1º CAPÍTULO
*2006*
- Ely! Ely! Acho que o telefone está a tocar! - gritou a Kylie.
A Kylie era uma prima minha que vivia na América do Norte. Para além de prima, era minha melhor amiga. Eu conheci a Kylie no meu 4º aniversário, em que os meus tios decidiram vir fazer uma visita a Inglaterra. Via-mos-nos, pelo menos, 6 vezes por ano, mas a distância nunca estragou a nossa amizade.
- Eu vou atender! - gritei.
Desci as enormes escadas do casarão dos meus tios.
- Estou? - exclamei eu, ao atender o telefone.
- Ely, querida, veste qualquer coisa e pede à tua prima para fazer o mesmo. Temos de sair de casa, é urgente. - dizia o meu tio com uma voz muito nervosa.
Atrás da voz do meu tio ouvia-se um choro. Um choro familiar.
- Está bem, está bem. Mas o que é que se passou? Está tudo bem?
- Despacha-te Eleanor! - exclamou ele, ainda mais nervoso, desligando em seguida a chamada.
A pedido do meu tio, eu e a minha prima vestimos alguma coisa para podermos ir à rua e, passado cerca de 15 minutos, ouvimos o som da campainha.
-x-
- Pai! O que é que aconteceu? - perguntou a Ky, com uma mistura de curiosidade e nervosismo.
- Venham meninas, temos de ir depressa!
Ao entrar no carro notei que a minha tia estava a limpar algumas lágrimas que lhe caiam pelo rosto.
- Mãe, estás bem? Magoaste-te? - perguntou a Ky.
- Não filha, eu estou bem.
- Então o que se passa? - perguntei.
- Oh querida... - gaguejou a minha tia, não conseguindo terminar a frase e caindo num choro enorme.
Que algo grave se passava eu já tinha reparado, mas não quis pôr a minha tia mais nervosa, então desisti de tentar saber para onde estávamos a ir em grande velocidade.
-x-
"Hospital?" pensei eu "Então mas se não está ninguém magoado porque é que aqui estamos?".
Nunca gostei de hospitais. Fazia-me lembrar do meu pequeno irmãozinho que, com apenas 2 anos, morreu atropelado. Como ele ainda era bastante pequeno, eu ainda não era muito apegada a ele, mas foi uma perda que abalou bastante os meus pais, principalmente a minha mãe.
- Eles estão bem? - perguntou a minha tia a um médico que se estava a dirigir a nós.
- Infelizmente, não conseguiríamos fazer nada ao senhor Carter, mal chegou ao hospital faleceu. Lamento.
- O meu pai morreu? - perguntei, confusa, não conseguindo não derramar uma lágrima.
- Lamento querida. - disse-me o médico, fazendo-me uma pequena festinha na cabeça para ver se me animava.
Mas nada me conseguia animar naquele momento.
- E ela? - perguntou a minha tia, enquanto uma lágrima que corria pelo rosto.
- Ainda não podemos saber se a senhora Cárter está bem, mas estamos a fazer o máximo dos possíveis para salvar a senhora Carter.
Não contive o choro e desatei a berrar no meio do hospital.
-x-
- Tia, afinal o que se passou? - perguntei eu, ainda com várias lágrimas a correrem-me pela face.
- Oh querida... a tua mãe estava a vir ter connosco ao nosso escritório e estávamos a planear ir ao Tristan's. - Tristan's era como se fosse o "nosso" restaurante. Sempre que eu e os meus pais vínhamos visitar os meus tios maternos, fazíamos lá um grande jantar de churrasco. Para além da comida ser deliciosamente boa, alguns dos empregados eram grandes amigos do meu pai e do meu tio. - A tua mãe estava mesmo ansiosa, como no ano passado ela não pude ir pois tinha aquela entrevista de emprego lá em Inglaterra, ela queria mesmo muito ir! Pelo que os médicos disseram os teus pais sofreram um acidente de carro... Um carro... Foi contra o carro dos teus pais e... O teu pai foi completamente esmagado pelo carro que vinha a alta velocidade e... a tua mãe...
- Calma tia... - tentava eu consola-la - Vai tudo ficar bem com a mãe!
Ao dizer aquelas palavra não consegui, novamente, conter o choro.
O meu pai sempre foi um bom homem. Obviamente que eu estava bastante triste pelo seu falecimento. Mas a minha mãe... a minha mãe eu não sabia mesmo o que dizer... Eu e a minha mãe tínhamos uma relação bastante forte pois, como o meu pai andava sempre em viagens de negócios, a minha pobre mãe tinha de fazer papel de mãe e pai ao mesmo tempo. Eu não saberia mesmo o que iria fazer sem ela na minha vida.
Várias horas se passaram e recebemos a notícia que a minha mãe não teria conseguido sobreviver... Nem pude me despedir.
-x-
Vários meses se passaram e eu tinha ficado alojada na casa dos meus tios, enquanto o tribunal decidia se eu ficaria com os meus avós em Inglaterra ou no Canadá com os meus tios. Para ser sincera, por mais que eu gostasse da minha prima e gostasse do Canadá, eu não trocaria a minha querida Inglaterra por nada. Era lá que tinha maior parte da minha família, os meus amigos, a minha casa, a minha vida... Mas era quase como se a minha opinião não contasse, por isso, fui obrigada a viver com os meus tios. Não é que eu não quisesse viver com eles, simplesmente não gostava da ideia de ter de mudar de país... de vida.
*TEMPO PRESENTE*
Dois anos se passaram desde que eu me mudei para casa dos meus tios... tinha eu naquela altura apenas 13 anos de idade. Era dia 6 de agosto, ainda me lembro daquela noite em que, finalmente, descobri o grande segredo dos meus tios. Para ser sincera, nunca pensei que eles fossem capazes de fazer aquilo que faziam. Mas agora... Agora via aquela noite como o começo da minha vida. Da vida que, sem mesmo saber, eu sempre quis.
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