Capítulo Nove

Levi Prescott:

Como trabalho e estudo, sempre acordo muito cedo para não perder a hora. Em segundos, lembrei que estava de férias e tentei voltar a dormir, mas o sono já havia ido embora. Fiquei rolando de um lado para o outro. Desisti de tentar dormir, pois sempre tenho sonhos estranhos, como ver duas raposas brigando ou ouvir alguém choramingar. Decidi fazer minha higiene matinal.

No banheiro, havia uma banheira de madeira que, quando me aproximei, começou a encher de água. Assobiei baixinho enquanto entrava nela.

Depois do banho, vesti um short jeans e uma blusa de mangas curtas, calcei meu chinelo e olhei pela janela, percebendo que estava muito cedo.

O que me admira é que usam magia para criar um sol artificial, permitindo que os dracos tenham uma vida comum, como a luz do dia e da noite. Queria ir até a cozinha para comer algo ou preparar algo. Estava saindo do corredor quando vi uma Pixie passar rapidamente por mim, batendo com tudo na parede. Ciel soltou um risinho divertido e bateu palmas; olhei para ele irritado, e o mesmo se calou.

— Foi divertido — Ciel disse como um resmungo.

Ignorei ele.

— Você está bem? — perguntei, segurando a pequena fada antes que ela caísse no chão.

A pequena Pixie zumbiu na minha palma, e eu notei que uma das asas dela estava dobrada em um ângulo não muito correto. A Pixie era um jovem com cabelo preto curto e olhos cinza escuro. Usava uma túnica azul claro desbotada sobre uma camisa preta de mangas compridas, um cinto marrom, shorts marrons, meiões pretos e sapatos marrons. Tinha uma pinta sob o olho esquerdo.

Me lembrei que Cilas disse que tinha medicamentos para as Pixies na cozinha, então fui para lá o mais rápido possível com Ciel ao meu lado, observando a Pixie com curiosidade. Fiquei ao lado dela em silêncio.

Entrei na cozinha e vi Cilas lá dentro, mexendo com alguns ingredientes.

— Olá — Ele disse, olhando para a minha mão e notando a Pixie. — Yuki novamente bateu na parede.

Ele desistiu do seu trabalho, foi até uma prateleira e pegou alguns produtos. Pediu para colocar Yuki em cima da mesa e começou a cuidar de suas pequenas asas.

— Vai demorar alguns dias até que se cure por completo. — Cilas disse para a Pixie, que para a minha surpresa começou a chorar. — Não adianta ficar assim, ninguém mandou sair correndo como um doido. Levi, sinto muito por ver isso. Mas Yuki é um jovem gentil e fraco. Quando o encontrei, ele estava sem rumo na vida. Ele é facilmente manipulado pelos outros, age rápido sem pensar e fica com raiva facilmente, o que o leva a começar a gritar.

Ciel assobiou, observando a Pixie com um olhar de respeito.

— Fantástico — Ciel disse, seus olhos brilhando.

A pequena Pixie começou a gritar e chutou o dedo de Cilas, que a olhou como um pai já acostumado com o comportamento de seu filho. Pegou um pote e deu um biscoito para Yuki, que desistiu de sua raiva, sentou-se e começou a comer o biscoito com um grande sorriso. Ciel apareceu para Yuki, e ambos ficaram em silêncio até que um notasse a presença do outro. Yuki ofereceu um biscoito para Ciel, fazendo-o concordar em não contar para Cilas, e os dois celebraram o biscoito juntos.

— Falei, facilmente manipulável. — Cilas disse, virando-se para os outros ingredientes. — Levi, já que está aqui, pode me ajudar com o café da manhã? Segundo as cartas do Spike ou quando consigo fazer uma ligação de projeção, ele diz que sua culinária é a melhor que ele conhece.

Senti minhas bochechas esquentarem, só por receber esse tipo de elogio sobre a minha comida que não tem nada demais.

Me aproximei do balcão, pegando a faca e uma cenoura roxa com pontas verdes.

— Como você e o meu filho se encontraram oficialmente? Sei que ele te seguiu até a faculdade depois que encontrou o seu cheiro novamente. — Cilas quebrou o silêncio entre nós. — Não precisa se preocupar em me contar sobre isso tudo.

Olhei para ele, que riu baixinho.

— Você sabe? — perguntei lentamente, e ele piscou um olho para mim. — Mas como?

— Bem, diferente do Darwin, eu já sei quando meus filhos estão mentindo. — Cilas disse calmamente. — Eu que carreguei o Spike durante nove meses e ainda cuidei dele o tempo todo enquanto Darwin estava trabalhando na sua oficina.

Olhei para ele com um pouco de curiosidade, imaginando quais seriam seus próximos passos. Uma parte de mim queria apenas seguir em frente e aceitar a situação, mas outra parte dizia que eu deveria me preparar para qualquer eventualidade. Se ele fizesse o primeiro movimento hostil, eu estaria pronto para reagir.

Abaixei a faca com calma, absorvendo as palavras de Cilas. Meus instintos alertavam para ficar preparado, mas a sinceridade e o amor nas palavras dele começavam a dissolver parte da tensão que eu carregava. Uma voz distante sussurrava que eu deveria ser mais forte e estar pronto para atacar, mas essa voz não era familiar.

Respirei fundo, tentando afastar a ansiedade e concentrar-me na realidade diante de mim. O amor de Cilas por seus filhos parecia genuíno, e isso começava a acalmar os meus receios. Cilas percebeu minha expressão e sorriu, dissipando ainda mais qualquer vestígio de apreensão. Sua atitude calorosa e compreensiva era genuína, e meu coração começou a se abrir para a possibilidade de ser aceito naquela comunidade de dracos. A oferta de guardar o segredo nos dava tempo para decidir como e quando compartilhar nossa verdade com Darwin.

— Agradeço por sua compreensão, Cilas. Significa muito para nós. — Respondi com um sorriso sincero.

A partir desse momento, enquanto colaborávamos na cozinha, a conversa fluía de maneira mais leve, e percebi que, apesar das diferenças, havia um potencial para construir laços significativos com a família de Spike. O aroma delicioso da culinária enchia o ambiente, misturando-se com a sensação acolhedora daquela casa peculiar, onde magia e humanidade coexistiam de maneira única.

Enquanto preparávamos o café da manhã, Thackery, ainda em sua forma de gato, apareceu na cozinha, brincando com um novelo de lã que tinha encontrado em algum lugar. Ele olhou para mim com curiosidade e depois para Cilas.

— O que está acontecendo por aqui? Alguma novidade? — Perguntou Thackery, arranhando o novelo de lã com suas garras.

Cilas riu e explicou brevemente sobre o incidente com Yuki, a Pixie, e como eu estava ajudando na cozinha.

— Levi tem um talento especial na culinária, Thack. Acho que vai gostar do que estamos preparando. — Cilas disse, sorrindo.

Thackery pulou para o balcão e observou enquanto eu cortava os legumes.

— Interessante... e você é humano, não é? Spike te trouxe para cá? — Thackery perguntou, curioso.

Assenti com a cabeça enquanto continuava a cortar os ingredientes.

— Sim, fui apresentado ao mundo dos dracos por Spike. É tudo tão fascinante. — Respondi, sentindo-me mais à vontade com a presença de Thackery.

Cilas continuou trabalhando, e a atmosfera na cozinha tornou-se descontraída. Foi uma experiência única compartilhar aquele momento, unindo nossas diferenças em torno da preparação de uma refeição especial.

Thackery nos observou preguiçosamente por alguns segundos e, em seguida, retomou sua forma meio-humana.

— Spike ainda não acordou! — Thackery exclamou, sentando-se no balcão e olhando para Yuki, que saboreava o biscoito animadamente, cutucando-o na barriga com a ponta do dedo. — Pai Darwin em breve vai parecer um furacão tentando acordá-lo à força.

— Então por que você não foi acordá-lo? — perguntei, estalando a língua, o que fez Thackery rir animadamente.

— Você não sabia que meu irmão odeia ser acordado e acaba cuspindo fogo nos outros. — Thackery disse simplesmente, pegando uma maçã da fruteira. — Ele vai perceber que é você quem vai acordá-lo quando se aproximar, seja pelo cheiro ou pela ligação que ambos têm.

Olhei para Cilas, que bateu no meu ombro, dando sinal para que eu fosse até o quarto. Soltei um suspiro e segui o caminho até lá.

Ao entrar no quarto, deparei-me com Spike de barriga para cima, as cobertas jogadas de lado, e ele roncando tão alto que um quadro ao lado da cama tremia no lugar. Aproximei-me lentamente, e quando nossos corpos estavam próximos, uma cauda de dragão se enrolou na minha cintura, e eu acabei caindo em cima de Spike, que sorriu amplamente.

— Bom dia, Levi — ele disse rouco, cheirando-me. — Amo o seu cheiro.

Olhei para ele, que sorriu e então me beijou. Retribuí o gesto enquanto nossas línguas se entrelaçavam. Suas mãos foram para debaixo da minha camisa, começando a levantá-la lentamente. Afastei-me rapidamente, impedindo-o de continuar.

— Ainda não, vamos esperar mais algum tempo antes de tentarmos algo. — falei baixinho, e ele assentiu, passando a mão pelo meu rosto.

— Irei esperar o tempo que você precisar para se entregar a mim de corpo e alma. — ele disse sorrindo, fazendo meu coração acelerar. — Pode levar o tempo que quiser; estarei lá por você.

Abracei seu corpo, colocando minha cabeça na curva do seu pescoço, enquanto ele ainda me segurava, como se tivesse a coisa mais linda e preciosa do mundo em seus braços.

Agora, entendo quando meu pai Jacob me dizia que só vamos saber se algo é verdade quando alguém demonstra que sempre estará lá para nos proteger, dar carinho e amor.

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Gostaram?

Até a próxima 😘

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