Levi Prescott:

O ar ao nosso redor parecia mais denso, como se estivesse impregnado pelas palavras sombrias de Natsuls. O choque e o temor se entrelaçavam dentro de mim, criando uma sensação desconfortável no peito.

- Esse corpo tem um irmão que ainda vive? - perguntei, minha voz carregada de incredulidade.

Natsuls assentiu indiferente, desfrutando do impacto de suas revelações.

- Sim, um irmão. Um irmão que nunca soube que existia, um irmão ligado a esse corpo. Ele é um trunfo que mantive escondido para garantir a obediência de um servo perfeito.

A raiva começou a borbulhar dentro de mim. Como ele ousava usar outra vida como barganha para controlar a minha?

- Você está disposto a sacrificar outra vida apenas para conseguir o que quer? - acusei, sentindo a fúria pulsar em minhas veias.

O sorriso de Natsuls se alargou, revelando um prazer obscuro.

- Não vejo isso como um sacrifício. É uma simples peça no tabuleiro, uma peça que pode ser sacrificada pelo bem maior. Devo usar cada método que tenho à minha disposição.

Spike interveio, sua expressão endurecida pela indignação.

- Isso é monstruoso, Natsuls. Usar outro ser, uma vida inocente, como peão em seus jogos de poder? Isso ultrapassa qualquer limite.

Natsuls deu de ombros, demonstrando uma frieza perturbadora.

- No jogo da vida e da morte, algumas peças precisam ser sacrificadas. Vocês não entendem a magnitude da ameaça que se avizinha. Essa pequena criança, que nem tem dez anos direito, é uma carta na manga que pretendo usar para assegurar nosso domínio sobre o reino espiritual, se for necessário. - Ele sorriu friamente. - Posso dizer que ele seria uma ótima moeda de troca entre outros espíritos, caso seja necessário.

A urgência da situação tornou-se evidente, e a batalha não era apenas contra a imposição do meu retorno ao reino espiritual, mas também contra a cruel manipulação de Natsuls sobre vidas inocentes. Uma escolha difícil se desenrolava diante de mim, e eu sabia que desafiar meu irmão e proteger qualquer pessoa não seria fácil. Encarei os olhos dourados em um longo silêncio; antes, tinha medo deles, mas agora não sentia mais nada por esses olhos. Abri minha boca:

- Quando partirmos - Spike disse ao meu lado, e olhei surpreso para meu namorado.

- Não vou te abandonar nessa situação, ainda mais com um cara como esse te forçando a tomar essa decisão - Spike afirmou.

- Agora.

A palavra ecoou, e até mesmo André ergueu a cabeça para me encarar com horror mudo. Mas não podia olhar para ninguém nesse momento. Virei-me para meus pais. Os olhos do pai Jacob estavam marejados, então baixei o olhar. Natsuls assobiou enquanto se afastava, caminhando lentamente, e ficou andando de um lado para outro, esperando a partida, até que Cilas e os demais começaram a correr para arrumar as coisas. Eu não queria contemplar para que meu coração doesse ainda mais, e fiquei com minha avó, olhando de soslaio para Natsuls com uma certa desconfiança.

Minha avó criou uma arma e entregou-a para mim junto com uma faca.

- Caso precise - ela disse com um sorriso.

- Vamos, Levi, temos que nos apressar. - A voz de Spike, cheia de preocupação, quebrou o silêncio tenso.

Assenti com a cabeça, forçando-me a afastar o olhar de Natsuls. Minha avó apertou minha mão, transmitindo silenciosamente seu apoio.

- Não permitiremos que ele use seu irmão contra você. - Spike reforçou, determinado.

Antes de partir, encarei mais uma vez Natsuls, cujo sorriso frio indicava que ele apreciava a confusão que instigaram. Não podia permitir que ele ganhasse essa batalha psicológica.

- Vamos enfrentar isso juntos, Levi. - A voz firme de meu pai quebrou meu transe. - Ele não terá sucesso em dividir nossa família.

Com um último olhar desafiador para Natsuls, seguimos para o desconhecido, prontos para enfrentar as consequências de nossas escolhas e proteger o que mais amávamos.

- Então vamos - Natsuls disse. Peguei a mochila, sentindo-a um pouco pesada, e a coloquei nas costas. Ciel sentou no meu ombro, e Spike entrelaçou nossos dedos. No exato momento em que Natsu estalou os dedos, um enorme círculo surgiu abaixo de nós e se abriu completamente. Me vi caindo na escuridão.

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À medida que caíamos na escuridão, o vento zunia em meus ouvidos, e a sensação de queda livre envolvia meu corpo. Ciel, apertando firme no meu ombro, mantinha-se estável, enquanto Spike e eu nos segurávamos mutuamente, enfrentando juntos o desconhecido.

A escuridão ao redor começou a se dissipar lentamente, revelando um cenário deslumbrante e surreal. Estávamos em um reino interdimensional, com paisagens que desafiavam a lógica e a gravidade. Estrelas cintilavam em cores desconhecidas, formando padrões celestiais que dançavam no céu.

Natsuls, que estava à frente, flutuava com uma expressão de desprezo, como se este lugar fosse seu domínio particular. Ele se voltou para nós com um sorriso malicioso.

- Bem-vindos ao reino espiritual. Ou, para o seu caso, acho que já estavam de volta ao lar.

Spike apertou minha mão com firmeza, transmitindo confiança, enquanto Ciel observava tudo com olhos curiosos. Juntos, avançamos naquele novo mundo, determinados a desvendar os mistérios que nos aguardavam e confrontar Natsuls em seu próprio território. Posso dizer que me senti renovado depois de muito tempo, como se fosse uma pessoa diferente.

Andamos até uma parte da floresta, cada passo em direção ao limite era ágil demais, me carregava rápido demais para qualquer que fosse o tormento e a infelicidade que me aguardavam. Entramos no limite da floresta que ele nos trouxe. A escuridão acenava adiante.

- Por que não nos trouxe mais perto do seu lugar na floresta? - Spike perguntou.

- Tivemos que nos mudar - Natusls disse, olhando para frente.

- Você perdeu parte dos seus domínios - falei.

- Ainda tenho partes dos meus domínios - ele disse, baixinho, quase relutante. - Não roubaram tantas coisas para que eu tenha que me esconder.

Ciel apontou para uma pequena direção da floresta que seria quase um pequeno triângulo em comparação, representando uma porção ínfima das terras de Natsuls.

- Por que se incomodar com uma parte desse território tão pequeno? - Spike disse. Notei que Ciel começou a tremer quando Natsuls se virou lentamente na direção do meu namorado.

Natsuls lançou um olhar penetrante para Spike, seus olhos dourados brilhando com malícia. Spike engoliu em seco, mas manteve o olhar firme e desafiador.

- Esse pedaço pequeno de terra tem um significado para parte dos meus poderes, Spike. É onde reside uma parte dos meus poderes; perder qualquer um desses domínios seria como uma diminuição do que sou capaz de fazer e me tornaria fraco - Natsuls disse com uma calma perturbadora.

Spike apertou minha mão com força, expressando preocupação e determinação ao mesmo tempo.

- Poderíamos ir mais rápido se não tivessem trazido um peso desnecessário ou se eu me transformasse em minha verdadeira forma no reino - Natsuls disse e continuou o caminho em silêncio.

Natsuls liderou nosso grupo pela floresta espiritual, uma paisagem etérea que se desdobrava diante de nós. As árvores pareciam feitas de luz, emitindo um brilho suave que iluminava o caminho. Flores exóticas desabrochavam em cores que desafiavam a paleta terrena, exalando fragrâncias desconhecidas que enchiam o ar.

Caminhamos por trilhas estreitas que serpenteavam entre pilares de pedra, esculpidos com padrões que reconhecia e me senti como se fosse de outra vida. Criaturas etéreas voavam acima de nós, suas formas luminosas dançando no ar. O céu, uma mistura de tons celestiais, transmitia uma sensação de serenidade e maravilha. Olhei para o lado e vi três vultos correndo ao longe; quando ia dizer algo, sumiram da minha visão.

Natsuls, mesmo em sua expressão indiferente, parecia estar em casa, o que me fez tentar me conectar com algo. Vi alguns pequenos espíritos voando ao redor deles, e Spike pegou um na mão que saiu correndo para longe. À medida que avançávamos, chegamos a uma clareira onde uma fonte de água cristalina fluía suavemente, refletindo as luzes celestiais ao redor. Era um local de beleza transcendental.

- Este é apenas um vislumbre do reino espiritual. Muitas maravilhas e perigos o aguardam, e vocês estão aqui por uma razão - disse Natsuls, quebrando o silêncio e atravessando as águas. - Preparem-se para o que está por vir.

Ciel voou do meu ombro e atravessou as águas sem nem pensar duas vezes. Olhei para Spike, que sorriu para mim.

- Vamos lá, no final estaremos juntos contra esse cara - Ele disse e atravessou as águas.

Um suspiro escapou de mim, meus olhos se encontraram com o reflexo naquelas águas. Havia me transformado em outra pessoa há muito tempo e afastado-me desse lugar por um longo período.

O reflexo que me encarava agora era de um rapaz ruivo, os óculos pendiam na ponta do nariz, indeciso sobre o que fazer nesse exato momento. Respirei fundo e atravessei as águas, consciente das emoções conflitantes que ecoavam em meu peito.

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Até a próxima 😘