Capitulo 7 - O Primeiro Beijo
Karolin dormiu serenamente, diria até feito um anjinho.
Mas, ao acordar, assustou-se por estar sozinha, será que aquela noite também tinha sido um sonho?
Ela podia jurar que Brandon estava lá na noite passada, que ele tinha proposto continuar com o lance de fingir que estavam namorando.
Resolveu não pensar muito sobre isso, levantou e dirigiu-se ao banheiro, notou no cesto de roupas sujas os lençóis ensanguentados, o que significava que a noite passada tinha acontecido, pelo menos parte dela.
Fez o que há muito não fazia no banho: refletiu.
Como sua vida mudara de um dia pro outro? Como sentia falta de quando era apenas uma mundana sofrendo por um namorado babaca...
Quando sua maior preocupação era se ir pra escola de saia iria taxá-la de puta, como sua fama afirmava ser, quando o maior perigo que corria era ser humilhada na frente da escola.
Sentia-se miserável, ela realmente nunca havia pensado muito em sua família biológica, a verdade é que se não a queriam, tudo bem, porque tinha pais maravilhosos, uma família realmente maravilhosa a quem recorrer, porque ela era amada.
Não conseguia entender ou aceitar essa história de não poder fazer parte do clã.
Amor. Família é amor, e era só isso que ela queria. Karolin sentia-se rejeitada hoje mais do que jamais se sentiu.
Ela não sabia qual era seu dom e aquilo também a magoava, de alguma forma sentia-se inferior aos outros, era difícil para ela assimilar tudo, as novas descobertas.
Tudo o que ela sabia - com certeza - era que sua vida a partir de agora será uma confusão total, mas focaria na missão e nada mais.
E claro, ajudar Brandon, mas o namoro não precisava durar muito.
Com a água do chuveiro caindo sobre a garota ela começou a pensar no término, por quanto tempo namorariam? Por que terminariam? Fingiriam continuar amigos depois? Ele continuaria ajudando com o caso do assassino? Por que as perguntas não acabavam?
Karolin decidiu que o primeiro a fazer ao encontrá-lo seria discutir essas coisas.
Desligou o chuveiro depois de um banho bem tomado, trocou de roupa e dirigiu-se até a sala, estava um pouco atrasada, dormira demais e, como já não tinha ido para a faculdade no dia anterior, não queria se atrasar.
Saiu do quarto, pegou uma fruta na cozinha e correu para a porta. Mas, ao abri-la, deparou-se com Brandon.
- O que faz aqui? - Perguntou brava enquanto trancava a porta.
- Vim te acompanhar até a escola! - Brandon disse como se aquilo fosse uma constatação óbvia.
- E por quê? Eu posso muito bem ir sozinha! Acordei ótima! - Karolin odiava que pensassem que ela era uma inútil, caramba foi só um sonho, tudo bem que teve um pouquinho de sangue, mas ninguém iria atacá-la na rua e, mesmo que fizessem, ela sabia se defender.
- Eu sei disso, mas você é minha namorada e namorados buscam a namorada em casa. - Karolin ficou satisfeita, gostava do fato de o garoto não estar querendo protegê-la.
Karolin seguiu o caminho sem dizer nada, mas ao virar à esquerda em direção à universidade, Brandon a chamou, rindo:
- Aonde você está indo?
- Hum, para faculdade? - Karolin disse virando-se para encará-lo, mas ao fazer o movimento notou que Brandon segurava um capacete, estava de moto.
- Achei que tínhamos combinado que eu iria te levar! Vem monta aqui! - Disse já dando partida.
Karolin sentou receosa, não gostava de motos desde sempre, para ela motocicleta era sinônimo de perigo e, infelizmente, de perigo ela já estava cheia.
Nunca tinha estado em perigo antes, mas desde que viera proteger sua irmã as experiências de quase morte tornaram-se rotina.
Brandon começou a pilotar rápido, rápido até demais. Karolin agarrou a camisa dele com força e começou a gritar, estava com medo e, ao perceber os risos de Brandon, sentiu raiva também.
Entretanto, não podia pensar muito nisso agora, o medo prevalecia, perguntava-se por que o único acessório de proteção do veículo era um capacete. E os outros membros?
Nunca mais iria para a faculdade com o rapaz.
- Chegamos, Madame! - A risada de Brandon estava irritando-a seriamente.
- Ei, me respeita! - Disse enquanto dava tapas nele. Para surpresa de Brandon, a menina era forte.
- Já entendi, garota, argh!, conviver com você vai ser pior do que eu pensava.
Ele saiu antes que ela pudesse dizer-lhe que o sentimento era recíproco, maldita hora que foi inventar essa droga de namoro falso. Naquele momento Karolin queria muito machucar o garoto, de verdade.
Com raiva evidente seguiu para aula de literatura, estava sinceramente agradecida por não ter nenhuma aula com Brandon ou Mer até as 11h.
Ao chegar, notou que havia novamente poucas carteiras vazias, todos observavam-na como se ela fosse um bicho estranho, de 7 cabeças, sentia-se incomodada com tanta atenção. Aproximou-se, a professora informou o lugar onde ela sentaria, mas desta vez não a apresentou à sala.
Karolin caminhou amuada até sua carteira mas estagnou ao perceber um olhar sobre ela, não o conhecia, ainda assim aqueles olhos verdes que a encaravam pareciam familiares. Amedrontava a garota, ficou hipnotizada naquela troca de olhares, ambos impossibilitados de desviar a visão, mesmo quando a professora chamou-lhe atenção para que fosse ao seu lugar. Caminhou até a carteira atrás do garoto sustentando aquele olhar, presa e predador. Restava apenas saber quem era quem nessa história.
Assim que conseguiu, ela o ignorou. Assustava-a, descobriu que seu nome era Thomas quando a professora dirigiu uma questão a ele, até a voz do cara era assustadora, ela se mexia desconfortável na cadeira, queria correr, o medo a consumia cada minuto.
Será que viveria assim? Sempre com medo? Tinha muita saudade da vida de antes, nunca em perigo, uma vida monótona, porém segura.
Aquelas foram as duas aulas mais longas de sua vida, assim que a professora dispensou-os Karolin saiu, não levou nem 1 minuto para chegar à porta, anotou mentalmente que precisava pedir para algum colega trocar de lugar.
Seguiu no corredor cheio para fora dali, precisava tomar um ar, sentiu os pelos eriçarem-se, olhou para trás à procura do que estava fazendo o instinto de perigo dela "apitar".
Não encontrou nada, procurou pelos armários, o corredor, que segundos atrás estava cheio, agora encontrava-se vazio, será que deu o próximo horário e ela não percebera?
Não sabia, tudo que sentia era que corria perigo novamente.
Correu, correu tanto quanto suas pernas e pulmão permitiam, queria voar mas teve medo de que alguém a visse, deu uma olhada para trás pra saber se achava algo, alguém, mas não havia nada ali, apenas ela.
Preparou-se pra virar para frente novamente mas caiu antes disso, esbarrou em alguém, Brandon, notou ao olhar para cima.
- Ah, só pode ser brincad... - Parou no meio da palavra, notou o desespero estampado na face da menina. - Você tá bem? Foi atacada de novo? - Abaixou-se para ajudar a garota a levantar e, ao notá-la tremendo, abraçou-a. - Shh, calma, eu estou aqui!
Ficaram ali abraçados uns minutos até que ela conseguisse falar.
- Eu senti! Senti que corria perigo, eu não aguento mais! Eu estou com medo. - Olhou para os olhos dele, ironicamente, tentando encontrar algum conforto ali. - Eu não sei o que há de errado comigo.
As lágrimas que tanto tentou segurar desceram pelos seus olhos deixando um rastro preto de maquiagem em seu rosto.
- Desde que eu descobri que não sou humana tudo acontece comigo, sempre corro perigo, eu simplesmente não aguento mais!
- Ei..., olha pra mim! - Brandon disse enquanto puxava seu queixo para que ela o encarasse. - Não precisa abaixar sua cabeça para chorar, ser frágil não é uma vergonha.
Ele beijou o topo de sua cabeça. Por mais que quisesse negar para si mesmo e dizer que estava encenando, ele sabia que não era verdade. Brandon sabia que a fragilidade dela estava acabando com todas as defesas que ele tão arduamente lutou para levantar.
"Assassinos também choram, não se esqueça de que ela esconde a própria natureza" era o que sua mente dizia, era o que a parte racional, a que ele devia confiar incondicionalmente dizia.
Mas não conseguia, porque quando a viu ontem sangrando naquela cama, aquilo o tocou mais do que é prudente admitir.
Ele sabia que ela provavelmente teria morrido se ele não tivesse chegado em tempo. Mesmo que ela não seja uma bruxa ele sabe bem que as fadas demoníacas são os seres mais fortes que existem, são perversas, são mortais.
E ele estava intrigado porque assim como sabe o quanto são malvados ele também sabe que elas não fazem nada de graça, mas o quê ou quem poderia querê-la morta? O que ela realmente era?
- Só é coisa demais, sentimentos demais pra associar.
Karolin o olhou com tanta dor no olhar que tudo que ele pensou foi que se pudesse pegaria um pouco daquela dor pra ele.
- Vem, quero te mostrar um lugar...
Aquele lugar era lindo, não tão lindo quanto o Sol, mas lindo demais para os padrões terráqueos.
À sua frente havia um lindo rio cristalino, o céu parecia mais bonito visto dali, trazia uma paz como se fosse encantado.
- Eu vinha muito aqui com Sarah... - Karolin sentiu o pesar em seu coração, observou-o com atenção.
Brandon lhe dava medo. Ultimamente tudo lhe causava medo, mas o medo que ela sentia dele era diferente.
Ele parece tão sereno agora mas ela ainda se lembrava de como a olhou naquele dia, como se ela fosse uma barata asquerosa que ele mataria com prazer.
"Ele muda quando fala de Sarah" a dor dele era palpável e, apesar do medo, apesar de saber que ele é tudo o que ela mais odeia em uma pessoa. Ela sabia que se pudesse, ela pegaria um pouco da dor dele para si.
Ele virou o rosto para a água
- Vim muitas vezes aqui nos últimos seis meses também, este lugar me dá paz. A sensação de que ela está bem, de que encontrou a paz.
- Eu tenho certeza de que sim.
Karolin não pensou muito quando o abraçou, simplesmente o fez. Foi isso que seu coração mandou-a fazer.
Brandon desfez-se do abraço e encostou a testa na dela, acariciando seus cabelos com as mãos.
- Você é tão linda - Ele sorriu, o sorriso mais lindo que ela já havia visto na vida, seu coração falhou uma batida. - Claro, quando não está sendo sarcástica.
Karolin não conseguia responder, não conseguia nem sequer pensar.
Tinha uma única certeza: estava adorando aquele momento e não queria correr o risco de acabar com o clima com alguma piadinha, porque ela ficava extremamente sarcástica quando estava nervosa.
- Eu sei. - Ele disse encarando-a - Eu sei que está difícil pra você, sei que é tudo muito novo, mas você consegue, te conheço a 3 semanas e já sei o quão forte você é.
Brandon acariciou suas bochechas.
- Diabos, mulher! Você é capaz. Eu sei que você não é bruxa e sei que vocês de alguma forma confundiram minhas memórias de ontem, eu sinto o vazio que não se encaixa na memória. Mas só dessa vez, só por hoje, eu não me importo com o que você é ou o porquê tenta esconder de nós o que é.
Ele passa as mãos sob os lábios dela.
- Tão, tão linda.
E, sem pedir licença, sem deixar ela ao menos raciocinar o que ele disse, ele toma seus lábios.
Ardente, sedento.
Mas ela sabe, Karolin sabe que aquele beijo não é pra ela, não é nela que Brandon está pensando enquanto reivindica seus lábios para si, é em Sarah.
Eai meus anjinhos, o que acharam do cap de hoje? Comentem e não esqueçam de votaaaaarrrr.
Esse Livro foi revisado em 20/07/2020 se por um acaso você leu-o antes disso, recomendo que releia para que não perca nenhum detalhe.
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