44.Sévir
Sévir: to take measures to stop something; to put an end to; to enforce more stringently or more thoroughly
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Era apenas um ruído.
Começara como uma coceirinha no tímpano de Jungkook, mas estava lá. Ele a ignorou por alguns segundos, imaginando que fosse um mosquito ou algo de sua cabeça. Mas ele foi aumentando cada vez mais, até que ficou impossível ignorar.
Ele foi atraído pelo barulho, andando a passos hesitantes até a fonte do som: a lavanderia.
Mas quando ele chegou na porta e virou a maçaneta, percebeu que ela estava trancada. "Merda!"
Jungkook inspecionou o corredor em busca da chave, olhos as gavetas da mesinha de canto e até no topo do batente da porta — nada. Ficando sem paciência, Jungkook começou a tentar empurrar a maçaneta, girando com força, até que a tranca, surpreendentemente, cedeu, e abriu num movimento simples e fluído.
O moreno ficou orgulhoso pela própria força, mas o sorriso em seu rosto morreu em questão de segundos quando ele avistou o que tinha lá dentro. No quarto, um homem gravemente ferido gritava de dor no chão, preso numa cadeira de madeira na qual um dos pés tinha quebrado e feito-a tombar com o homem junto.
Era quase impossível reconhecer pelo rosto, mas ele só havia visto 1 pessoa com roupas monocolor pretas e coturnos — era o homem da floresta. Sem pensar, Jungkook correu até ele, tentando levantá-lo e falar com ele, mas ele já estava muito absorto em seu estado de agonia, mal abria os olhos e com certeza não havia notado a presença de Jungkook.
Seus lábios cortados estavam brancos, a pele, num tom verde acinzentado quase doentio. Haviam férias por todo o corpo e veias enormes saltando ao longo de todo o rosto e pescoço até a ponta dos braços — Jungkook não duvidava de que a situação fosse ser a mesma nos membros inferiores. O que tinha acontecido com ele?
— Ei, o que aconteceu? Calma, calma... — Jungkook conseguiu apoiar a cadeira na parede, mas o homem continuava chorando e rugindo entre os dentes semicerrados. Os nós das mãos estavam brancos enquanto ele agarrava as mãos com força nos braços da cadeira. E embora Jungkook tentasse palavras de consolo, ele mesmo estava à beira do desespero com a situação do homem.
Muito possivelmente, o homem nem percebia o estado deplorável de seu corpo — sua consciência havia se desligado para conseguir enfrentar tamanho sofrimento. Jungkook, no entanto, não o deixaria ficar assim.
"Quem fez isso com ele? Por que ninguém ajuda? Será que mais ninguém ouviu ele?" Para Jungkook, não fazia sentido que seus hyungs fossem os responsáveis pela situação dele, eles nunca fariam nada tão cruel assim. Pelo menos, era isso que Jungkook achava.
Jungkook notou as cordas segurando seus membros na cadeira. Ele esticou as mãos para desatá-las, mas era como se tivessem sido cimentadas ali. Por mais que ele puxasse e tentasse afastar os nós com os dedos, a estrutura não moveu nem um mísero milímetro, suas mãos ficaram vermelhas e irritadas pelo atrito.
Jungkook soltou o homem por alguns segundos, decidindo olhar ao redor da lavanderia para tentar achar algum remédio ou algo para desamarrá-lo, mas era um espaço muito simplório. Um armário com produtos de limpeza, cabides e espaço para guardar uma escada e um ferro de passar roupas; uma máquina de lavar ficava ao lado de um tanque e uma mesa pequena jazia encostada na parede.
— Fale comigo! O que eu faço??— Jungkook se virou para o estranho. Era completamente irracional ele se preocupar tanto com alguém que nem conhecia, e pior, tentara matá-lo, mas ele não pensava em outra coisa naquele momento que não fosse ajudá-lo.
Ignorar o estado do homem seria ir contra sua própria natureza.
No entanto, no momento em que o disse, Jungkook acabou colocando sua mão sobre a do estranho, e algo aconteceu. De repente, o garoto sentiu uma fisgada na palma de suas mãos, e ele arquejou. No lugar onde suas mãos estavam conectadas, fluiu, do antebraço do homem, um líquido preto até o braço de Jungkook.
Pasmo, ele observou em dor enquanto o líquido entrava sob suas veias e subia até seu pescoço. Jungkook gemeu, tombando a cabeça ao sentir uma tontura latejante. Mas, mesmo nesse momento, ele não retirou sua mão da do estranho, sequer se lembrou de fazer isso.
Depois de algum tempo, a dor finalmente cessou. Conseguindo expirar a primeira lufada de ar em muito tempo, Jungkook finalmente se afastou. Quando voltou a olhar para o estranho, percebeu que ele o encarava.
— O-o quê? — Jungkook engoliu em seco.
Namjoon o encarava boquiaberto, o peito subindo e descendo acelerado.
— Você... — A voz de Namjoon era fraca e quase inaudível. — O que você fez? — ele tentou soar mais firme dessa vez.
— Hein? N-nada, eu não fiz nada! — Jungkook se afastou, sentindo-se intimidado, embora fosse o caçador que estava amarrado.
— Você... tirou minha dor. — Namjoon completou, soando tão surpreso quanto Jungkook. — Por... quê?
— Não, eu não... Quer dizer, eu queria que você parasse de... mas eu não... não fiz nada... nem sei como... — Jungkook se interrompeu ao lembrar do líquido entrando para dentro de si. Ele encarou a própria mão, percebendo a pele lisa e branca sem nenhuma marca. — E-Eu acho que... eu puxei para mim...
— Eu fui envenenado. — Namjoon esclareceu, e Jungkook arregalou os olhos.
— Por quem?
Namjoon deu um sorriso amarelo.
— Pergunte ao íncubo.
Jungkook encarou-o perplexo.
— Não... Jimin nunca... ele não faria isso. — Jungkook negou com a cabeça.
— Tem certeza, garotinho? Olhe para mim. Você acha que eu fiz isso comigo mesmo? E quem você acha que enfeitiçou a porta?
De alguma forma, Namjoon parecia ainda mais ameaçador agora do que quando encontrara Jungkook na floresta. O tom grave de sua voz fez com que o garoto se arrepiasse.
Jungkook abriu a boca, mas apenas um soluço fino saiu. "Um feitiço? Então como eu..."
Namjoon se inclinou para frente, parecendo ainda mais ameaçador.
— Eu te disse. Você não os conhece de verdade, mal sabe do que eles são capazes.
A essa altura, Jungkook já tinha se afastado até bater as costas contra a parede. Ele se deixou cair, encarando o outro.
—P-Por que? — ele disse mais para si mesmo, mas Namjoon aproveitou a oportunidade.
— Porque eles são monstros, essa é a natureza deles. Demônios não têm sentimentos, nem qualquer empatia por seres humanos. Somos apenas ferramentas para eles, e demônios não hesitam em sacrificar humanos se isso significa eles conseguirem o que querem.
O reflexo inicial de Jungkook seria correr para justificar e defender Jimin, mas como ele poderia defender uma crueldade daquelas? Jimin não tinha mudado nada, para Jungkook isso já estava bem claro desde o incidente na cozinha. Mas... torturar pessoas, e envenená-las? Isso era cruel, cruel demais para que Jungkook simplesmente se acomodasse e fingisse que não era nada demais.
Ele estava apavorado.
— Eu sinto muito. — Jungkook balançou a cabeça. — E-Eu nunca pensei que...
— Me solte. — Namjoon o interrompeu.
— Eu não posso. — Jungkook lamentou. — Você tentaria me matar de novo.
Namjoon soltou um riso anasalado.
— Eu não mato humanos, Jungkook. Eu falei aquilo apenas para que você se comportasse... Por pior que sejam, minha briga é com as bestas, nunca com os humanos.
— Mas você nos perseguiu e ia me sequestrar.
Namjoon suspirou.
— É uma história complicada.
— Bem, estou todo a ouvidos. — Jungkook cruzou os braços.
— É sério? Olhe o jeito que o seu namoradinho me deixou, eu mal consigo abrir os olhos — Namjoon apontou para o próprio corpo imundo e fatigado.
Jungkook bufou.
Ele se levantou, indo até o armário onde por fim encontrou alguns paninhos brancos. Ele os mergulhou num balde com água e álcool, presumindo que a mistura fosse limpar e higienizar os machucados, embora ele não tivesse a menor ideia do que realmente estava fazendo.
Jungkook se aproximou do caçador, parando bruscamente a poucos metros dele.
— Se você tentar qualquer coisa, eu juro que te mato. — Jungkook franziu as sobrancelhas. — Não estou nem aí se você estiver morrendo ou seja lá o quer for. Não tente abusar da minha boa vontade.
— Não é como se eu tivesse condições para fazer qualquer coisa... — Namjoon retrucou.
— Bem, eu é que não vou arriscar minhas chances. Agora, vire a cabeça.
Jungkook molhou o pano, começando a limpar o rosto de Namjoon. Ele grunhiu quando o álcool entrou em contato com a pele, mas não manifestou mais nenhum barulho depois disse.
Conforme ele ia descendo até a base do pescoço, a água foi ficando turva e escura pela sujeira, e o garoto começou a sentir leves pontadas de nervoso na boca do estômago — era estranho ficar perto de alguém instável como o caçador e não reagir. Ele sentia como se estivesse cutucando um leão com uma vara de madeira, talvez ele perdesse a mão.
Felizmente, Namjoon se manteve calado, apenas aturando o pano grosseiro esfregando sua pele sem fazer nenhum contato visual com Jungkook. Quando o garoto terminou seus braços e chegou até o abdômen, ele fez uma pausa.
— Tudo bem se eu...
— Vá em frente.
Jungkook assentiu, molhando o pano e começando a passá-lo em seu colo.
Namjoon era muito mais forte do que parecia. Ele tinha vergões e cicatrizes em lugares muito esquisitos, em feridas profundas, mas que já deviam estar ali há muito tempo. Jungkook não sabia exatamente o que um templário como ele fazia. Teoricamente, ele deveria matar bestas — mas muitas feridas ali haviam, com toda certeza, sido feitas por humanos.
Mas por quem?
Jungkook desceu o pano até a linha do umbigo de Namjoon, distraído em sua própria cabeça e, quando viu os músculos abdominais do homem se contraíram, ele se afastou, envergonhado.
— D-Desculpe, eu não... — Jungkook ficou vermelho.
— Está tudo bem, é que... arde. — a frase pareceu sair exigindo muito esforço de Namjoon, ele não gostava de parecer fraco na frente dos outros.
— É, bem... Acho que você está bem melhor agora, eu já terminei. Uhm, o seu rosto, ele parece... melhor, menos pálido.
Mesmo inchado e com vários cortes abertos, Jungkook não podia negar que ele tinha um rosto lindo. Lindo demais para um assassino a sangue frio. O garoto jogou o balde em um canto e se sentou na outra cadeira que ainda estava ao lado da mesinha, se virando para o caçador.
— Ok, agora é sua vez.
Namjoon bufou, jogando a cabeça para trás.
— Você não vai me deixar em paz, né?
— Nop. Acabei de te salvar de uma morte lenta e dolorosa, o mínimo que você me deve é uma satisfação do motivo de você estar me perseguindo.
— Tá... Pra começar, eu sou um enviado da Igreja destinado a matar demônios e quaisquer outras ameaças sobrenaturais de nível S que possam comprometer a paz no planeta.
Jungkook deu um aceno curto e entediado para que ele continuasse. Se fosse o Jungkook de antigamente quem escutasse aquelas palavras, provavelmente já estaria boquiaberto, mas agora ele já havia visto e experienciado coisas demais para se impressionar com o fato. Ele apenas absorveu a informação e seguiu em frente.
— E eu estou nessa missão porque, basicamente, existe uma profecia antiga que diz que um filho de fogo irá despertar a "Coisa" e desencadear o Apocalipse, assolando todo o planeta e extinguindo a raça humana para sempre.
— Coisa? Que droga de nome é esse? — Jungkook torceu o nariz.
— Olha, os reverendos não são muito criativos e as escrituras também não.
— E eu entro nisso, porque...?
— Porque a Coisa precisa de um receptáculo humano para se manter viva. Todos os sinais apontavam para a Coréia do Sul, para Seul, para vocês — a quantidade de terremotos e tsunamis acontecendo no Pacífico, os demônios de Seul simplesmente surtando e começando assassinatos em massa sem nenhum motivo aparente, as migrações fora de hora das aves e a morte abrupta delas... Além de que, obviamente, Park Jimin é o chefão das bestas, faz sentido que seja ele a concretizar a profecia.
— E você acha que eles vão me usar de receptáculo pra, o quê você disse? Despertar essa criatura?
— Isso aí. Ou então eles te usem só de sacrifício mesmo, não tenho certeza do que planejam.
Jungkook começou a gargalhar. Só podia ser uma piada de mau gosto.
— Tá bom, e como exatamente eles fariam isso? Quais são seus "grandes" palpites? — Jungkook perguntou em tom jocoso, querendo saber até onde o homem chegaria.
— Como eu já disse, num ritual de lua cheia. Não sei como e onde, mas eles provavelmente já estão em posse dela, talvez estejam-na guardando em algum tipo de relíquia amaldiçoada até o dia do ritual e, bem, estamos na Espanha, existem dezenas de capelas e terrenos amaldiçoados. Por acaso, você não a viu? — ele perguntou esperançoso.
Jungkook olhou para ele balançando a cabeça, sentindo pena.
— Eu sinto muito, você se enganou. Pegou os caras errados.
— Não, não peguei, não! Todos os meus instintos me puxam até aqui, eu tenho certeza de que são vocês. E, você, Jungkook, é a peça-chave desse quebra-cabeça. — Namjoon o encarou friamente. — O seu pacto... o que é ele?
Jungkook fez uma cara confusa.
— A runa gravada no seu pescoço. É de um pacto com o íncubo, não é? O que ele fez para te atrair? Como você se meteu nessa?
Mesmo exausto, Namjoon se esforçava para preencher as lacunas daquele mistério. Ele não sabia quando teria outra chance de confrontá-lo assim, o Park poderia chegar a qualquer momento. Ele precisava usar e abusar das informações enquanto tivesse tempo.
— É uma história complicada também, mas.. não é um pacto, é uma parceria. Eu tenho uma... condição, que me torna vulnerável a demônios, e a conexão com Jimin ajuda a disfarçar meu odor enquanto tentamos achar uma solução definitiva.
— Você fez o quê?! I-Isso é absurdo, você deixou ele se ligar a você? Ao seu corpo? — Namjoon arregalou os olhos. Jungkook assentiu lentamente, sem entender o motivo do disparate.
— Eles já a botaram dentro de você, não foi...? Eu vi o que você fez na floresta... Céus... Mas isso não faz sentido.... Se o ritual já está feito, então porque você ainda não... porque eles...? — Namjoon sussurrava para si mesmo. Muitos pensamentos corriam por sua cabeça naquele momento.
— Não é assim! Quer dizer, eu realmente tinha alguma... coisa... dentro de mim, mas isso é desde que eu nasci, é uma maldição e...— Jungkook foi interrompido.
— Tão novo? — Namjoon balançou a cabeça. — Como eles puderam fazer isso com um bebê?
— Não foi de propósito! Foi um acidente!
Namjoon balançou a cabeça, contorcendo o rosto numa careta de incredulidade e dor.
— Jungkook... Eles a botaram dentro de você. Faz todo o sentido agora. Usar uma incubadora viva e jovem onde a Coisa pudesse crescer e se alimentar até estar forte o suficiente para despertar e tomar o controle...
— Não, isso não...
— Eu sinto muito, garoto.
— Isso não é verdade... — Jungkook tentou dizer, mas ele começou a se lembrar do Outro.
De tudo que ele lhe dissera. Ele disse que estava em Jungkook há muito tempo, que havia sido forjado, colocado ali de propósito. Que ele não era um simples demônio... Mas não poderia ser, podia?
Mas Jin nunca teria feito algo assim de propósito, Jungkook confiava nele. No entanto, o que Namjoon falava fazia sentido.
Por muito pouco, o Outro não conseguiu tomar o corpo de Jungkook. Ele o impediu, acertou-o com a estaca. Mas se ele morreu, então por que Jungkook ainda se sentia tão esquisito? A sua força, sua visão e audição, a cura acelerada, a raiva... de onde essas habilidades extraordinárias poderiam ter surgido se não fossem dele? Ou melhor, se não fossem de uma criatura como a Coisa?
— Ela não conseguiu pegar o controle do meu corpo. Eu a impedi. — Jungkook interrompeu o silêncio.
— Mas você não a eliminou. As habilidades que você demonstrou na floresta, aquilo era força sobre-humana, Jungkook... — Namjoon respirou fundo. — O que eu quero dizer... é que, de algum jeito, mesmo não assumindo total controle, eu acredito que a Coisa tenha se estabelecido em algum lugar no intermediário, onde vocês dois fiquem no controle ao mesmo tempo...
— Isso explicaria por que meu corpo tem mudado... — Jungkook mordeu o lábio.
— Você precisa vir comigo. — Namjoon concluiu. Jungkook abriu a boca para protestar, mas ele não o deixou falar. — É o único jeito de acabar com isso de uma vez, a lua cheia chega em 3 dias, Jungkook, nós não temos muito tempo. Depois disso, não vai ter mais salvação para você... nem para ninguém.
— Eles me levaram aos monges, não deu certo. E-Eu acho que não tenho mais chance... Acabou.
— Não. Você precisa de um exorcismo cristão, apenas os padres têm o poder de verdade cedido por Deus. Você precisa começar a aceitar que foi enganado, Jungkook. Você não foi trazido até aqui para ser curado, é por isso que nada funciona! — Namjoon esbravejou, mas aquilo não era destinado a Jungkook. Do contrário, ele se sentia cada vez mais empatizado pela situação do garoto.
A essa altura, Jungkook já estava andando de um lado para o outro na sala, esfregando as mãos no rosto para liberar a tensão. Ele estava uma pilha de nervos, com a cabeça rodando a mil. Mais uma vez, ele sentiu que seu mundo inteiro despencava.
Ele não queria duvidar de Jin, nem de Hoseok ou Taehyung, Jungkook sentia muita sinceridade neles e na relação com eles... mas ele já não tinha tanta certeza assim sobre Jimin.
Desde o começo, foi ele quem sempre esteve no controle. Ele tinha poder tanto sobre os demônios quanto sobre os humanos. Ele já sabia sobre Jungkook há muito tempo, e de sua "condição" também. Ele planejou a viagem inteira, por deus... o pacto com Jungkook — tudo desde o começo foi ele. E Jimin esteve lá depois que Seokjin caiu, ele tentou recrutá-lo para alguma coisa, mas o que seria? Ou melhor, será que ele realmente havia desistido de seu plano? As possibilidades faziam Jungkook ficar zonzo.
— Como eu sei que posso confiar em você? Eu não te conheço, nem sei seu nome.
— Meu nome é Kim Namjoon. — o caçador limpou a garganta. — Eu não sei o quanto isso vale, mas minhas intenções são honestas. Minha missão sempre foi fazer o bem, o que quer que fosse necessário para que a humanidade pudesse progredir em paz. Nós mal nos conhecemos, mas eu sei que você é uma boa pessoa, Jungkook. Você merece ser ajudado, mas, principalmente, eu acho que você também merece perdão, e eu posso te dar isso.
— Nós não podemos sair daqui. Jimin consegue me ouvir a quilômetros de distância por causa da conexão. Fora os poderes — nós não chegaríamos muito longe. Jimin disse que amanhã cedo eu vou ser levado à uma ilha, não tenho como escapar... Além disso, eu não posso deixar os outros sozinhos com ele, como eu vou...
— Não temos outra opção. A minha prioridade é te tirar daqui em segurança, você é o humano em questão. O outros podem esperar, quer dizer, isso se não estiverem envolvidos...
— Não, eu tenho certeza. Jin nunca faria algo assim comigo, nem Hoseok. Mas Taehyung... não, ele não faria. Eles também estão sendo manipulados, são tão vítimas disso tudo quanto eu... Como vamos sair daqui? Você está todo machucado também...
— Eu tenho colegas que estão na cidade, eles vão ajudar a te levar de volta. Eu só preciso do meu...— Namjoon engasgou. — Meu walkie-talkie, onde ele está?!
— Walkie-talkie? Ahn... Não tem nada disso aqui. — Jungkook olhou em volta do quarto.
— Eu preciso dele, Hanna deve estar me contatando por notícias minhas agora mesmo!
— Hanna?
— É uma amiga, eu explico depois. Escute, vamos fazer o seguinte. Você não pode sair daqui sem ser notado, mas talvez eu posso. Eu volto até a floresta, pego meu walkie-talkie, e chamo ajuda — eles não vão ser páreos para vinte caçadores de uma vez. O único problema é o feitiço de contenção que Jimin botou. Você precisa tirá-lo.
— E-Eu?
— É, Jungkook. Você conseguiu passar pelo feitiço de silêncio e até reverteu o envenenamento, você consegue. Não se deu conta dos seus próprios poderes?
— Sim, mas, não foi de propósito, eu só segui meu instinto...
— É isso! Só siga seus instintos, não pense demais.
— Mas e se eu não conseguir?
— Você vai conseguir, porque nós dois dependemos disso para sair daqui. Você precisa acreditar em si mesmo, ou não vai funcionar.
Jungkook respirou fundo, fechando os olhos enquanto abria a mão na direção de Namjoon.
Nada aconteceu.
— Tente de novo.
"Vamos, não é tão difícil assim. Você conseguiu antes..."
Nada aconteceu.
— Jungkook, olhe para mim. Você sabe usar esses poderes, eles são seus, não é preciso esforço algum para invocá-los. Se acalme e visualize o objetivo: imagine a barreira se quebrando, ela está ao seu comando, ela obedece suas ordens, ela obedece o poder.
Jungkook assentiu, respirando fundo. Ele limpou a mente, deixando-a livre de qualquer pensamento. Ele fechou os olhos, esticando a mão na direção de Namjoon novamente.
"São meus poderes, eu os tenho e eu os controlo."
A princípio, não houve nada, mas, então... um formigamento. Depois, um calor que se estendeu da base do pescoço até a ponta dos dedos. Ele imaginou a barreira se partindo e quebrando em mil pedaços, exatamente como Namjoon falou.
E quando Jungkook abriu os olhos, ele estava livre.
— Eu disse que você conseguiria. — O mais velho deu um sorriso caloroso. No entanto, quando tentou se levantar, ele deu um grunhido de dor e se curvou na mesma hora.
— O q-que foi?
— Minha perna, está machucada...
— Meu deus, eu não tinha visto, eu vou... — Jungkook se virou para o balde.
.
— Não, não temos tempo. Só me ajude a prender um pano em volta, vai ter que aguentar.
Jungkook vasculhou o armário e achou uma troca limpa de lençóis. Ele ajudou Namjoon a prender o pano em volta da perna, prendendo-o firmemente com um nó.
— Escute, eu não vou demorar mais do que uma hora. Se eu não achar meu walkie-talkie, eu vou voltar imediatamente para você, ok? Fique pronto para sair, vamos usar a porta dos fundos. Não faça barulho, e em hipótese nenhuma alarme um deles. Entendido?
Jungkook assentiu com a cabeça. Namjoon ainda mancava, o pano brancou se tingiu de vermelho, mas ele não pareceu ligar. Quando ele chegou até a porta, virou uma última vez para se despedir do rapaz.
— Que Deus nos ajude, então.
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