4. Metanoia

Metanoia: the journey of changing one's mind, heart, self or way of live
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— Chefe, ele chegou. — Jimin deu um longo suspiro. De todos os dias para o velho aparecer, ele escolheu o pior de todos.

Hoje era o grande dia do "banquete" do íncubo. Eram esperadas pelo menos 400 pessoas no clube e Jimin estava absolutamente maravilhado pela ideia de tantas almas reunidas para alimentá-lo. Lógico, ele conseguia manter seus níveis vitais estáveis com pequenas quantidades de energia, mas com o inevitável caos batendo à sua porta, Jimin precisava estar pronto. Não era nenhum sacrifício, os humanos continuariam vivos e confundiriam a exaustão com a euforia causada pelas drogas, bebida e os corpos chocando-se agitadamente.
Mesmo assim, o preparo desse evento específico tomou muito tempo de sua agenda lotada e ele precisava fazer com que valesse a pena. Em qualquer outro dia, uma ou outra besta teria o prazer de pagar milhões de wons para entrar em Serendipity, mas aquela noite era reservada apenas a ele e Taehyung.

A desordem na metrópole era palpável e afetava todos os envolvidos. Tantas mortes fizeram com que a cidade estivesse cada vez mais próxima de ser considerada como estado de calamidade, isso afastava turistas, investidores, gente importante e diminuía o trânsito da moeda pela cidade. Tudo seria mais fácil se houvesse um alvo marcado, um serial killer sedento por sangue, mas nada poderia ser tão fácil.
Os assassinatos eram feitos por diversas bestas e em qualquer lugar, era quase impossível rastrear todas depois quando em sua forma humana. Não havia como saber quanto tempo ainda restava até que essa bomba explodisse, o máximo que conseguiam fazer até o momento era tentar manter uma falsa sensação de controle e segurança.

Uma distração vinha em boa hora, o torpor do álcool levava todos os problemas embora, todas as preocupações se esvaem como o entornar de uma taça cheia. Nesse sentido, o íncubo se achava muito parecido com os humanos. Todos recorrem àquela placa piscante de saída quando as coisas pioram, todos querem uma solução rápida e fácil para seus problemas. Um marido alcóolatra, um relacionamento que morreu, uma demissão, ou a responsabilidade de uma espécie inteira caindo em cima de seus ombros. Jimin riu.
Não era como se ele não soubesse que as coisas seriam difíceis quando ele aceitou o cargo, o bem maior da preservação dos demônios tinha de vir primeiro.

As coisas nunca foram perfeitas, a adesão de demônios mais velhos e mais fortes às regras sempre foi muito difícil, suas habilidades iam muito além de simples possessões e truques. Alguns tinha fome de sangue, gostavam de estar rodeados pelo calor das chamas e dos gritos de desespero que tanto amavam no inferno e queriam replicar isso na Terra. Era com esses que Jimin e os governos se preocupavam.

— Ok, peça para ele entrar. — O demônio ajustou seu paletó e cruzou suas pernas, apoiando o rosto delicadamente sobre a mão que recostava na cadeira.

Tudo se tratava de imagem. O governador era um velho arrogante e ignorante, mas sabia qual era seu lugar quando se tratava de Jimin. O íncubo era perito em negociações e muitas vezes teve seus conselhos requisitados pelo governante, além de seu charme e carisma inegáveis que faziam com que o homem corasse cada vez que o via. Ele não era bom em esconder seu desejo e Jimin se aproveitava disso. Tipicamente humano.

O homem chegou à sala completamente suado e rubro, o odor natural de Jimin empestava o local inteiro e provocava diversos efeitos fisiológicos nos humanos que muitas vezes podiam ser sobrecarregantes e torporosos. Ele se divertia observando as reações que causava simplesmente com sua existência.

Apesar do apelido chulo, o governador de Seul era um homem alto e viril, no começo de seus 40 anos, apesar de suas rugas serem muito mais numerosas do que deveriam. Ele sempre foi educado com Jimin e o tratou com respeito, mas era puramente o efeito do medo e a certeza de que o demônio não exitaria em rasgar sua garganta se ele o desagradasse.
A hierarquia de poder entre os dois era clara e sólida, não havia lacunas que permitissem que o homem tentasse enganá-lo ou passasse por cima dela. Acima de tudo, ele sabia que a cidade cairia em ruínas se não fosse pelo demônio.

Jimin rapidamente deslizou para fora de seu devaneio. O homem já estava sentado à sua frente, no lado oposto de sua mesa, segurando um chapéu em seu colo.

— Prazer em vê-lo novamente, Sr. Park. — O governador deu um sorriso de lado.

— Infelizmente não poderei dizer o mesmo, Kang. Hoje é um dia especial e você sabe que posterguei todas as minhas reuniões para a próxima semana. É uma ofensa sua secretária ligar marcando uma reunião de última hora no meio do dia, que isso não se repita.

O demônio levantou, indo até uma mesinha de canto e enchendo um copo de cristal com gelo. O gin exalava um aroma cítrico particularmente agradável, inintencionalmente ajudando a atenuar o clima desagradável da sala. O demônio virou-se calmamente antes de direcionar seus olhos até o homem sentado, fazendo um sinal e perguntando se ele queria uma bebida. Ele negou.

— Mas é exatamente para isso que vim falar com você. Sendo sincero, eu não entendo como você pôde achar que agora é um momento ideal para festas, mais do que nunca seus conhecimentos são necessários. Precisamos de você sóbrio e atento ao que realmente importa.

— Francamente, achei que você fosse um pouquinho mais esperto. Eu estou me alimentando, caro governador. Quando e se as coisas saírem do controle, eu serei o único que poderá impedir uma carnificina, e eu garanto que nesse momento você vai rezar para que eu esteja em minha máxima potência. — Jimin se aproximou até que ficasse a uma distância mínima de Kang, levando o copo calmamente até seus lábios antes de analisar o homem de cima a baixo. Perto assim, ele sabia que estava desestabilizando o homem ainda mais.

— E-eu entendo, mas mesmo assim, devemos cancelar esse show. Há outras formas de você se alimentar que não necessitam de uma enorme aglomeração de humanos bem no centro da cidade quando feras estão à solta. — Feras. Mesmo nessa situação, Kang tinha a gentileza de diferenciar Park Jimin dos demônios ferais. Tudo da boca para fora, o governador tinha asco de todos os seres do submundo. Infelizmente, ele não podia extingui-los.

— Entenda minha decisão, Park. Eu ainda sou o governador e eu decido o que é melhor para a cidade. Só achei que você gostaria de ser informado pessoalmente sobre a minha decisão. — Kang já não olhava mais para o íncubo e começou a levantar-se da cadeira. Os olhos de Jimin corriam apressados ao perceber que o homem já estava decidido, ele precisaria jogar melhor se quisesse convencer Kang. Ele colocou seu copo sobre a mesa e repousou suas mãos, num toque delicado mas firme, sobre o tórax do homem, fazendo-o retornar ao seu assento. O íncubo sentou-se no braço da cadeira em que o governador estava, as pernas confundindo-se com as do homem.

Espere um pouco meu bem, vamos conversar melhor sobre isso. — Jimin usou de sua voz mais enjoativa e doce para falar com Kang. O demônio levou seu tempo passeando suas mãos preguiçosamente pelo tórax do homem, provocando um rubor ainda mais evidente em suas bochechas. — Acho que você não pensou o suficiente sobre isso. Veja bem, meus melhores homens estarão na segurança do perímetro hoje, eu posso garantir que os cidadãos estarão seguros. Além disso, a cidade toda está esperando essa festa, privá-los de diversão num momento tão difícil muito provavelmente vai deixá-los ainda mais descontentes. Pense em sua reeleição, pense no que é melhor para a cidade.

Jimin deixou que as palavras fossem digeridas. Ele inclinou sua cabeça levemente para o lado, sentindo as pontas de suas mechas loiras balançando sobre seus olhos e o pescoço pálido exposto, dando-lhe um ar majestoso. Ele sabia brincar com as armas que tinha.

O homem tossiu, incapaz de desviar os olhos da bela criatura que pairava sobre si. Era impossível negar-lhe qualquer coisa. — Agora creio que seja sua hora de ir. Eu ainda tenho muito trabalho a fazer e nós dois concordamos que seria ruim se as coisas não corressem como planejado, certo? — Jimin delicadamente levantou-se, abrindo a porta. O homem levantou-se com dificuldade, engolindo em seco algumas vezes antes de conseguir andar até a porta. O volume em sua calça era prova suficiente de que mais uma vez o homem não teve chance nenhuma perante o chefe dos demônios, um título executivo bobo não mudava o fato de que o verdadeiro dono da cidade sempre fora Jimin, ele era apenas mais uma peça cirurgicamente posicionada em seu maquinário.

Logo que saiu, Taehyung apareceu na porta, os braços cruzados e um sorriso brincalhão em seu rosto. — Você deixou o pobre velho perturbado de novo, né?

— Eu precisei, ele teve um daqueles surtos de 'santo benfeitor' de novo. Não podia deixar ele estragar nosso grande show.

Os dois homens desceram até o salão principal. Dezenas de trabalhadores passavam peças de palco, luzes novas, tapetes vermelhos, tudo moderno e de extremo bom gosto.

O clube era o maior orgulho de Jimin. Apesar de ser classificado como burlesco, o demônio levava muito a sério o trabalho e exigia nada menos do que perfeição em tudo que fazia. A graciosa combinação da arte com o erótico era algo que fazia seu próprio sangue ferver e seus músculos vibrarem, nada era mais majestoso do que os corpos movendo-se elegantemente pelo palco enquanto os espectadores fixavam seus olhos e sentiam seus próprios corações dispararem, era esplêndido.

Com o passar dos anos, o layout de 'Serendipity' mudou diversas vezes para acompanhar o público. Nos dias atuais, o ramo de entretenimento tem em torno de 5 segundos para cativar seu público antes que sua atenção mova-se para outro lugar, e Jimin sabia perfeitamente como fazer isso. Desde as luzes chamativas na área externa, a estrutura moderna contendo mesas de DJ, até gaiolas suspensas no teto, tudo era feito para imediatamente captar a atenção. Não era apenas um show erótico, era uma experiência visual e auditiva muito além do que o público poderia imaginar, e 'Serendipity' era o nome perfeito para elucidar a beleza e a mágica desse mundo inédito construído pelo íncubo.

Jimin botou anos de esforço e dedicação para que o clube fosse o que era hoje e estava disposto a fazer qualquer coisa para que seu ele continuasse de pé.

Qualquer coisa.

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No domingo de manhã, Jeongguk acordou com um Hoseok descabelado e sorridente encarando-o.

— Bom dia, como passou a noite? — Hoseok estava com roupas diferentes das do dia anterior. Teria ele vindo tão preparado desse jeito ou ele emprestou-as de Jin? O garoto não sabia dizer.

— Bem... dormi como uma pedra, na verdade. Acho que deu certo, hyung, meu ombro está bem menos dolorido do que ontem. — Ele deu um sorriso tímido, deixando seus incisivos salientes à mostra. O visual de 'fui atacado recentemente' caiu surpreendentemente bem em si. Apesar das circunstâncias, ele já parecia bem mais disposto e convalescido.

— São ótimas notícias! Se você estiver se sentindo bem, troque-se e venha até a cozinha, eu e Jin-hyung queremos falar melhor com você agora que o pior passou. Tudo bem? — Apesar de seu aparente bom humor, Jungkook conseguia sentir que algo estava errado. Algo perturbava o curandeiro.

— Ah sim, eu fico pronto em uns 20 minutos.

Ele realmente teve uma boa noite de sono, como em muito tempo não havia tido, mas definitivamente não estava bem. As incertezas e o sentimento de estar sendo enganado já estavam fixos em sua cabeça e o garoto mal havia conseguido processar o incidente da noite anterior.

...

Assim que Jungkook atravessou o corredor principal do apartamento, ele se deparou com as duas figuras sentadas na mesa de jantar, discutindo algo fervorosamente até se darem conta de sua presença.

— O-oi, hyungs... — Jungkook passou a mão sobre seu cabelo num gesto pacificador.

— Bom dia, Gguk, junte-se a nós.

Jungkook puxou uma cadeira à frente dos homens, de modo que pudesse encará-los ao mesmo tempo enquanto falassem. Seokjin mantinha as mãos entrelaçadas à sua frente, enquanto Hoseok brincava com uma colher de chá dentro de sua xícara agora vazia.

— Você está com fome? — Jin ofereceu um pouco de arroz com vegetais, já colocados dentro da tigela que o garoto costumava usar nas refeições.

— Ahn... Primeiro de tudo, eu quero que vocês me contem a verdade. — Jungkook cruzou os braços, testando uma pose mais rígida que claramente não combinava consigo.

— Tudo bem,você tem razão. Ahn... Eu presumo que a essa altura você já tenha descoberto que o que te atacou não era humano... — Jungkook hesitou, mas afirmou com a cabeça. — Bem, aquilo... aquilo é...

— Um Demônio, Jeongguk. — Hoseok interviu, cortando a fala de seu amigo. Os olhos de Jungkook imediatamente se arregalaram, o nó em seus braços se desfazendo enquanto ele olhava para os dois completamente perturbado.

— O QUÊ? Vocês querem dizer, um demônio de verdade? Com chifres e pele vermelha? Que mata pessoas e compra suas almas ?

— Ãhn, mais ou menos. A maioria não sai por aí com chifres e em sua forma feral, senão poderiam afastar os humanos... mas eu presumo que muitas pessoas fazem pactos, sim. — Hoseok ponderou.

— Hoseok, pelo amor de cristo... Olha só, eu sei que deve ser uma informação difícil de digerir. Vamos tentar explicar com calma. — Jin pigarreou antes de dizer as próximas palavras. — Os demônios são ímpares e de diversas formas e espécies, muitos deles vivem em sociedade enquanto outros preferem permanecer no inferno. Cada tipo tem habilidades e poderes próprios, são centenas de...

— Isso...isso é um absurdo. Quem deixaria algo tão repugnante viver entre os humanos? Como isso sequer é possível? Claro, você me contou sobre eles, eu li as histórias, mas achei que não passassem de uma metáfora? E se isso for mesmo verdade, como vocês dois sabiam disso esse tempo todo e nunca cogitaram compartilhar a informação comigo? Esses ataques na cidade tem a ver com isso? Por que ninguém não faz nada?

A essa altura, Jungkook já tinha levantado de cadeira e seus braços gesticulavam furiosamente, acompanhando o humor explosivo e irritado do garoto.

— Antes de tudo, acalme-se, é só o que peço. Eu disse que explicaremos a situação, só tenha um pouco de paciência. —Jungkook bufou e revirou os olhos, contrariado, mas aceitou sentar-se novamente.

— Os demônios têm estado entre nós a centenas de anos, muito antes das civilizações. Por muito tempo, eles andaram soltos e cometeram as maiores atrocidades possíveis, sem ninguém para contê-los. Muitas guerras foram travadas e muitos seres dos dois lados morreram, até que um dia, surgiu um demônio muito mais forte do que os demais, e ele decidiu que já era hora de haverem regras de convívio para que a paz fosse reestabelecida. Assim, demônios poderiam habitar o plano físico desde que seguissem as regras e não matassem humanos.

— Há, podemos ver que esse regra claramente não é seguida. — Jungkook debochou. Jin franziu as sobrancelhas, mas decidiu continuar mesmo assim.

— Cada país tem um 'governante' próprio, um demônio encabido de monitorar os demais para que estes sigam as regras, mas todos os países são subordinados e referem-se ao Grão-Senhor das Bestas, que atualmente vive aqui em Seul. —Jungkook se ajeitou na cadeira, se sentindo desconfortável por saber que uma criatura tão perigosa poderia estar a poucos quilômetros de distância dele.

— Eu e Hoseok nos conhecemos muito cedo, você não era nem nascido. Alguns humanos são privilegiados em relação ao conhecimento do nosso mundo e dedicam a vida a aprender sobre essas criaturas. Você se lembra que Hoseok foi criado num mosteiro, certo?

— Mas isso não responde minha pergunta. Se tudo é tão controlado como vocês dizem ser, por que esses ataques e assassinatos estão acontecendo? Eu não sou bobo, eu sei que eles têm algo a ver com isso.

— É isso que nós precisamos conversar, Jeongguk. O motivo de termos escondido isso de você esse tempo todo,foi para sua própria segurança. Você é especial, garoto. Você tem uma... sensibilidade muito maior ao mundo da sombras, e por isso você precisa ser protegido. Todos os anos de aprendizado foram para que você sempre estivesse cercado de luz e nunca sucumbisse à escuridão.

— Nós achamos que seu cheiro tenha algo que atraia os demônios e os deixa agressivos, mas nós não sabemos direito o que é e por quê causa esses efeitos neles. — Não era toda a verdade, mas seria o suficiente, por enquanto.

— É por isso que Seokjin cuida de mim? O motivo pelo qual meus pais não me quiseram, é porque eu sou assim, não é? — Jungkook encarou os próprios pés.

— Eles tiveram as melhores intenções quando te deram pra mim. Eles tinham medo de não serem capazes o suficiente de cuidar de você, e sabiam que eu faria até o impossível para te manter a salvo. Eles te amavam mais que tudo nesse mundo e foi a decisão mais difícil que eles tomaram na vida. — Jin encontrava-se ao lado de Jungkook, passando uma mão ao longo de suas costas.

Jungkook sentia seu peito apertar. Conversar sobre seus pais biológicos era um certo tabu na casa. Jin nunca proibiu ou censurou o tema, mas sempre foi um tópico delicado de se conversar. Ele estava confuso, eram muitas informações, ele se sentia um impostor em sua própria pele. O que estava acontecendo com ele?

— E o que nós vamos fazer agora? — O garoto sabia que o único caminho era seguir em frente, mesmo com todas as dúvidas e incertezas.

— Está claro que minhas proteções não estão mais sendo efetivas, agora que os demônios conseguem farejar seu cheiro muito melhor a ponto de achá-lo, nós não podemos lidar com isso sozinhos.

— Hoje à noite, eu e Hoseok vamos encontrar o Grão-Senhor, Park Jimin, para achar respostas.

— ELE É O GRÃO-SENHOR DOS DEMÔNIOS? — Jin afirmou com a cabeça, assustado pela súbita mudança de tom do garoto.

— Você já o conhece? — Hoseok parecia curioso.

— Claro, quem não conhece? Park Jimin é dono do maior clube de Seul, está nas revistas toda hora. Além disso, tem a fama de ser um babaca arrogante e estúpido.

— É, com certeza isso se parece bem com uma descrição que fariam de Park Jimin. — Hoseok riu.

— Vocês não estão pensando em ir lá sozinhos, né? — Os dois homens se olharam, dando um riso nervoso. — Não, sem chance, eu não vou deixar vocês arriscarem a vida por minha causa.

— Jungkook, nós não vamos te levar lá de jeito nenhum. Ele usa o clube para se alimentar da energia vital dos humanos, você tem noção de que pode morrer assim? — Seokjin argumentou.

— Isso é certo, mas Park não mata humanos sem motivo... — Hoseok rebateu, recebendo um olhar furioso de Seokjin.

— Hyung, é da minha vida que estão falando. Se estas coisas estão acontecendo por minha causa, o mínimo que posso fazer é tentar resolvê-las eu mesmo. Eu tenho 24 anos, eu sei cuidar de mim.

— As coisas são diferentes quando se tratam de demônios, Jungkook. Naquela noite, você mal sobreviveu a um simples Assacu, como você acha que vai se sair com o íncubo mais poderoso do planeta? Apesar de tudo, você ainda é um humano e está sujeito aos poderes dele. Íncubos são extremamente espertos e manipuladores, eles se aproveitam de sua beleza e da imbecialidade humana. Como você acha que ele conseguiu ficar tanto tempo no poder e convencer todos os governos a aceitarem as bestas na Terra?

— Jin isso não é um discussão, eu vou. Como você mesmo disse, está na hora de eu ter responsabilidades, então é isso que vou fazer.

Jin suspirou pesadamente, sendo vencido pela teimosia do garoto.

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Às 23h da noite, o clube já estava lotado. Mesmo sendo um domingo, as pessoas não paravam de chegar. A fila já virava a esquina e as vozes eram ouvidas a quilômetros de distância. Jimin estava em seu camarim, aplicando uma fina camada de gloss vermelho, enquanto Taehyung ajeitava nervosamente os panos de sua saia.

—Tae, fique calmo, desse jeito você vai rasgá-la.

— Eu não consigo, parece que meu peito vai explodir. E se ele vier, Minnie? O que eu faço? — Os cachos de Taehyung estavam completamente bagunçados, um sinal físico de sua ansiedade.

— Se ele vier, você vai fazer uma apresentação impecável que vai deixá-lo de boca aberta e aos seus pés. Se ele não vier, você ainda vai dar o seu melhor e muito provavelmente levar outro humano tolo para sua cama. Que tal? — Taehyung revirou os olhos.

— Eu não quero mais nenhum humano além de Yoongi. Eu agora pertenço completamente a ele e ninguém pode mudar isso. — O loiro deu um riso de escárnio.

— Taehyung, ele não está nem aí pra você. Vocês nem têm um relacionamento, pelo amor de Lilith.

— Mas nós vamos ter! Para a sorte dele, eu sou paciente e sei caçar muito bem minhas presas. Quando ele deixar a guarda baixa, eu estarei pronto para devorá-lo. — Os olhos do moreno brilhavam enquanto ele faziam um gesto como se estivesse prendendo Yoongi nas mãos.

— Taehyung-ah, 10 minutos para o show. — Disse uma funcionária, entrando no camarim. Jimin era a grande atração da noite e era logo depois de Taehyung. Apesar dos anos de experiência, o leviatã ainda tremia logo antes de suas apresentações, uma adrenalina louca invadia seu sistema e não abandonava-o até ouvir os aplausos e assobios de aprovação do público.

— Acho que agora é minha deixa, vou deixar você terminar de se arrumar. Eu tenho um clube a gerenciar, afinal. Quebre a perna!

— Obrigado, Minnie. — Jimin fechou a porta atrás de si, já ouvindo as batidas da música animada que preenchia todo o local.

...

Após uma enxurrada de aplausos, Jimin subiu ao palco. As luzes destacavam os diamantes no choker em seu pescoço e nos detalhes da calça branca que vestia, o peito desnudo enquanto pedaços de seda da mesma cor estavam amarrados em seus dois punhos. Seu cabelo loiro repartido e pequenos brilhos colocados em suas pálpebras davam um toque final, somados em perfeição às lentes cinza que ele usava. Qualquer um que o visse pensaria estar na presença de um anjo. Jimin deu um riso contido pensando nisso, colocando-se em posição no centro do palco.

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— Não é possível que não tenha UM estacionamento nesse maldito lugar! — Seokjin esbravejou.

— Eu falei que deveríamos ter saído mais cedo.

— Se a princesa tivesse gastado menos tempo se arrumando, nós não estaríamos tendo essa dor de cabeça. — Jin dirigia furioso, Hoseok ao seu lado rindo da situação. Eles estavam rodando o quarteirão a 10 minutos e nenhum sinal de que alguma vaga seria desocupada.

— Jin, pare aqui na frente! — Pediu Jungkook do banco de trás.

— Eu não posso simplesmente estacionar o carro no meio da rua, olha a quantidade de carros atrás de mim. — Só freie o carro!

Jin freou e, no mesmo instante, Jungkook abriu a porta do passageiro e saiu, gritando um 'encontro vocês depois!'

Jungkook não olhou para trás uma segunda vez, pois sabia que se o fizesse encontraria um Seokjin extremamente irritado.

Jungkook não se vestiu para ocasião. Ele usava uma calça jeans preta rasgada e um hoodie da mesma cor, muito casual em contraposição à formalidade que o evento exigia. Ao seu redor, todos pareciam usar trajes de festa extremamente caros e de grife. O cheiro de perfume e bebida eram quase intoxicantes, o garoto estava muito além de sua zona de conforto e era explícito como ele não se encaixava ali.

À sua frente, Jungkook avistou uma fila lateral, onde possivelmente ficavam em espera as pessoas comuns, e uma fila central, onde três casais em fila aguardavam enquanto um segurança procurava seus nomes na prancheta em sua mão.

O garoto não perdeu tempo antes correr até a entrada, empurrando a multidão de pessoas até chegar na fila principal e começar a empurrar os casais da fila, ganhando vários xingamentos de volta.

Jungkook tentou correr e passar pela lateral do guarda, achando que talvez sua velocidade fosse suficiente contra a força e o tamanho do homem para passar pela abertura da porta. Antes que pudesse dar mais um passo à frente, o tronco de Jungkook foi subitamente erguido por braços fortes e rígidos.

— Aonde você pensa que está indo, seu merdinha? —Jungkook começou a se debater contra o peito do homem repetidamente. O brutamonte parecia que não iria ceder quando, de repente, seus olhos ficaram vidrados e o homem deu um rosnado, travando no lugar e folgando o aperto em torno de Jungkook, o suficiente para que o menino desse um chute em suas partes íntimas e fugisse de seu embrace. Jungkook tentou chegar até a pista de dança, achando que assim seria mais fácil se misturar e despistar outros guardas.

Ele já avistava centenas de pessoas dançando e podia ouvir claramente o começo de uma música tocando no que parecia ser o palco principal, mas dois guardas surgiram e atacaram-o, atirando-se aos pés do garoto rápido demais para ele pudesse manter o equilíbrio, fazendo com que ele caísse de cara no chão e ecoasse um estalo que percorreu o salão inteiro.

A música parou no mesmo momento e centenas de pessoas olharam horrorizadas para a figura caída poucos metros da porta de entrada. Os dois guardas travaram as mãos ao redor do tornozelo de Jungkook e seus rostos também pareciam vidrados, não dirigiram nenhuma palavra a Jungkook e nem tentaram outra ação, como se estivessem travados em suas posições.

O coração de Jungkook batia rápido, rápido demais. Muitos cochichos eram ouvidos, mas um som específico captou sua atenção. Passos leves e elegantes ecoaram sobre o piso com um tilintar, as pessoas começaram a se distanciar para dar espaço a uma figura que passava por entre eles.

O silêncio parecia ensurdecedor e Jungkook não tinha ideia do que estava acontecendo, mas era óbvio que ele estava completamente fodido.

Quem ousa invadir meu clube?

[4146 palavras]

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