Capítulo vinte e nove
Como esperado pelos alunos, finalmente o último dia de aula antes do recesso para o Ano-novo havia chegado e a turma se preparava para a penúltima aula quando Fred entrou em sala de aula.
— Sabrina. – todos os alunos olharam para o inspetor e, em seguida, para Sabrina. — Você tem uma ligação pra atender na recepção. – a garota olhou para Chiara que fez um sinal com a cabeça, querendo saber o motivo da ligação, porém Osuna apenas deu de ombros, dando a entender que também não sabia o motivo da ligação.
A garota se levantou da mesa onde estava sentada e seguiu Fred que saiu na frente, sem ao menos esperá-la. Ao chegar na recepção, o inspetor deixou Sabrina sozinha e ela logo pegou o telefone que estava fora da base.
— Alô? – atendeu a ligação enquanto se sentava no braço do sofá que ficava ao lado da mesa.
— Nossa. Que demora pra atender, hein? – a garota de cabelo colorido revirou os olhos.
— Ah, desculpe se eu estava na sala de aula esperando a aula começar e não andando por aí pelos corredores. – Cameron riu do outro lado da linha. — Enfim, conseguiu falar com o seu pai?
— Consegui. Falei tudo o que o Marzio faz nas aulas e disse o que ele fez "comigo" na última aula. Claro, também tive que inventar umas... Mentirinhas, mas deu tudo certo. – um enorme sorriso se fez presente no rosto de Sabrina.
— Olha, eu não sou muito fã do seu pai, mas pela primeira vez eu tenho que agradecer por ele ser um homem poderoso. – riu. — E que horas você vai voltar? Não vai perder esse momento, não é?
— Infelizmente vou. – sua voz saiu num tom de desapontamento. — O meu irmão mais velho mora em Manchester e vamos passar a virada do ano lá. Tenho que ajudar a Ludovica a arrumar as malas e só volto pra buscar algumas roupas que pretendo levar.
— Puxa... Queria que você visse ao vivo o tombo do Marzio. – fez bico. — Mas, pelo menos você e a Ludovica já estão numa boa.
— Sim, sim. Ela me lembra a minha mãe, só que mais nova. – riu. — Gosto de conversar com ela.
— Fico feliz por isso. – Sabrina sorriu e um silêncio se fez na ligação. Às vezes a garota se perguntava o que mudou para que ela passasse a gostar de Cameron. No começo eles não suportavam sequer ouvir a voz um do outro e, agora, não conseguiam ficar longe um do outro.
Sabrina sempre evitou gostar de alguém; sempre ficava com as pessoas, mas nunca passava para algo mais sério. Porém com Cameron era diferente. Ela gostava dele e não fazia esforços para não gostar.
— Sabrina, só uma pergunta, você pretende ficar na ligação por quanto tempo? – Fred indagou ao aparecer na recepção. — Caso tenha se esquecido, você tem aula agora.
— Eu... Preciso ir. – Osuna levantou-se.
— Tudo bem, me conte como foi depois. Eu chego no próximo tempo. – Sabrina apenas sorriu e colocou o telefone em sua base, assim encerrando a ligação.
— O que foi? – perguntou ao ver o que o mais velho a encarava de braços cruzados. Fred nada disse, apenas balançou a cabeça em negação e fez um sinal para que ela andasse logo.
Ao entrar na sala, Marzio já dava sua aula então ela apenas foi para o seu lugar em silêncio. Abriu seu caderno para começar suas anotações quando o professor virou-se para a turma e, ao vê-la, riu.
— E então Sabrina? Estudando muito para a prova do mês que vem? – perguntou num tom provocativo e ela o encarou.
— Eu já estudo todos os dias. No máximo preciso fazer uma revisão depois. – encostou suas costas na cadeira e cruzou os braços.
— Sério? Pois eu acho que você deveria estudar. – ele a encarou de forma superior, endireitando sua postura. — Porque, se depender de mim, você vai ter que batalhar bastante para se formar.
— Eu não acho que isso acontecerá. – deu de ombros, fazendo com que Marzio cerrasse os punhos. Ele não teve direito de resposta, visto que deram leves batidas na porta e logo a abriram, entrando Luigi e Francesco com seus seguranças.
— Senhor diretor! Senhor De Luca! Que prazer recebê-los durante a minha aula. – rapidamente se recompôs e se aproximou dos dois para os cumprimentá-los. — Qual é o motivo da visita repentina?
— Na verdade... Queremos falar com você a sós. – Luigi pigarreou olhando para baixo.
— Precisamos conversar sobre sua ética em sala de aula. Soube de algumas coisas que não me agradaram sobre o seu ensino e não vou posso permitir que isso aconteça. Não nesse internato. – Francesco foi duro em suas palavras e Sabrina sorria com gosto.
— Eu não estou entendendo... – Marzio franziu o cenho. — Isso só pode ser um mal entendido, eu...
— Não é um mal entendido! – De Luca exclamou irritado, fazendo o professor de Matemática encolher os ombros e todos os alunos se assustaram com o tom de voz do político. — O meu filho não é um mentiroso e eu não vou aceitar que você permaneça dando aula nessa instituição.
— Senhor governador... Por favor, vamos falar sobre isso na minha sala. – Luigi tentou apaziguar a situação enquanto Francesco encarava com fúria o homem à sua frente.
Francesco não disse mais nada. Apenas seguiu para fora de sala e Marzio foi logo atrás de cabeça baixa, porém, antes olhou para Sabrina que sorria enquanto mordia seu lápis. Ele balançou a cabeça negativamente enquanto ela acenava cinicamente para ele. Da pior maneira, Marzio havia descoberto que não deveria ter desafiado Sabrina.
— Turma, se comportem, por favor. – o diretor Caruso pediu enquanto segurava a maçaneta da porta. — Vai dar tudo certo, não se preocupem. – os acalmou antes de sair de sala, fechando a porta atrás de si.
Imediatamente, todos os alunos começaram a falar alto, se perguntando o que havia acabado de acontecer enquanto outros trocaram de lugar para conversar com seus amigos. Sabrina pegou seu celular que estava no bolso de sua calça e mandou uma mensagem para Cameron, avisando que tudo havia dado certo e ele logo a respondeu com um emoji de uma carinha feliz.
— O que tá acontecendo hein? – Nina sentou-se repentinamente em sua mesa e rapidamente a garota de cabelo colorido bloqueou seu celular, a encarando.
— Eu não sei. – deu de ombros e a ruiva não pareceu convencida de sua resposta.
— Você não acha estranho? – Nina apoiou suas costas na parede e esticou suas pernas na mesa em cima do material de sua amiga. — No começo da semana você teve um desentendimento com o Marzio e, agora, como num passe de mágica, seus problemas foram resolvidos pelo senhor De Luca. – arqueou uma de suas sobrancelhas.
— Bom, coincidências existem, não é? – riu dando de ombros.
— Não acredito em coincidências vindo do Cameron. – ela a encarou fixamente. — Muito menos nessa sua "inocência".
— Tá. Talvez eu tenha comentado com o Cameron e ele tenha falado com o pai dele pra resolver esse assunto... – desviou o olhar como uma criança que sabe que fez algo errado.
— Ai Sabrina, por que você fez isso? – Nina bateu as mãos em suas coxas. — Eu sei que você poderia ter tido outros meios pra acabar com o Marzio, não precisava pedir a ajuda logo do pai do Cameron.
— Para com isso Nina. – Sabrina voltou a encará-la. — Eu sei que o Francesco é o próprio Diabo em pessoa, mas o Marzio não vai morrer.
— Eu sei, mas você sabe que tinha outras escolhas e essa, foi a pior de todas. Você sabe disso.
Naquele momento, enquanto Nina e Sabrina falavam sobre a situação de Marzio, Dylan e Mia conversavam, dessa vez, sem esconder de ninguém que estavam em um relacionamento. Desde que Ivy disse que não os atrapalharia e que entendia o sentimento dos dois, finalmente eles puderam oficializar o que tinham e, nem foi preciso um pedido de namoro; o que eles tinham já falava explicitamente.
— Você é tão bonito! – Mia exclamou apertando as bochechas de Dylan que riu. — Só faz 12 horas desde a última vez que te vi, mas senti tanta saudade. – sorriu.
— Eu senti cem vezes mais saudade que você. – Mia fez bico e ele sorriu segurando as mãos da loira.
— Ai, eu estou tão feliz! – Mia não conseguia conter sua empolgação. — É como qualquer casal comum. – apertou as mãos de Lombardi e o encarou fixamente nos olhos. — Vamos ficar com ciúmes... Ficar bravos um com o outro e até brigar.
— Vamos fazer todos eles um de cada vez. – o garoto a puxou para mais perto, fazendo com que seus rostos ficassem próximos uns ao outro.
— Seremos como todo mundo. – a loira intercalou seu olhar dos seus olhos para a sua boca e ele fez o mesmo, porém antes que pudessem se beijar, um ruivo os interrompeu ao se jogar na mesa de Dylan.
— Olha, eu me arrisco a dizer que vocês são o casal mais bonito da sala. E só tem dois casais. – Matteo disse, ajeitando a gravata de seu amigo.
— Valeu Matteo. – Lombardi olhou para Moretti que ria e voltou seu olhar o seu amigo. — Sem querer ser grosso nem nada, mas... Por que você tá aqui?
— Ah, o Jin foi conversar com a Ivy e eu não queria ficar sozinho. – deu de ombros e olhou em direção a loira que ria junto do asiático.
— Mia, você e a Ivy ainda não voltaram a se falar? – Dylan perguntou olhando para a loira que negou com a cabeça.
— Eu acho que ela ainda não se sente confortável em falar comigo e eu não quero forçar nosso relacionamento. Quero que as coisas voltem a ser como eram antes, mas sei que ainda não é o tempo dela. – olhou para os dois meninos ao seu lado. — De qualquer forma, sinto saudades da minha melhor amiga.
— A amizade de vocês já vem de tempos. Vocês vão voltar a se falar sim. – o ruivo a tranquilizou e ela apenas assentiu com a cabeça, olhando para Ivy que agora brincava de luta de dedão com Jin.
Como a aula de Matemática havia sido livre, o tempo passou voando e, quando se deram conta, o sinal para a última aula havia tocado. Dante entrou dois minutos após o sinal e a turma se levantou para voltarem aos seus devidos lugares.
Sabrina esperou que Cameron entrasse na sala logo atrás do professor, porém isso não aconteceu e, ao ver se havia alguma notificação em seu celular, viu uma mensagem do loiro avisando que havia tido um contratempo e só iria ao internato mais tarde para pegar suas roupas.
— Boa tarde professor! – Mia exclamou animada enquanto sentava-se em seu lugar.
— Bom tarde Mia. – Dante sorriu enquanto se sentava em sua mesa, como de costume.
— O senhor vai falar de que obra hoje?
— Hoje nenhuma. – riu. — Eu estava revendo as redações de vocês do bimestre passado e, para não ficarem de bobeira durante esse tempo, achei que poderia ser uma boa falar sobre elas. – naquela hora todos os alunos começaram a reclamar, a grande maioria com medo de que Approbato revelasse seus nomes. — Calma turma, calma. Eu não vou mencionar nomes, se vocês não quiserem.
— Por favor, não fale da minha. Só a minha nota já bastou. – Matteo disse e todos riram.
— Tudo bem. Eu não digo. – o professor riu. — Eu não cheguei a comentar, mas gostaria de dizer que uma redação me chamou bastante atenção. Eu fiquei impressionado com a sinceridade e como essa pessoa tem muito a dizer.
— Poxa professor... Só uma? – Ash revirou os olhos.
— Eu gostei de todas as redações, Ashley, mas quero destacar essa por esse motivo. – pegou sua pasta e pegou a redação. — Eu queria um voluntário para ler pra mim, se possível.
— Eu leio. – Mia levantou a mão e ele fez um sinal com a cabeça para que ela se levantasse. A loira se aproximou do professor e pegou o papel que ele segurava. Ao reconhecer a letra, o encarou e ele apenas balançou a cabeça, fazendo um sinal para que ela fosse em frente e, após limpar a garganta, ela começou. — "Se eu fosse escrever essa redação assim que avisaram sobre ela, confesso que terminaria isso em apenas cinco linhas. Entretanto, um professor me disse em sua primeira aula que estamos em constante mudança. E ele estava certo."
Dante escutava aquilo com um enorme sorriso no rosto ao mesmo tempo em que Mia começava a ficar nervosa. Aquela era sua redação e, mesmo que no fundo ela soubesse que não teria outra pessoa melhor para ler aquela redação do que ela mesma, Moretti não esperava que seu professor tivesse gostado tanto da sua redação ao ponto de querer que a classe escutasse.
— "A verdade é que... Eu sou o que eu escondo das outras pessoas". – fechou os olhos por alguns segundos e logo os abriu, soltando um suspiro profundo. — "Eu não sou a menina perfeita, que quer ser melhor que todos e o centro das atenções. E tampouco sou a futura famosa modelo de sucesso." – riu. — "Eu sempre tive medo que todos conhecessem a verdadeira eu. Tinha medo que soubessem minhas fraquezas e não entendessem o porquê eu realmente sou assim. Mas eu não preciso que elas entendam, eu só preciso que eu entenda, não é mesmo?" – seus olhos se encheram de lágrimas e suas mãos ficaram trêmulas. — "Eu só sou uma menina de dezessete anos que foi ensinada desde pequena a ser melhor que todos, a ser perfeita e nunca errar. Nunca soube como era fazer as coisas sem pensar na aprovação dos outros e, a mais importante, do pai ausente que eu tenho. Eu... Só sou uma menina que não quer mais ter medo de ser quem é de verdade e que não quer mais se importar com a aprovação do pai. Eu só quero ser eu." – Mia olhou para Approbato que fez um sinal para que ela parasse a leitura.
— Muito obrigado Mia, pode se sentar. – a loira deixou sua redação em cima da mesa e voltou para o seu lugar de cabeça baixa. Dylan a acompanhou com o olhar e, mesmo que quisesse se levantar naquele exato momento para abraçá-la, não o fez por não saber se Dante aceitaria aquilo e ele gostava demais daquele professor. — Eu quis dar foco a essa redação porque, diferente das outras, eu senti o que essa pessoa queria expressar e queria que vocês percebessem que nem todos nós somos realmente o que aparentamos ser. – olhou brevemente para Mia. — Todos nós temos nossos medos e inseguranças e tá tudo bem. Ninguém aqui é obrigado a ser forte, ou o melhor. Eu sei que é muito mais fácil criar uma máscara do que ser nós mesmos, mas não seria mais fácil se só fossemos nós mesmos? Sem fingimentos?
— Mas o chato não chama atenção. – Basile levantou a mão.
— Ou popularidade. – Ash disse.
— Mas é sempre melhor estar do lado de alguém cem por certo honesto, do que com alguém que você só conhece a casca. – um silêncio se formou no ambiente brevemente. — Mas enfim, eu sei que vocês sabem o que é o certo a se fazer. Como eu já passei toda a matéria do bimestre e a última prova só será depois do recesso, vocês querem ver um filme?
— Eu amo filmes! – Ivy se animou enquanto endireitou-se em sua cadeira.
— Eu acho que todo mundo gosta. – o mais velho brincou. — Como passamos dois bimestres falando de Shakespeare, achei que seria uma boa que vocês assistissem um pouco de Amor, Sublime Amor. Ele é inspirado em Romeu e Julieta e eu acho que vocês vão gostar. – ligou o projetor e colocou o filme em seu notebook, não demorando a iniciar o filme.
Assim como o tempo de Matemática, a aula de Ética também passou voando. Enquanto Dante se despedia dos alunos, desejando um bom recesso, Sabrina terminava de guardar seu material quando Ash se aproximou.
— Sabrina, podemos conversar por um momento? – perguntou, fazendo com que a garota de cabelo colorido revirasse os olhos.
— Poder até podemos, mas eu não tô afim. – a encarou sorrindo cinicamente. — Agora pode me dar licença? Eu preciso arrumar minha mochila porque ainda vou viajar hoje mesmo com a minha mãe. – tentou passar, porém a loira a impediu.
— É um assunto do seu interesse. – retirou sua mão da frente de Sabrina assim que ela a encarou friamente de cima para baixo. — Eu descobri algo sobre o Cameron...
— E o que eu tenho a ver? – Sabrina a interrompeu rindo sem humor. — Eu nem falo com esse garoto, Ashley. Licença, vai. – tentou passar novamente, porém Ash não deixou.
— Eu sei que vocês estão ficando escondido. Só me escuta por um minuto. – dessa vez ela não teve medo de segurá-la pelo braço.
— Seja breve. – Osuna permaneceu séria.
— Lembra quando o Lucca humilhou a Chiara na frente de todos por minha causa?
— Como não me esquecer? O Diabinho na cabeça do idiota do Lucca. Qual é a novidade?
— Você acha que a aposta foi entre o Lucca e o Noah, mas foi entre o Cameron e o Lucca. E a Chiara não foi a única usada nessa aposta ridícula, você também foi. Eu tô tentando te dar um conselho: seja qual for o Cameron que você conheceu, não é ele de verdade. – Sabrina riu sem humor.
— Não acho você seja a pessoa mais indicada pra me dar conselhos. – foi fria em sua fala. — E outra, eu não acredito em você. – balançou a cabeça em negação. — Se você queria ver fogo no parquinho, deveria ter feito algo melhor.
— Não acredita em mim, que seja, eu não ligo. – Ash deu de ombros. — Se não acredita, pergunta então pro Noah. Ele é o melhor amigo do Cameron, se eu estiver mentindo, ele vai te contar. – saiu da sala de aula, deixando Sabrina sozinha.
A garota não acreditava em uma palavra que Ashley havia dito, mas confessava que tinha ficado com uma pulga atrás da orelha. Se fosse uma mentira, ela não diria para que ela fosse confirmar com o melhor amigo do Cameron, diria? E como ela sabia sobre ela e De Luca? Mesmo que ela não quisesse, Sabrina precisava tirar aquela história a limpo.
— E onde você vai passar a virada do ano? – Martina perguntou ao sentar-se na cama de Nina.
— Na casa da minha avó. – a ruiva respondeu enquanto pegava suas roupas no seu lado do guarda-roupa, sem ao menos as retirar dos cabides. — Parece que meu nonno quer dizer algo e quer a família toda reunida. – colocou todas as suas roupas em cima da cama.
— Será que ele vai revelar finalmente que faz parte de uma máfia antiga? – Nina a encarou com os olhos arregalados e ela riu. — Ah, Nina, você nunca pensou na possibilidade da sua família fazer parte de um clã mafioso? Seu sobrenome é muito típico da máfia e seu avô parece que saiu de um filme mafioso.
— Tina, você está vendo muito filme de ação. – riu. — O meu avô viveu a segunda guerra mundial e a guerra fria. Acho que ele está velho demais pra liderar uma facção mafiosa. – começou a retirar as roupas que levaria para casa dos cabides.
— Tem razão. O senhor Emiliano está muito velho. – Martina olhou para a cama de Sabrina que ficava de frente para a de Nina. — Mas o seu pai não... – olhou novamente para a sua namorada e Scuzziatto a encarou, logo dando um tapa em sua cabeça, fazendo a morena rir.
— Falando em pai... – Nina mudou de assunto e Caruso cessou as risadas, logo ficando séria. — Como vão as coisas entre você e o seu pai?
— Não nos falamos desde... Aquele dia. – a morena desviou o olhar, parecendo receosa. — Ele até chegou a se desculpar comigo, mas eu não quero falar com ele tão cedo.
— Eu sinto muito por isso Martina. – empurrou suas roupas para o lado e sentou-se ao lado da garota de olhos verdes. — Eu não queria que isso acontecesse. Sei que você e o diretor eram muito próximos e eu sinto que estraguei a relação de vocês... – segurou suas mãos e as apertou.
— A culpa não é sua. Você não fez nada de errado e eu já me escondi por tempo demais, já chega. – a encarou fixamente nos olhos. — Ele que está perdendo a oportunidade de conhecer a garota incrível que você é.
— Não. – Nina negou com a cabeça. — Você já a conheceu e, pra mim, isso já basta. – as duas sorriram e se aproximaram para um beijo.
A cada momento que Nina via Martina, ela só conseguia pensar no quão sortuda era por estar com uma menina incrível e que a entendia como ninguém. Já Martina sempre gostava de lembrar como a ruiva era bonita; ela se via perdida ao olhar para a garota de cabelo vermelho, alegria contagiante e com um enorme coração. Caruso amava aquela vista e gostava de relembrar quando foi a primeira vez que percebeu que estava apaixonada por Scuzziatto.
As duas se apaixonaram em Outubro e elas brincavam sobre o outono ser a melhor estação do ano para elas. Era no outono que elas podiam observar com mais clareza as estrelas e, foi nessa mesma estação, que elas viram com mais clareza o que antes elas não haviam percebido. Nina e Martina se amavam e isso nunca poderia mudar.
— Martina! Aí está você. – o beijo foi interrompido pelo homem que entrou no quarto, fazendo com que as duas se separassem.
— O que você quer? Eu não quero mais falar com você. – Martina se levantou da cama e ficou entre a cama de Nina e de Chiara.
— Por favor, me escute, por um minuto. Você também Nina, eu te devo desculpas. – Luigi colocou suas mãos a frente de seu corpo e Nina assentiu com a cabeça enquanto se levantava. — Eu não estou aqui como o diretor desse internato. Estou aqui como o seu pai, Martina.
— Mas eu... – a morena foi interrompida pela sua namorada que segurou em seu braço.
— Deixa ele falar, Tina. Por favor. – Martina abriu a boca para rebater, porém, ao olhar novamente para o seu pai, soltou um longo suspiro em rendição. Nina olhou para Luigi e fez um sinal com a cabeça para que ele começasse a falar.
— Meninas, eu peço desculpas pela forma que agi. Eu não devia ter agido daquela forma, mas... Eu não sei. Quando eu vi a minha garotinha com outra menina... Foi um baque. – suas expressões condiziam com o que ele dizia. Caruso estava arrependido de verdade. — Eu não esperava por aquilo, não esperava descobrir daquela forma. Minha filha, você sempre me contou tudo. Pensei que confiasse em mim para falar sobre a sua sexualidade.
— Papai... – Martina tentou falar algo, mas não conseguiu formular uma frase.
— Mas depois eu comecei a reparar a forma como vocês se tratavam e... Sempre esteve tão na cara. – riu. — Vocês sempre estiveram uma ao lado da outra e, Nina, você ajudou bastante a minha filha. Eu posso ter tido preconceitos no passado, mas... Ver a forma como você apoia a Martina, é o que todo pai quer para os seus filhos. Obrigado, por amar a minha garotinha. – Luigi encarou Martina e sorriu, fazendo com que ela fizesse o mesmo.
Luigi não podia renegar sua filha por aquela coisa mínima, ele a amava demais. Era somente os dois desde que a sua filha nasceu e ela sempre seria a pequena menina dele, seu mundo. E, por mais que ela tivesse ficado magoada, ela entendia que seu pai estava passando por um processo de aceitação e ela deveria ajudá-lo, já que ele se mostrava aberto para aquilo.
— Eu espero que vocês possam me perdoar. – Martina e Nina se entreolharam e sorriram, logo indo até Luigi para o abraçar. O mais velho se surpreendeu com o ato repentino, porém correspondeu ao abraço das duas com um enorme sorriso no rosto.
— Eu te amo, pai. Obrigada por me aceitar. – Martina apoiou sua cabeça no ombro do seu pai e ele fez cafuné em sua cabeça.
— Eu não poderia não fazer isso. – foi o que ele disse antes de pararem de se abraçar e as duas sorriram.
Naquele mesmo tempo, Sabrina andava de um lado para o outro na entrada do corredor do dormitório masculino enquanto roía as unhas, apreensiva. Depois de ter conversado com Ash, mesmo contra a sua vontade, a curiosidade a atiçava mais e mais. Ela tinha que saber se aquilo era verdade ou não de uma vez por todas.
— Ah! Aí está você! – a garota de cabelo colorido puxou Noah assim que ele apareceu no corredor.
— Ai Sabrina, que susto! – o garoto exclamou tentando se equilibrar, já que havia quase caído em cima de Sabrina pela forma que ela o puxou.
— Eu preciso falar com você. – o soltou e ele ajeitou o blazer de seu uniforme. — O Cameron me falou sobre uma... Aposta que ele e o Lucca fizeram.
— O Cameron te contou? – Noah arqueou uma de suas sobrancelhas demonstrando estar um pouco desconfiado.
— Sim e eu também te devo desculpas por achar que foi você. – coçou sua nuca. — Mas eu quero entender essa aposta melhor e o Cameron ainda não voltou. Ele pediu pra você me explicar.
— Ah! – permaneceu de boca aberta. — Olha Sabrina, eu vou te contar sobre a aposta, mas deixa eu te dizer uma coisa, se eu fosse você não me apegava tanto assim ao Cameron.
— Como assim? Ele é o seu melhor amigo, não estou entendendo. – Sabrina franziu o cenho confusa.
— Eu tô dizendo que vocês não tem nada a ver, sabe? Eu tô sendo bem sincero e fazendo algo que ele deveria ter feito, mas o Cameron é tão babaca que nem coragem pra te falar a verdade teve. – riu cruzando os braços. — O Lucca apostou com o Cameron que ele tinha que fazer você se apaixonar por ele em um mês. Se o Cameron ganhasse a aposta, ficaria com uma amiga sueca dele e, se perdesse, ele perderia sua coleção de cd's. Mas essa aposta já faz tempo, eu acho até que o Lucca se esqueceu depois de tudo.
— Tá, mas... Se era uma aposta porque ele ainda tá comigo?
— Eu não sei. Talvez ele tenha gostado de ficar com você, sei lá. – deu de ombros. — Só que ele não se aproximou de você porque quis, foi por uma aposta. Você foi usada junto com a Chiara e, quem sabe, se eles não tivessem feito essa aposta, vocês nem se falariam.
Sabrina sentiu uma forte pontada em seu peito e ela olhou para baixo, na tentativa de que Noah não percebesse que ela havia ficado magoada ao saber da verdade. Ash não havia mentido; realmente Cameron havia a usado, e ela se sentia tão estúpida por ter confiado nele. Por ter abaixado a guarda para, no final de contas, o loiro continuar sendo aquele menino fútil e filhinho de papai que ela havia conhecido. Osuna se sentia uma tola apaixonada e aquilo a magoava demais.
Após ter conversado com Noah, Sabrina foi direto para o seu quarto e, aproveitando que não havia ninguém, se deitou em sua cama e chorou. Chorou como nunca havia chorado em sua vida; saber que foi usada por uma pessoa que ela gostava nunca havia acontecido com ela e era a primeira vez. Sabrina gostava de Cameron e agora ela só conseguia se sentir usada, como se nada do que ela passou com Cameron houvesse sido verdade. Ela não conseguia mais acreditar nele, sequer queria mais vê-lo novamente.
Sabrina descia as escadas, com os olhos vermelhos e com a ponta de seu nariz da mesma forma, quando terminou de descer e viu Cameron. Seu coração palpitou na hora. Ver De Luca era a última coisa que ela queria naquela hora.
— Sabrina! E aí? Como foi na aula do Marzio? Deu tudo certo? – o loiro a encheu de perguntas segurando em seu braço e ela apenas o encarou com desdém.
— Me solta. – deu um tapa em seu rosto, fazendo com que Cameron virasse o rosto. O maior contraiu a mandíbula e ficou calado ainda por alguns segundos.
— O que aconteceu? Por que fez isso? – perguntou ao encará-la novamente, passando a destra no local do tapa.
— Era tudo uma aposta, Cameron? Você me usou pra ficar com uma garota? – ela se alterou e o empurrou fortemente para trás.
— Que? Do que você está falando? – Cameron balançou a cabeça confuso.
— Eu já sei de tudo Cameron! Você só se aproximou de mim por causa de uma aposta, para de se fazer de sonso!
— Sabrina, calma, eu posso explicar...
— Explicar o que? Que você é um idiota? Não precisa explicar isso, eu já sei. – seus olhos começaram a se encher de lágrimas novamente. — Eu não sou estúpida, Cameron. – balançou sua cabeça em negação.
— Sabrina, me escuta, por favor...
— Eu pensei ter visto seu potencial, achei que você estava sendo sincero comigo e que havia mudado, mas eu acho que foi isso que me fez ser uma burra. Você é igual ao seu pai. – desceu os dois últimos degraus para ir embora dali.
— Sabrina, espera! O que eu sinto por você é real! Você não pode ter parado de sentir o mesmo por mim desse jeito. – ela o encarou e riu sem humor.
— Sabe, às vezes, você se convence de que ama alguém, mas ela faz uma coisa e, em um segundo, toda essa imagem desmorona. – seu sorriso se desfez. — E todo esse amor desaparece também. – uma lágrima caiu em seu rosto e ela não fez questão de limpá-la.
— Eu não queria que você soubesse dessa forma... – Cameron balançou a cabeça negativamente. — Eu gosto de você. Muito.
— Bom, eu também gostava. – Sabrina disse antes de deixá-lo sozinho ali. Ao virar o corredor, se sentou no chão e começou a chorar. Aquilo estava a corroendo por dentro e ela odiava aquele sentimento.
— Sabrina? O que houve? – ao olhar para cima viu Dylan ao seu lado, porém ela apenas abaixou novamente a cabeça e secou suas lágrimas.
— Na boa, me deixa quieta. Por favor. – fungou.
— Eu não posso. – o garoto negou enquanto se agachava para ficar a altura de sua amiga. — Você é minha melhor amiga, Sabrina. – secou suas lágrimas.
— Eu sei. – o encarou fixamente nos olhos, ainda com vontade de chorar.
— E eu não vou te deixar assim. – colocou as mãos no rosto de Sabrina e fez carinho em suas bochechas. — Vem cá. – a puxou para um abraço e a garota de cabelo colorido desabou em seu ombro.
— Por que eu sou tão idiota? – perguntou aos soluços com a voz abafada.
— Não Você não é. – foi a única coisa que Dylan disse enquanto fazia cafuné no cabelo de Sabrina, a deixando desabar tudo o que ela precisava.
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