19. Eccedentesiast

Eccedentesiast: someone who hides pain behind a smile.
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— V-Você é um anjo?

Seokjin riu.

— Depois de tudo o que te contei, jura que essa é sua primeira pergunta?

— Sim, hyung, eu não sei nem o que dizer... — Jungkook engoliu em seco, encarando o homem.

— Eu era um anjo, passado. — Ele respondeu, tentando olhar o garoto com um sorriso amarelo

— Eu não fazia ideia de que você era tão velho... Quantos anos você tem??

— Não, nem pensar, nós não vamos falar sobre isso. Minha idade é um assunto proibido! — Jungkook começou a gargalhar, zombando do mais velho.

— Na verdade, tem algo mais que eu quero perguntar... Você ainda tem contato com a minha família? — O garoto mordeu o lábio, tentando conter a ansiedade.

— Sobre isso... Parte do meu acordo com seu avô era que nós nunca mais tivéssemos contato, não importa o que houvesse, para não atrair muitos olhos sobre nós.

— Mas... De quem exatamente você estava me escondendo, além dos demônios?

— A Igreja, Jeonggukie... Se eles soubessem sobre sua existência, você viraria o novo "anticristo" deles, e isso provocaria uma guerra entre as espécies, porque eles achariam que você é uma ameaça, uma arma viva do submundo contra os humanos.

Jungkook soltou um suspiro descontente.

— Eu nunca pedi por isso, hyung, não é como se eu quisesse ter nascido assim. Isso é injusto pra caralho! —  Seokjin apertou uma mão em seu ombro, concordando.

— Eu sinto muito, Jungkookie. Isso é culpa minha, e você tem todos os motivos para estar bravo, eu realmente entendo se depois que tudo isso acabar você resolver não querer falar mais comigo...

— Não, não peça desculpas, isso não é sua culpa. Você não fez de propósito, eu não acredito, pelo menos. Eu consigo entender agora porque você fez as coisas que fez, mesmo eu ainda achando que você errou em me esconder essa história toda e mentir pra mim. Mas é... eu mentiria se dissesse que você foi um pai ruim ou que eu te odeio...

— E isso significa que você me perdoa? — Seokjin tentava segurar sua felicidade, embora fosse óbvio como seu rosto havia se iluminado repentinamente.

— Sim, acho que podemos dizer isso. Mas eu ainda não tenho certeza sobre o futuro, eu não quero me sentir preso nunca mais...

— Mas... você pretende terminar sua faculdade? Achei que ela fosse importante para você, afinal, você foi tão teimoso em relação a ela.

— É verdade, eu cuidei dos afazeres da casa por um mês inteiro para te provar que eu era capaz de lidar com novas responsabilidades. — Jungkook deu uma risadinha, nostálgico.

— Quanto mais conversamos, mais eu vejo o quão duro eu fui no passado. Se eu pudesse, eu teria voltado e feito tudo diferente... — O mais velho suspirou.

— Agora está tudo bem, de verdade. Eu fiquei sim com muita raiva de você, mas agora... isso já é passado, e não vai adiantar de nada ficar remoendo ele.

— Você está certo. Seria forçação de barra demais pedir um abraço? — Os olhos do homem encheram como os de um cachorrinho.

— Ah, venha aqui, velhote. — Jungkook abriu os braços, deixando que Seokjin o apertasse como um boneco de pelúcia.

— Eu te amo, Kookie. — Ele murmurou, o rosto afogado no ombro do garoto.

— Ei, eu também te amo. Só não comece a chorar... — Seokjin riu, já sentindo algumas de suas lágrimas formando uma poça na camiseta do garoto.

Era um momento feliz, fazia muito tempo desde que Jungkook se sentira tão seguro assim, o homem sempre fora seu porto-seguro, apesar dos altos e baixos. Os dois finalmente sentiram ter encontrado o equilíbrio que tanto custaram a achar, seu relacionamento nunca mais seria o mesmo, era o começo de algo bom.

**

Do outro lado do navio, Taehyung permanecia deitado em sua cama. Jimin tentou ficar na cabine cuidando do demônio, mas isso logo mudou após Hoseok chegar e este insistir para que Jimin saísse, dizendo que ele assumiria dali e que cuidaria bem do leviatã.

Após receber um olhar gentil de Taehyung, quase como que tranquilizando-o, o íncubo saiu do quarto, deixando os dois ali sozinhos. Hoseok não perdeu tempo, praticamente empurrando o demônio até o chuveiro e fazendo com que ele se banhasse em alecrim, lavanda e outras coisas que ele disse serem "relaxantes ao corpo humano". O leviatã reclamou o tempo todo, dizendo coisas como "para de esfregar com tanta força!" e "eu sei me lavar sozinho!". Após uma série de xingamentos e um tanto de bagunça, Hoseok colocou-o deitado confortavelmente em sua cama.

— Ei, eu estou bem, será que você pode relaxar um pouco? Eu já me transformei milhares de vezes, não tem por quê você se preocupar tanto. — O leviatã ria fracamente.

— Não seja ridículo, você lidou com uma entidade cósmica, Taehyung. Ninguém sai ileso de algo assim. Cale a boca e tome seus remédios. — O ruivo lhe ofereceu um copo com água e algumas ervas e raízes maceradas, deixando o líquido num tom terroso.

— Eca, que nojo! O que você botou aqui? Aliás, de onde você tirou esses pedaços de mato no meio do oceano??

— Ervas, Taehyung. Eu deixo algumas estocadas e desidratadas em caso de emergência, você deveria me agradecer. — O demônio cheirou o copo, torcendo o nariz.

— Se você quiser me matar, pode me falar, viu? Não precisa tentar me envenenar de um modo tão baixo. — Hoseok ergueu uma sobrancelha, claramente ficando impaciente com o jeito petulante do outro.

— A culpa não é minha se você não consegue cuidar direito do seu corpo humano. Tome isso logo e nos faça um favor, não quero ficar aqui o dia todo!

— Como se você tivesse muito mais o que fazer, né? Fala sério, você não resiste a mim. — O demônio piscou seus longos cílios para o ruivo, que só deu um revirar de olhos.

— Ugh, você é insuportável. E só para que você saiba, eu não curto esse tipo de coisa. — Taehyung pareceu confuso, mas logo respondeu com um "ah...".

— Bem, eu tenho um namorado, eu estava só te provocando. — O demônio justificou. Hoseok deu um olhar zombeteiro, puxando uma cadeira para sentar-se ao lado da cama.

— Você e Min Yoongi... Isso sim é um casal esquisito.

— Nós somos um casal incrível! Temos nossas diferenças, mas ele me ama assim como eu amo ele!— Taehyung retrucou.

— Poupe seu fôlego, peixinho, você não precisa me provar nada. — Hoseok apoiou a cabeça sobre uma das mãos, encarando o leviatã. Taehyung deu um sorriso de lado, encarando as próprias mãos.

— Parece ridículo, não é? O jeito que eu estou tão entregue a ele. De uma besta marinha que aterrorizava humanos, eu me tornei... isso.

— Mudar e evoluir faz parte de qualquer ser vivo, Taehyung, isso não é motivo para se envergonhar. — O demônio sustentou um olhar com o curandeiro, os lábios grossos prensados numa linha fina.

— Mas isso não faz parte da minha natureza, eu não sou assim... — Ele praticamente balbuciou, as palavras saindo fracas.

— Ninguém pode ditar ou decidir o que você é, além de você mesmo. Ser um demônio não é quem você é, isso não passa de uma característica, uma parte da sua identidade, mas ela não precisa controlar sua vida.

O quarto parecia ficar cada vez menor em torno dos dois, uma atmosfera tão íntima e segura que parecia que ninguém mais poderia ouví-los. Taehyung esboçou um sorriso, permitindo-se exalar a respiração que nem percebeu estar segurando. Ele andava guardando aquilo para si mesmo já havia algum tempo, ele nem sabia dizer por quê escolhera compartilhar isso com Hoseok, principalmente numa hora tão aleatória. Talvez fosse a áurea que ele exalava, tão confiante e seguro de si, Taehyung admirava o humano pela pessoa que ele era.

— Se sente melhor? — O ruivo perguntou. Ele já havia sentido um desequilíbrio dos chacras do demônio na noite em que ele o ligou da casa Jimin, Hoseok só não sabia dizer o que era exatamente.

— Sim, sim, me desculpe por te perturbar assim, do nada. Você pode sair agora, se quiser, eu já me sinto melhor.

— Eu não tenho nada melhor pra fazer, como você mesmo disse. — Os dois riram.

**

Ao final da tarde, os 5 homens resolveram jantar juntos. Havia sido um dia exaustante, mas não tinha jeito melhor de terminá-lo do que com boa comida e risadas. A mesa de jantar era uma grande placa de madeira lixada e polida, num estilo mais rústico, contrastando com a louça de cristal que, sem dúvidas, era uma expressão do gosto pessoal refinado de Jimin. Tudo aconteceu muito rápido, em um minuto, os homens estavam ali reunidos, confusos pelo fato da mesa estar completamente vazia e no outro, Jimin murmurava palavras em língua estranha, fazendo com que logo após isso um banquete farto se colocasse diante deles. Desde peixes, carnes, até frutos do mar, tudo tinha uma aparência impecável, servidos em bandejas de prata lustradas e acompanhando tipos diferentes de vinho. Cada um tomou seu lugar, Hoseok numa ponta, Taehyung e Seokjin de frente um para o outro e Jimin e Jungkook também sentados um à frente do outro.

Não demorou muito para que todas as tensões se relaxassem depois da primeira rodada de álcool, e foi assim que houve ali o primeiro momento de descontração entre o grupo, risadas que nunca acabavam, vínculos se fortificando, os semblantes relaxados. Depois de já terem comido boa parte dos pratos e bebido a maior parte do vinho, Seokjin e Taehyung continuavam a discutir animadamente, um Hoseok vermelho e gargalhando por causa dos dois. Jungkook tentava acompanhar o curso da conversa, mas era tudo tão energético e frenético que ele só sabia rir e tomar sua bebida, apreciando a cena. Desde quando eles ficaram tão próximos?

— Você nem estava VIVO nessa época, como pode ter tanta certeza?? — Seokjin esbravejou.

— Meu querido, eu não preciso estar vivo, o Google existe pra isso! — O leviatã rebateu.

— Isso é simplesmente ridículo, eu não vou discutir ciência criacionista com você. — O homem se levantou, indo pegar mais outra garrafa de vinho.

— Fale o que quiser, Jin, é óbvio que o ovo veio antes da galinha. — Seokjin parou no meio do caminho, sem conseguir se conter.

— É óbvio que não! Como que um ovo pode simplesmente surgir???

— Por que o ovo não pode simplesmente surgir e a galinha pode??? — Taehyung rebateu.

— Porque ela é um ser vivo!

— O ovo também vai ser! — Seokjin bufou em resposta. Por que ele tinha entrado naquela discussão, para início de conversa?? Ele já começava a se arrepender.

Em certo momento, Jungkook deixou que seus olhos flutuassem até o íncubo, que bebericava um copo com conhaque tranquilamente, alternando seus olhos entre os homens.

Ei... Está tudo bem? — Jungkook questionou pelo canal.

Jimin olhou-o do outro lado da mesa.

Está, sim. Acho que só estou muito esgotado, foi um dia longo...

— Posso ir para seu quarto depois...?

O íncubo deu um olhar de baixo para cima, contendo um sorriso.

— Ora, ora... Não esperava isso vindo de você, Jeongguk. Parece que as máscaras estão começando a cair, não é mesmo?

— N-Não, não era isso que eu queria dizer! Eu só queria... passar um tempo com você, se não houver problema.

Jimin riu pelo canal.

Tudo bem, querido, venha após o jantar.

Jungkook acenou a cabeça, confirmando. As conversas continuaram pelo resto do jantar, os dois casualmente participando de alguns debates aqui e ali, mas os dois participantes mais fervorosos eram, sem dúvidas, Seokjin e Taehyung.

Quando todos já haviam comido e não havia mais energia para conversar, as louças sujas sumiram num passe de mágica, cada um retornando até sua cabine, murmurando um "boa noite" uns para os outros e assim encerrando o dia.

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Oioi gente, estamos de volta com mais um capítulo! Espero que tenham curtido, comentem e deixem uma estrelinha kkk Inicialmente o capitulo tinha 4k, mas eu dividi pra poder desenvolver a segunda metade melhor, Elysium volta na próxima segunda!

ps: Agora temos um quiz de personalidade de Elysium!!! O link está disponível na minha bio, aproveitem.

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