Capitulo 22 - Nós somos uma mentira.


Aviso:
As próximas páginas apresentarão descrições de sofrimento e dor profundos.
Caso acredite que isso desencadeie gatilhos, evite-as.


Alheia a tudo que acontecia em seu redor, Karolin não percebeu a Espada vindo em sua direção...

Durante o tempo confinada, a cada segundo, ela desejou aquilo: o momento em que O Monstro seria misericordioso em matá-la.

Foi tudo muito rápido. Alguém havia surgido, o rosto que ela imaginara todos os dias, quem ela havia desejado por tanto tempo ver uma vez mais. Brandon estava ali e tudo o que ela queria era tocá-lo, mas ele escapou de seus braços rápido demais.

Brandon jogou-se a frente da Espada que vinha em sua direção, foi tão rápido que ela só raciocinou na hora em que a arma já havia atravessado o corpo dele.

O rapaz apagou na hora, fazendo com que a Elementar entrasse em desespero, retirou a arma de seu peito, o que fez com que o sangue espichasse. Em um ato desesperado, ela colocou as mãos na ferida para estancar o sangue.

Karolin era puro desespero. Não podia perdê-lo, tudo se resumia a ele, ela não sabia explicar tal sentimento, mas sabia que se o perdesse estaria se perdendo também. Sempre achou clichê demais, forçado demais dizer "Sem você eu não vivo". Mas ali, com a possibilidade de perder o rapaz ela entendia totalmente o sentimento.

Imaginá-lo morrendo, era o mesmo que imaginar seu mundo perdendo a cor. Ela estava aterrorizada, sentiu ele dar um ultimo suspiro, como se respirar fosse difícil demais naquele momento.

Não, não não. Respira, por favor, respira... Ela repetia incessantemente.

Nem percebeu que, de alguma forma, saíra daquele lugar horrendo, mas sentiu o conforto de quando chegou ao Sol, respirava mais leve.

Ainda com Brandon nos braços, não queria acreditar que ele morrera. Olhando ao redor, avistou Trent na porta da sala da casa de Eddy.

- Você pode salvá-lo? - Trent a olhou com pesar. - Eu faço qualquer coisa, por favor, eu me caso com você. Por favor, salve-o. - Sua voz falhando ao terminar a súplica, ela não iria aceitar perdê-lo.

- Eu nunca a obrigaria a se casar comigo para salvar alguém que você ama, meu amor. Mas, infelizmente, eu não possuo o dom da cura e a única Elementar com tal dom, está em Saturno neste momento. E mesmo que consiga chamá-la, o sangue dela é prata, não creio que consiga salvá-lo da Espada Celestial.

Ela notou a mão de alguém tocar a mão dele, provavelmente Meredith, apertava como se quisesse despedir-se. Não, ela não iria desistir, tinha que ter um jeito.

- Karolin! - Alicia disse entusiasmada a alguns metros dela. - Seu sangue é dourado!

- Ele está vivo, eu sinto a vitalidade nele. - Trent disse, fez menção de se aproximar, mas manteve-se no mesmo lugar.

- O que tem a ver meu sangue ser dourado? Eu sou nobre, e daí? Todos já sabíamos disso. - Karolin bufou e virou seu rosto na direção de Trent mais uma vez. - Você pode chamá-la, por favor, eu preciso tentar.

- Não, Karolin, você não está entendendo, Trent é nobre também e o sangue dele é azul, como qualquer outro descendente dos Originais. Você é nobre e pura, Karolin você tem o poder de cura. E tendo sangue dourado, você só precisa que ele esteja vivo para curá-lo.

As sobrancelhas de Karolin levantaram levemente, ela não sabia o que fazer, as mãos ainda no ferimento...

Fez a única coisa que achava que pudesse funcionar: Concentrou-se.

Fechou os olhos e imaginou-se curando Brandon, tocando no ferimento, penetrando em cada fibra, nervo, carne. Sentindo seus músculos unindo-se novamente e, finalmente, fazendo o ferimento fechar.

Estava tão concentrada que não percebeu se de fato conseguira ou se tudo era fruto de sua imaginação.

- Funcionou! Karolin, abra os olhos. Fora o sangue, não há ferimento.

Karolin abriu os olhos e constatou que Alicia tinha razão, Brandon ainda estava desacordado mas respirava uniformemente e não havia ferimento. Seu coração encheu-se de alívio, ele estava vivo e o resto era isso, resto.

Ela, porém, não poderia estar mais errada, teve sua atenção chamada para porta onde estavam Eddy e Trent:

- Ela é capaz de curar Lancien também? - Eddy perguntou para Trent, fazendo com que cada pelo de seu corpo eriçassem.

Com o corpo e a voz tremendo, ela perguntou:

- Como assim, curar Lancien? Ele está ferido? Foi junto?

Levantou-se de súbito, deixando o amado nas mãos da irmã. Já temendo o que poderia ter acontecido com o rapaz, caminhou até Trent e Eddy.

- Onde ele está? Eu vou ajudá-lo.

Trent a olhou com pesar: Luto. Não, não era verdade, não podia ser. Talvez tivesse interpretado errado a expressão do prometido.

- Ele está morto. Sinto muito, ele chegou em um estado deplorável. Florencie fez tudo o que estava em seu alcance, infelizmente o dano foi irreparável.

Não. A mente de Karolin gritava, ela não poderia perder ninguém. Ela nunca iria se perdoar se por uma segunda vez, Lancien tivesse morrido para salvá-la.

- Cadê ele? Me deixe tentar Trent, por favor, me deixe... Só tentar! Vou pensar em algo. - Karolin gritava, já saindo porta afora.

Trent segurou a amada na cintura. - Karolin, olha para mim, por favor. Eu te amo, você é tudo que tenho de mais sagrado. Eu sei, eu sinto o quanto está sofrendo eu senti o quanto foi machucada; eu não quero que se machuque mais, a alma dele serviu de alimento por muito tempo, ele já estava em sofrimento eterno... Nós tivemos que...

- Vocês o mataram? - Karolin perguntou, em sua expressão um misto de desespero e incredulidade. Trent ficou quieto e ela elevou um pouco o tom de voz. - ME RESPONDA: VOCÊS O MATARAM?

- Karolin, foi o único jeito. Você preferia que ele vivesse só de corpo presente?

Karolin entendia, mas estava com dificuldade em aceitar. Respirava fundo, tentava encaixar o que ouvira, o que vira. Na verdade, suas emoções estavam uma bagunça.

- Me deixe vê-lo por favor, deixe me despedir dele!

Ela não iria desistir, já não era mais apaixonada por Lan, mas o amava. Com cada célula de seu ser, ela o amava. Ela precisava tentar, afinal Brandon também estava praticamente moribundo quando ela o curou, não? Se houvesse a menor chance de aquilo dar certo com Lan também, ela tentaria.

Trent a puxou para seu peito e abraçou-a, beijando seus cabelos, ele disse telepaticamente: "Ala 7, quer que eu vá junto?"

Balançando a cabeça em negativa, ela se dirigiu até onde o ex namorado se encontrava, encontrou-o deitado na cama, uma expressão de sofrimento. O coração de Karolin se partiu, o corpo já cinza do rapaz se destacando.

Andando apressada ela foi até a cama.

- Eu vou te salvar, eu vou. - Ainda tremendo, ela passou as mãos pelos cabelos de Lancien, o rosto. Karolin beijou a testa gélida do ex-namorado e as lágrimas desceram, molhando suas bochechas.

Colocou a mão no ferimento de Lancien, como fez com Brandon, tentou imaginar o ferimento fechando-se, seguindo o que fizera com o bruxo, mas, desta vez, nada aconteceu. Sua mente permaneceu em branco, como se fosse impossível imaginar.

Impossível curá-lo.

A dor descomunal que aquilo causou a destroçou, Karolin soluçava segurando a mão dele.

- Fica comigo por favor, eu vou ser uma amiga melhor. Não me deixa. - Karolin conversava com o corpo sem vida na cama, relutante em acreditar que fosse o fim. - Me perdoa por favor. Lancien, eu te amo.

Por alguns minutos ela só o acariciou, um filme de lembranças juntos passando em sua mente: a primeira vez que se viram; o primeiro "Eu te Amo"; os beijos; como ele a protegia.

Video dessas memórias:

Naquele momento o coração dela sangrou, porque sabia que por ser um assassino, ele não iria ao Sol e sim para o "Buraco Negro".

Sentiu Trent se aproximar e abraçá-la, mas a cabeça não registrava muita coisa, ela só conseguia sentir.

Sentia dor, tristeza, remorso; mas, principalmente, amor. Amor por aquele que tanto a cuidou, tanto protegeu. Amor por aquele que por anos foi seu porto seguro, por aquele que a fez mulher pela primeira vez.

Ela gritou, como se isso fosse capaz de tirar toda a dor que carregava no peito. Não era.

Vendo a noiva tão desolada, Trent não sabia o que fazer, mas tirou-a dali pois continuar vendo o corpo do ex-namorado só iria servir para machucá-la mais.

- Trent, ele vai para o exílio? - Karolin conseguiu perguntar com a voz embargada do choro, já do lado de fora, ao que o rapaz apenas assentiu. - Você, como Arcanjo, não pode pedir para o Senhor deixá-lo viver no Sol?

- Eu já tentei, pedido negado.

Karolin voltou a chorar, parecia que o fio de esperança, a última possibilidade de ter o amigo de volta lhe fora tirado e aquilo doía mais do que qualquer coisa, mais do que qualquer dor física. E a dor era tanta que ela teve de se abaixar, ajoelhar-se, não sentia forças para manter-se de pé.

Desejou nunca ter entrado na vida dele, porque se assim o fosse, ele estaria vivo. Seria o Rei das Fadas, ela fora sua ruína e o sentimento de culpa misturado à dor de perder alguém tão importante era desolador, insuportável.

Como olharia no rosto dos pais dele? De Alicia?

Sabe porque mandei implantar aquele sonho em você? Porque é o que acontece. Você vai matar a todos em seu redor. Seu sangue é Eminangel, sua crueldade está no sangue.

O Senhor das Trevas tinha razão. Ela era uma assassina. Se não fosse por ela... Meu Deus, se não fosse por ela o mundo seria tão melhor.

- Trent eu não consigo, eu não aguento mais... Eu estou quebrada e acho que não consigo seguir em frente. Trent... Eu...

- Shhh... Vai ficar tudo bem, eu estou aqui. Eu estou aqui com você. - Trent passou os dedos sob a bochecha da noiva em um gesto carinhoso, o toque dele a deixava dentro dos eixos, como se ele fosse a paz que o coração dela precisasse. Ali, naquele momento, ela desejou amar Trent como amava Brandon.

As coisas seriam tão mais fáceis, tão simples. Mas não era por Trent que o coração dela batia mais forte, não era no anjo que ela pensava sempre que ia dormir e sempre que acordava e, principalmente, não foi o noivo que ela desejou ver cada maldito dia enquanto estava presa.

Foi em Brandon, o mesmo Brandon que é completamente apaixonado por Sarah.

A mesma Sarah que ela sabia muito bem estar com ele naquele momento...

- Posso ficar na sua casa por hoje? Não sei se vou aguentar vê-los juntos. - Não depois de tudo o que passou, Karolin estava vivendo seu inferno pessoal.

Trent assentiu, olhando-a profundamente e suspirando alto. - Você sabe que seu desejo foi concedido, certo?

- Sim, eu sei. - Karolin respondeu seca e começou andar, torcendo para que o companheiro entendesse que não queria prolongar o assunto.

- E como vai fazer? Ela vai voltar, Karolin. Corpo e Alma. você vai suportar vê-lo ao redor dela?

- Eu não sei, Trent... Bem... Você aguenta me ver ao redor dele. Eu vou conseguir também.

Karolin apressou o passo, Será possível que ele não percebia que ela não queria falar naquilo?

- É diferente. Eu não sou irracional como você, nós fomos criados de formas diferentes. Você sente amor como humanos. Eu quero estar com você, mais que qualquer coisa. Mas me satisfaço sabendo que você está feliz. - Trent disse acompanhando facilmente o caminhar da garota.

Karolin deu uma risada amarga, parando na frente da casa de Eddy e vendo uma morena de pele alva sair pela porta, Sarah provavelmente. O Sol fazia bem para ela, o coração de Karolin se apertou.

Será que se beijaram? Será que ela contou que em breve estarão juntos na Terra? O coração da garota apertou mais uma vez, desviou o olhar para a calçada porque se o perdesse, não conseguiria seguir em frente. Depois de ser torturada, quase perder seu amor para a morte e perder alguém tão querido, tudo o que ela mais precisava era de um porto seguro.

Sabia que precisaria de alguém para segurá-la, não queria se tornar a alma negra que o Senhor das Trevas afirmou que ela tinha.

Olhou mais uma vez para a garota sorridente indo em direção à escola de Elementares, ela iria perdê-lo. Não tinha um milésimo da beleza de Sarah.

- Você me ama; eu amo o Brandon; Brandon ama a Sarah. E, a julgar por esse sorriso, ela ainda é completamente louca por ele.

Dessa vez quem riu foi o Arcanjo, mas com humor, o som de sua risada era gostosa.

- Só tem uma coisa errada na sua equação, querida. - Karolin o olhou interrogativa. - Brandon te ama como um doente, e eu sei o que digo, não esqueça que meu dom é sentir as emoções das pessoas.

- Não... Eu... Ele...

Trent a interrompeu saindo de seu lado e indo para sua frente, olhando-a nos olhos ele colocou uma mecha solta atrás da orelha:

- Você tem que parar de se diminuir. Você é tão linda, tão doce, tão frágil... Que é impossível não se apaixonar por você. Eu te amo, Brandon te ama, Lancien te amava e pelo amor de Deus, até Eddy já te amou um dia...

Karolin arregalou os olhos, prestes a contestar mas não conseguiu nem ao menos completar a linha de raciocínio já que a porta bateu com força.

Brandon...

Olhando para o lado, avistou um Brandon saudável, porém, com uma expressão matadora no rosto.

Automaticamente, ela se afastou do toque do Arcanjo, o que fez com que Brandon trincasse mais o dente.

- Será que podemos conversar? - Brandon disse entre dentes.

- Claro, Trent te vejo mais tarde, tudo bem?

Mal viu o loiro assentir antes de começar a seguir o bruxo para dentro da casa. Acompanhou-o até o quarto de Edimundo, que era onde ele estava descansando.

Brandon certificou-se de ter a porta fechada, vê-la ao redor do rapaz o deixava maluco. Eles pareciam se encaixar juntos e aquilo incomodava a fera do ciúme que se apossava do bruxo. Virou-se para encarar a mocinha, queria abraça-la, beija-la. Sentir que ela estava ali, viva.

Mas ver as asas o desconcertava, ainda não acreditava que ela havia mentido para eles, para ele.

- Você é uma Elementar... Pretendia me contar isso um dia ou levaria o segredo para o resto das nossas vidas?

- Eu... Brandon, você tem que entender... - Ela disse se aproximando dele, querendo colocar as mãos em seus ombros para transmitir calma, no entanto, ele fugiu de seu toque.

- Entender? Você achou que eu faria o quê? - Karolin pensou em responder, mas sabia que aquela era uma pergunta retórica, então apenas ficou calada. - Que eu iria expô-la? Te entregaria aos humanos dizendo: "Olha esse aqui é um ser divino, façam suas experiências?" - Brandon andava de um lado para o outro em um gesto nervoso. - Porra, quantas oportunidades você teve para me contar, não é?

- Brandon, não é bem assim...

O rapaz ignorou-a, precisava falar, precisava por para fora o que estava sentindo, aquilo estava sufocando-o.

- Mas não... Muito pelo contrário, você entrou na minha mente e brincou com ela. - Karolin pensou em fazer uma gracinha do tipo "O feitiço virou contra o feiticeiro", mas resolveu por bem, ficar quieta. Ele parou de andar e olhou-a. - Eu perguntei diretamente para você. Você é tão dissimulada, que olhou nos meus olhos e mentiu. Eu odeio isso, odeio gente mentirosa.

Karolin levantou as sobrancelhas. - Ah, mas aí você está sendo bem hipócrita, não? Estamos mentindo para seus pais sobre nós há 4 meses, Querido.

Brandon trincou os dentes. - É, você têm razão, nós somos uma mentira.

Ouvir ele dizendo aquilo foi como um soco no estômago, ou melhor, um choque de realidade.

Ele viu Sarah hoje e, provavelmente, percebeu que ainda a ama, por isso está me dispensando.

Com esse pensamento, Karolin deixou o quarto, por um segundo se perguntou se ainda estava no inferno e aquela era mais uma das torturas do Senhor das Trevas, torcia muito para que sim.

Crédito Revisão Ortográfica: AAMORPELASLETRAS30

Crédito Mini video e Banner de capitulo animado: CarolDutra6

Ambos são brindes fornecidos pelo projeto de troca de leituras ProjetoMDT

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