Capitulo 5 - Acabou o Amor
Karolin voltou com Lancy até seu apartamento, eles riam e conversavam como velhos amigos, o que fez todos, principalmente o bruxo, exibirem cara de espanto. Ela fechou a cara assim que notou as expressões dos seres presentes, não gostando dos olhares de desconfiança direcionados a eles.
Brandon, que estava do outro lado da sala chegou sutilmente ao lado da menina e apertou-lhe a mão. Karolin vincou a testa, não lembrava de ser tão amiga de Brandon ao ponto dele lhe dar algum conforto.
A garota ficou mais confusa ao notar que quando pegou em sua mão, o bruxo direcionou seu olhar para Eddy e não para Lan.
Teria ela contado de seu amor não correspondido para ele e não se lembrava? Claro que estava grata pelo gesto do rapaz, apesar de lembrar claramente dele ter ficado bravo com sua mentirinha sobre estarem ficando.
Não era nem por Lan mais, porém, agora que sabia do relacionamento de Eddy com Alicia, morreria de vergonha se eles sequer cogitassem uma paixão da parte dela.
- E aí? O que encontraram? - Perguntou olhando para sua irmã, enquanto gentil e delicadamente desfazia-se das mãos de seu suposto namorado/assassino.
- O pedaço de metal parece pertencer a uma das vítimas, é um talpá.² - Brandon respondeu ao seu lado, forçando-a a olhá-lo mais uma vez. - O que não nos leva a nada já que a maioria de nós sempre anda com os nossos.
Karolin queria olhar para o resto da sala, talvez perguntar o que talpá queria dizer, mas estava hipnotizada demais naquele olhar que, pela primeira vez, estava doce e terno.
Karolin não sabia quanto tempo havia passado quando quebrou o contato para encarar Eddy que falava telepaticamente com ela:
"Antes que pareça uma idiota, 'Talpá' é um lugar para esconder os Grimórios, cada bruxa tem o seu, é escondido em algo que seja importante para eles"
Karolin assentiu e afastou-se de Brandon para tentar clarear um pouco os pensamentos que estavam nublados perto dele.
- Então, voltamos à estaca zero? Como vamos saber se é o mesmo assassino? - perguntou já a uma distância cerca 100 metros do garoto.
- Lancy, ainda tem algum dom de fada, né? - Indagou Alicia.
- É Controle de Tempo e...
- Pera, você controla o tempo? Caramba! Você é da realeza? - Disse Meredith próxima de Brandon, sua voz demonstrando pura admiração.
- Bom, meu priminho aqui é e sempre será o Príncipe das fadas. - Ótimo, a garota não tinha apenas transformado-o em monstro, havia acabado com seu legado! - Pode fazer a gente voltar ao momento do assassinato? - Ela perguntou virando-se 180º na direção do primo.
Lancy coçou a cabeça e sorriu sem graça. - Hum, não... O dom é limitado agora que sou um vampiro, não consigo levar ninguém, mas se quiserem posso ir!
- Como funciona isso? Você pode impedir o assassinato? - A curiosidade de Karolin, como sempre, falou mais alto.
- Não, eu só volto no tempo, como se eu estivesse vendo TV, eu não altero. Antes de ser transformado, eu ainda podia mudar algo no ambiente, mas agora só vejo mesmo. - Lan explicou para ela.
- Ótimo, isso já serve. - Alicia pegou o objeto na mesa e entregou-o para ele. - Volte e veja se encontra mais alguma pista que nos leve ao assassino! - Alicia pediu-o.
- Ok, não demorarei um minuto, estava escuro, mas usarei meus sentidos aguçados. - Disse fungando o objeto.
Lancy ficou imóvel enquanto viajava, olhando para frente como se estivesse em transe. Karolin notou que já o vira assim muitas vezes.... Será que ele já alterou alguma coisa do nosso passado juntos? Será possível que nem meu relacionamento era real?
- E então? - Eddy perguntou assim que notou que o protegido havia voltado.
- Isso. - Ele ergueu o objeto que estava em suas mãos. - Estava com o assassino, era uma espécie de ritual que ele interrompeu, algo ou alguém batia na porta... Não sei ao certo, mas ele simplesmente desapareceu. A energia vital que vocês bruxos sentem, ele guarda nisso, e ele levou a da outra, este ele deixou cair enquanto fugia, não deu tempo de terminar, por isso metade da energia vital está no talpá e metade no corpo!
- Calma! Respira, deixa eu ver se entendi: Ele rouba os talpás das vítimas e guarda energia neles? Nem sabia que isso era possível. - Comentou Alicia.
Mer praguejou de lado, apoiando a mão no queixo. - Não faz o menor sentido, por que ele não rouba a energia direto do corpo? Bruxos jovens ainda não passaram pelo ritual de bloqueio³, e como ele consegue guardar vitalidade no talpá? Pra que ele precisa esgotar a magia do corpo das vítimas? Tudo é muito estranho e pra que precisa de energia vital? Porque não pegar a magia de bruxas já mortas? - ela parecia estar falando exclusivamente com Brandon.
- Talvez ele esteja fazendo algum ritual que precise de sacrifícios. - Karolin disse, tentando entender a proximidade dos dois bruxos, será que ela o amava secretamente?
- O clã saberia se alguém tivesse mexido com magia negra. - Brandon diz revirando os olhos e balançando a cabeça.
- É, mas antes que eu me esqueça, não acho que era ele que estava lançando o feitiço que nos cegou. Um bruxo precisa de muita concentração, não conseguiria matar e ainda manter-nos sob efeito de feitiço. - Lan disse, dessa vez com mais dúvida no tom de voz.
- É, você tem razão, pode ser dois em vez de um. Mas tem outra coisa me intrigando, pelo que vocês nos disseram ontem, todas as outras mortes foram executadas em lugares isolados. Porque ele mataria em uma sala com 20 alunos? - Eddy, que até então estava quieto, constatou.
- Bom ponto, então, até agora temos várias perguntas mas nenhuma resposta concreta. Ótimo... - Ironizou Karolin.
- A primeira coisa que precisamos descobrir é com que espécime estamos lidando, e se são realmente dois. - Alicia constatou, constantemente trocando os pés.
- Era um bruxo, eu tenho certeza. - Lan disse convicto.
- Ok. Amanhã tem reunião do Clã, eu e Brandon vamos especular para ver o que os anciãos sabem. - Meredith disse antes de sair.
Karolin levou-os até a porta e antes de ir embora Brandon beijou sua testa e a abraçou.
Tá, aquilo estava ficando estranho. Ela sabia que o garoto não a suportava, por que ele a ajudaria? A Elementar percebeu imediatamente que aquela pizza era mais do que carne, o que teria acontecido?
Como no outro dia não teve aula devido aos acontecimentos ocorridos no dia anterior, Karolin aproveitou a folga para visitar os pais adotivos.
Alicia e o primo foram com ela, os dois iriam visitar o pai de Lan que morava na cidade, Karolin acabou confirmando que seu ex namorado era o príncipe das fadas e cada coisa nova que descobria sobre ele fazia ela sentir-se mais culpada por destruir sua vida.
Toda a espécie deve odiá-la, de príncipe para monstro... e essa não era a história da Bela e a Fera, não havia nada que ela ou qualquer um pudesse fazer para Lancy deixar de ser um monstro.
- Karolin? A gente pode ir na sua casa com você? - Alicia perguntou do banco traseiro do Fox.
- Hum, claro, só não liguem, meus pais ainda estão em pé de guerra!
- É, eu me lembro bem. Lih se eles tiverem em uma discussão esconda-se, panelas acabam voando. - Lancy riu histericamente, desviando a atenção do volante.
Karolin que estava sentada ao lado, arrumou o volante para o carro voltar para a estrada. - Caramba, presta atenção no volante, onde tirou sua carteira?
- Ai, desculpa, Tetê-estresse!
- É, e bem melhor motorista que você!
- Ai, já chega dessa briguinha de casal, que saco! Vamos viajar em harmonia, que clima pesado. - Gritou Alicia já irritada. Arrancando um sorriso de Lancy e uma carranca enorme de Karolin.
Os 20 minutos restantes foram em completo silêncio, mas o clima não estava estranho.
E não, Karolin não estava mais com raiva, não conseguia ter raiva de Lan. As coisas mudaram desde que ela o perdoou, ele voltou a ser o melhor amigo que era antes, ela estava feliz. Ele sempre foi o melhor.
- Chegamos. Quer que eu fique no carro? - Perguntou Lancy preocupado.
- Não, pode vir, prefiro você lá dentro! - Disse e sorriu.
- Vocês por um acaso voltaram? - Alicia indagou aparentemente confusa com a bondade da amiga direcionada ao seu primo.
- Naaaão! - Karolin não esperou nem um segundo para responder, não queria passar uma ideia errada a ninguém, principalmente para Lan. - Eu o perdoei, voltamos a ser amigos e estou apaixonada por outro! - De canto de olho a menina notou a expressão de tristeza e decepção do ex-namorado, mas sentia-se feliz com a história do falso namoro, assim não teria que mentir para a sua amiga, era só não citar o nome de Eddy e a garota pensaria que ela falava de Brandon!
- Eu te odeio! Por que me casei com você mesmo? - Ouviu sua mãe gritando.
Ô droga...! Os pais de Karolin estavam brigando novamente, a menina tinha esperanças de que sua ausência os tivesse juntado, talvez a falta que sentiam dela fosse o algo comum que faltava para a relação deles se fortalecer, contudo, decepcionara-se quando ouviu a mãe gritar.
Será que o amor realmente existia? Karolin não acreditava mais naquela besteira, amor? Ah!, até hoje nunca convivera com um de verdade, um alguém que a fizesse querer ter um amor. Todas as vezes que se apaixonou não foi correspondida, como desejaria o amor se já teve tantas provas de que ele era ruim?
- No que está pensando? - Indagou Alicia retirando-a de sua bolha particular.
- Humm, nada demais, meus pais... - Karolin respondeu, o tom triste de sua voz era de quebrar o coração. - Vamos? - Bateu em sua perna, abriu a porta do carro e dirigiu-se a sua antiga casa.
Quando chegou em casa encontrou uma cena nada agradável, o pai ajoelhado sobre as roupas que a mãe constantemente jogava do topo da escada, uma cena deplorável, não queria que seus amigos tivessem visto aquilo.
- Hmm, oi? Mamãe, papai? Estou em casa!
O pai virou-se abruptamente e a mãe prontificou-se em descer as escadas, em instantes já tinha os pais adotivos abraçando-a apertado e falando o quanto estavam com saudades, seu pai parou no meio de uma frase ao notar Lancy no canto, perto da porta.
- O que esse fedelho faz aqui? - Perguntou bravo, o pai da menina sempre fora um tanto ciumento, não gostava de saber que a garotinha dele tinha outro homem em sua vida.
- Não é por nada, filha, mas vocês não tinham terminado?
- E terminamos! Ele me trouxe. Alicia e ele estão na cidade para visitar os parentes e eu peguei uma carona.
- Me desculpe, senhor Mikaelson. Se o senhor quiser, posso esperar no carro, eu e minha prima não nos importamos.
- Não, sem problemas, desculpe, nem sabia que você também tinha mudado de cidade! - O pai da garota respondeu envergonhado.
- É, faz uns 7 meses já. - Lancy explicou-se.
O tempo na casa dos pais de Karolin foi proveitoso, deu graças a Deus quando percebeu que eles não se alfinetaram o dia todo.
Decidiu ficar na casa dos pais enquanto os amigos iriam visitar a família. Sentia saudades da casa, de tudo.
Ela e a Mãe estavam na cozinha fazendo cookies para o chá da tarde. A Elementar se perguntava se talvez seus pais soubessem de sua natureza ou se eram apenas "laranjas", tão ignorantes quanto fora um dia.
- Mamãe? Me conta de novo como você me encontrou?
A mãe olhou-a desconfiada. - Faz muito tempo que não falamos disso, nunca quis saber muito sobre isso. - A mãe sorriu ao lembrar. - Acho que você devia ter uns 8 meses. Seu pai e eu estávamos voltando da casa de sua tia Julie pela velha estrada de Nakeslave quando eu vi a cestinha, ao lado da grande árvore centenária. Achei linda e pedi pro seu pai parar pra eu pegá-la. Quando fui olhar, você estava lá, não chorava nem nada, olhava tudo, estava coberta de sangue.
- Não tinha nada na cesta? Um bilhete? Nada?
- Não, só você ensanguentada, nos desesperamos, pegamo-na, colocamos no carro e fomos até o Corpo de bombeiros mais próximo, era tão linda, parecia um pequeno anjinho. Os bombeiros disseram que não havia nada de errado com você, não tinha explicação pro sangue porque você não estava machucada.
- Eu sempre fui tranquila, mãe? Nada de estranho em mim? Anormal?
- Não, no começo você não mamava ou comia e não ficava doente por isso, tem uma saúde de ferro, nunca pegou nem resfriado. Mas depois de um tempo você passou a aceitar.
- Ah, obrigada mamãe.
- Porque essa curiosidade agora? Você disse que não queria saber da sua família biológica que não se importava.
- Ainda não me importo, só fiquei curiosa mesmo. Bom, vamos fazer esses cookies porque estou louca pra comer.
A mãe de Karolin concordou, mas ainda estava chateada com o fato de sua filha estar morando com o irmão biológico.
Quando Lan e Alicia chegaram para buscá-la já era de noite. A viagem para casa foi calma, Karolin notou que Lan estava mais feliz e tranquilo depois de ver os pais, ficou feliz em vê-lo bem, feliz de verdade.
______________
² Talpá é um neologismo. Uma palavra criada pela própria autora, com sentido exclusivo para o livro.
³ Quando aos 18 anos, bruxos passam pelo ritual de passagem, eles se tornam bruxos completos e seus corpos são fechados.
Gente, como prometido eu postei essa primeira semana até o cap 5. A partir de agora toda Quinta eu posto um cap!
Não esqueçam de comentar e votar!
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top