Capítulo Vinte e Cinco
Spike Ko-go:
Olhei para Levi saindo do quarto com uma expressão pensativa, mas divertida. Ele abriu a porta e saiu; iria visitar sua família um pouco nesta manhã. Na verdade, acredito que sua intenção era verificar como estavam as coisas com seus pais, que cuidam de uma criança com poderes espirituais e que ainda pode se transformar em uma raposa.
Além disso, eles precisam conhecer um pouco sobre o Diel, que, pelo que observei, acaba sendo muito parecido com o Levi quando era mais jovem. Sempre que visito meus sogros, aproveito para folhear o álbum de fotos do Levi quando criança.
É encantador ver como seu namorado era incrivelmente fofo quando criança e ainda mais agora, na idade atual. Imaginar que, no futuro, seus filhos devem herdar completamente essa fofura dele é uma perspectiva adorável.
Com um sorriso, deitei-me novamente, voltando a dormir. Minutos depois, um alarme tocou, e ao procurar a fonte do som, encontrei o celular do Levi debaixo dos travesseiros. Desliguei o alarme, olhei para o teto e ouvi nosso vizinho reclamando da porta do quarto que não fechava corretamente, independentemente da força aplicada. Uma cadeira atrás dela, inclinada a 45 graus, funcionava como uma fechadura improvisada.
Os quartos eram de tamanho médio, cerca de 80 metros quadrados, e a presença das nossas coisas juntas nesse espaço me fazia incrivelmente feliz.
Depois de gemer e desligar o despertador, levantei do colchão e me dirigi ao banheiro com roupas e produtos de higiene em mãos. Ao chegar, escovei os dentes e entrei no chuveiro, ouvindo as vozes dos outros que compartilhavam a aversão por acordar cedo.
Ao terminar, vesti minhas roupas e saí rapidamente do prédio. Imagino que Levi já tenha ido para a primeira aula e talvez nem queira me ver, considerando que deve estar chateado por não ter sido cuidadoso durante nossos momentos íntimos.
Deixei as dependências da faculdade e segui para o trabalho, levando cerca de 20 minutos a pé até chegar a um enorme canteiro de obras com vários sinais de alerta indicando "Perigo" e "Trabalho em andamento". Olhei ao redor e entrei, a magia revelando à minha frente um prédio de 8 andares com janelas abertas e submundanos entrando voando ou surgindo magicamente.
É gratificante ajudar não apenas o orfanato mundano, mas também esse lugar que oferece grande auxílio aos outros submundanos. Ter a oportunidade de contribuir é realmente ótimo e significativo.
— Bom dia, Spike — ouvi uma voz gritar atrás de mim. A voz pertencia a um homem de 45 anos, um feérico com a pele cinza e olhos violetas. Ele costumava dizer que abandonou a nobreza há muito tempo, optando por se casar com uma feiticeira e vir para o mundo humano.
Acenei para ele enquanto me transformava em minha verdadeira versão, com as asas de dragão se manifestando e as garras surgindo, sentindo-me livre.
Durante o último meio ano que estou trabalhando neste lugar, Reiny tem sido muito prestativo. Ele compartilha comida e bebida, além de ajudar durante o trabalho quando necessário. Até mesmo quando quis levar o Levi em nosso primeiro encontro, ele me auxiliou a encontrar um ótimo lugar para jantar com o grande amor da minha vida. O restaurante foi altamente recomendado por ele e pela mulher a quem serei eternamente grato.
Reiny estava prestes a responder quando ouvi uma conversa alta e, rapidamente, um rapaz passou por mim correndo, mencionando que tinha esquecido de alimentar a planta carnívora.
— Já tomou o seu café? — Ele perguntou.
— Acabei esquecendo, estava com pressa para vir até aqui — falei, coçando a nuca meio sem graça.
— Ah, Spike... Eu sabia que você não iria trazer café da manhã novamente, já que deve achar horrível viver em um lugar onde nada vem magicamente para a sua mão. Minha esposa me deu mais uma vez hoje, então vamos compartilhar juntos. — Assim que Reiny terminou a frase, ele pegou sua mochila e tirou duas garrafas grandes de café, junto com quatro rosquinhas bem enfeitadas. Ele dividiu tudo e me deu uma parte. — Lembre, rapaz, temos que comer para começar a trabalhar. Você ainda precisa cuidar de mim, já que este trabalho é muito perigoso, então coma, especialmente alguém que não tem asas. — Ele continuou e mordeu uma rosquinha, sujando a boca de granulado e açúcar.
Não disse nada, mas também comecei a comer, guardando esse gesto desse homem no fundo do coração. Esse homem de meia-idade foi o único que já havia demonstrado alguma forma de carinho por mim desde que cheguei a este lugar. Após a refeição, começamos o trabalho diário de cuidar das amostras de plantas modificadas com magia ou outras espécies de criaturas que precisam ser catalogadas.
Estávamos entre os primeiros a chegar todos os dias. A esposa de Reiny estava grávida de seis meses, e seu filho nasceria em breve. Ele tinha que trabalhar arduamente para garantir a sobrevivência tanto para sua esposa quanto para seu filho ainda não nascido.
Enquanto realizávamos nossas tarefas diárias, Reiny compartilhava histórias sobre sua esposa e a expectativa do nascimento do filho. A conexão entre nós se fortalecia a cada dia, e sua generosidade e apoio tornavam o ambiente de trabalho mais acolhedor.
À medida que cuidávamos das plantas modificadas e catalogávamos as diferentes criaturas, aprendia mais sobre a complexidade desse mundo mágico e submundano. A responsabilidade de preservar e compreender essas formas de vida tornava nosso trabalho significativo.
Apesar das dificuldades e perigos envolvidos, a dedicação de Reiny inspirava-me, reforçando a importância de enfrentar os desafios para construir um futuro melhor. No silêncio do laboratório, nossos esforços conjuntos criavam laços que transcendiam as fronteiras do mundo submundano.
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O tempo voou e logo chegou o meio-dia. Estava prestes a terminar o 5º andar de criaturas que têm uma aparência confundiria qualquer pessoa, com algo adorável que poderia ser um erro se saísse para o mundo sem a devida precaução. Fiz uma pausa de alguns minutos para me reidratar, e Reiny fez o mesmo.
Começamos a descer as escadas que ligavam o 5º ao 4º andar, e tivemos que passar por um monstro que parecia um girassol com patas parecendo raízes. Várias pessoas seguravam-na pelo pescoço fino.
— Até que este é fofo — Reiny disse, e eu olhei para ele.
— Isso me lembra uma história que ouvi do meu sogro, Gabriel, sobre o treinamento dele na tutela de sua mãe — falei, recordando-me do momento em que fiquei assustado com os treinos que Lídia iria impor ao Levi, até que Gabriel interveio para mudar seu pensamento.
A história que compartilhei com Reiny era sobre o treinamento peculiar que Gabriel, meu sogro, recebeu de sua mãe na tutela. Ele mencionou como ela usava criaturas mágicas adoráveis, mas enganosas, para testar a habilidade dele de discernir entre a fofura superficial e os perigos subjacentes.
Ao atravessarmos o monstro-girassol, o comentário de Reiny sobre a fofura da criatura trouxe à tona memórias do choque inicial de Gabriel diante de desafios semelhantes. Era um lembrete de que, mesmo em um ambiente tão mágico, a cautela e o discernimento eram essenciais.
Enquanto caminhávamos, um enorme estrondo e um tremor começaram a sacudir todo o edifício. A criatura conseguiu se libertar, já que aqueles que a seguravam estavam cambaleando devido ao terremoto. Apavorados, eles se dispersaram, e o monstro se virou para nós, mostrando seus dentes pontudos.
Girei a tempo de evitar que a criatura atingisse Reiny, começando a empurrá-la para trás mesmo com o tremor persistindo. A fera rugiu para mim, e com um movimento, joguei sua cabeça para o chão, fazendo-a se debater loucamente. Os outros voltaram aos seus lugares, segurando as patas e pedindo perdão pelo ocorrido.
Soltei um suspiro e desci para o segundo andar, onde tinha certeza que originou o tremor. Utilizei o elevador, e quando as portas se abriram, deparei-me com o laboratório completamente destruído.
Olhei para o lado, onde estavam os elfos e lobisomens mais inteligentes desse lugar.
— O que aconteceu aqui? Todo o prédio tremeu descontroladamente. — Falei calmamente, e eles me olharam culpados, apontando para que me aproximasse.
Dirigi-me naquela direção, e no centro, havia um pequeno buraco que começou a mudar para outro lugar, revelando um local onde a fauna e a flora estavam em harmonia, junto com algumas casas antigas.
— Acabamos abrindo um portal para o mundo dos espíritos. — Uma delas disse animadamente enquanto uma criatura voadora de três pernas passou pela gente. — Sabe o que quer dizer? As criatura que estamos cuidando nos últimos tempos estão sendo criadas a partir de um vazamento da magia yokai.
Todos pareciam animados com essa descoberta, esquecendo-se, de alguma forma, que isso quase destruiu nosso prédio.
Lembrei do que sabia, ou do que Levi havia explicado: alguns espíritos simplesmente evitam os seres vivos, preferindo habitar áreas isoladas, longe da sociedade física ou mundana. Não posso culpá-los por essa escolha.
Por outro lado, há aqueles que optam por viver perto de moradias mundanas e desenvolvem um verdadeiro apreço pelos vivos. Os meio-espíritos são considerados seres híbridos sobrenaturais, frutos da união de um mundano com um espírito. O mais comum é o filho de um espírito com um mundano, mas há outros tipos de híbridos de espírito também.
No entanto, com o que vi com o idiota do Natsuls, não é algo que eu gostaria de repetir tão cedo. Lidar com esses espíritos poderia ser um caos para qualquer pessoa.
— Só arrumem essas coisas. — Falei, soltando um suspiro que os deixou magoados. — Lembram que faltou pouco para destruírem nosso prédio só por tentarem abrir esse portal? Imagina se entrarem no reino espiritual sem pensar duas vezes.
Ninguém discordou, e com isso, fui verificar como estava o resto do pessoal.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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