Capítulo Três
Levi Prescott:
Spike e eu decidimos começar o dia com um café da manhã tranquilo. Descemos para a lanchonete, onde o aroma de café fresco pairava no ar.
Sentamos à mesa para compartilhar uma refeição, e ele compartilhou uma novidade que tinha encontrado, o que me fez rir. Durante o café da manhã, a conversa animada e os risos dos amigos presentes preenchiam o ambiente, ajudando a dissipar qualquer resquício de estranheza que eu pudesse sentir.
No entanto, minha mente ainda estava ocupada com as imagens da noite anterior. Enquanto saboreava meu café, olhei para Spike, perguntando-me se ele estava escondendo algo.
— Do que você se lembra da noite passada além da raposa que invadiu o quarto? — Perguntei.
— Só vi que ela entrou e não representava nenhum tipo de perigo para você. Senti o cheiro do seu brinquedo de pelúcia e voei em sua direção. Quando voltei para o quarto, você estava dormindo, e a raposa tinha ido embora, falando com uma voz infantil — Spike disse, sem indícios de mentira em sua expressão. — Foi só isso. Ela era apenas jovem e deve ter se machucado, já que um espírito de raposa não é muito ágil.
Realmente, ele não sabia de nada do que aconteceu ontem, mas eu ainda lembrava da raposinha.
— Você disse espírito de raposa? — Perguntei.
— Sim, pelas caudas, era o espírito de uma raposa de duas caudas mais pelo visto era muito novo — Spike disse.
Enquanto eu processava a informação, algo chamou minha atenção. Naquele momento, um homem desconhecido apareceu na lanchonete, observando-nos de longe. Seus olhos dourados brilhavam, e uma sensação familiar percorreu minha espinha.
— Spike, você está vendo esse homem ali? — Apontei discretamente na direção do desconhecido.
Spike franziu a testa e olhou na direção que eu indicava. Seus olhos encontraram os do homem, e uma expressão de perplexidade cruzou seu rosto.
— Não vejo ninguém, Levi. Do que você está falando?
Um arrepio percorreu minha espinha. A presença do homem misterioso da noite anterior voltou a assombrar meus pensamentos. Tentei ignorar, voltando-me para meu café.
— Talvez tenha sido minha imaginação. — Murmurei para mim mesmo.
No entanto, a inquietude persistia. Enquanto continuávamos nosso café da manhã, uma sensação de que algo maior estava em jogo pairava no ar. Decidi deixar essas preocupações de lado por enquanto e aproveitar o restante do dia.
Depois do café, decidi dar um passeio pela cidade, na verdade o professor cancelou a aula numa velocidade absurda dizendo que não estava muito bem. A brisa fresca da manhã e o sol acolhedor ajudavam a clarear meus pensamentos. Ao percorrer as ruas familiares, encontrei alguns amigos da faculdade e troquei cumprimentos amigáveis.
Durante o passeio, minha mente voltou à noite anterior, e decidi passar por alguns lugares para me acalmar. Talvez isso me ajudasse a acalmar a mente o máximo que pudesse.
À medida que caminhava, algo chamou minha atenção. Uma pequena loja de antiguidades, cuja fachada eu me lembrava vagamente das visões noturnas. Decidi entrar, curioso para ver se encontraria algo que pudesse esclarecer os eventos misteriosos da noite anterior.
O sino da porta tilintou suavemente quando entrei na loja. O lugar estava cheio de móveis vintage, artefatos peculiares e objetos curiosos. Enquanto explorava as prateleiras, uma peça específica capturou minha atenção: um antigo livro encadernado em couro.
Puxei o livro da prateleira e abri suas páginas desgastadas. Enquanto folheava, me deparei com ilustrações e símbolos que pareciam familiares, como se eu os tivesse visto antes em algum lugar.
Ciel surgiu no meu ombro, espiando as páginas de um mangá, com a blusa cobrindo a boca. Peguei-o gentilmente na palma da minha mão.
— Eu não fiz nada — disse Ciel, seus olhos já começando a lacrimejar.
— Pode me dizer o que aconteceu ontem à noite? — perguntei, e ele balançou a cabeça com tanta força em negação que pensei que sua cabeça iria se soltar do pescoço. — Por que não?
Ciel parecia relutante em compartilhar informações, como se estivesse segurando algum segredo.
— É melhor você não se envolver nisso, Levi. — Ele finalmente falou, sua voz sussurrante revelando uma tensão palpável.
— Não gosto de mistérios, Ciel. Se algo aconteceu, quero saber. — Insisti, fixando meu olhar nele.
Ele suspirou profundamente, como se estivesse carregando um fardo.
— Não posso falar muito. Apenas tome cuidado, Levi. Nem tudo é o que parece ser. Às vezes, é melhor não mexer com certas coisas. — Ele murmurou, seus olhos transmitindo uma seriedade que me fez sentir um calafrio.
De repente, senti uma presença atrás de mim. Virei-me rapidamente para encontrar o homem misterioso de antes, aqueles olhos dourados agora fixos em mim.
— Levi, precisamos conversar. — Sua voz ressoou suavemente, ecoando na minha mente.
Soltei Ciel, que rapidamente voou para trás de mim.
— Me desculpe, mestre. — Ciel murmurou, escondendo-se atrás de mim.
— Achei que poderia me esquivar, mas parece que não foi o caso. — O homem falou calmamente, e notei uma mudança em sua aparência quando uma senhora passou por trás de nós. Agora, ele tinha olhos comuns, cabelos curtos e uma barba, fazendo-o parecer mais com um bibliotecário. Notei um crachá em sua lapela com o nome Benjamin Peralta.
— Quem é você de verdade? — perguntei, encarando Benjamin Peralta com curiosidade.
— Esse não é meu nome verdadeiro, mas em alguns lugares precisamos inventar para nos misturar. — Ele sussurrou. — Mas vamos esquecer esse fato. Demorou para recuperar sua visão dos meus súditos, até minha filha vir te procurar nesta madrugada. Mas você ainda não se lembra do porque coloquei essa punição em você.
— Que punição? — perguntei.
O homem sorriu para mim calmamente, observando suas unhas como se não fosse nada demais.
— Deveria se lembrar sem precisar da ajuda de alguém. Afinal, quem criou essa situação só tem um culpado, que é você. — Ele disse com calma.
— O que você fez comigo? — questionei, sentindo uma mistura de raiva e confusão.
Ele se aproximou lentamente, mantendo a expressão tranquila.
— Você interferiu em assuntos que não lhe dizem respeito, Levi Prescott. Desencadeou eventos que não deveriam ter acontecido. A punição foi uma medida para proteger o equilíbrio das coisas que você causou. — Sua voz era firme, mas também carregada de uma estranha melancolia.
— Proteger o equilíbrio? Que diabos você está falando? — Exclamei, frustrado.
Ele suspirou como se estivesse lidando com uma criança teimosa.
— Você tem o dom de enxergar os meus espíritos, mas esse dom vem com responsabilidades. Quando o usa de maneira inadequada, afeta o delicado equilíbrio entre os mundos. Eu estava tentando corrigir as consequências de suas ações. Já se perguntou o que aconteceu com sua família biológica ou porque parece que via as mentiras com tanta facilidade. Acho que deve se lembrar da sua vida de quanto crescia naquele orfanato de sentir que era uma criatura sem lugar ou um certo vazio.
— Então você roubou minhas memórias e me puniu? Do que exatamente e fui abandonado naquele orfanato quando um bebe — Indaguei, ainda lutando para compreender. — Não tinha nada para se lembrar ou esquecer.
Ele assentiu.
— Foi necessário naquela época. Agora, porém, as coisas estão mudando. A situação está se desenrolando de uma forma que não prevíamos. — Seus olhos fixaram-se nos meus, como se estivesse avaliando algo além do que eu podia perceber.
— O que está acontecendo? — Perguntei, sentindo um arrepio percorrer minha espinha.
— A barreira entre o mundo espiritual e o mundano está enfraquecendo. Forças antigas começaram a despertar, e o destino de ambos está interligado de maneiras imprevisíveis. — Benjamin explicou, sua voz adquirindo um tom mais sombrio.
— E onde eu me encaixo nisso tudo? — indaguei, ainda tentando entender a complexidade da situação.
— Você é uma peça-chave, Levi. Seu dom é mais poderoso do que imagina, e agora é o momento de enfrentar as consequências de suas escolhas. Deve se lembrar da sua antiga vida e esquecer essa — Ele respondeu, seu olhar penetrante.
Antes que eu pudesse formular mais perguntas, Ciel se manifestou, saindo de trás de mim.
— Ei mestre, você está o forçando a se lembrar? Isso foi contra o que você havia feito — Ciel perguntou, cruzando os braços de forma petulante.
Benjamin olhou para Ciel com um olhar de reprovação.
— Não é da sua conta, espírito travesso. Volte para onde pertence ou verá as consequências que sua irmã enfrentou.
Ciel bufou, mas antes que pudesse responder, Spike apareceu ao meu lado.
— O que está acontecendo aqui? — Spike perguntou, seu olhar alternando entre mim, Ciel e Benjamin.
— Parece que temos uma conversa pendente, Levi. — Benjamin afirmou, ignorando a presença de Spike.
Spike ficou ao meu lado, claramente desconfiado.
— Se vai falar algo sobre Levi, pode muito bem falar na minha frente. — Spike disse, sua postura protetora é evidente.
Benjamin olhou para Spike com um olhar crítico antes de voltar sua atenção para mim.
— Se quiser entender o que está em jogo, lembre de quem você deve ser e quebre meu encantamento a força. — Ele disse, virando-se para sair do local.
Fiquei entre Spike e Ciel, enfrentando uma escolha crucial. Spike segurou-me com força.
— Não tenho nada para lembrar — declarei, resistindo à puxada de Benjamin.
Benjamin olhou-me com uma expressão indecifrável antes de soltar um suspiro.
— Muito bem, Levi. Se escolher permanecer ignorante, é sua decisão. Apenas esteja ciente de que as sombras que se aproximam não pouparão os inocentes. — Ele alertou, antes de desaparecer no ar com inúmeros brilhos de luz.
Spike soltou-me e olhou-me preocupado.
— O que está acontecendo, Levi? — perguntou ele, com uma mistura de curiosidade e apreensão.
Ciel permaneceu em silêncio, observando a cena com seus olhos curiosos.
— Não faço ideia, Spike. Mas parece que há muito mais em jogo do que eu imaginava. — Falei, sentindo-me perdido diante do desconhecido que se desenrolava diante de mim.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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