Capítulo sessenta
— Calma Lucca, fala devagar. Eu não tô entendendo nada do que está falando. ‒ Noah franziu o cenho ao ver o seu amigo eufórico.
— Eu e você, vamos ir na inauguração do restaurante grego que abriu aqui na cidade. Meus pais foram convidados e eles disseram que eu podia levar um acompanhante comigo. ‒ Lucca disse tirando todas as suas camisas do armário.
— Por que você não leva a Chiara? Acho que seria bem legal pra ela. ‒ o garoto de olhos verdes cruzou os braços olhando para a cama lotada de roupas a sua frente.
— Er... A Chiara tá ocupada com os estudos. E outra, faz tempo que não saímos juntos. ‒ olhou para Noah. — Meu pai disse que vai ter degustação de bebidas.
— Ah cara... Assim você me ganha fácil. ‒ Fiore riu e logo Lucca fez o mesmo. — Vou trocar de roupa aqui. ‒ levantou-se e correu para o seu lado do armário.
Lucca olhou para a sua cama e desfez seu sorriso, colocando as mãos na cintura e suspirando. Sua mãe havia ido mais cedo na escola para avisar que sua assessora havia conseguido colocá-la na lista VIP na inauguração de um novo restaurante e que Jean achou que seria uma boa Lucca e Fede irem juntos. Na verdade, ele nem havia falado com a Chiara durante o dia inteiro, mas ele não queria levá-la para aquele lugar com a sua família. Lucca queria ficar com seus amigos, assim ele conseguiria distrair a cabeça mais fácil. E claro, Noah era uma ótima companhia para aqueles momentos ‒ sem contar que realmente haveria degustação de bebidas e fazia tempo que o moreno não bebia. Ele precisava desestressar.
Assim que os dois se vestiram, saíram do quarto e deram de cara com Chiara. Lucca engoliu em seco na hora, porém, ao contrário de Giordano, Noah estava contente em ver a namorada de seu melhor amigo.
— Chiara! Que bom ver você. ‒ Noah abraçou a garota que olhava fixamente para Lucca, que sequer a encarava de volta.
— Para onde vocês estão indo? ‒ Chiara perguntou ainda olhando para o seu namorado.
— Vamos à inauguração de um restaurante. Fomos convidados. ‒ Lucca respondeu finalmente a encarando.
— Ah! Mas... Você nem me falou nada. Eu poderia ter te ajudado a escolher a roupa. ‒ Noah percebeu o clima estranho que pairava sobre o local e mordeu os lábios.
— Eu... Tô indo na frente, Lucca. Te espero lá embaixo. ‒ Fiore limpou a garganta e fez um leve carinho no ombro esquerdo de Chiara antes de ir embora.
Os dois continuaram se encarando sem dizer uma palavra, criando um clima cada vez mais constrangedor. Era como se os dois fossem completos desconhecidos. Como se não namorassem.
— Bom, eu... Não queria te encher. Sabe, o ano tá acabando, você tá focada nos estudos... ‒ Lucca deu de ombros. — Decidi te dar espaço para resolver suas coisas.
— Que espaço é esse Lucca? Você não falou comigo o dia inteiro. Só soube de notícias suas porque quando os professores perguntaram de você durante a chamada o Noah e o Cameron disseram que estava passando mal. Agora eu venho aqui depois das aulas para saber como está e te vejo saindo como se nada tivesse acontecido e nem sequer ia me avisar! ‒ Chiara bateu as mãos em suas pernas, como forma de indignação. — O que tá acontecendo, hein?
— Não tá acontecendo nada Chiara. Olha, eu realmente preciso ir, não posso me atrasar. ‒ se aproximou da morena de franja e colocou as mãos em seus ombros. — Quando eu voltar nós conversamos melhor, pode ser? ‒ Castello olhou para cada orbe de Giordano e, após segundos somente o olhando, finalmente respondeu após um suspiro profundo.
— Tudo bem. ‒ fechou os olhos e sentiu o maior dar um beijo em sua testa.
Lucca não demorou muito e foi embora, enquanto Chiara ficou o observando de braços cruzados até ele virar o corredor e sumir de sua visão. Chateada com aquela situação, a garota estava pronta para voltar ao seu quarto quando escutou uma porta dos dormitórios ser aberta e, ao olhar para trás, deu de cara com Nicolas.
— Chiara? O que faz aqui no dormitório masculino? ‒ o garoto tinha um enorme sorriso no rosto.
— Eu vim ver como o Lucca estava, mas ele está ótimo. Acabou de sair com o Noah para a inauguração de um restaurante... ‒ bufou e desviou o olhar para o chão.
— Que bom que ele está bem. ‒ colocou as mãos nos bolsos de seu short. — E o que você vai fazer agora?
— Eu? Bom, acho que vou voltar pro meu quarto e ver se a Nina quer ajuda com alguma lição de casa ou estudar alguma matéria. ‒ deu de ombros.
— Ah não, Chiara, por favor. Você estuda todos os dias das oito da manhã até às três da tarde. Se dá um descanso um pouco. ‒ Nico franziu o cenho. — O que acha de descermos, irmos pra lanchonete e tomarmos um lanche enquanto voltamos a nossa conversa de hoje cedo? Quero muito debater com você sobre o romantismo, garota romântica. ‒ brincou puxando de leve sua bochecha, o que tirou uma risada sincera de Chiara.
— Você me convenceu. Mas eu tenho que te avisar, eu nunca perco um debate. ‒ apontou em sua direção e Fontana riu.
— Isso nós vamos ver. ‒ entrelaçou seu braço no pescoço da garota e saíram do dormitório juntos.
Era quase hora do jantar quando Cameron chegou no internato. Seu sorriso preenchia seu rosto inteiro, ele se sentia mais animado, feliz e, contudo, mais radiante. Saiu correndo até a sala de tevê e viu seus amigos e sua namorada jogando Banco Imobiliário.
— Voltei! ‒ exclamou animado ao pular o sofá e sentar-se entre Sabrina e Dylan.
— E aí, como foi o reencontro com a sua mãe? ‒ Sabrina perguntou com um enorme sorriso no rosto. Ela estava ansiosa e ansiava pelos detalhes do reencontro entre Cara e Cameron.
— Foi incrível! Conversamos sobre um monte de coisas e ela me chamou para sair esse final de semana. Um passeio em família, eu nunca tive isso! Não da forma que vai ser. ‒ exclamou animado. — Vocês sabiam que eu tenho dois irmãos caçulas? Eu não sou mais o caçula depois de anos! O Gabi é meu irmão postiço e a Ceci é minha irmã por parte de mãe. Amor, eu tenho uma irmã! ‒ olhos com os olhos brilhando de alegria para Sabrina que apenas riu ao abraçá-lo.
— Mas a pergunta que não quer calar é: por que a sua mãe sumiu por tanto tempo? ‒ Dylan perguntou curioso e Mia deu um leve tapa em seu braço pela intromissão.
— E por que ela voltou só agora? ‒ foi a vez de Heloisa perguntar.
— O meu pai mandou ela pra fora do país e ela não podia ter nenhum contato comigo. Ela tentou, mas todas as vezes o meu pai barrava ela. Minha mãe só pôde voltar agora porque o Claudio conseguiu tirar todas as denúncias que meu pai havia colocado no nome dela. ‒ desviou o olhar para o chão. Apesar de nunca ter gostado do seu pai e tudo que ele fez até então, doía em Cameron saber que Francesco era realmente uma má pessoa.
— Realmente o seu pai é um crápula, né. Ai, se eu vejo esse velho na minha frente de novo, eu juro por tudo que é mais sagrado que eu empurro ele da escada. ‒ Sabrina socou suas coxas bastante irritada.
— Sabrina! ‒ Mia a repreendeu. — O Francesco é ruim, mas ainda é o pai do Cam.
— Tá tudo bem, Mia. Eu não me importo mais com ele. ‒ o loiro deu de ombros e colocou as pernas de Sabrina em cima das suas. — Eu posso jogar com vocês? ‒ mudou abruptamente de assunto.
— Claro! A Nina estava roubando mesmo, íamos começar uma nova partida de qualquer jeito. ‒ Heloisa chegou com seu corpo um pouco pra frente no sofá e desfez todo o tabuleiro à sua frente.
— Ei! Eu não estava roubando... ‒ Nina cruzou os braços de cara emburrada e todos riram enquanto Martina a puxava para um abraço.
Naquele mesmo tempo, Matteo e Jackson desciam juntos para se encontrar com o restante do pessoal quando o ruivo decidiu parar no meio da escada.
— O que houve, Matteo? Parou de repente. ‒ Jackson virou-se para trás ao ver seu amigo parado no meio da escada coçando a cabeça, parecendo inquieto com alguma coisa.
— Preciso te fazer uma pergunta. Quando você estava com a Sabrina, você sabia que ela gostava do Cameron, mas, mesmo assim, continuou com ela até ela terminar com você. Por quê? ‒ Matteo indagou sentando-se no degrau.
— De novo essa história? A Lola me fez uma pergunta parecida esses dias. ‒ o chinês se aproximou do ruivo que arregalou os olhos.
— A Heloisa te perguntou o mesmo? O que ela perguntou?
— Calma aí. ‒ Jackson riu. — Espera aí... Você e a Heloisa fazendo essas perguntas... Você quer me contar algo Matteo? ‒ um sorriso brincalhão se fazia presente no rosto de Cabrini e o rubor no rosto de Petrini se fez presente na hora.
— Não tenho nada pra falar. Eu... ‒ se embolou em suas próprias palavras fazendo Jackson rir. — Tá legal, eu... Anteontem eu beijei a Lola. Eu não sei o que houve, só senti que deveria beijá-la. Não tenho coragem de voltar a tocar nesse assunto e, aparentemente, ela também não, mas... Eu gosto dela Jackson. De verdade.
— Então por que não termina com a Fiona? Sabe que ela só tá com você por interesse.
— Eu sei, mas eu não consigo terminar com ela. Não importa se eu me afasto ou deixo de fazer o que ela quer. Essa garota é difícil. ‒ resmungou. — A Fiona não vai gostar de saber que estou terminando com ela porque gosto de outra. Ainda mais essa garota sendo a Heloisa, o completo oposto dela.
— Nesse caso, é tão simples terminar. Cara, a Heloisa também gosta de você.
— Gosta? C-como você sabe? ‒ soltou um pigarro ao gaguejar e Jackson riu.
— Ela te bateu quando você a beijou? ‒ o ruivo apenas balançou a cabeça em negação. — Então pronto. Se ela não gostasse de você, tenho total certeza que agora você estaria com um olho roxo.
— Eu acho que você tem razão. ‒ Matteo sorriu e o moreno logo o puxou pelo braço.
— Termina logo com a Fiona e corre atrás da Lola. Não perde a oportunidade de estar com a pessoa certa porque você tomou uma atitude errada. ‒ deu leves batidinhas no peitoral de Petrini, que apenas sorriu concordando com a cabeça.
Assim que os dois seguiram caminho para a sala de tevê, Ashley saiu debaixo das escadas de braços cruzados e com um sorriso perverso nos lábios. Matteo havia traído Fiona com Heloisa e os dois se gostavam. Era uma fofoca bastante interessante e que ela não podia deixar passar.
Já era meia-noite quando Chiara resolveu sair do quarto para encher sua garrafinha de água. Ela não conseguia dormir, então ficou estudando Física e Geometria para tentar pegar no sono, porém, sua tentativa falhou completamente. Sabrina e Nina reclamaram diversas vezes que a luz de sua escrivaninha estava as incomodando, mas nem isso a tirou do foco e ela apenas desligou a luz quando sua água acabou e ela precisou sair para pegar mais.
Lucca ainda não havia voltado para o Internato, muito menos mandado alguma mensagem para ela. Chiara sequer sabia se ele voltaria para o colégio, se dormiria em casa, ou na casa de Noah. O viu por alto nos stories de Noah que postou várias fotos de pratos gregos, fotos com meninas bonitas e uma mesa cheia de bebidas.
Em uma foto, no fundo, foi possível ver Lucca tirando foto com seus pais e Castello logo supôs que eles haviam se encontrado lá, já que ele não havia comentado nada sobre que eles estariam na inauguração também. Passar a tarde com Nicolas a fez bem. Ela conseguiu se distrair um pouco e se divertiu bastante com o garoto. Mas ao cair da noite, quando estava sozinha, novamente seus pensamentos a lembravam de Lucca e tentava entender o porquê o garoto estava tão distante ultimamente.
A garota terminava de descer as escadas quando viu Lucca se aproximar cambaleando e rindo sozinho. Sua camisa social estava amarrotada e com botões abertos e Noah vinha logo atrás carregando consigo seu paletó.
— Lucca! ‒ Chiara correu em sua direção. — Meu Deus! O que você bebeu? ‒ levou as mãos ao nariz assim que sentiu o forte cheiro de álcool impregnado no garoto.
— Era um paraíso Chiara. Um paraíso! ‒ riu jogando as mãos para o alto. — Tinha todas as bebidas possíveis. Do Brasil até os Emirados Árabes. Eu apostei com o meu pai e com o Noah que eles não conseguiriam beber mais do que eu e adivinha só? Eu ganhei. ‒ riu novamente. Seu bafo estava horrível e sua voz arrastada. Chiara olhou para Noah que apenas respirou fundo.
— Eu falei pra ele pegar leve, fazia tempo que ele não bebia, mas ele não quis me ouvir. Ele disse que estava ali pra curtir, esquecer os problemas e bebeu tudo que podia. O pai dele ofereceu levar a gente pra dormir lá, mas o Lucca disse que preferia voltar pro Elite e aqui estamos. ‒ Noah olhou para o seu amigo que dançava sozinho. — Eu sinto muito Chiara. ‒ bagunçou o cabelo da garota e saiu subindo na frente para deixar que os dois conversassem.
— Lucca, fala pra mim, o que tá acontecendo? Você não conversa mais comigo, não ficamos mais juntos, você só tá se afastando... O que houve? Por que você tá agindo desse jeito? ‒ Chiara segurou em seus braços e Lucca franziu o cenho ao olhar para suas mãos segurando os seus braços.
— Já chega Chiara! Para com isso! ‒ deu um tranco em seus braços para que ela os soltasse. — Eu sou assim, tá legal? Esse sou eu. Eu gosto de festas, bebidas, drogas, tudo o que possa me fazer esquecer que o mundo existe. Você achou que eu ia ficar só com você? Te tratando como uma princesa, indo com você no hospital ver a sua mãe e sair para encontros bobos? ‒ seu rosto tinha uma feição de nojo. — Você queria um final de contos de fadas? Então da próxima vez, alugue um filme. ‒ deu um esbarrão no ombro de Castello para passar e, mesmo cambaleante, subiu as escadas sozinho.
Chiara não sabia o que fazer. Seu corpo tremia e sua garganta estava com um enorme nó. Ela apenas deixou as lágrimas caírem ali mesmo, naquele pátio escuro e silencioso, até que seu namorado sumisse de seu campo de visão.
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