram de verdade. Até mesmo no silêncio, ele mal conseguia ouvir suas respirações — mas a sua, em contraste, era alta e abafada.
A cada minuto que passava, Jungkook ficava mais e mais angustiado ali. O lugar era claustrofóbico e com mínima entrada de ar. As algemas raspavam contra sua pele e deixavam vergões irritados, ao mesmo tempo que ele mesmo tentava, sem sucesso, descolar os lábios da fita adesiva.
Ele sabia que precisava dar um jeito de sair dali rápido, só que, novamente, ele parecia ter dado de cara com uma parede. Completamente sozinho, ele só podia contar consigo mesmo, o que naquela situação o deixava ainda mais desesperado. Se apenas Namjoon conseguisse ajudá-lo...
Jungkook se recordou da pequena "aula" que teve com o caçador. Ele tinha poderes, poderes de verdade, e já os tinha usado antes. Jungkook totalmente poderia usá-los de novo. Era apenas o lógico. Era apenas o óbvio. Totalmente possível. Então não haveria motivo para que ele começasse a ficar nervoso, afobado, hiperventilando e...
Jungkook estava fazendo exatamente isso.
Lutando contra o mar de emoções, ele apertou os olhos para barrar os pensamentos e desviá-los até onde ele queria. Ele imaginou as correntes se quebrando, os homens de preto voando longe, e ele intacto.
Ele pensou e pensou, manifestando isso com uma insistência desesperada, mas ele já havia há muito se deixado dominar pelo pânico.
Jungkook abriu os olhos.
Ele ainda estava no furgão.
A diferença era que agora uma feição singela de curiosidade pairava sutilmente sobre os rostos dos homens, mas ela desapareceu instantes após Jungkook abrir os olhos.
Parabenizações ao profissionalismo.
Jungkook olhou de um canto ao outro, girando os punhos meio dormentes nas algemas, mexendo os dedos dos pés para tentar voltar o controle sobre as pernas. Gotas de suor pesadas molhavam sua nuca e bagunçavam sua visão em meio à franja castanha, mas sua obstinação superava tudo — agora não era só ele quem estava em perigo, a vida dos outros rapazes também estava em jogo. Menos a de Jimin, que aquele demônio de merda fosse pro inferno.
A van pareceu ter passado por algum buraco na estrada, fazendo tudo dentro balançar. No mesmo momento, um brilho incomum vindo de um dos bolsos de homem à esquerda invadiu o olho de Jungkook.
O garoto resistiu à vontade de olhar diretamente ou sabia que o homem perceberia, mas em sua cabeça ela já traçava um plano, pois era uma lâmina que ele tinha em seu bolso.
Com o canto dos olhos, Jungkook deu seu máximo para tentar distinguir as formas. Não era grande o suficiente para ser uma faca, quiçá um punhal, mas muito possivelmente poderia ser um canivete ou algo parecido às shourikens que viu com Namjoon.
Felizmente, Jungkook percebeu outra coisa: a corrente que se conectava às algemas era relativamente móvel. Com ela, Jungkook analisou que conseguiria fazer um movimento de aproximadamente 120° com as mãos juntas. Com um pouco de sorte, talvez ele conseguisse chegar perto o suficiente da faca.
Ele se moveu de milimetro a milimetro, deslizando demasiadamente lento para mais perto do homem; Jungkook se aproveitou de toda e cada curva que apareceu, se esforçando para manter a cabeça baixa e se manter o mais natural possível. Para eles, Jungkook deveria se mostrar o moleque mais assustado e inofensivo que eles já encontraram na vida.
Eles não deveriam se preocupar, não deveriam vigiar ou sequer olhar na direção dele. Não era necessário. Apenas um moleque bobo. Um inconveniente. Talvez a passagem para um pagamento ou alguma promoção no trabalho. Nada demais.
A estabilidade sumiu debaixo dos pés de Jungkook por um momento e o tranco o fez bater a cabeça no teto da van. De novo.
Enquanto tentava se recompor da batida, ao mesmo tempo que sentia um galo começando a se formar, Jungkook enfim pôde notar algo.
Contando com o momento em que acordara, aquela era a terceira vez que o veículo dava sobressaltos.
"Isso... será que é um padrão? Ou pirei de vez?"
Ele não conseguia se lembrar direito do intervalo que se passou entre os pulos, mas ele arriscava dizer que eram consistentemente regulares. Bem, só havia um jeito de descobrir.
"Eu poderia usar isso ao meu favor..." — Jungkook encarou discretamente as duas figuras corpulentas sob os cílios grossos.
Os sobressaltos dados pela van eram acompanhados de pequenas mudanças na iluminação. Claro, o lugar por si só já era bem escuro, mas durante aqueles segundos, nenhum ínfimo raio de luz passava por ali. Talvez eles tivessem passando por túneis?
Jungkook engoliu em seco ao imaginar que talvez eles estivessem em passagens subterrâneas, morrer soterrado não estava exatamente em seus planos.
Ele teria que se preocupar com aquilo depois, de qualquer forma, ele não tinha outra opção senão tomar conta do veículo e fugir daquele buraco.
Só então ele começou a contar os segundos que se passavam. Lenta e dolorosamente, sua ansiedade fica maior conforme os números se estendiam. Seria eufemismo dizer que ele havia calculado mal o risco de suas ações, ele não pensara duas vezes antes de se jogar em seu pequeno (muito provavelmente falho) plano.
Aquela parte corajosa e selvagem de Jungkook parecia despertar novamente. Se era bom ou não, ele teria que pagar para ver.
698...
699...
Jungkook foi arrancado do chão mais uma vez.
"Certo", pensou o garoto após se recuperar do tranco. Levando em conta uma margem regular de atraso para a contagem, Jungkook ficava com aproximadamente 900 segundos até o próximo solavanco. Isso é, se ele tivesse a sorte de o veículo passar por outro. Ele apostava que sim.
15 minutos.
Ele não conseguiria encostar as mãos na lâmina até o momento exato da batida, era impossível com eles olhando ali e com a entrada de luz. O momento mais seguro seria quando a van entrasse na penumbra, só então ele teria uma chance (pequena) contra os homens.
Eles pareciam assassinos treinados, eram muito rígidos e disciplinados para serem simplesmente membros de gangue ou algo do gênero, eles sabiam exatamente o que estavam fazendo. Pelo jeito, aquela não era a primeira vez que sequestravam pessoas.
Suas pernas ainda estavam dormentes, e as mãos suadas e ardentes pelo atrito com o metal, Jungkook sabia que não estava na melhor forma para tentar um ataque.
Mas se ele conseguisse se soltar das algemas...
10 minutos.
Por mais que tentasse, as algemas não se moviam um milímetro. Do contrário, elas pareciam cada vez mais apertadas, ou será que era seu peito que estava ficando comprimido?
Jungkook rangeu os dentes. De um lado, ele precisava de toda sua energia voltada para aquilo, mas do outro, ele não podia erguer nenhum suspeita. Como ser potente e silencioso ao mesmo tempo? Era impossível.
"Vai, vai, vai..."
Ele suplicava silenciosamente.
Um mero tilintar fora de hora poderia atrair a atenção dos homens para ele. Jungkook colou os cotovelos ao lado do corpo para impedir que isso acontecesse.
Ele já estava perdendo o controle. De novo. Jungkook já não tinha paciência para coordenar os pensamentos, o fluxo dentro de sua cabeça era intenso e desorganizado, bem como as batidas dentro de seu peito. Ele era imaturo demais para lidar com o poder, porra, por que ele não conseguia fazer uma coisa tão simples?!
5 minutos.
O calor aquecia o metal sobre os punhos de Jungkook. Aquecia demais. Lascas de pele morta se soltaram dali. Por que estava tudo tão quente? Os guardas pareciam notar também, pelo jeito que eles discretamente secavam as testas com as costas das mãos.
Jungkook, no entanto, mal se dava conta dos arredores. Ele já tinha perdido a contagem inteira, e parcialmente (quase toda) a esperança.
Ele encostou a cabeça na parede, olhando para o céu negro.
Por que parecia que, a cada vez que ele conseguia dar um passo à frente, ele dava mais três para trás? Era injusto aquilo ser tão difícil para ele, enquanto seus hyungs usavam suas habilidades como se não fossem nada.
Bem, mas elas também não funcionaram como deveriam, levando em conta que eles também possivelmente foram sequestrados...
Isso. Quem Jungkook achava que era, tentando dar uma de herói quando nem mesmo demônios milenares conseguiram escapar dali? Ele não era nada em comparação a eles, aos seus poderes, nada. Mas fora as habilidades sobrenaturais, ele também estava deixando muito a desejar nos atributos humanos. A força física havia varrido dele como um sopro, seus músculos mal reagiam à contração.
Sua própria soberba era impressionante. Ele poderia até rir diante da própria audácia, se naquele momento ele não estivesse dopado de adrenalina.
150 segundos.
Se escorar nos seus poderes não o ajudaria. Jungkook percebeu, eles nunca foram dele. Nem foram emprestados, mas sim cedidos contra a vontade do Outro, não havia por que obedecerem um moleque humano e prepotente como ele.
O tempo escorria através dele sem que Jungkook pudesse fazer nada para impedir, e os segundos perdidos não voltariam atrás nem que ele implorasse. Era quase certo que seu tempo estava acabando, ele só não sabia ao certo quanto ainda o restava, e tinha medo de que a qualquer momento o solavanco viesse e ele não estivesse preparado.
Era a morte que o assustava ou a imprevisibilidade do futuro? Ele já havia vivido muito naquelas semanas, arriscava dizer que mais do que qualquer outro jovem de 24 anos. Na verdade, uma grande parte de Jungkook já tinha ciência de que seu combustível era, na realidade, o medo da solidão.
50 segundos.
Jungkook não podia crer no quanto estava estagnado ali. Ele estivera na mesma situação antes, mas parecia que ele não havia aprendido nada.
Ele não podia aceitar derrota de novo tão facilmente. Ele sabia que estava sendo ganancioso ao decidir que não pararia até que os poderes funcionassem, mas que se foda.
Ele estava cansado de nunca conseguir nada sem antes quase perder a vida ou ser humilhado, só dessa maldita vez, ele queria-, não, ele precisava que as coisas fossem mais fáceis.
Ele baixou os olhos até as algemas de novo. Focado. Olhos vermelhos e irritados. Garganta seca. Um pedaço de metal velho e enferrujado privava-o de sua liberdade, isso era inaceitável.
Jungkook limpou a cabeça com um suspiro profundo, sentindo a faísca familiar se estendendo entre os membros até a ponta dos dedos. Seus olhos eram firmes, fuzilantes sobre as algemas, e elas quebrariam.
Elas quebrariam, não porque ele estava pedindo ou mandando, mais como se sempre tivessem sido fadadas àquele destino, apenas esperando o gatilho para que o fizessem. Por vontade própria, as ligações se partiriam.
0 segundos.
No momento em que o próximo sobressalto ocorreu, as mãos de Jungkook voaram livres junto a pedaços de ferro fundidos, ao mesmo tempo em que a mão esperta do rapaz surrupiava com destreza sobre-humana a lâmina do bolso do guarda.
Tudo ocorreu numa questão de segundos.
Ele soube exatamente como segurá-la, exatamente como cortá-la pelo ar, Jungkook soube que tinha feito certo quando sentiu o corte limpo da lâmina pela pele do homem espirrando sangue morno sobre suas mãos. Houve apenas o ruído sôfrego de sua respiração entrecortada. Um estrondo contra o chão.
Mas ele não foi rápido o suficiente para antecipar o outro guarda.
— Seu desgraçado!!
O homem bateu a cabeça de Jungkook com tudo na parede. Sua visão ficou branca por alguns instantes. Sua cabeça foi puxada para trás pelo cabelo, uma lâmina apareceu vacilante contra seu próprio pescoço.
— Filho da puta... Henry... O que você fez... — a voz do homem era uma mistura de raiva e perplexidade.
As mãos de Jungkook voaram até o braço que segurava a lâmina. Má ideia.
— Se mexa de novo e eu vou ter o maior prazer em enfiar a porra dessa lâmina no seu pescoço. — ele pronunciou com raiva, forçando a faca contra a pele até que um fio de sangue passasse a escorrer. — Seu psicopatinha de merda... eu mesmo já teria acabado com você se eu pudesse... Merda!
Jungkook tentou apoiar os joelhos no chão, mas logo foi retribuído por um joelho certeiro no meio de suas costas.
— Você não está ouvindo?! Você nem se importa, não é? É só mais uma porra de monstro. Eu já devia saber. Você sequer pode ser chamado de humano quando se alia à coisas como aquelas. Você não me engana mais. Filho da puta!
As palavras fizeram o garoto parar.
Monstro? Jungkook não era monstro.
Não, ele tinha apenas se defendido, ele tinha que fazer aquilo para se proteger, para fugir. Aquilo não era verdade, eles eram os sequestradores e assassinos. Jungkook fez apenas o que era necessário para sobreviver — neutralizar a ameaça.
Nada daquilo era verdade. Mas... então por que aquilo doeu tanto?
A hesitação não passou despercebida pelo homem. Cego de raiva, ele passou a língua por entre os dentes perfeitamente brancos, aproximando a boca ao ouvido de Jungkook e soltando um bafo quente.
— Mal posso esperar para ver o que farão com você, isso se você aguentar assistir tudo que farão com seus amiguinhos. Você não faz ideia, não é? Seus dias estão contados, a justiça divina será feita e seus pecados farão você arder. A chama vai purifica-los, vai sim... — os olhos negros pareceram cintilar na escuridão.
O homem deu uma risada baixa e rouca. O aperto da mão de Jungkook no braço do homem ficou mais frouxo, as frases ecoando em sua cabeça não deixaram espaço para mais nada.
O veículo, de repente, deu uma freada brusca.
Eles tinham chegado ao seu destino.
Fogo os purificaria.
—————————————
Oioi gente, esse foi (finalmente) o capítulo 45 de elysium. Espero muito mesmo que tenham gostado, a rotina maluca dificulta MUITO postar capítulos e como vcs já sabem eu optei pela qualidade ao invés da quantidade. Como sempre, deixem a estrelinha e compartilhem a fic para mais pessoas se tiverem gostado, muito obrigada❤️
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top