Realizando um sonho

Vivo com meus avós no nosso 'sitiozinho' desde meus nove anos. Fui morar com eles porque meus pais eram muito ocupados e não quiseram saber de mim.

Não sinto raiva, pois foram eles que me deram a vida.

Eles até vinham uma vez por ano aqui, mas depois de três anos eles pararam com as visitas. Aí sim eu senti uma tristeza no coração.

Minha avó – vendo minha tristeza – acabou me contando que eles se separaram e formaram outra família. Vovó Sônia me disse que meu pai foi para Nova Zelândia e minha mãe foi para a região sul do Brasil.

Nessa época eu tinha apenas doze anos.

Não posso negar que me senti traída. Deprimida. Mas meu avô José fez de tudo para me alegrar. E conseguiu.

Ah! Como eu amo esse velhinho.

Foi ele quem me ensinou a andar a cavalo. Fazer pipa. Pegar as frutas que estavam no alto das árvores.

Eu não posso negar que a vida no campo me encantou. Eu amo o ar, amo os animais, amo tirar leite e andar a cavalo. Mesmo quando eu fui para o ensino médio e os alunos me chamavam de caipira, eu continuei amando.

Eu estudei durante o fundamental II numa escola que ficava afastada da cidade. Mesmo tendo alunos ricos, todos sempre conviveram muito bem com os pobres que estudavam ali.

Eu não era pobre. Só era diferente. Falava diferente. Agia de forma típica de quem foi criada no mato.

Mas o ensino médio só dava para ser feito na nossa pequena cidade. Só havia uma escola pública que acolhia esse nível de ensino. E lá sim os alunos classificavam e julgavam como bem entendessem.

Nunca liguei. É a vida que eu amo.

Desde que cheguei aqui no sítio eu me apaixonei pelos bichos. Toda vez que encontrava um pássaro machucado, levava para casa e cuidava dele até ficar bem. Quando isso acontecia eu soltava-o no Capoeirão que ficava por cima do sítio.

Com o passar dos anos eu pegava mais amor pelos animais. Sempre cuidava deles. E quando peguei idade, decidi que queria me tornar profissional nessa área. Queria ser médica veterinária.

No início, as pessoas riam de mim quando eu falava que queria fazer faculdade.

Vovó e vovô sempre me incentivaram. Eles disseram que até pagaria se fosse necessário.

Eu confiei neles. Estudei muito.

Enquanto as crianças da escola e os adolescentes idiotas zombavam de mim, por conta da minha fala caipira – vício de linguagem por conviver com meus avós – eu apenas focava na minha meta.

Atualmente eu tenho dezoito anos. E recebi a notícia mais feliz da minha vida: consegui entrar para a UFES – Universidade Federal do Espírito Santo.

Eu fui até a lan house (sim, aqui onde moro não funciona celular e Internet) e consegui acessar meu e-mail. Lá estava a notícia.

Agora estou fazendo minhas malas. Amanhã cedo viajarei para Vila Velha.

Eu tinha uma economia – das vezes que treinei cavalos e jumentos ou que salvei algum animal de estimação dos nossos poucos vizinhos – então a usei para pagar dois anos adiantados do aluguel.

Eu encontrei em um site de imobiliária um anúncio para compartilhamento de apartamento. Entrei em contato e a senhora me disse que eu moraria com três moças.

Fiquei tão contente que teria alguém com quem conversar quando sentisse falta da vovó e do vovô que já adiantei o pagamento.

Ela me passou o endereço e amanhã irei diretamente para lá.

Júnior – um vizinho e amigo – já veio aqui me dar vários sermões sobre o que não fazer em cidade grande.

Ele se acha muito sábio. Bem, talvez ele seja mais sábio do que eu, pois já morou no Rio de janeiro com a tia dele, quando os pais estavam por se separar.

Gosto muito de Júnior (o nome dele é Francisco, igual ao pai, mas odeia ser chamado assim. Eu gosto do nome dele, porém respeito e o chamo de Júnior... Exceto quando estou brava com ele). Nós nos conhecemos na escolinha de fundamental I. Eu o salvei de um touro bravo, no caminho de volta para casa. Desde então ele me idolatra. Às vezes é até cansativo...

— Dera, o que deve fazer se uns caras tentarem te assaltar? – Júnior fala andando de um lado para o outro no quarto.

Minha avó está me ajudando a dobrar a roupa e não pode esconder seu riso ao ver a ansiedade de Júnior.

— Nossinhora, quantas vezes Cê vai perguntar isso, homi? – Paro de dobrar uma calça jeans e olho para ele.

— Dera, eu só tô preocupado. Você nunca foi para uma cidade grande. E você é ingênua...

— Sossega garoto. Vamos apenas torcer por ela. – Minha avó intervém.

— Tá. – Ele diz derrotado. — Só não se esqueça das coisas que te ensinei. Que horas devo te levar amanhã na rodoviária?

— 05h30min. Vê se não se atrasa...

🐎🐎🐎

— Vai com Deus, minha menina.

— Vovó! – As lágrimas molham meu rosto. Ela afaga meu cabelo e em seguida me dá um beijo na testa. Eu tive que abaixar para abraça-la. Faz tempo que sou maior que ela.

— Qualquer coisa me liga, Dera. Assim que eu puder eu vou te visitar.

— Cruz em Credo! Vai assustar minhas colegas de quarto. – Eu rio enquanto o abraço.

Após me despedir deles eu entro no ônibus.

🐎🐎🐎

Mar gente, quanta pessoa. – Digo ao sair do ônibus e ver tamanha movimentação na rodoviária.

Pego minhas malas – não é muita coisa, pois trouxe um dinheiro extra para que eu possa comprar o que preciso aqui mesmo – e vou na direção de um táxi.

Após uns trinta e cinco minutos nós paramos em frente a um prédio de dez andares.

A fachada é simples, numa tonalidade esverdeada e janelas marrons. Não é novo, porém muito bem cuidado.

Quando entro o porteiro vem em minha direção e pergunta o que eu desejo, então lhe informo que aluguei um apartamento. Ele então me ajuda a colocar as malas no elevador.

Meu novo lar fica no nono andar.

Eu nunca fiquei tão feliz na vida. Daqui alguns segundos eu encontrarei minhas novas colegas de quarto. Espero que elas gostem de mim.

O porteiro me ajuda a tirar as malas do elevador e se despede me entregando as chaves que a dona deixou com ele, pois foi viajar para algum lugar da Europa.

Muito boazinha ela. O que eu faria se ela tivesse se esquecido de deixar a chave?

Arreio minhas coisas no chão e então abro a porta.

— OLÁ...

Minha empolgação some com o que vejo.

Próximo à geladeira um cara loiro, com aproximadamente 1,80m, com uma camisa cinza e óculos um pouco arredondado está derramando a água de uma garrafa em sua garganta.

Outro rapaz, negro, com cabelo bem cacheado e roupa de corrida está fazendo abdominal no meio da sala.

E para completar o pacote, surge um cara branco, com cabelo castanho claro, sem camisa – o que deixa bem visível seu corpo musculoso e suas tatuagens pretas – e uma toalha enrolada pela cintura.

— Alguém tem um remédio para eu colocar nessa... – o cara da toalha tira a toalha, deixando de ser o cara da toalha e passando a ser o cara nu.

Ele se vira para porta. E eu apenas grito.

— AHHHHHHHHH! 

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Espero que gostem dessa aventura de Débora. É uma história que envolve comédia, aprendizados e talvez até romance...

E aí, o que você faria se estivesse no lugar dela??

Se gostaram desse primeiro capítulo, deixem o voto e comentem.

Beijos 😘😘

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