Truque De Mestre

— Ainda num acho uma boa ideia, sô.

— Aproveite seu momento, bebê! – Sandy diz dando um tapinha em meu ombro e saindo em seguida.

Aperto meu material próximo ao peito e sigo com passos fortes até minha sala. Diferente de ontem, hoje eu vim mais tarde para garantir que todos já estivessem presentes quando eu chegasse.

Coloco a minha mão esquerda na maçaneta da porta, respiro fundo e abro. Antes de entrar uma voz masculina me chama.

— Dera, me dê uma chance! Eu até fiz uma música para você. Vamos, por favor. – Alex interpreta perfeitamente seu papel.

Sim, atuação...

🐎🐎🐎

(9 horas atrás)

— Qual é o seu grande plano? – Alex para de andar de um lado para o outro e encara Guilherme.

— Vamos tornar a Débora uma pessoa desejável.

— Mas ela é. – Alex arregala o olho e muda de assunto — E como vamos fazer isso?

— Simples. Muito simples. Essa vadia aí disse que ninguém iria querer ser seu amigo – ele olha para mim — então vamos mostrar para ela que você tem amigos e até pretendentes... – Um sorriso maroto escapa pelos lábios de Guilherme.

Eu observo atentamente. Quero entender o rumo da prosa.

— Boa, Guilherme! – Sebastian se junta a nós — Uma pequena encenação...

Até o Sebastian?

— Ocês podem explicar pra eu o que cês tão pensando?

— É o seguinte... – Guilherme começa e todos nós prestamos atenção no que ele vai dizer — Alex vai ser o pretendente indesejado...

— Por que tenho que ser isso? – Alex interrompe Guilherme — Pois saibam que as mulheres fazem fila para ficar comigo.

— Bom para você. – Guilherme debocha — Continuando... – Ele se levanta e começa a andar de um lado para o outro bem devagar — Você vai comprar flores e levar para ela. Assim os colegas de turma irão ver.

— Ok. – Alex concorda.

— A Sandy vai te chamar na hora do almoço para se juntar aos veteranos. – Ele manda uma mensagem no celular — Já até mandei mensagem para ela. – Ele mostra a resposta dela que se resume a um 'vou adorar'. — Já eu vou te ligar e te convidar para um jogo. Nessa parte você será a estrela da atuação.

— Dera – Alex pega minha mão — você consegue!

A careta que ele faz é tão engraçada que eu acabo rindo. E os meninos também.

— E eu? Não farei nada? – Sebastian pergunta talvez um pouco decepcionado?

— Lógico que fará! – Guilherme dá um largo sorriso — O Grand Finaly é seu. – Olhamos para ele sem entender — Sebastian, suas aulas amanhã terminam tarde também, não é mesmo? – Guilherme aguarda Sebastian confirmar — Então! Você vai ser o cara que vai levar ela para casa.

— Saquei! A Dera saindo com um cara que tem um carrão tipo o do Sebastian é uma passagem direta para a popularidade. – Alex afirma confiante.

— Eu num quero ser popular não. Só quero que eles parem de falar de eu.

— É um bom plano. Espero que funcione. – Sebastian corre para a cozinha quando um odor de queimado surge.

— Claro que vai dar certo! Sou o gênio dos planos.

Nós gargalhamos com a autoestima de Guilherme.

— Dera, você gosta de miojo? – Sebastian diz da cozinha e nós rimos dele.

🐎🐎🐎

(Agora)

— Alex, desculpa sô. Eu não quero me envolver com ninguém agora não. Quero só estudar.

— Dera, por favor. Você não pode roubar meu coração e simplesmente me descartar. – Alex faz cara de cachorro sem dono — Ao menos aceite essas flores e me dê seu número. – Ele estende o buquê — Não custa nada. Eu sei que não chego aos teus pés. Você é uma garota tão maravilhosa. Mas vou me esforçar para me tornar alguém que seja especial para você. Eu prometo.

Suspiro antes de respondê-lo.

— A única coisa que posso dar pro cê é meu número. Mas tudo que posso prometer é minha amizade, por enquanto. – Ele me estende o celular e eu faço que coloco meu número. — Agora deixa eu estudar, sô.

— Tudo bem minha princesa. – Ele me dá um beijo no rosto, o que me faz arregala o olho e levar a minha mão à bochecha imediatamente — Você não vai se arrepender!

Antes de ele ir embora, pisca para as garotas da minha sala que estão a ponto de morrer.

Eu entro na sala e todos ficam cochichando e me olhando. Mas dessa vez não é com o mesmo olhar de desprezo.

— Débora, posso me sentar perto de você? – Uma garota morena dos olhos com de mel e cabelo cacheado diz.

— Pode sim, uai.

— Prazer, eu me chamo Priscila. – Ela estende a mão e eu cumprimento.

— O prazer é meu.

— Aquele que veio te ver não é o DJ? – Ela parece pensar por um segundo — Acho que o nome dele é Alex.

— Esse mesmo.

— Caraca Débora! Ele é um cara bem disputado. Como conseguiu a atenção dele?

Eu reflito um pouco sobre o que vou dizer.

— Nós tamo moranu no mermo prédio.

— Uau! Que sorte! – Ela diz antes do professor chegar e pedir silêncio.

Priscila se mostrou super educada. Não sei se ela está sendo sincera, mas me senti muito feliz por alguém vir falar comigo.

Uns garotos da turma também me cumprimentaram. O que me deixou um pouco envergonhada.

Quando deu o horário do almoço, Sandy já estava me esperando.

— Amiga! – Ela pula em meu pescoço — Estava te esperando faz um tempão! – Ela diz dramática após soltar meu pescoço — Vamos, quero te apresentar aos outros veteranos.

Priscila está próxima a nós.

— A Priscila pode ir com a gente? – Pergunto.

Sandy a analisa por um tempo antes de dizer que tudo bem.

O almoço foi maravilhoso. Os veteranos são muito legais. Alguns têm até umas maneiras parecidas com as minhas. Eu realmente me senti aceita.

A única coisa que me incomodou foi à forma como Sandy ficou encarando Priscila. Alguma coisa não está certa.

Antes do horário do almoço acabar eu peço licença e vou até o banheiro.

Antes de sair, alguém entrar e está aparentemente falando ao telefone.

"Daiane, você sabe que não vou fazer isso. É problema seu isso."

Sinto meu coração acelerar quando a voz feminina menciona esse nome.

Daiane...

O nome da minha querida mamãe.

Faz tempo que conheci alguém com esse mesmo nome. Não sabia que ainda teria essa reação.

"Ah, tchau. Não tô com saco para te aturar hoje. Vai cuidar do meu irmão que é melhor."

Quando a pessoa sai do banheiro eu também saio.

Que coincidência horrível.

🐎🐎🐎

Assim que voltei para a sala meu celular desgramou a tocar.

— Alô?!

"Espero que esteja atuando bem"

Guilherme ri do outro lado da linha.

— Tô sim, uai.

"Agora fala meu nome e fala do jogo."

— Jogo de basquete Guilherme? – Eu rolo os olhos e vejo que todos me observam — Eu tenho que ver se terei tempo, uai. Lógico que vou estar torcendo pro cês. Cês são meus amigos, sô. Mermo que eu não vá à quadra estarei torcendo pro cêis.

" Isso! Tá indo bem!"

— Tenho aula agora. Me liga a noite que eu vejo se vou poder ir. Tchau...

Desligo o telefone e me sento.

— Débora, por acaso você estava conversando com um dos jogadores do time de basquete? – Priscila pergunta.

— Sim, uai. O Guilherme é meu amigo. Ele é primo da Sandy.

— Você é amiga daquele gato? – Outra garota que não sei o nome entra na conversa.

Ela começou a falar destrambelhadamente sobre como ama o time de basquete até o professor chegar e a interromper.

A aula seguiu normal depois disso. Outras pessoas vieram falar comigo e perguntar como que me tornei amiga dos veteranos.

Algumas pessoas demonstraram realmente interesse em me conhecer melhor. Até me adicionaram num tal grupo de 'WhatsApp'. Não sei que diabos é isso. Mas fiquei feliz.

'Grupo'

Esse termo soa bem.

A moça que falou mal de mim ficou me fuzilado com os olhos. Não sei porque ela me odeia tanto. Eu nem a conheço. Não posso ter feito mal a ela.

Acho que amanhã eu vou tentar conversar com ela. Se ela me odeia, eu ao menos tenho que saber porquê.

Ao final da aula eu recebi uma mensagem de Sebastian.

"Dera, tô te esperando do lado de fora da sua sala."

Eu juntei meus materiais e fui saindo.

Quando avistei Sebastian eu sorri. Ele estava distraído mexendo no celular. Tão lindo...

Antes de eu chegar perto dele, a moça ruiva se aproxima.

— Sebastian! – Ele olha para ela — O que faz aqui?

— Rafaela? – Ele parece surpreso. Demora um pouco para ele me encontrar com o olhar — Vim buscar minha amiga. Nós vamos juntos para casa.

— Amiga? – Posso jurar que ouvi a garota gaguejar um pouco.

— Sim. – Ele vem até mim — A Dera. Conhece? – Ele põe o braço sobre meu ombro.

Eu olho dele para ela e ela olha de Sebastian para mim.

Acho que estamos tão chocadas que até encontramos algoque nos conecta.    

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