Capitulo 4 - Nada é o que parece (p. 2)

Karolin abriu os olhos e, por alguns segundos, desnorteou-se, olhou para o lado e notou o monitor controlando seus batimentos cardíacos, seguindo os fios, percebeu que estavam conectados a ela.

Mas por quê...? Como vim parar aqui?

Ela continuava se fazendo a mesma pergunta, nada lhe surgia à mente. Dentre tantas vozes que a atingiam naquele movimentado hospital, a de Alicia se destacou e ela concentrou-se para ouvi-la exclusivamente.

- Como ela está? - Alicia perguntou a alguém que Karolin não conseguia identificar, mas que, pela respiração, podia perceber estar bem nervoso.

- Bem. A pancada na cabeça causou o desmaio, mas os exames estão limpos. - Karolin reconheceu a voz de Brandon.

Pancada na cabeça? Como não se lembrava de nada?

Karolin ainda estava tentando lembrar do que aconteceu três minutos depois quando Alicia invadiu o quarto afobada.

- Menina, quando ia me contar que você tá namorando meu protegido? - Questionou logo que atravessou a porta.

Isso é sério? Ela se acha mesmo no direito de questionar sobre garotos...? Pensou Karolin, segundos antes de encarar a amiga com uma expressão questionadora.

- Quando você ia me contar sobre você e Eddy?

Alicia arregalou os olhos surpresa e respondeu telepaticamente:

"Desculpa, eu ia contar, desculpa mesmo. Foi tudo tão rápido... Lembra quando eu disse que achava estar apaixonada por um dos instrutores? Era ele!"

Karolin lembrava sim, e bem, de ela mesma ter aconselhado Alicia a se declarar. Bastava, não iria remoer o assunto. Tentando mudá-lo, a morena finalmente percebeu algo muito errado na pergunta que Alicia a fez inicialmente.

- Ei, espera um pouco, como sabe de Brandon? - Disse Karolin levantando as sobrancelhas e piscando os olhos de modo rápido.

- A cidade inteira está sabendo, disseram que a nova namorada dele estava morrendo no hospital, até os pais dele apareceram aqui!

Caramba, se Brandon já a odiava antes, agora ela estava acabada, tinha que tratar de desmentir logo, antes que ele a matasse de verdade.

Alicia assumiu uma postura desesperada, aquilo alertou Karolin.

- Droga, me esqueci, eles vão investigar, rápido temos menos de uma hora para estarmos na escola, eles vão só preparar o feitiço e estão indo!

Assim que ouviu a amiga, lembrou-se do atentado. Pulou da cama no mesmo instante, naquele momento tudo que ela conseguia pensar era que sua protegida estava prestes a ir a um lugar onde ocorrera duplo assassinato.

- Keh, se arruma! Rápido! Eles estão correndo perigo! - Alicia disse, chacoalhando as mãos e batendo o pé levemente no chão.

Karolin sentia-se bem, era como se nada houvesse acontecido, provavelmente era a habilidade de cura rápida de um Elementar fazendo efeito, porém, as loucuras de Meredith a preocupava.

Como eu, com tão pouca experiência, vou conseguir proteger essa maluca?

Saíram correndo do hospital; avisaram Eddy por telefone e dirigiram-se à universidade.

Karolin desejou que o tempo passasse devagar para poder alcançar os dois bruxos antes do assassino, mas algo lhe dizia que isso não aconteceria. Temia por sua irmã. Não só por ela ser sua primeira missão, mas, poxa! Acabou de descobrir que tem uma irmã e não queria perdê-la dessa forma.

Olhando em direção onde o Sol já se escondia, pediu ao Superior que protegesse a bruxinha. Decidindo que a primeira coisa a se fazer para cumprir sua missão seria encontrar o assassino.

Mas o que faria quando o encontrasse? Mataria-o? Ela sabia que não podia, simplesmente não conseguiria.

Deu graças a Deus ao chegar à escola e encontrá-los ainda a 100 metros de distância. Analisando o prédio, notou que a única entrada seria a janela da sala que, com toda aquela confusão, havia sido "quebrada".

Pediu para que Alicia subisse voando, dizendo que a encontraria lá em cima. Como Karolin nunca tinha voado na Terra, teve medo de não saber ser discreta o suficiente, então, escalou. Apesar de sua lerdeza, conseguiu chegar segundos antes de sua irmã, a tempo de fingir estar investigando.

- O que fazem aqui? - perguntou Alicia fingindo espanto.

Mer olhou do corpo para as meninas, enquanto Brandon cruzou os braços e observou Karolin, desafiando-a com o olhar.

- Investigando, Gênio! Trouxe a tropa toda pra cidade? - Meredith perguntou à Karolin, dando de ombros, despreocupada. - Ei, você não estava no hospital?

- Eu, hmm, estava. Mas... Eu fui liberada, eu estou bem!

Liberada não é bem a palavra, já que elas tiveram que se esforçar muito para sair de lá. Quem diria que um hospital teria tanta segurança?

Brandon continuava a encará-la com aquele olhar, como se estivesse prestes a matá-la. Aquele olhar definitivamente a assustava, e sinceramente, Karolin não descartava Brandon como suspeito.

- E o que já encontraram?

O garoto perguntou para Alicia, ignorando completamente o fato de que ela estava ali. Até seu namorado de mentira preferia sua amiga a ela. É, ela precisava urgentemente jogar na loteria porque com o azar que tinha no quesito garotos... Ficaria milionária com os jogos.

- Nada ainda, mas aqui tem resquícios de magia, os outros corpos não tinham. - Alicia respondeu, Karolin sabia que a amiga não podia sentir magia, e supôs que ela ouvira aquilo nos pensamentos de Meredith.

- O que significa que pode não ser o mesmo assassino, apesar do sangue drenado, a magia não acabou como das outras vezes... - Completou Brandon desviando o olhar da menina para encarar os corpos.

- Não, talvez seja. Acho que das outras vezes não teve bruxo nenhum para atrapalhar os planos dele, talvez ele tenha decidido ir embora antes que nós o rastreássemos. - Karolin contrariou, olhando para Brandon.

- É, faz sentido, por isso que vocês conseguiram desfazer o feitiço, ele já não estava ali para segurar! - Meredith disse especulativa.

- Tá, pode até ser, mas não descartemos que podemos ter dois assassinos! - Alicia constatou.

- É, vamos continuar investigando, talvez encontremos algo que nos leve até o assassino desta manhã, e rápido! A polícia já deve estar a caminho... - Informou-nos Meredith.

Como Meredith sabia tanto? Karolin estava realmente preocupada com sua irmã, ela estava muito mergulhada nessa história. Tudo o que a elementar desejava era que a outra se afastasse do assassino, afinal ela era uma vítima em potencial, se são mesmo gêmeas ela faz 18 anos em dois meses.

Porque a garota tinha que ser tão teimosa? Ao invés de ir para longe ela faz as coisas para ir ao encontro do assassino.

Por alguns segundos passou na cabeça de Karolin que talvez sua irmã fosse a assassina e sua investigação seria para despistar quem quer que desconfiasse dela, mas foi apenas por alguns segundos.

Ela não era capaz de uma atrocidade dessas, eram seus amigos morrendo. Como poderia?

Meredith é bondosa e e nunca faria isso, concluiu o anjo da guarda sobre sua protegida.

- Aqui! Tem alguma coisa aqui! Parece ser metal, uma agulha talvez, pode ser do assassino. - Disse Meredith, despertando a menina de seus devaneios.

Mer estava olhando, concentrada, ao redor de onde os corpos estavam, mas a risada de Brandon chamou a atenção e ela levantou o rosto para escutar a gracinha que o melhor amigo diria em seguida:

- Ah, claro Meddy, porque o assassino teve que costurar uma roupa! - Brandon chacoalhava os ombros de tanto que ria de sua piada sem graça.

As três garotas presentes também riam, mas era dele e não da piada.

Interrompendo um pouco as risadas, Alicia encarou o objeto nas mãos da irmã da amiga. - Hmm, mas pode ser dele, não podemos descartar nenhuma ideia. Vocês bruxos não tem algum feitiço de localização ou algo assim?

A expressão descontraída de Brandon mudou assim que ouviu as palavras da ruiva, apertando os olhos em duas fendas, ele perguntou olhando diretamente para Karolin, que insistia em tentar enganá-lo dizendo que era uma bruxa:

- Claro, podemos sim. Mas achei que todos fossemos bruxos, você é o que Alicia?

Karolin congelou ao ouvir o loiro, petrificada encarou seu olhar questionador, enquanto sua mente apenas gritava "E agora?".

- Ela... Ela... Uhmm... - Karolin tentou arrumar uma resposta que não levantasse suspeitas, mas o que falaria? Que a ruiva era uma vampira? Faria sentido, seu primo era um.

- Não sei o que sou ainda, fui criada por fadas mas não sou uma! - Alicia disse com o máximo de sinceridade possível. Sabendo que, dessa vez, a desculpa serviria.

Decidiram ir até o apartamento que Karolin dividia com Eddy, a fim de ter mais privacidade para realizar o feitiço localizador, iam todos no carro de Meredith.

- Tá legal, a curiosidade está me matando, como vocês duas se conheceram? - Perguntou a irmã de Karolin olhando, através do retrovisor, para Alicia sentada no banco de trás.

- Ela é ex do meu primo, o namoro deles acabou, mas nossa amizade não...

- Mas como? Você disse que foi criada por fadas e até onde sei Lancy é vampiro, ou não é ele o ex? - Indagou Brandon, desconfiado. Ele tentara procurar a morena através do espelho também, mas não conseguiu colocar o objeto em uma direção que desse para ver seu rosto.

Meu Deus será que Alicia não consegue ficar quieta?

- Sim, ele mesmo. Ele também era uma fada, mas uns oito meses foi mordido, quando se meteu em uma briga com um vampiro que estava caçando a Keh. - Alicia disse tranquilamente, enquanto a elementar ao seu lado a encarava com espanto destacado em sua feição.

- E ela ainda terminou com ele? Além de insuportável é mal-agradecida. - Brandon comentou tentando fazer mais uma gracinha, mas dessa vez não recebeu risadas e sim sons de desaprovação.

Karolin desvencilhou-se da conversa, não sabia disso, será que era uma invenção de Alicia? Não lembrava de estar sendo caçada coisa alguma e muito menos de o ex já ser uma fada.

Até que fazia mais sentido Alicia dizer que não conseguia mais ouvir os pensamentos dele, ele era transformado e não um sangue puro.

Será dela a culpa de seu ex namorado ser um vampiro?

Era possível, Lancy sempre fora super protetor com ela, lembrava-se agora de quando estavam se conhecendo e uma garota chamou-a de esquisita; Lancy foi seu herói, protegendo-a. Ela sentia saudades desse Lancy, esse que a amava e protegia.

Mas ele te traiu com Susan, disse uma voz na cabeça da menina, fazendo-a querer se bater só de pensar que sentia falta do garoto.

- Karolin? Ei, responde, cê tá ouvindo?

Estava tão distraída em meio às lembranças e especulações que nem se tocou que falavam com ela. Brandon batia em seu braço para que despertasse dos pensamentos

- Terra chamando Karolin, alô-ô! - Ele disse, dessa vez estalando os dedos ao redor da cabeça da menina.

- Hmm, oi, desculpa, o que disse? - Disse saindo do carro, já que já haviam chegado e só restava ela lá dentro.

- Perguntei se podemos conversar em particular antes de subirmos? - Brandon parecia nervoso, a garota constatou que o assunto era sério.

- Lih, Meredith, subam na frente. Eu preciso conversar com o Brandon, okay?

Meredith concordou, já subindo alguns degraus da escada, mas Alicia olhou para os dois com desconfiança. Ela preocupava-se em deixar a amiga com o bruxo, ainda lembrava com clareza de como a sua amiga sofreu quando ficou sozinha com ele, conseguia ver nitidamente em sua mente o olhar cheio de medo no rosto de Karolin quando Alicia entrou na sala, naquela mesma noite. Contrariando todas as suas desconfianças, ela assentiu.

Entretanto ficaria alerta, se qualquer coisa acontecesse, Alicia não pensaria duas vezes antes de desrespeitar as regras e acabar com ele, para ela não importava se Brandon era seu protegido. As fadas a criaram para colocar a família acima de tudo, e Karolin era praticamente sua irmã.

Karolin ficou observando as meninas subirem já esperando o que viria, sabia que o garoto iria brigar com ela por causa dos acontecimentos daquela manhã, e estava preparada. Já tinha decidido que não envolveria ninguém em seus problemas amorosos, ainda mais depois de saber que era sua culpa Lan ser um monstro.

Ela teria que falar com o vampiro sobre isso depois, não podia esquecer. Desviando o olhar das meninas, ela virou-se para frente e encarou os olhos exóticos do garoto, que dessa vez demonstrava apenas nervosismo.

- É... Então, eu queria falar com você sobre... É... Hmm... Sobre, você sabe. - Brandon enrolava-se com as palavras e aquilo já estava irritando-a, paciência não era uma de suas qualidades.

- Não querendo ser mal educada mas, será que poderia falar logo? Por favor. - Ela acrescentou a última frase com um sorriso e voz doce para amenizar a agressividade com que proferiu a primeira.

- Eu, hum... - Karolin revirou os olhos com a enrolação do garoto, mais um minuto e ela subiria. - Acho que devíamos pedir pizza de frango, sabe você tem cara de vegetariana, mas eu amo carne então por favor...

- Sério? Pizza? - Karolin não estava acreditando que ele fizera ela ficar pra trás para falar de pizza, caramba, esse garoto tem problema. - Eu não sou vegetariana, seu idiota!

Ela subiu as escadas batendo os pés, evidenciando o quanto estava com raiva. Perdeu cinco minutos do seu tempo. Cinco minutos em que ela passou de especulativa a apreensiva, diga-se de passagem, para ele falar de pizza de frango.

Ela não estava acreditando que ele a parou para aquilo, estava fervilhando de raiva.

Com o sentimento, decidiu que era a hora perfeita para questionar um certo ex-namorado vampiro, assim não corria o risco de cair em seu charme. Entrou no apartamento só pra pedir as chaves para Alicia. Daria o troco nele, assim como ele fez essa manhã.

Sentou-se em uma poltrona no quarto, iria esperá-lo ali sentada independente do tempo que ele demorasse, já havia pedido para que a amiga reservasse dois pedaços de pizza para ela.

Contudo, ao olhar ao redor para analisar o quarto, ela se deparou com algo que nunca imaginaria: O retrato que estava em seu criado mudo.

Era de uma foto que tiraram no parque quando eles cuidaram juntos do irmão de Lan. Os dois ainda não estavam juntos, mas aquele dia foi muito importante para ela. Foi ali, vendo ele brincar com o irmão, que ela percebeu que estava completamente apaixonada, sua raiva se esvaiu.

Mas algo nessa história não se encaixava, pois aquele amor todo que ele dizia sentir por ela não coincidia com suas atitudes ao traí-la com sua amiga, nem quando ele falou mal dela. Karolin encarou o retrato mais uma vez, perplexa.

Pegando o retrato nas mãos, ela teve a certeza de que já não o amava mais. Talvez eles pudessem se tornar amigos novamente um dia. Mas ela sabia que o sentimento não era de paixão, seu coração não disparou ao ver a foto, entretanto, sentiu nostalgia.

Saudades do tempo em que eram amigos. Seu coração agora tinha dono, e mesmo que Eddy fosse apaixonado por sua melhor amiga, a verdade é que seu coração já era dele e ela teria que lidar com a rejeição.

- Keh? O que faz aqui? - Lan perguntou da porta, com o sorriso estampado no rosto.

Karolin largou o retrato onde encontrou e voltou a sentar na poltrona, olhando para o vampiro. - Eu queria conversar, fiquei sabendo umas coisas hoje. - Ele a olhou questionador. Nervosa com a conversa, Karolin começou a beliscar-se. - A Alicia disse pro meu namorado como se eu já soubesse e me incomodou um...

- Namorado? Desde quando você está namorando? Acabou de chegar aqui! - Eddy, que estava escondido atrás de Lancy na porta, a interrompeu.

Karolin olhou para seu amor unilateral pela primeira vez desde que o vira com Alicia. Ele estava agindo como um irmão chato e ciumento, como se também não conhecesse a ruiva há pouco tempo.

- Eu vim conversar com o Lan sobre...

- Vai pra casa, vamos conversar! - interrompeu Edmundo, finalmente saindo de trás do vampiro.

- Ei, quem você pensa que é? Tá maluco? Eu faço o que EU quiser, você não manda em mim!

A garota já estava irritada, tinha o direito de namorar e de falar com quem quisesse, ele deveria parar de agir como um irmão ciumento, Lancy já estava convencido do parentesco.

- Ei cara, relaxa, me deixa conversar com ela por favor! - Disparou Lan olhando suplicante na direção do outro.

O vampiro estava animado, o que será que ela queria? O que Alicia poderia ter falado para sua marrentinha estar tão mansa?

- Tá, 20 minutos. E, Karolin? Que barulheira é aquela lá em casa?

- Hmm, Meredith e Brandon estão fazendo um feitiço para a.... É, uhmm... Aquela coisa lá. "Investigação do assassinato." - Falou na cabeça de Eddy. - Mas a Alicia está lá pra eles não ficarem sozinhos!

Eddy a encarou por 2 segundos e franziu a testa. - O mesmo Brandon que tentou te matar?

Karolin assentiu, só de lembrar do que sentiu naquela noite seu corpo todo tremia.

- Como assim? Ele não era seu namorado? Esse cara tentou te matar? Porque se ele tiver feito, eu o mato! Não gosto de bruxos mesmo, os odeio desde quando eu era Fae! - Lancy esbravejou, tremendo e prestes a ir ao apartamento ao lado.

- Ei, calma, ele achou que eu fosse uma assassina, que tivesse matando as bruxas!

Karolin virou em direção ao elementar, para pedir que ele fosse bonzinho com os convidados, mas ele não estava mais lá.

- E então? - Lancy disse, sentando na beirada da cama.

- Porque não me disse que era Fae? - Karolin perguntou, procurando ser o mais objetiva possível.

Se Lancy já não fosse pálido com certeza teria empalidecido, seu rosto estava petrificado. - Porque eu não podia! Você sai dizendo que é uma bruxa por aí?

- Não, porque não sou! Mas acho que entendo o porquê de não me contar...

Lan a encarou com dúvida. - Como assim? O que você é?

- Depois, ainda não terminei o que tinha pra tratar com você! Quando ia me contar que a culpa de ser um monstro é minha?

Sua expressão foi de espanto, dava para perceber que não esperava por aquilo, que achava que ela nunca iria descobrir. Karolin levantou as sobrancelhas, em sinal de que ainda esperava por sua resposta.

- Quem te disse isso? Olha, não foi bem assim, eu e a Susan já não nos dávamos bem antes! Mas aí ela começou a te caçar, e aquele dia ela estava se alimentando de você. Me desculpe, de verdade. Olha, eu não quero que se sinta culpada, de verdade, eu realmente já não me dava bem com ela antes!

- Espera, Susan? Susan é uma vampira? E quando ela se alimentou de mim que eu não lembro?

A menina levantou-se da poltrona e começou andar de uma lado para o outro, incapaz de ficar parada.

- Ninguém lembra a menos que queiramos que lembrem! Keh, olha pra mim, eu não te culpo, ok? Você era minha namorada e era meu papel te proteger, caramba, e eu não me importo de ser assim, eu juro, nunca matei ninguém inocente então não se preocupa em eu ser um monstro, por favor!

Ela para de andar por um instante e o encara. - Não me preocupar? Sério? Você achou que era superior demais para contar pra uma humana como eu? Meu Deus! EU TINHA O DIREITO DE SABER!

- Calma, eu acho que você está levando isso pro lado errado, eu realmente não podia, a gente tem leis e eu achava que você era humana. - Ele a analisou antes de continuar. - Eu te amo, eu sempre te amei, desde o primeiro dia, lembro que olhei pra você assustada porque Susan tinha matado aquele corvo e pensei "Puta merda, como é possível ser tão linda até assustada?"

Karolin lembrava daquele dia, como ele veio falar com ela em seguida e fingiu cair pra ver se ela ria um pouco.

- Ela nunca foi sua amiga de verdade, a Susan, ela se alimentava de você, demorou pra eu perceber ela dizia que seu sangue era mais doce, que a fazia sentir-se mais poderosa, acho que por isso não te matou. O dia que eu descobri, que eu vi, foi o dia em que ela me transformou. - Lan olhava para um ponto fixo na parede. - Eu tirei você de perto dela, ela estava alucinada, parecia uma drogada, daquelas usuárias que enlouquecem depois de muito tempo. Ela me mordeu na briga e eu perdi, me matou quebrando meu pescoço.

Lan quase podia sentir a dor novamente mas forçou-se a terminar, quanto tempo esperou por aquela oportunidade? De se explicar de ter a chance de conseguir seu perdão.

- Os primeiros dias foram horríveis, mas Susan me ajudou a passar por aquilo...

Karolin sentiu uma pontada no peito ao imaginar Lan e a amiga tão próximos. - E aí...? Você apaixonou por ela?

- Não, eu nunca me apaixonei por ela. Quando eu já estava recuperado, as ameaças começaram, eu era muito leigo, não entendia nada, ela disse que como se alimentou de você por meses, tinha direito no seu corpo, como se você fosse escrava, sabe, disse que se eu fingisse que estava com ela, te deixaria em paz, que quebraria o vínculo.

- Deixa eu adivinhar, era mentira?!

- Sim, ela nunca teve a intenção de quebrar o vínculo ou sequer parar de se alimentar de você, quando eu descobri fiquei transtornado, movido pela raiva eu a matei, vampiro é movido demais pela emoção, é como se sentíssemos tudo 10 vezes mais.

- Mas porque você não voltou? Não desmentiu? Inventou uma desculpa qualquer pra gente voltar, já que ainda me amava?

- Eu simplesmente não achei justo, enquanto eu era Fae tudo bem, eu era tranquilo, sem perigos à minha volta, quase cego pros perigos do mundo sobrenatural, mas, quando me tornei vampiro, parece que o mundo mudou, o perigo aumentou, era quase como se fossem dois mundos diferentes. Eu não queria isso pra você. Entende?

Karolin assentiu, porque entendia, de verdade ela entendia porque também tinha a sensação de viver em dois mundos, um antes de descobrir que era uma Elementar e outro depois, o perigo estava ali à espreita.

Sentia gratidão, ficava feliz em saber que o amor de Lan não era egoísta.

Três minutos de um silêncio desconfortável passaram antes dele interrompê-lo:

- Você consegue me perdoar por tudo o que fiz você passar?

Ele a olhou apreensivo.

- Claro, óbvio que sim, não tenho nem o que perdoar, só agradecer. Acho que deveríamos ser amigos, eu gosto de outro cara, você sabe, eu já tinha intenção de dizer isso quando você chegou.

- Sério mesmo?

- Depois de ver isso, - Apontou para o retrato. - lembrei do quanto era bom naquela época.

Lan levantou e abraçou-a, girando no ar. Sentia-se feliz em poder tê-la íntima dele novamente, se contentaria em ser seu amigo.

- Mas então, se não é uma bruxa o que é?

Esse Capitulos em 20/07/2020 e algumas coisas foram alteradas, se por um acaso tenha lido antes peço que volte e releia para não perder nenhum detalhe.

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