Capítulo vinte e oito
Dois meses já haviam se passado e, durante esse tempo, muita coisa havia acontecido. A começar por Cameron que desde que cantou no show de talentos no Coppola's, seu pai o proibiu de tocar novamente. Ele não tinha mais seu violão, Francesco havia o confiscado e ele não fazia ideia de onde seu pai o havia guardado. Em relação a ele e Sabrina, os dois ainda ficavam. Porém em segredo. Sabrina ainda não queria contar a ninguém sobre os dois e Cameron ainda não tinha coragem de falar ao seu pai, já que ele achava que Osuna era a culpada da "repentina" vontade de seu filho querer cantar.
— Aqui, meu filho, me diz o que achou. – Francesco apareceu na sala com um panfleto de demonstração sobre uma nova campanha da qual ele participaria junto de outros deputados. — Daqui a pouco estará por toda a cidade.
— Está... Igual as campanhas anteriores. – o loiro disse de boca cheia, já que estava comendo um hambúrguer enquanto assistia a NBA.
— Ah, perfeito! Isso quer dizer que a campanha também será um sucesso. – Francesco dizia orgulhoso enquanto Cameron enrolava o panfleto para voltar a assistir ao seu jogo.
— Parece que sim. – ele falou já focado na tevê, mordendo mais um pedaço do seu hambúrguer.
— Olha, nessa campanha, você já poderá participar para se preparar pro seu futuro. Imagino que vai me ajudar a ganhar.
— Claro. – Cameron olhou para suas pernas. — Você é o melhor, não é? – encarou seu pai e abriu um sorriso de canto de boca.
— Que bom. Não me decepcione. – encarou o loiro de olhos azuis severamente. — E antes que eu me esqueça, hoje à noite teremos um jantar em família. O Vito, Valentino e o Claudio virão conhecer a Ludovica.
— Papai! – Cameron se levantou antes que seu pai saísse da sala. — Eu não posso jantar com vocês hoje. Eu tenho um encontro.
— Cameron, são os seus irmãos. Faz tempo que vocês não os vê. – o corpo do mais novo estremeceu e ele fechou os olhos assim que seu pai tocou em seu ombro. — Você vai mesmo trocar eles por uma garota?
— Não é isso pai... – abriu os olhos. — Mas é que eu estou marcando esse encontro faz tempo e eu não queria desmarcar em cima da hora. – Francesco riu.
— É uma garota! – exclamou ainda rindo. — Você pode muito bem dispensá-la e depois sair com ela. Qualquer garota daria tudo para sair com um De Luca mesmo que seja descartada por um dia.
— O senhor... O senhor tem razão. – Cameron pigarreou abaixando a cabeça.
— Esteja pronto às oito. – Francesco falou antes de sair do local e o loiro jogou-se novamente no sofá.
Pela primeira vez em dois meses Cameron sairia com Sabrina para um encontro de verdade — até então eles apenas se encontravam na escola durante os intervalos e, poucas vezes, saíam juntos nos finais de semana já que eles sempre saíam com seus amigos. Eles estavam marcando aquele encontro fazia tanto tempo... E agora por causa de seu pai, Cameron teria que cancelar tudo.
— Cameron? – o garoto olhou para a porta e viu Ludovica entrar na sala. Ele rapidamente se levantou, ficando de frente para a mulher que era apenas oito anos mais velha que ele.
Há um mês atrás Cameron precisou acompanhar seu pai em uma viagem de trabalho e Ludovica, por ser sua esposa, também foi. Nessa viagem ele teve a oportunidade de conversar pela primeira vez com a mulher desde o seu casamento com Francesco. Ela não era uma pessoa ruim, porém Cameron tinha medo de se apegar a ela e seu pai se divorciar dela logo em seguida — o garoto tinha um emocional muito abalado em relação ao divórcio conturbado do seu pai com a sua mãe e, por isso, era muito difícil para ele criar uma nova relação materna para depois ser obrigado a cortar laços por causa de Francesco.
— Oi Ludovica, precisa de algo? – passou a mão em sua nuca.
— Não. – a mulher de olhos azuis sorriu colocando as mãos em sua cintura. — Na verdade, eu escutei a conversa que acabou de ter com o seu pai. – desfez seu sorriso e Cameron suspirou.
— Ludovica, você não pode fazer isso. – cruzou os braços e a mais velha bufou.
— Se você quiser, pode ir nesse seu encontro. – colocou as mãos dentro dos bolsos de sua calça pantalona. — Eu posso estar apenas um ano casada com o seu pai, mas sei que Cameron De Luca não é o tipo de cara que sai para encontros. Essa é a primeira vez, não é?
— Bom... – Cameron riu sem graça e passou a destra em sua nuca. — Sim, é a primeira vez que eu tenho um encontro de verdade. Com a garota que eu gosto. – seu rosto ruborizou e Ludovica sorriu. Admitir em voz alta que gostava de Sabrina ainda era estranho para Cameron. Ele gostava demais de Osuna e estar apaixonado pela primeira vez era algo novo e que ele adorava.
— Quem é a garota? – a morena sentou-se no sofá e Cameron fez o mesmo.
— É... Uma amiga minha. Somos da mesma sala.
— Não me diga que é a menina que o seu pai não gosta. – a mulher riu e o loiro arregalou os olhos.
— C-co-como você sabe?
— Não sei, eu só chutei. – riu. — E também, para Francesco não gostar de uma menina que você sai... É porque tem algo. – De Luca sorriu, porém aos poucos foi ficando sério e desviou seu olhar do dela.
— Eu... Não sei bem como isso foi acontecer. Nos odiávamos. Mas, o Lucca e eu fizemos uma aposta e eu comecei a me aproximar dela. – engoliu em seco. — Quando eu fui ver, estava gostando daquela garota. – olhou para a tevê que já passava outra partida de basquete e riu. — Droga! Por que eu fui gostar logo daquela bruxinha?
— Cameron, é muito fofo escutar você dizendo isso. – Ludovica deu uma leve empurrada no ombro do garoto.
— É, mas o meu pai acha que ela é a culpada pelo show de talentos no Coppola's e eu só comecei a me aproximar da Sabrina por causa de uma aposta. No final eu sou igual ao meu pai. Um mentiroso idiota... – contraiu a mandíbula e seus ombros tensionaram.
— Você a ama?
— Eu... Sim. – encarou novamente sua madrasta que sorria para ele.
— Então diga a ela, porque não dizer é burrice. – colocou sua destra em cima da coxa do mais novo. — Você deve ser sincero sobre a aposta. Eu sei que ela vai entender. – apertou a coxa do loiro. — E sobre o Coppola's... Qual é o seu sonho?
— O meu... Sonho? – Cameron franziu o cenho.
— Sim, o seu sonho. – Ludovica endireitou sua postura. — Os seus irmãos são da política assim como o seu pai e eu sei que é porque o Francesco sempre os educou para isso. Só que eles nunca o contrariaram e seguiram o caminho que o Francesco impôs a eles. Mas e você? Também quer ser um político assim como o seu pai e seus irmãos?
— Na verdade eu... – Cameron olhou para baixo e balançou a cabeça em negação. — Eu não sei. – juntou as mãos e voltou a encarar Ludo.
Na realidade Cameron tinha sim uma ideia do que queria ser quando se formasse e, fazer política não estava nos seus planos. Assim como os seus irmãos, Cameron foi criado de forma rígida por Francesco e ensinado a ser um político de boa lábia e de pulso firme, porém sua mãe era diferente das mães de seus irmãos que, enquanto apenas deixavam Francesco educar sem filhos e saiam para fazer compras, sempre esteve ao lado de Cameron e o ensinava alguns valores — que eram diferentes dos de Francesco. Foi ela que fez o loiro criar um amor pela música e, como consequência disso, aprendeu sozinho a tocar violão e piano. Sua mãe sempre o apoiou e até o ajudava a esconder aquilo de seu pai, que sempre odiou que qualquer filho tocasse até numa simples gaita. Mas agora que sua mãe não estava mais presente em sua vida, ele tinha medo de seguir com o seu sonho. Francesco sempre foi um cara duro e, por Cameron não ser tão obediente como seus outros filhos, sempre foi o que mais apanhou do mais velho.
— Eu acho que você sabe sim. Pelo que escutei falarem do show de talentos, você sabia o que estava fazendo. – Ludovica sorriu. — Enfim, se decidir ir ao encontro me avise. Eu dou um jeito de controlar a fera que você chama de pai. – brincou ao se levantar.
A mais velha logo saiu da sala e Cameron apoiou suas costas no sofá, esticando suas pernas e colocando as mãos nos bolsos de seu moletom. Ludovica era sim uma boa madrasta e, o fato de terem idades próximas, tornava a relação deles muito mais fácil. Porém ele ainda tinha medo. O futuro era incerto e seu pai era uma caixinha de surpresas.
Naquele meio-tempo Lucca e Chiara brincavam sentados ao lado da cama com a metade do corpo coberto pelo edredom. Aquele seria o primeiro mês em que os dois passariam como namorados e, pela segunda vez, Lucca estava dormindo na casa de Chiara.
Depois que se resolveu com Castello, o garoto passou a evitar mais os seus pais e ficar de fora de seus problemas, o que estava funcionando. Agora Giordano focava apenas nos seus estudos e em sua relação com Chiara. A garota até chegou a ir para a casa de Lucca, mas apenas quando seus pais não estavam em casa — ou seja, a maior parte do tempo. No começo os pais de Chiara não aprovaram muito o relacionamento, por saber que Lucca havia magoado Chiara, porém, aos poucos, eles perceberam que Lucca gostava de sua filha e que ele se demonstrava uma pessoa disposta a mudar por ela.
— Você perdeu de novo. – Chiara riu apoiando as costas na cama enquanto Lucca ria balançando a cabeça, assim que perdeu mais uma partida de jokenpô.
— O único problema é que eu não tenho a menor habilidade nisso. – o garoto riu olhando para a sua namorada.
— Eu não diria isso. – a morena de olhos azuis negou sorrindo.
— Quero dizer... Em relacionamentos. – limpou a garganta e olhou para baixo, onde logo Chiara entrelaçou sua mão na dele.
— Por que não tentamos melhorar isso juntos? – Lucca a encarou novamente. — Não foi isso que combinamos? – sorriu e o garoto fez o mesmo.
— Sim. – fechou suas mãos nas da sua namorada. — Eu gostaria disso. – abaixaram as mãos e se aproximaram para um beijo.
Lucca ainda não sabia lidar ainda com o fato de estar namorando pela primeira vez — mesmo que ele fosse experiente com garotas, ele nunca chegou a namorar uma. Ele ainda tinha medo de ser totalmente aberto com alguém, tinha medo de demonstrar suas fraquezas mesmo que soubesse que podia contar com Chiara. Porém ele estava disposto a encarar seus medos por ela. Estava disposto a tentar algo novo, se estivesse com Chiara.
— Crianças? – Mattia deu duas batidas na porta antes de abri-la, fazendo com que o casal parasse de se beijar. — A pizza já chegou. Vocês vem? – olhou para os dois que estavam sentados no chão.
— Nós já vamos. É pizza de stagioni? – Chiara perguntou enquanto Lucca apoiava sua testa no ombro esquerdo da menina.
— Claro. A sua preferida. – sorriu assim que sua filha fez o mesmo.
— Nós já vamos. – riu fazendo carinho no cabelo de Lucca. Mattia assentiu e fechou a porta, onde só então Lucca levantou a cabeça.
— Eu sei que já faz um mês, mas eu ainda tenho vergonha que seus pais nos vejam nos beijando. – levantou-se para procurar sua camisa em cima da cama e Chiara riu.
— Lucca, não é como se estivéssemos sendo pegos fazendo algo errado. Você sabe que meus pais são tranquilos. – colocou sua blusa de manga longa e ajeitou seu cabelo.
— Eu sei, eu sei. Mas você sabe que eu tenho vergonha. Eu tenho medo de chamar seu pai de sogro! – arregalou os olhos e Chiara riu, se aproximando do maior. — E é por isso que durmo no chão. Vai que ele aparece durante a madrugada e acha que estamos fazendo algo? Ele vai me matar. – Castello revirou os olhos e segurou em suas mãos.
— Eu já falei que você não precisa se preocupar com isso. Os meus pais confiam em mim e, se fossemos transar, não seria com eles no quarto ao lado. – soltou um suspirou cansado. Não era a primeira vez que Lucca tentava puxar aquele assunto e, mesmo que ele a respeitasse, Chiara sentia que Giordano estivesse com pressa para que aquele momento acontecesse. — Já conversamos sobre isso e, sério Lucca, eu não quero falar disso novamente. Não me sinto pronta e você tem que entender isso. – soltou suas mãos e foi em direção à porta.
— Chiara, espera... – Lucca olhou para o teto. — Ei amor, amor, desculpa. – correu até ela e fechou a porta antes que ela saísse, a segurando com a mão e ficando cara a cara com Chiara. — Me desculpa, tá? Eu não quero que você se sinta pressionada com nada que eu digo. Eu sou um idiota, você sabe. Não leva a sério o que eu digo, eu entendo que você não tá pronta agora e eu não vou te pressionar. – a encarou fixamente nos olhos.
— Eu sei, mas às vezes eu fico mal por isso. Você não é virgem, Lucca. Toda garota que você ficou transou com você na primeira vez e eu não sou assim. Eu te amo, mas não quero que você pense que sou apenas mais uma.
— E eu não penso. Chiara, eu não sou o tipo de cara que insiste numa garota apenas pra transar com ela. Se eu estou com você não é por isso, é porque eu te amo. – engoliu a saliva. — Você tem que entender que, com você, eu sou a melhor versão de mim. Porque eu só quero você.
— Lucca... – Chiara ficou sem palavras. Saber que Giordano estava mudando e ela era o motivo daquilo, ainda não entrava em sua cabeça.
— Porque eu prefiro você a qualquer garota daquele internato, quer dizer, do mundo. Eu nunca faria nenhum mal a você, porque eu só penso em você todos os dias.
— É difícil ficar muito tempo irritada com você. – Chiara o empurrou levemente para trás e Lucca riu antes de beijá-la. — Vamos logo comer a pizza antes que meu pai coma tudo e não deixe nada para nós. – disse após o beijo e lhe deu um selinho, abrindo a porta e segurando na mão de Giordano para que fossem para a cozinha.
— A sua mãe é muito legal. – Mia sorriu ao sentar no telhado.
— É. Ela tenta. – Dylan fez uma careta enquanto fechava a janela para se sentar ao lado da loira.
— Para. – a loira empurrou levemente o ombro de Dylan que riu. — Você disse que conhecer seus pais seria uma dor de cabeça, mas eu amei conhecer os dois. Até o Marco é legal. – abraçou as próprias pernas e apoiou seu rosto em seu joelho esquerdo. — Acho que você se precipitou um pouco.
— Na verdade, você é a única garota que conhece a minha mãe e gosta dela, tirando a Ivy. Ela também não chegou a conhecer o meu pai e você sim. – o garoto sorriu dando de ombros.
Mesmo que ainda não houvessem oficializado o caso para seus amigos, naturalmente, Mia conheceu os pais de Dylan que a adoraram logo de cara. Bianca e Leonel amaram o fato do filho estar aberto para um novo relacionamento e ficaram contentes por Mia ser uma boa influência para ele. Diferente dos pais de Lombardi, Domenico ainda não havia conhecido Dylan. Desde a última vez que ele foi até o internato, Mia não teve mais contato com ele, já que Domenico teve que viajar a negócios e até agora não havia voltado para a Itália. Ela sabia que seu pai não estava contente pela forma que ela falou com ele, mas estava decidida a não ser tratada mais como um produto pelo seu próprio pai.
Depois de dois meses, finalmente Mia havia tido coragem para dormir pela primeira vez na casa de Dylan e, como esse fim de semana ele passaria na casa de Bianca em Salerno, os dois viram a oportunidade perfeita para passarem aquele fim de semana juntos.
— A sua mãe é a sua cara. – Mia sorriu. — Entendo agora de onde tirou tanta beleza. – Dylan sorriu sem graça e olhou para frente.
— É estranho alguém falar isso pra mim. Eu... Não acho. – engoliu a saliva e continuou a olhar fixamente para o mar, já que sua mãe morava perto da praia.
— Por que acha isso?
— Problemas de família. – ele tornou a encará-la. — Mas eu não quero falar disso agora. – negou com a cabeça. — Mas... E o seu lance com o seu pai? Sempre pensei que vocês fossem a família menos problemática do colégio.
— Eu queria que fosse verdade. – a loira riu sem humor e esticou as pernas, olhando para baixo. — Na verdade, eu não sei explicar direito. Eu sou criada pelos empregados desde que nasci, não me lembro de um momento que tive com o meu pai... Só com a Aída e com o Harold. – sorriu e seus olhos marejaram. — Meu pai nunca foi presente, mas sempre quis que eu fosse perfeita. Eu sempre fiz tudo pensando nele, sempre quis que ele me desse um minuto de atenção e isso nunca aconteceu. Eu só queria a atenção dele, mas acho que ele me culpa pela morte da minha mãe. – uma lágrima teimosa caiu.
— Do que... Sua mãe morreu? – Dylan hesitou em fazer aquela pergunta, tinha medo de não ser o momento certo para aquilo, mas já havia saído.
— Ela morreu durante o parto. Meu pai nunca quis falar disso comigo, mas o Harold contou depois de tanto eu insistir. – riu fraco e olhou para o céu, secando suas lágrimas. — Meu pai não gosta de falar da minha mãe. Eu não sei como ela era, não sei o seu nome, não conheço sua família... Só sei que eles se amavam e ela morreu. Por minha culpa. – olhou para Dylan e novamente ela deixou que as lágrimas caíssem. Dylan não pensou duas vezes e a puxou para mais perto de si.
Um silêncio se formou entre os dois enquanto ele afagava a cabeça da menina que fungava, com o rosto afundado em seu moletom. Ele não gostava de ver Moretti chorando, partia demais o seu coração, — e aquela era somente a segunda vez que a via daquele jeito — mas ele gostava de saber que era o único com que Mia sentia-se totalmente à vontade para se abrir sobre qualquer assunto. Cada dia que passava ao lado da garota ele conhecia a verdadeira Mia e aqueles momentos para Dylan eram insubstituíveis.
— Antes de ir para o internato na Bélgica, eu briguei com os meus pais. – Lombardi suspirou profundamente e fechou os olhos, logo os abrindo novamente. Pela primeira ele se abriria sobre aquele assunto com alguém e, mesmo que ele falasse que não se importava, era um assunto bastante delicado. — Antes de ir, eles estavam se divorciando já e nem foi pelo divórcio. Eu preferia ver meus pais separados do que brigando o tempo todo, cada um seguindo a sua vida está bem melhor.
— Então foi pelo que? – Mia o encarou e fungou, com seu nariz vermelho. Dylan engoliu o nó em sua garganta e, ainda com o braço entrelaçado ao corpo da garota, olhava fixamente para frente.
— Um dia eu entrei no escritório do meu pai. E, na real, eu nem sabia o que queria lá, mas acabei encontrando as papeladas do divórcio e deu vontade de ver. Entre elas, estava outro documento e eu acabei pegando pra ver o que era. Eu descobri que sou adotado. – ele sorriu, soltando uma risada sem humor e Mia fez uma expressão surpresa. Aquilo era um baque para ela. — Meu pai é estéril e, quando eles descobriram isso, decidiram não expor. Minha mãe queria muito ter um filho e, por isso, eles encontraram vários meios sem que a mídia descobrisse.
Os olhos de Dylan começaram a encher de lágrimas e ele começava a sentir o nó se formar novamente em sua garganta. Quando descobriu que era adotado, ele apenas se revoltou com os seus pais e nunca contou a ninguém. Dylan sempre sofria calado, não gostava de compartilhar com ninguém o que sentia e, desabafar algo que o magoou de verdade pela primeira vez, estava sendo libertador.
— Acabou que minha mãe tinha uma empregada de longa data e confiança que acabou engravidando. Ela não podia cuidar da criança, ou não queria, eu nunca me atentei a esse detalhe. Elas fizeram um acordo e minha mãe fingiu estar grávida para a mídia até que a amiga dela desse a luz. – suspirou pesado. — Eu não fiquei puto por descobrir que era adotado, óbvio que foi um baque, mas eu fiquei puto por eles terem me escondido isso. Eu devia saber por eles e não porque fui curioso e mexi em coisa que não devia. Eles me mandaram para a Bélgica pra absorver tudo isso melhor e ficaram em cima de mim o tempo todo, perguntavam até se eu queria conhecer os meus pais biológicos. A verdade é que eles não entendiam que eu não dou a mínima para os meus pais biológicos, eu não quero conhecer o povo que nunca se deu o trabalho de me conhecer, só me deram e foram embora com a vida já feita, já que esse foi o trato dos meus pais. Eu tô bem com a minha família, eu sou e sempre fui um Lombardi. Eu só me senti... Vazio ao saber que uma parte tão importante da minha vida foi escondida pelos meus pais que tanto me amam. Eu merecia saber, não merecia? – encarou Mia que o encarava fixamente.
Sem dizer nada, a loira o beijou e ele se envolveu no ato, deixando uma lágrima cair. Desabafar sobre aquele assunto, o tornava vulnerável, mas ele não se importava de estar vulnerável com Mia porque ele a amava e aquilo era tudo o que mais importava.
— Eu me sinto sozinha e acho que você também. – Moretti disse ainda com os lábios próximos dos de Dylan. Os dois estavam de olhos fechados e a destra de Mia fazia carinho no rosto de Lombardi, enquanto ele acariciava seu pulso. — Podemos estar sozinhos juntos.
— Mia... – Dylan abriu os olhos para encará-la.
— Eu te amo Dylan Lombardi, amo cada pedacinho seu. Amo você por ser quem é sem medo e por me mostrar a como ser o melhor de mim. – a garota abriu os olhos, encarando o par de olhos castanhos claros do maior.
— Eu também te amo, Mia. – ele sorriu e Mia sentiu seu estômago infestado de borboletas.
— Fala isso de novo? – indagou com um sorriso bobo nos lábios e Dylan riu.
— Eu te amo, eu te amo. – lhe deu um selinho a cada "eu te amo" dito. — Falei três vezes. Eu te amo. – os dois riram antes de se beijarem novamente.
Como tudo que é bom acaba rápido, o final de semana deu o fim para mais uma semana no Elite. Ao contrário das outras, essa semana teria apenas três dias de aula, já que teria o recesso para os alunos comemorarem o Ano-novo com a família e estudarem para a última semana de provas que viria em seguida que fechariam o segundo bimestre.
Mia havia acabado de entrar em seu dormitório para deixar sua mochila e deu de cara com Ivy que terminava de se arrumar para a primeira aula.
— Bom dia. – Mia sorriu sem graça indo em direção a sua cama.
— Bom dia. – Ivy a cumprimentou enquanto penteava seu cabelo. Um silêncio pairou sobre o local, porém não durou mais que dois minutos para que Ivy o quebrasse. — Você... Passou o fim de semana fora? Liguei pra sua casa e o Harold disse que você tinha ido viajar...
— Ah! – Mia riu. — Eu fui a Salerno. Aproveitei que meu pai ainda não está em casa e fiquei numa pousada perto da praia.
— Eu vi no Instagram. Você sabia que a mãe do Dylan mora lá também? – a garota deixou sua escova de cabelo em cima da cama e se aproximou de Moretti para ajudá-la a guardar suas coisas no guarda-roupa.
— Sério? Eu não sabia. – Mia fingiu desinteresse.
— Inclusive, ele estava lá esse final de semana também. – Ivy colocou algumas peças de roupa de Mia dentro do guarda-roupa.
— Que bom que não o vi. Estragaria totalmente o meu fim de semana.
— Mia, por que você ainda não gosta do Dylan, hein? Já faz tanto tempo que vocês se conhecem... – Ivy suspirou cansada. Ela não gostava do fato de Mia e Dylan se desentenderem o tempo inteiro. Ivy queria muito que eles fossem amigos, era pedir demais?
— Eu gosto dele. – a loira deu de ombros terminando de guardar seus produtos na estante que ficava em cima da cabeceira de sua cama. — Ele que me odeia pelo simples fato de eu existir.
— Ai Mia, como você é dramática. – Ivy riu. — Se vocês dessem, pelo menos, um minuto de trégua. Veriam que não há motivos para agirem feito crianças. – a loira pegou a última peça de roupa de dentro da mochila de sua amiga, quando viu que, no fundo, havia um casaco. Seu coração parou na hora e ela engoliu o nó que se formou em sua garganta.
Era impossível ela não reconhecer aquele casaco e, como ela se sentia estúpida naquele momento. Aquele casaco era de Dylan e ele mesmo estava o usando naquele fim de semana. Ivy já havia o usado também algumas vezes, Dylan sempre brincou dizendo que ficava melhor nela do que nele e ela sempre acreditou em suas palavras.
Foi naquele momento que tudo fez sentido para ela. Ivy não queria aceitar, mas era a mais pura verdade. Quando eles estavam conversando e Mia passava... Ela sempre viu em seu olhar a forma como ele a encarava, mesmo que ele negasse depois. Mia deixava Lombardi hipnotizado e Ivy morria por dentro sempre que se dava conta, porém ela preferia negar para si mesma e achar que estava vendo coisas. Só que não dava mais para fingir. Mia gostava de Dylan e era recíproco, ela não poderia competir com Mia Moretti e aquela era a verdade mais crua que poderia existir.
— Ivy? Precisa de ajuda aí? – Mia tirou a garota de seus devaneios e rapidamente ela voltou a si.
— Que? Não, não precisa. – abriu um sorriso forçado. — Só tinha essa muda. – foi até o lado de Mia do guarda-roupa e guardou a peça que faltava. — Eu só estava pensando numa coisa.
— No que? – Mia saiu de cima de sua cama e sentou-se.
— Eu não sei. Tem muita coisa que eu penso ultimamente, muita coisa que eu quero fazer, mas tenho medo do que os outros vão pensar. Afinal, Ivy Bellucci nunca faria algo desse tipo. Eu sou previsível, não sou?
— Ivy, não diga isso. – sua amiga negou com a cabeça. — Já chega de perder nossas vidas fazendo o que os outros querem. Não precisamos provar nada pra ninguém, então faça o que você tem vontade.
— Eu acho que você deveria fazer o mesmo também. Digo, você é minha inspiração, Mia, minha melhor amiga. Você me ajudou tanto no passado, que eu nunca me viraria contra você.
— Do que... Do que você está falando? – Mia riu confusa.
— Nada. Vamos pra aula? – Ivy sorriu e foi em direção a porta, logo a abrindo. Mesmo confusa Mia se levantou e a seguiu.
Ao contrário do que imaginava, Ivy não estava irritada com a sua melhor amiga, ela só havia parado de negar o inevitável para si mesma. A loira teve muito tempo para absorver tudo aquilo e, ao cair na real, percebeu que não estava tão chateada como esperava ficar. Mia era a sua melhor amiga e aquela era a primeira vez que a via apaixonada por alguém. Ivy não queria estragar aquilo.
— ...E terminou que dormimos na sala mesmo. Meus pais não tiveram coragem de acordar a gente e só desligaram o projetor. – Chiara terminou de falar e Nina riu junto com ela.
— O que foi Sabrina? – Nina riu ao olhar a careta de Sabrina. — Por mais que me doa dizer isso, é fofo, vai. O Lucca e a Chiara são um casal fofo.
— É que eu ainda não me acostumei com eles dois namorando. Ficar é uma coisa, agora namorar? É demais para mim. – fingiu ter ânsia de vômito e as duas riram.
— Você é uma chata, sabia? – Chiara deu uma empurrada de leve no ombro de Sabrina que riu. Ao olhar para frente, viu Cameron, Lucca e Noah entrarem e, assim que ele olhou para ela, acenou. — Meninas, com licença. – andou saltitante até Lucca que a pegou no colo e a beijou.
— Alguém me faça desver isso, por favor. – Sabrina colocou a língua para fora e Nina riu. Cameron e Noah se afastaram um pouco de Lucca e o loiro olhou para Sabrina. De Luca sorriu discretamente para ela e voltou a olhar para Noah, fazendo com que ela abrisse um sorriso bobo.
— Ai meu Deus! Eu não acredito nisso. – Nina chamou a atenção de Sabrina que a encarou confusa.
— Não acredita em que?
— Você está saindo com o Cameron! – riu alto e Osuna arregalou os olhos.
— O que? Claro que não! – desviou o olhar, porém ao olhar novamente para a ruiva viu que ela não estava nenhum pouco convencida de sua negação. — Olha, okay. Tivemos alguns encontros, mas nada muito sério.
— Mas você não gosta dele, certo?
— Nina, estamos falando do Cameron. Por favor. – a garota de cabelo colorido revirou os olhos e Nina riu.
— Amiga, se você estiver gostando dele também não tem problema algum. O Cameron é... Bonitinho. – Scuzziatto olhou novamente para Cameron dando de ombros, fazendo Sabrina ruborizar.
— Se você continuar falando, vou começar a duvidar dos seus gostos. – a ruiva riu de sua amiga e, antes que ela pudesse dizer algo, Marzio entrou em sala de aula e rapidamente todos os alunos se sentaram em seus devidos lugares.
— Bom dia turma, espero que estejam preparados para saber a nota de vocês na primeira prova do segundo bimestre. – o homem não expressou nenhum humor ao dizer aquilo e apenas jogou as provas em cima de sua mesa.
As notas do primeiro bimestre com ele não foram as melhores. Marzio tinha a mania de cobrar matérias nunca estudadas em sala de aula e, quando era questionado pelos alunos, ele apenas se estressava e dizia que eles deveriam ter estudado mesmo que ele não houvesse passado a matéria. Os alunos estavam de saco cheio do professor de Matemática. Ele não gostava de explicar novamente quando algum aluno pedia, não tinha paciência para dar aula e sempre colocava os alunos de castigo por coisas mínimas.
— Eu vou chamar em ordem alfabética, então venham aqui, assinem o papel, peguem a prova e vão para o lugar de vocês. – o professor começou a chamar aluno por aluno e, a cada aluno que pegava sua prova, a reação era a mesma.
— Zero? Eu tirei zero? – Sabrina perguntou inconformada.
— Sabrina, sente-se. Ninguém fez esse escarcéu além de você. – Marzio continuou a olhar para o notebook à sua frente.
— E? Eu não sou eles, eu sou a Sabrina. – bateu com a sua mão livre em sua coxa. — Me desculpa professor, mas eu não aceito essa nota. Eu estudei que nem uma... Vagabunda! Eu dei tudo de mim nessa prova, estudei até o que o senhor não passa, como sempre, e eu não vou ficar quieta.
— Sabrina, a culpa não é minha que você não estudou como deveria. Se tivesse estudado, teria tirado uma nota boa. Agora sente-se no seu lugar.
— Na verdade, a culpa é sua sim. O senhor é um incompetente, que não explica direito as coisas e cobra coisas que não deveria. Nem professor você deveria ser. – num ato de fúria Marzio levantou e fechou os punhos com força, olhando fixamente para a garota à sua frente.
— Eu vou pedir para que sente novamente, ou vai levar uma severa punição.
— Vai me mandar para a diretoria? Seria uma boa porque eu quero mesmo falar com o diretor sobre suas atitudes que não condizem como professor. Até os melhores dessa turma tiraram nota baixa, de novo. Ele vai ter que acreditar em mim. – disse de cabeça erguida.
— Você por acaso está tentando me intimidar? Por favor, Sabrina, alunos como você já passaram por mim há mais de vinte anos. Já estou acostumado com 'tipinhos igual a você. – riu provocativo. — Quer se livrar de mim? Me demita. Vamos ver se você é capaz. – Sabrina engoliu em seco e fechou os punhos com força, amassando a prova que segurava. — Um último aviso a vocês: depois do recesso teremos a última prova do bimestre. Estudem. Ou todos ficarão de recuperação.
Todos começaram a reclamar em uníssono enquanto Sabrina voltou para o seu lugar batendo pé. O professor queria que ela a demitisse, não é? Então ela faria aquilo. Marzio ia descobrir que Sabrina não era um "tipinho de aluno" e ele ia descobrir aquilo da pior maneira.
Depois de mais algumas aulas, o intervalo chegou e finalmente os alunos puderam descansar um pouco. Dylan jogava sinuca com Matteo, Lucca e Noah e estava prestes a encaçapar uma bola quando Leo passou ao seu lado, esbarrando fortemente em seu ombro o fazendo perder sua jogada.
— Ei! Por acaso você é cego? – virou-se abruptamente para o mais novo que passava com seu grupinho de amigos.
— Ah, foi mal cara. É que eu não enxergo pessoas de baixo nível como você. Quem é você mesmo? Um Lombardi? Grande coisa. – Leo zombou de Dylan e riu junto com seus amigos. Lombardi jogou o taco de sinuca que segurava no chão e puxou fortemente o garoto pelo colarinho de sua camisa.
— O que você disse?
— Quem você pensa que é pra me tocar assim? – o garoto o empurrou para trás, fazendo com que Dylan o soltasse. — Por sua culpa a Mia acabou com a reputação do meu pai. Você sabe o que ela fez e só pra ficar com você! Qual é! Você não a merece.
— E você a merece? Agindo desse jeito como uma criança mimada? – o mais velho rebateu e Leonardo grunhiu. — Eu não tive culpa de nada. Se você é um mimado, que só usa as pessoas para elevar os seus status, a culpa não é minha. Agora não vem desmerecer o sobrenome da minha família! – tentou se aproximar do garoto, porém Noah e Matteo o seguraram.
— Cara, para de querer arrumar briga. A gente 'tava jogando aqui de boa antes de você aparecer. – Lucca tentou apaziguar a situação.
— Fica na sua, não se mete. – Leonardo fez um sinal para que Lucca se calasse.
— Como é? – Noah soltou Dylan e segurou Lucca que, agora, queria ir para cima de Leo. — Quer saber? Foda-se. Dylan, acaba com ele. – o garoto deu um tranco para que Noah o soltasse e deu um soco forte na mesa de sinuca, logo indo embora.
— Mas parabéns, Dylan, pegou a santinha do Elite. A Mia finge ser a menininha certinha, quando na real é mais uma oferecida daqui.
— Cala boca, seu merda! – aquela foi a gota d'água para Lombardi. Ele não permitiria que Leo falasse aquilo de Mia.
Num rápido movimento, Dylan se soltou de Matteo e deu um forte soco no rosto de Leo, que só não caiu porque seus amigos o seguraram. Sem ter tempo de processar nada, os amigos de Bianchi foram para cima de Dylan e o encheram de socos, sem ter como ele se defender. O garoto sangrava, mas ao pararem de bater nele e ele ter a oportunidade de se levantar, o sorriso cínico em seus lábios fez Leo ficar com raiva.
— Por que você continua rindo? Você acabou de apanhar de cinco garotos! – era visível o incômodo em seu tom de voz.
— Ah, eu peço mil desculpas. – riu com certa dificuldade enquanto limpava o sangue que saía de seu nariz. — Me conceda uma segunda chance pra que eu possa agir da maneira que vocês querem. Vocês me entendem. – sorriu debochadamente e Leo o segurou pelo colarinho de sua camisa.
— Ei! Para com isso! – Mia apareceu junto de Ivy. As duas loiras puxaram Dylan para trás e Leonardo revirou os olhos rindo.
— A sua namoradinha chegou. Por que não diz a ela que você acabou de apanhar de cinco caras?
— Leo, você tá maluco? – Mia ficou na frente de Dylan enquanto Ivy o ajudava a retirar seu blazer. — Olha, vai embora daqui antes que eu chame o Fred.
— Mia, você acabou com a minha vida. Eu só estou me vingando.
— Vai embora! – exclamou com fúria apontando para o lado oposto. — Eu não vou pedir pela terceira vez. – Leo comprimiu os lábios e apenas fez um sinal para que seus amigos o seguissem, assim, aos poucos a plateia que havia se formado também foi se dissipando. — Ele tá bem? – a loira se virou para trás e viu que Ivy tentava limpar com um guardanapo molhado o sangue do rosto de Dylan que estava sentado.
— Eu vou ficar. Só achei que cinco contra um foi covardia, ainda mais de um bando de garotos dois anos mais novos que eu. – Dylan riu com a voz um pouco falha, fazendo uma careta de dor.
Mia se aproximou sem pensar duas vezes e apertou a destra do garoto que a encarou, abrindo um sorriso de canto. Ivy percebeu aquilo, porém continuou limpando o sangue do rosto do garoto. A forma como os dois trocavam carícias, mesmo que discretamente, era uma coisa que Ivy nunca poderia ter com Dylan porque Dylan não compadecia do mesmo sentimento por ela. Ela queria odiar Mia, queria mesmo, assim ela poderia colocar toda a culpa nela, mas... Como ela poderia odiar sua melhor amiga? Mia sempre foi um anjo, mesmo que no fundo ela quisesse que Moretti não existisse. Sem Mia, a vida seria mais fácil. Ou não?
— É... Dylan, eu sei que não é o momento certo, mas... Eu poderia falar um momento com você? – Ivy colocou o guardanapo em cima da mesa e rapidamente os dois soltaram as mãos.
— Eu... Vou deixar vocês a sós. – Mia passou a mão em sua nuca.
— Não precisa ir, Mia. Pode ficar também. – a garota segurou no braço de Moretti, impedindo que ela fosse embora. Mesmo confusa, Mia ficou e os dois esperaram calados que Ivy começasse a falar. — Eu... Não sei como começar a dizer isso, eu demorei muito tempo pra perceber. Na verdade, eu percebia, mas não queria acreditar. – riu sem humor.
Ivy começou a sentir seu coração bater forte e ela fazia carinho em suas próprias mãos, a fim de conter a ansiedade. Naquele mesmo momento, Matteo e Jin chegaram para ver como estava seu amigo, mas ao verem que o trio estava ali, resolveram não se aproximar muito.
— Eu gostava tanto de você, Dylan. Eu acho que até que te amava. – seus olhos marejaram enquanto ela ria. — Mas eu não quis aceitar que você estava apaixonado por outra pessoa desde o começo e ela também sempre sentiu o mesmo. – olhou diretamente para Mia e deixou uma lágrima cair, fazendo com que Mia se sentisse culpada por fazê-la chorar. — Eu não quero mais ficar entre vocês, eu não quero atrapalhar o que vocês sentem. Vocês se amam e eu nunca poderia impedir duas pessoas de se amarem.
— Ivy... – Dylan tentou se levantar, porém Ivy o impediu.
— Agora eu entendo porque você nunca me beijou. Porque eu não sou a Mia... E tá tudo bem. – ela sorriu mesmo que estivesse machucada por dentro. — Afinal, por que você me beijaria, não é? Eu não tenho nem metade da beleza dela.
— Ivy, não diga esse tipo de coisa. – Mia negou com a cabeça. — Você sabe que é perfeita. E a culpa não é sua se alguém ainda não viu a beleza que você tem. – a loira se aproximou para secar as lágrimas de sua melhor amiga. — Como... Você soube?
— Eu tinha minhas dúvidas faz tempo, mas sempre fingi ser coisa da minha cabeça. Eu vi o casaco do Dylan na sua mochila hoje, Mia, e eu percebi que não podia mentir para mim mesma por muito tempo.
— Ivy, eu sinto muito. Eu nunca quis te magoar. Eu gosto de você, mas apenas como uma amiga. – Dylan conseguiu se levantar e colocou uma de suas mãos no ombro da garota.
— Você gosta de mim... Mas você gosta mais dela. – ela o encarou. — E eu não estou magoada com isso. Eu só queria dizer que eu não vou mais ficar entre vocês dois, vocês podem se assumir agora. Eu vou amar ser amiga de vocês ainda.
— Ivy, você sempre será a minha melhor amiga. – Mia sorriu e tentou abraçá-la, porém Ivy desviou.
— Eu... Vou deixar vocês a sós. Eu também preciso ficar um pouco sozinha. – sorriu. — Até daqui a pouco. – Ivy abaixou a cabeça e saiu de perto, porém antes que saísse do local, acabou esbarrando com Jin que estava parado bem no meio do caminho.
— Olha... Eu sei que não sirvo pra muita coisa, mas se você precisar de mim, eu tô aqui pra te ajudar. De verdade. – pela primeira vez o garoto não se atropelou em suas próprias palavras e, mesmo com medo de falar com Ivy, se sentiu aliviado quando ela o abraçou sem dizer uma palavra.
Ivy não aguentou, e ali mesmo nos braços de Jin, deixou o choro vir, mesmo que estivesse se segurando ao máximo para não deixá-lo sair. Ela entendia Dylan e Mia, sabia que eles não tinham culpa de nada e tampouco tinha raiva deles, mas ela não podia deixar de pensar em como as coisas seriam se fossem diferentes. Ivy queria ser Mia, queria ser a garota que Dylan sonhava acordado, mas ela não era e de uma vez por todas tinha que colocar aquilo em sua cabeça.
Cansada de toda aquela fofoca cansativa sobre Dylan ter apanhado dos amigos de Leo e do chororô de Ivy por ter desistido de Dylan e deixado ele e Mia enfim ficarem juntos, Ash resolveu ir para o seu dormitório e ficar lá até o intervalo acabar, quando viu Noah e Cameron conversando entre os corredores que levavam para os dormitórios. Antes que ela pudesse passar, escutou Noah comentar sobre uma aposta e, por ser curiosa, parou naquele exato momento para escutar a conversa dos dois.
— De novo isso Noah? Já passou. Essa aposta nem vale nada. – Cameron apoiou suas costas na parede e cruzou os braços.
— Eu sei que não e nem tô dizendo que deveria valer, até porque o Lucca está até namorando, mas... Eu acho que você deveria falar com a Sabrina. – Noah cruzou os braços.
— Por quê? Ela não precisa saber disso. – o loiro olhou para o chão.
— Precisa. Vocês estão ficando, cara e nem vem negar. Você não é muito discreto quando olha pra ela e eu já percebi isso faz tempo. – Cameron ruborizou na hora. — Mesmo que você continue ficando com ela, acho que você devia ser honesto. Dizer que só se aproximou dela por causa de uma aposta que você fez com o Lucca. Até porque ela acha até hoje que eu que fiz a aposta com ele.
— Eu não posso contar, Noah. – De Luca negou. — A Sabrina não vai entender, ela vai achar que ainda estou usando ela. Você não pode contar pra ninguém dessa aposta, ouviu?
— Eu ainda acho errado não contar, mas... Tá, eu não conto. – Noah deu-se por vencido.
Ash naquela hora ficou eufórica. Aquela era a oportunidade perfeita para se vingar de Sabrina e Cameron e ela não podia desperdiçar aquela chance de acabar com a vida dos dois.
Enquanto isso, naquele mesmo tempo, Martina e Nina conversavam sentadas ao lado dos armários. Depois da conversa com Sabrina, Martina foi até Nina decidida a se desculpar. Explicou que gostava sim da ruiva, mas tinha medo, já que era algo novo para ela. Nina a compreendeu e disse que tudo bem e até revelou também seus sentimentos pela morena. As duas decidiram deixar rolar e, quando Martina se sentisse confortável, o primeiro beijo viria naturalmente.
— O que você acha que a Sabrina vai fazer em relação ao professor? Ela ficou bem bolada com o que ele disse... – Martina perguntou enquanto brincava com os dedos da ruiva.
— Eu não faço a menor ideia, só sei que ele não deveria ter falado daquela forma com ela. Mas se o Marzio for demitido eu não vou reclamar. Ele é um péssimo professor e, se eu depender dele, vou reprovar no meu último ano. – Nina riu e Martina fez o mesmo.
— Então... – Martina encarou a ruiva fixamente nos olhos. — Já se passaram dois meses, não é?
— Tina... – Nina revirou os olhos e sorriu. — Já conversamos sobre isso. Se você não se sente segura, eu não vou te forçar a nada. – ela se endireitou e soltou a mão da morena.
— Mas é sobre isso que eu quero falar. – a garota colocou a mão na coxa de Scuzziatto e fez com que ela a encarasse novamente. — Eu quero ser eu mesma e não quero mais ter medo. Eu te conheço há muito tempo Nina, construímos um relacionamento genuíno e sem forçação nenhuma de barra. Eu... Eu te amo e não tenho mais medo de dizer isso.
— Martina... Isso é sério? – Nina perguntou surpresa com a declaração repentina.
— Sim. Eu te amo, eu te amo mesmo e não quero mais esconder isso de ninguém. – aproximou seu rosto do da outra.
— Eu também te amo Martina. E também não quero mais esconder isso de ninguém. – as duas riram e, pela primeira vez, se beijaram. Um beijo calmo e sem pressa alguma de acabar.
Martina e Nina sentiam que estavam no paraíso e que, naquele momento, a sua volta era como se não houvesse mais ninguém. E como elas queriam que realmente não houvesse ninguém... Com um grito em alto e bom som, Luigi gritou Martina, fazendo com que as duas parassem de beijar e se levantassem rapidamente.
— Papai! – Martina segurou na mão de Nina, que abaixou a cabeça, bastante constrangida.
— O que é isso? O que você está fazendo?
— Me desculpe papai, eu sei que é errado beijar durante o horário de aula, mas é que... Foi o momento. Por favor, me desculpe. – a garota pediu de mãos juntas.
— Pouco me importa se você estava beijando! Você estava com uma garota! Uma garota! – ele exclamou incrédulo e com um certo pudor.
— Então esse é o problema? Eu ter beijado uma menina? – Martina sempre pensou que aquele momento pudesse acontecer, claro que nunca tão embaraçoso como realmente estava acontecendo, mas, diferente de todos os seus pensamentos, ela não tinha vontade de chorar. Ela estava indignada. — Pai, me desculpe, mas estamos em pleno século vinte e um. Eu passei muito tempo da minha vida achando que eu tinha algo de errado por nunca conseguir gostar de um garoto na intensidade que deveria, mas eu conheci a Nina. Eu descobri que o problema nunca fui eu, era só porque eu não gostava de garotos.
— Martina, cale a boca... – Luigi se negava a aceitar aquilo.
— Não! Eu já me calei por muito tempo e isso não vai mais acontecer. – ela riu, se aproximando mais de seu pai. — Pai, eu amo a Nina. Ela sempre me apoiou e sempre esteve comigo. Não é errado gostar de alguém do mesmo sexo, pelo menos não deveria ser errado. Eu não vou deixar de ser sua filha por isso. O senhor tem que entender que essa sou eu.
— Pare de falar.
— Eu só quero que o senhor entenda que, você gostando ou não, eu amo a Nina e isso nunca vai mudar. Eu não vou mudar meu pensamento. Essa sou eu!
— Eu mandei você calar a boca! – num único ato, Caruso deu um forte tapa no rosto de sua filha e, naquele momento, todos que viam aquela cena, ficaram perplexos. — Martina... Eu... – ao se dar conta do que havia feito, o arrependimento tomou conta de Luigi.
Martina não ousou dizer mais uma palavra, apenas correu para seu dormitório e Nina foi atrás dela. Luigi ia atrás também, porém Dylan, Sabrina, Matteo e Noah se colocaram na frente.
— Saiam da minha frente!
— Eu acho que não é uma boa ideia. Ela precisa de espaço e a última coisa que vai querer agora é ver você. – Sabrina negou e o mais velho riu sem humor.
— Sabrina, eu sou pai dela e o seu diretor. É uma ordem que vocês saiam da frente.
— Eu acho que não. O que você fez com a sua filha foi muito grave e a Martina tem todo o direito de te denunciar se quiser. – Dylan se pronunciou. — Minha mãe é advogada e, se a Martina quiser, já tem todo o apoio dela. Acredite, a minha mãe é uma das melhores advogadas daqui da região. O senhor não vai querer que ela se envolva nesse assunto.
— Eu acho melhor o senhor voltar para a sua sala. Nós vamos falar com a Martina. – Noah disse e, mesmo contra a sua vontade, Luigi foi embora, ordenando que todos fossem para a suas devidas salas.
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