Capítulo setenta e um
No dia seguinte, antes das aulas começarem, Ashley foi direto à sala do diretor acompanhada de seu pai. Assim que conversou com Mia, a garota foi direto ligar para o seu pai e teve sorte do mesmo atender na hora. Explicou toda a situação para Vittorio e pediu sua ajuda. O homem não a repreendeu, nem nada, apenas disse que estaria cedo no internato, que resolveria aquilo e que não era para ela se preocupar.
Vittorio sempre foi um pai bastante liberal e não se importou quando sua filha perdeu a virgindade com quatorze anos, ou quando a viu bebendo com treze. Ele achava que se Ash vivesse tudo o que tinha para viver durante sua adolescência, não seria uma adulta disfuncional que tenta recuperar o tempo perdido. Ele só queria o bem de sua querida filha e que mal fazia ela se apaixonar por um homem quatorze anos mais velho que ela?
Quando entraram na sala de Luigi, Ashley sentiu um aperto no coração ao ver Austin sentado de frente para o diretor e uma enorme pilha de papéis em cima da mesa. Com certeza ele estava assinando sua demissão.
— Senhor Farine? A que devo sua visita a essa hora da manhã? – Luigi inquiriu confuso.
— Diretor, me desculpa aparecer aqui tão cedo, mas eu preciso confessar algo! – Ash rapidamente se colocou na frente de seu pai antes que ele dissesse algo. Austin rapidamente se levantou; não queria que ela se prejudicasse, ela estava tão perto de se formar... — Eu sou a aluna que estava tendo um caso com o professor Foganoli. Então se vai demiti-lo, também precisa me expulsar! – mesmo que seu coração estivesse quase saindo pela sua boca, Ashley não ia dar para trás. Aquilo era o certo a se fazer.
— Opa, calma aí. – Vittorio empurrou levemente sua filha para que saísse de sua frente e deu uma risada leve. — Caruso, reconheço que minha filha cometeu um grave erro. Mas ela se apaixonou e eu não controlo as emoções dela. A Ashley já tem dezoito anos, é maior de idade, então acho que nós três podemos ter uma conversa sobre esse assunto melhor, não concorda? – arqueou uma de suas sobrancelhas e Luigi pigarreou ao ajeitar seu blazer.
Claro que eles poderiam conversar melhor sobre o assunto. Vittorio era um dos principais doadores nas festas beneficentes do colégio e sempre deixou claro que continuaria doando mesmo após sua filha se formar. Logo, ele não poderia perder doadores, então qualquer conversa era bem-vinda.
— Sim, sim, nós podemos conversar! – o homem se levantou de sua cadeira e foi em direção à sua mesa de café e chá para servir Vittorio. — Sente-se ao lado do Austin, por favor. E, Ashley, acho melhor você ir logo para a aula. Você não vai querer perder seu primeiro tempo de aula sabendo que tudo já está resolvido, não é? – olhou para a loira com um sorriso amarelo e a garota olhou para o seu pai, que apenas fez um sinal com a cabeça para que ela fosse logo.
Ash apenas assentiu com a cabeça e, enquanto Luigi entregava a xícara de café para seu pai, ela olhou brevemente para Austin antes de sair da sala. O homem sorriu sem mostrar os dentes para ela e um breve alívio a preencheu. Seu pai estava ali agora com ele, ele a defenderia e tudo daria certo.
Um mês havia se passado e, com isso, as provas finais haviam começado para, enfim, a tão esperada formatura também chegar. Todos estavam ansiosos. A maioria já havia contado os pontos que faltavam para estarem terem passado de ano, ou quantos pontos faltariam caso tirassem nota baixa e precisassem fazer alguma prova de recuperação. Porém, a ideia de reprovar sequer se passava pela cabeça dos alunos do último ano. Aquela opção não estava incluída na lista de ninguém.
Depois que Ash soube sobre o que foi decidido na conversa entre Luigi, seu pai e Austin, foi correndo contar para a turma. Claro, ela deixou de fora que ela era a aluna que tinha um caso com o professor de Matemática, mas, tirando isso, não deixou nenhum detalhe de fora.
Ashley não seria expulsa, visto que faltava apenas um mês para ela se formar. Austin deixou claro que ela tinha notas muito boas em todas as matérias e todos os outros professores poderiam confirmar. Já Austin foi demitido. Para não sujar a imagem do internato, o currículo dele não ficou sujo, e Luigi decidiu não levar o caso às autoridades – afinal, sujaria o nome do professor que, consequentemente poderia vir a sujar também o nome do Elite, e, como Vittorio disse, Ashley já era maior de idade. Não houve de fato nenhum crime, apenas quebra de regras.
Como as provas já estavam feitas, um professor substituto ficaria encarregado de aplicar a prova e enviaria para Austin as corrigir. Mas as provas de recuperação – que o homem garantiu que não seria necessário fazer, pois todos os seus alunos tinham notas boas – seriam feitas e aplicadas pelo novo professor de Matemática.
Logo depois de um mês sem contato algum com Austin, num fim de semana a noite quando Ash estava deitada na sua cama king size, assistindo a Como Perder um Homem em 10 Dias quando seu pai entrou em seu quarto e avisou que ela tinha uma visita a esperando na sala.
Ela não fazia a mínima ideia de quem estaria em sua casa num sábado à noite, afinal, ela mesma não estaria em casa se ainda tivesse alguma amizade relevante que quisesse sair com ela. Por isso, ela desceu até a sala de estar com seu coque bagunçado, seu cabelo ondulado natural, sem maquiagem e com seu pijama favorito roxo com estampa de unicórnio.
Seus pés travaram quando ela viu o homem arrumar seu topete com uma única mecha loira no espelho que havia na parede. Ele segurava um enorme buquê de flores e usava a camisa de manga longa e gola alta preta que ela havia lhe dado de presente e uma calça jeans da mesma cor, que marcava suas coxas grossas.
— Ash! Você desceu! – Austin abriu um enorme sorriso assim que a viu pelo reflexo e, imediatamente, ela teve vontade de se esconder atrás do sofá. Austin nunca a vira sem maquiagem, muito menos com um pijama tão ridículo como o que ela estava usando.
— O que você está fazendo aqui? – seu rosto rapidamente ficou vermelho e ela tentou disfarçar olhando para o chão, o que o fez rir.
— Eu quis fazer uma surpresa pra você. Não gosta de surpresas? – inquiriu ao se aproximar da loira.
— Não, eu não gosto. Surpresas me pegam desprevenidas e eu não gosto de ser pega desprevenida. – apontou para si mesma, mostrando que ela não estava em boas condições de ser vista daquela maneira. Austin riu.
— Ashley, por favor, por que não quer ser vista assim? Eu gostei de ver essa sua versão despreocupada. Essas suas sardinhas no rosto eu não consigo ver quando está maquiada e, vou ser bem sincero, você continua sexy mesmo com esse pijama de unicórnio. – a garota soltou uma risada ao dar empurrá-lo de leve e ele também riu.
— Essas flores são pra mim?
— Na verdade, são para o seu pai. Ele foi tão legal em me ajudar a procurar outro emprego, sinto que estou devendo uma a ele. – ao ver que Ash rapidamente fechou a cara, ele novamente riu. — Eu tô brincando. São pra você.
— Por que decidiu vir aqui me dar flores? Estamos há um mês sem contato algum. – Austin colocou as mãos na cintura e torceu a boca.
— Eu estava chateado. Pra você pode ser fácil, mas foi uma chance única que eu tive de ser chamado para dar aula aqui na Itália e tudo foi por água abaixo porque me envolvi com você...
— Ah, então você está colocando toda a culpa em cima de mim? – Ashley indagou exasperada, jogando o buquê em cima do sofá.
— Não! Não é isso que eu estou dizendo! – o mais velho rapidamente se defendeu. — Só estou dizendo que as coisas sempre serão mais pesadas para o meu lado, você entende? Eu precisava colocar na balança tudo sobre nós.
— E qual lado da balança pesou mais? – a loira engoliu o nó que se formava em sua garganta e cruzou os braços.
— Eu te amo, Ashley. – Austin aproximou-se da garota e segurou em suas mãos. — E acho que isso é o que mais importa agora. Não temos mais que nos esconder, ficar apenas no internato... Podemos ser como qualquer casal de namorados agora.
— Você acabou de dizer que somos... Namorados? – os olhos de Ashley se encheram d'água. Austin abriu um enorme sorriso ao assentir com a cabeça. — Eu esperei tanto por esse momento.
Os dois se abraçaram e, foi inevitável, uma lágrima escorreu pela bochecha de Ashley enquanto se beijavam. Finalmente os dois estavam juntos de fato, finalmente eram um casal e o peito da loira se enchia de alegria. Ela não esperava se apaixonar um dia, não esperava se apaixonar justo pelo seu professor, mas também não esperava que finalmente teria um amor recíproco. O amor era bom, era gostoso e ela amava aquela sensação.
Logo após as provas finais, Mia e seus amigos decidiram fazer um amigo-oculto e decidiram fazer isso acampando em Lecce, na praia de Punta Suína. Eram nove horas de viagem de carro, por isso, o grupo se dividiu para irem em duas vans. Eles foram após as aulas e chegaram antes do anoitecer, entretanto só montaram as barracas e acenderam a fogueira quando o Sol já havia se posto.
— Tá legal, pessoal, venham aqui! – Mia chamou a atenção dos meninos que jogavam bola um pouco mais próximos do mar e das meninas que conversavam perto das barracas. — Vamos logo dar os presentes. Eu estou curiosa para saber quem me tirou! – exclamou eufórica.
Todos foram em suas devidas barracas pegar as caixas de presentes e logo todos se sentaram em círculo, onde Mia estava no meio centralizada.
— Tá legal, eu vou começar. Quem for meu amigo, continua e assim vai. – abriu um enorme sorriso. — O meu amigo...
— Já descartem as meninas. – Nina a interrompeu e todos riram.
— O meu amigo é uma pessoa que eu conheço há muito tempo e, é um dos meus melhores amigos.
— É o Lucca ou o Cameron. – Noah olhou para os dois que estavam sentados um do lado do outro e os dois riram.
— Ele passou por umas coisas bem pesadas esse ano, mas... Eu tô muito orgulhosa de como ele lidou com tudo. Ir atrás dos seus sonhos é algo que eu prezo muito e, não podia estar mais feliz com as conquistas dele. Uma mãe e uma madrasta, uma família e amigos que o amam e, em breve, um álbum novinho e, quem sabe, uma tour... – a loira mordeu os lábios tentando conter o sorriso e todos fizeram um "ah".
— É claro que seria o Cameron! – Dylan revirou os olhos sorrindo e o loiro se levantou para pegar seu presente.
Mia e Cameron se abraçaram fortemente e a garota o encarou fixamente nos olhos antes de lhe entregar a pequena caixinha que segurava.
— Eu tenho muito orgulho de você, Cam. – sussurrou e ele sorriu grato. Ao abrir a caixa e ver o que era, olhou novamente surpreso para Mia que tinha um enorme sorriso no rosto.
— Eu não acredito que você fez isso! Você fez uma palheta personalizada pra mim? – perguntou ainda sem acreditar. Era uma palheta transparente onde, contra a luz, podia-se ver duas fotos pequenas. Uma era dele com sua mãe e seus irmãos caçulas e outra era dele com Sabrina. Sua foto favorita, onde ela sorria, mesmo com a ponta do nariz suja de sorvete de morango.
— Eu sou Mia Moretti, sei como surpreender alguém. – a garota deu uma piscadela e ele novamente a abraçou antes que ela se sentasse na roda.
— Tá. Eu não tenho muito o que falar sobre o meu amigo, só que é uma pessoa um pouco difícil de lidar. – Cam começou a dizer antes de morder os lábios. — Quando chegou no Elite, quis arrumar encrenca com todo mundo e eu até já apartei uma briga dela. Acho que se eu não namorasse a mulher da minha vida, poderia dar chance à ela porque... As duas são idênticas.
— Não precisa dizer mais nada, loirinho. Eu já estou indo. – Lola disse sorrindo e todos riram. — E só pra esclarecer uma coisa, – chamou a atenção de todos para si quando já estava com o presente em mãos. — Eu não gosto de loiros. Prefiro os ruivos. Então, você e eu, nunca rolaria. – Cameron riu ao ver Matteo se deitar na areia.
— Eu amo essa mulher. – o ruivo suspirou ao ser levantado novamente por Jin e Jackson.
Lola abriu seu presente e uma risada escapou de seus lábios ao revirar os olhos. Olhou para o loiro ao seu lado que também sorria e mostrou para todos o que havia ganhado.
— Um funko da Tiffany, a noiva do Chucky. – todos riram com o trocadilho e a garota fez um toque com Cameron antes que ele voltasse para o seu lugar. — Eu não vou enrolar muito aqui, tem muita gente pra ir ainda, então vou ser bem direta. Eu não sou muito íntima do meu amigo secreto e nunca fomos de trocar muitas palavras. Sei que ele pisou na bola algumas vezes e tentou se redimir outras. Eu espero que tudo que se passou com ele tenha se resolvido e que ele fique bem. – sorriu sem mostrar os dentes e colocou as mãos à sua frente do corpo.
Um silêncio se formou na roda e somente os barulhos das ondas do mar e do fogo crepitando pôde ser escutado. Todos se encaravam, se perguntando quem era a pessoa de que Heloisa estava falando até que ela bufou, cansada de esperar.
— É o Lucca, pessoal! – abriu os braços.
O garoto levantou-se meio acanhado e pegou o presente das mãos de Heloisa. Passou as costas de sua destra em seu nariz e limpou a garganta, olhando diretamente para Chiara que estava sentada ao lado de Nicolas. Diferente dos outros até agora, Lucca não quis abrir seu presente e ninguém o obrigou a fazê-lo.
— Bom... Assim como a Heloisa, eu também não vou me estender muito aqui. – Lucca olhou para a areia, brincando com o saquinho de presente em mãos. — Desde o começo eu tive uma relação complicada com o meu amigo secreto. Fiz coisas das quais me arrependo bastante e, minha maior burrice foi tê-la deixado partir... – olhou diretamente para Chiara que desviou o olhar na hora. — Eu ainda a amo e acho que sempre vou amá-la, mas... Só quero que ela seja feliz.
Todos sabiam de quem Lucca falava, porém ninguém teve coragem de falar o nome de Chiara. Por isso, a garota se levantou sem cerimônia e se aproximou lentamente do moreno. Ela suspirou profundamente e estendeu sua mão para que ele a entregasse seu presente.
— Você sabe que me mudou Chiara. Saiba que eu serei eternamente grato por isso.
— Não diga isso Lucca, eu não te mudei. Você mudou porque quis. – ela negou com a cabeça. — Não vamos estragar esse momento, só me dá o presente.
— Deixa eu colocar em você, pelo menos. – a morena franziu o cenho, confusa e Lucca riu ao ver que colocou as palavras num mau sentido. — É um colar. Por favor, quero que você se surpreenda.
Chiara ficou a sua frente, tirando seu cabelo de sua nuca. Lucca respirou fundo ao tirar do saquinho o colar banhado de ouro com o pingente de um quartzo verde. Ao ver o que era, a morena o encarou surpresa, segurando o pingente.
— Gostou? É a pedra do seu signo. Câncer. – sorriu ao olhar para a pedra. — Eu sei que você achou que eu nunca prestava atenção quando dizia sobre o seu signo, mas eu prestava sim. Me desculpe por não ter sido um bom namorado para você...
— Obrigada Lucca, eu amei. De verdade mesmo. – Chiara pensou em lhe dar um abraço, mas sentiu que o clima estava estranho demais para aquele ato. Lucca pareceu também perceber, já que ele apenas assentiu com a cabeça e voltou a sentar-se.
Para o amigo-secreto de Chiara, ela foi direto ao ponto. Não tinha muito o que dizer sobre, então apenas disse de uma vez que era Jackson, sem suspense. Seu presente foi uma caneca do Harry Potter, onde sua casa era Grifinória – na verdade, Chiara apenas deduziu que ele seria daquela casa. Foi um tiro no escuro, mas ela acertou no final das contas.
Jackson também não enrolou na sua vez. Ao dizer que sua pessoa era estressada e uma rebelde sem causa, todos disseram em uníssono o nome de Sabrina. Quando a garota abriu seu presente, pulou de alegria ao ver que era coleção completa do kit de maquiagem de Crepúsculo.
— Acho que nunca te pedi desculpas pela forma que agi quando você e o Cameron voltaram. Me desculpa por ter sido um babaca, eu não sei o que deu em mim. Talvez eu estivesse com ciúmes e inveja por saber que quem você amava de verdade era ele e não eu. – Jackson se desculpou meio acanhado, colocando as mãos nos bolsos de seu casaco moletom.
— Não precisa se desculpar, Jackson, de verdade. Eu não fui honesta com você e você teve todo o direito de agir do jeito que agiu e se afastar de mim também. – Sabrina sorriu ao lhe dar um leve soquinho no braço.
— Espero que possamos ser amigos novamente. – a morena o puxou para um abraço.
Assim que Sabrina pediu para Jackson entregar seu presente para Cameron quando ele se sentou, a garota respirou fundo antes de começar o seu pequeno discurso.
— Bom, eu tenho que confessar que quando conheci o meu amigo oculto... Tive que fazer tanta força pra irritar ela porque eu não gostava do jeito dela... – mordeu os lábios. — Mas, quanto mais me esforçava, mais eu gostava dela. E, apesar das nossas diferenças, que são muitas, sei que temos um carinho muito forte e indestrutível. Sinto que ganhei uma irmã nesse tempo em que estive no Elite e... Eu te amo. – seus olhos se encheram de lágrimas e ela teve que olhar para o céu, a fim de contê-las. — Agora, deixando um pouco a emoção de lado, o meu presente muito especial é para a minha querida amiga descerebrada! – riu ao ouvir todos rirem e Mia se levantou num pulo.
— É a Mia! – Dylan exclamou puxando as pernas de sua namorada.
Sabrina jogou o presente na direção da loira que deu um grito ao conseguir pegá-lo e rapidamente o desembrulhou. Um novo grito, dessa vez de euforia, saiu da boca de Mia e ela correu para abraçar a morena.
— É uma Barbie! – todos riram ao saber qual era o presente e Mia olhou sorridente para Sabrina. — Eu também te amo e te considero como uma irmã. Obrigada por ter surgido na minha vida. – as duas deixaram uma lágrima escapar e se abraçaram para que ninguém percebesse aquele momento que era somente delas.
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