Capítulo sessenta e quatro
Chiara estava sentada em frente a lanchonete enquanto lia seu livro. Estava tão imersa em sua leitura, que sequer notou a chegada de Nicolas com Basile e Diego.
— Adivinha quem é! ‒ Nicolas cantarolou ao tapar os olhos de Chiara. A garota riu ao segurar suas mãos.
— Nico! ‒ riu retirando suas mãos de seus olhos e olhou para trás, vendo o moreno rir.
— Droga! ‒ fingiu decepção. — O que me entregou? ‒ sentou-se na cadeira à frente de Chiara e cruzou os braços. Sua gravata pela primeira vez estava colocada de qualquer jeito e os dois primeiros botões de sua camisa estavam abertos.
— O seu cheiro é muito específico. Nem todo homem cheira a lírios. ‒ riu ao morder os lábios e Nicolas fez o mesmo. Aquela garota a encantava.
— O Basile e eu vamos deixar os pombinhos a sós. Depois nos falamos, Nico. ‒ Diego chamou atenção do moreno ao se despedir e Basile deu um beijo no topo da cabeça de Chiara antes de ir embora.
— E então? Qual foi o motivo por ter interrompido minha leitura? Você sabe que eu não gosto. ‒ a morena tentou parecer irritada, porém não convenceu Nico.
— Eu senti saudades de você. Não chegamos juntos na escola, não sentamos juntos na sala de aula e eu passei o intervalo com o Basile e Diego. Precisava ficar, pelo menos, cinco minutos a sós com você.
— Não sabia que você era grudento. Logo você que disse que não curtia relacionamentos. ‒ Chiara riu.
— Eu ainda tenho o mesmo pensamento, mas, não sei. Estar com você, ver o seu sorriso, seus olhos... Eu acho que você me conquistou, Chiara. ‒ seus olhares se fixaram e Chiara sentiu seu rosto ruborizar. Fazia tanto tempo que ela não se sentia daquele jeito, que não se sentia amada. Nicolas estava se tornando seu novo porto seguro e ela sentia que estava se apaixonando novamente.
— Nico... Por que você não se aproxima um pouco mais? ‒ sua voz saiu um pouco rouca e, percebendo, o moreno abriu um enorme sorriso. Levantou-se e puxou a cadeira para mais próximo da garota e sentou-se novamente.
— Oi. ‒ sorriu ao apoiar sua destra na cadeira de Chiara.
— Oi. ‒ Chiara riu sem graça. Nicolas colocou uma mecha do cabelo de Chiara atrás de sua orelha e fez um carinho com as costas de seus dedos em seu rosto, encarando-a fixamente nos olhos. Ao se aproximar um pouco mais para um beijo, foi interrompido por uma tosse que o obrigou a olhar para cima.
— Pai? O que faz aqui? ‒ indagou confuso ao ver o homem ali à sua frente. Chiara rapidamente se afastou de Nicolas e olhou para o seu livro.
— Vim dar o meu suporte ao Lucca. ‒ Gian olhou para Chiara que rapidamente desviou o olhar ao encolher os ombros. Ele sabia que ela e Nico se aproximaram bastante durante as férias, entretanto, ele também sabia que a garota era namorada de Lucca.
— Suporte? Aconteceu algo? ‒ Nicolas indagou um pouco confuso.
— Será que poderíamos conversar a sós? ‒ limpou a garganta olhando para Chiara. A morena rapidamente se levantou pegando o seu livro e olhou sem graça para Nicolas.
— Eu... Vou deixar vocês a sós. Nos vemos daqui a pouco na aula. ‒ acenou com a cabeça para Gian e mandou um beijo para Nico, antes de ir embora.
O homem olhou curioso para o seu filho que apenas deu de ombros, como se não fosse nada demais ‒ e de fato não era.
— Pode me explicar agora porque veio falar com o Lucca? ‒ arqueou uma de suas sobrancelhas e cruzou os braços. Seu cabelo estava penteado em um perfeito topete e seu cordão de ouro branco brilhava ao ter contato com o Sol.
— Bom, hoje cedo eu tive um novo exame antes do começo dos jogos do campeonato. ‒ sentou-se à mesa e passou as mãos nas coxas. — O médico é meu amigo e eu aproveitei para perguntar sobre alguns jogadores. Sabe como é, quero saber se terei que treinar mais ou estou tranquilo.
— Pai, eu já sei como é. Pode ir direto ao assunto logo? ‒ as pernas de Nico começaram a tremer de nervosismo. Era uma mania que havia pego com sua mãe desde pequeno, Nicolas não aguentava o suspense de alguma fofoca, sua ansiedade não deixava.
— Ele me disse que o Fede não participou dos últimos exames e que ele não vai participar do campeonato.
— Quê? Por quê? ‒ a postura de Nico mudou drasticamente. Aquela notícia havia o agradado. — Isso é bom, não? Então por que o senhor parece triste?
— Ele foi acusado de usar drogas, meu filho. Foi afastado por isso e não porque quis. ‒ seu semblante era sério. — O Fede e eu temos uma rixa antiga, isso é fato. Mas sempre foi uma rixa saudável, dentro dos campos. Se eu não posso derrotá-lo nos campos, não é legal. Sinto que armaram pra ele.
— Armaram? Pai, o Fede vive em festas, bebendo. Não me impressionaria se realmente estiver usando drogas. ‒ riu sem humor.
— O Fede não usa drogas e, mesmo se usasse, ele não é burro o suficiente para usar tão perto de fazer os exames. Olha, a família dele deve estar péssima com essa notícia e eu também estou. Vim aqui falar com o Lucca porque imagino como a cabeça dele deve estar nesse momento. ‒ levantou-se. — Mas, por favor, não conte isso a ninguém. Essa história toda é confidencial.
— Eu não vou contar, pai, relaxa. ‒ o moreno fez um sinal com as mãos para que Gian se acalmasse. O mais velho fez um sinal com a cabeça para que seu filho o seguisse e assim ele fez ao se levantar.
Nicolas estava tão focado na conversa com seu pai que sequer notou a presença de Fiona, que estava sentada na mesa ao lado tomando seu milkshake. Ele não contaria nada, porém da loira podia esperar de tudo.
Depois de diversas aulas cansativas e a organização para a preparação do baile de formatura, finalmente as aulas haviam acabado. Sabrina estava em seu quarto terminando de fazer seu trabalho de Física quando escutou leves batidas na porta.
— Entra. ‒ disse sem tirar os olhos dos slides que montava.
Cameron entrou logo em seguida. Usava uma calça jeans escura, uma camisa social branca, uma jaqueta de couro preta por cima e seu par de mocassim também preto. Seu cabelo estava penteado de um jeito diferente do que costumava deixar, estava partido ao meio e sem gel para deixá-lo fixo. Sabrina olhou para o seu namorado que estava parado em frente à porta com um sorriso despretensioso no rosto.
— Nossa. Você está bonito, pra onde vai? ‒ fechou o notebook e o colocou em cima do criado-mudo que havia ao lado da sua cama.
— Nós vamos. ‒ Cameron entrou no quarto e sentou-se de frente para sua namorada, que mantinha um semblante confuso no rosto. — Lembra daquele jantar que fomos com a sua mãe e ela me disse pra eu passar um final de semana com a gravadora dela? Bom, eu não pude naquele porque revi a minha mãe e depois eu meio que deixei de lado pra recuperar o tempo perdido com ela... ‒ olhou para cima e Sabrina ainda estava confusa, tentando entender para onde aquela conversa estava indo.
— Amor, eu estava fazendo um trabalho. Pode ir direto ao assunto, por favor? ‒ riu colocando as mãos nas coxas do garoto, trazendo seu olhar de volta para o dela.
— Tá, então... ‒ ajeitou sua postura e, novamente, aquele sorriso brincalhão surgiu em seu rosto. — Eu não te falei nada, mas no final das férias eu finalmente consegui ir na gravadora. Eu falei com o produtor da sua mãe e ele me recomendou um amigo dele, de outra gravadora que estava precisando de um novo "pupilo". Eu fui à Space Records semana passada e falei com o Dario, o dono da gravadora, que me fez falar com os produtores de lá. Toquei algumas músicas minhas pra eles e eles gostaram, mas disseram que precisavam mostrar pro Dario. Eles fizeram um CD meu e hoje me ligaram. O Dario amou e disse que era o que a gravadora dele estava precisando! ‒ exclamou animado e Sabrina abriu um enorme sorriso. — Ele me chamou pra ir assinar o contrato. Sabrina, eu finalmente vou seguir o meu sonho!
— Meu Deus, Cam! Isso é incrível! ‒ a morena pulou da cama. — Eu nem sei o que dizer! Tipo, você já falou com a Ludo e com a sua mãe? Não acha que elas deveriam ir com você ao invés de mim?
— Eu já falei com elas sim. A Ludo e a minha mãe vão me encontrar no Four Seasons pra jantar assim que eu assinar o contrato. Eu quero que você vá comigo na gravadora porque, sem você, eu não teria tido coragem pra seguir o meu sonho. Eu preciso da minha garota lá comigo enquanto eu estiver assinando meu contrato.
— Cameron... Para com isso. ‒ mordeu os lábios e virou o rosto para que o loiro não a visse vermelha. — Você conseguiu esse contrato graças ao seu talento, não a mim. Você não tem que me agradecer.
— Claro que eu tenho. Sabrina, eu sou o que sou hoje por sua causa. Você é a garota da minha vida, não sei o que faria sem você. Eu te amo e muito. ‒ Cameron se levantou e segurou nas mãos da garota, fazendo com que ela o olhasse. — Eu quero que você esteja comigo em todas as minhas conquistas porque elas só são conquistas graças a você. Você me dá a força e a coragem que eu preciso, você é a minha musa. ‒ colocou uma mecha de seu cabelo atrás de sua orelha, revelando os piercings em sua orelha esquerda. Sabrina sorriu ainda encarando aquele par de olhos azuis nos quais ela era apaixonada.
— Já que você insiste tanto, eu vou trocar de roupa e te dar a honra de ter minha presença no seu momento especial. ‒ deu uma leve mordiscada na ponta do nariz do loiro, que riu.
— Eu te amo. ‒ o garoto lhe deu um selinho antes que ela soltasse suas mãos para subir.
— Eu também te amo, meu bonequinho de plástico. ‒ Sabrina deu uma piscadela e subiu para procurar uma roupa e fazer sua maquiagem.
Enquanto isso, no quarto de Mia, a loira pintava as unhas dos seus pés escutando uma música da Sabrina Carpenter. Ivy estava na sala de estudos com Jin, fazendo o trabalho de Física e Ash não estava no dormitório.
— Heartbreak is one thing, my ego's another... ‒ Mia cantarolou uma parte da música que ouvia quando a porta foi aberta de forma abrupta. Ao olhar para frente, viu Ashley entrar com um semblante irritado. Seu cabelo estava preso em um coque meio bagunçado e, dada pela roupa de ginástica, Mia presumiu que a garota estava malhando.
— O que foi? Vai ficar olhando pra mim? Volta a fazer sua unha. ‒ Ash franziu o cenho e foi em direção a sua cama para pegar sua necessaire de higiene.
— Ash, você quer conversar sobre alguma coisa? Olha, eu sei que não somos mais amigas, mas saiba que você pode contar comigo ainda pro que precisar. ‒ Mia começou a falar enquanto pausava sua música e fechava seu esmalte rosé. Ash a encarou com estranheza.
Quando havia ido à academia, acabou esbarrando com Austin que também malhava em seu tempo livre antes de ir embora. Não havia ninguém no local além dos dois e, novamente, eles tiveram aquela conversa. Austin a queria, sempre deixava claro, mas não queria colocar tudo a perder. Já Ashley estava ficando farta de tudo aquilo, sentia-se um objeto em suas mãos, porém, o pior de tudo, era que ela não conseguia ir embora. Os dois se beijaram e, ofegante, Ash saiu da sala, o deixando sozinho.
Ela estava cansada daquela situação. Era um relacionamento proibido, ela sabia, mas não queria mais esconder. Ash queria se formar logo, finalmente oficializar as coisas com Austin. Ela o queria só para ela, queria que todos soubessem que ele a pertencia.
— Eu não tenho nada pra conversar com você. ‒ começou a retirar seu tênis. Era fato que ela sentia saudade de conversar com alguém sobre aquelas coisas, não sentia que Fiona era uma pessoa muito confiável. Mas conversar com Mia sobre aquilo estava fora de cogitação, elas não eram mais amigas.
— Olha Ashley, você pode me odiar e tudo mais, mas quero que saiba que eu não guardo rancor de nada que tenha feito. Acredito que tudo o que você fez foi pra tentar se encaixar em alguma coisa. ‒ Mia levantou-se da cama. — Eu ainda estou aqui caso queira conversar sobre algo. Sabe que eu sou ótima em guardar segredos. ‒ riu, porém seu sorriso foi desfeito em segundos assim que percebeu que Ash não sorriria. — Bom, eu... Eu vou terminar de pintar as unhas na sala de tevê. Licença. ‒ calçou seus chinelos e pegou seu esmalte antes de ir embora.
Ashley olhou para a porta que era fechada por Mia e, assim que ela foi embora, deitou-se na cama, observando o teto. Por um segundo pensou mesmo em desabafar com Mia como nos velhos tempos, porém achou melhor não. Elas não eram mais amigas e, mesmo que Mia ainda guardasse segredos, ela tinha certeza que esse a loira não guardaria.
Já era hora do jantar quando Chiara saiu do quarto. Estava adiantando alguns trabalhos de algumas matérias aproveitando que Sabrina havia saído e Nina estava no dormitório de Martina. Assim que fechou a porta de seu dormitório, deu de cara com Fiona que se aproximava com um enorme sorriso no rosto, o que ela logo estranhou.
— Kiki! Eu estava te procurando. ‒ seu corpo balançava para frente e para trás, sua pele estava impecável e seus olhos estavam mais azuis que o normal.
— Tá legal, isso é muito estranho. Por que você estava me procurando? ‒ Chiara perguntou ao cruzar os braços. Ela nunca se importou com a roupa que usava ao lado do restante dos alunos do Elite, mas se sentia desconfortável ao lado de Fiona. Enquanto usava um short mom jeans com uma camisa listrada branca e amarela para dentro do short, Fiona usava uma regata branca justa e uma saia rosa com um bolero de mangas longas como conjunto.
— Eu vim dizer que você e o Lucca têm todo o suporte que precisarem. Podem contar comigo pra qualquer coisa. ‒ sua voz saiu mansa enquanto colocava as mãos nos braços de Chiara. Chiara franziu o cenho. Novamente aquela história de suporte ao Lucca? O que estava acontecendo?
— Do que você tá falando Fiona? E olha só, o Lucca e eu não namoramos mais. Achei que você soubesse, já que acompanha tudo nas redes sociais. ‒ a morena delicadamente retirou as mãos da loira de cima dela.
— Eu bem que estranhei vocês não postarem mais nada juntos, mas achei que tivesse a ver com o turbilhão de coisas que ele está passando com a família dele.
— Eu ainda não sei do que você está falando. ‒ Fiona segurou o sorriso e fez uma expressão de surpresa. É claro que ela não sabia.
— Sério? Bom, eu achei que você soubesse já que vocês ainda estavam juntos quando aconteceu. O pai do Lucca está afastado do campeonato de futebol. Foi acusado nos exames dele o uso de doping e a família dele está desolada. ‒ Chiara ficou sem chão. Como assim Fede foi acusado de usar drogas? — Se isso vazar, o Fede tá arruinado e a Jean também. Eu nem imagino como a cabeça do Lucca deve estar. Coitadinho... ‒ cruzou os braços e balançou a cabeça em negação.
Então era isso que o Lucca tanto escondia dela? Eles estavam juntos há meses em todos os eventos porque queria provar à mídia que estava tudo bem e que foi decisão do Fede não participar mais de nenhum jogo, quando na verdade foi porque ele foi acusado de usar drogas para se sair bem no campo? Agora tudo fazia sentido e Chiara estava sem chão ao saber daquilo logo de Fiona.
Por que Lucca não a contou? Ele podia contar com ela, ela era sua namorada e precisava saber. Será que ele não quis preocupá-la porque ela tinha o lance da mãe dela? Sua cabeça agora estava a mil e ela se sentia culpada. Lucca estava passando por tudo aquilo sozinho enquanto Chiara o ignorava e saía com Nicolas.
— Fiona, eu... Preciso ir. Obrigada pelo apoio. ‒ sem reação, Chiara saiu correndo e Fiona a viu sumir do corredor com um sorriso vitorioso no rosto. Lucca não queria que Chiara soubesse aquele segredo e, seria um pesadelo se aquela notícia vazasse por aí. Não é mesmo?
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