INDO PARA O ROCK

  Eu costumava acreditar que existiam dois tipos de mulheres; as que querem, e aquelas as quais fingiam não querer. Mas, "um babaca não nasce, ele é criado".

  Eu me imaginava com todas as mulheres que passassem pela calçada avermelhada em frente a algumas arvores e pingos de ouro, os quais me separavam da única coisa que um jovem como eu, poderia fazer – cozinhar. Acredito ter passado a minha vida em frente a fogões e fornos acesos. – O "jovem como eu", pode significar esquisito.

  Todas aquelas diferentes mulheres... Haviam as mulheres brancas; gostava do rosado em suas bochechas após uma corrida. Haviam, também, as negras; o que mais me tentava, além de seus tons e tamanhos, eram a sua capacidade de ser mais forte, e o seu jeito quente de olhar. Quando jovem, imaginava as diversas formas que poderiam provocar um homem. Quando mais velho, passei a me questionar se as formas passavam do estereotipo "perfeito" – você, mulher, deve saber a qual me refiro. Foi quando passei a enxergar a diferença entre mulheres e desejos.

  Separei em dois lados; aquelas as quais, eu estereotipava "mulheres para uma noite", e as quais, intitulava "apenas para casar". As quais eu apenas desejava, imaginava uma vida infeliz, as outas me trariam filhos. – Como meu pai dizia "use-as, case-se e trai-as". Seus modelos de mulheres eram bem mais elaborados dos que os meus. Eu costumava fugir com a minha mãe para entender o porquê meu pai não a amava como eu. Ela era linda e lhe trouxera um filho; a função de uma mulher...

  Graças a minha mãe não me tornei o homem que meu pai fora – na verdade, acredito que apenas a escutava pelo fato de odiar quando papai a diminuía e gritava com ela, pondo aqueles dedos enormes na direção de seu rosto. As vezes ele a empurrava, mas lhe faltava frieza para olhar em seus olhos e continuar a feri-la. A cada briga, mamãe me abraçava e dizia "sua mulher será o que você merecer, mas nunca acredite que seu direito é colocar suas mãos nela". Contudo, a influência de meu pai, permaneceu em mim até que a pessoa da qual minha mãe falava, apareceu e mudou tudo.

  — É noite de rock, aonde pensa que vai? — dissera eu em um tom engomadinho.

  —  Como assim? Estou indo pra casa daquela gata que conheci... hoje de manhã? – disse Carlinhos com a boca cheia de pasta de dente.

  Carlinhos era apenas um dos meus amigos idiotas e imbecis. Um moleque magro de 19 anos com um topete ridículo, o qual, definitivamente, não se parecia com o do Elvis.

  — Tem razão... se pensas o mesmo que eu. Carlinhos era o famoso padrão masculino. Cheios de tendências, mas de pouca ambição.

  — Qual é mesmo o nome dela? – disse, derrubando a escova no chão e denunciando raiva com expressões faciais e palavras — quem é que se importa, não é?!

  A loira que tocava a campainha da nossa casa de solteiros se chamava Tatiane. Ela era realmente muito bonita, mas eu odiava aqueles retoques que ela fazia. Carlinhos a conhecera no meu trabalho. Foi onde o conheci também.

  Tatiane era muito simpática, e apareceu na minha vida à uns dois anos atrás, em tempo de trocar o cabelo uma vez por mês, seguindo o seu membro favorito da sua banda favorita de rock. Em outras palavras, éramos emos. O que não fazia sentido, considerando que emo tem mais sentido quando se trata de hardcore. Ela sempre soube da minha maneira de pensar a respeito das mulheres, mas tinha algo diferente nela. A peculiaridade dela, era ter uma habilidade real de reconhecer o mal. Dizia ela que podia ver por entre as pessoas. Mas, acreditar em uma mulher, também era uma coisa que eu não fazia.

  E se Tatiane pudesse ver as pessoas, como ela sabia que Carlinhos não era um babaca? No dia em que questionei isso, Tatiane me respondera "o seu menino é babaca porque é virgem" — Carlinhos, virgem? Será que nosso pessoal sabia disso? – Eu tinha uma arma. Conhecendo Carlinhos, saberia a exata hora de usar. — O vespeiro está pegando fogo, Carlinhos, e eu sou a fumaça.

  Eu não achava a menor graça nisso. Primeiro; porquê, ser virgem na idade dele deve ser uma merda. E, segundo; porque ele teria uma vida muito ferrada se as pessoas descobrissem. Para as mulheres então, era um prato cheio pra foder com homens. Mas, tentando entendê-lo, compreendo o seu ódio por elas, com certeza outras sabiam, não só que ele era virgem, como seus motivos para o feito extraordinário. Misoginia compartilhada... O significado disso, talvez, seja por influência de uma mulher. Pelo o ocorrido, o riso dela. – A cada ego masculino tinha uma frase escrita "NÃO RIAM". Eu me pego tentando lembrar de meu pai ensinando-me isso.

  A história do menino puro acabou quando ele tocou em minha namorada afirmando que ela queria, ousada, a mesma o fez passar a maior humilhação de um homem. Roberta tirou gargalhadas de diversas mulheres e homens, em uma festa no Sul da cidade. O menino puro nunca mais foi o gostosão que fodia com todas. Nunca mais foi o "palzudo" que todas gostavam...

  Depois de tocar a campainha por uns dois minutos, Carlinhos atendeu a porta e pediu pra que ela entrasse. Com seu modo peculiar ela se jogou na cama onde eu me deitava e começou um assunto a respeito do teto que admirávamos perdidos. Com seu jeito doce e louco ansioso, ela ajeitou-se sentada e me questionou sobre o dia do rock:

  — Hoje é dia de rock, por que você não está arrumado? Você vai deixar a minha amiga te esperando? Ela pode ser a única mulher no mundo que queira um cozinheiro...

  Tatiane deu um breve rolada de curtição sobre a cama, esperneando sua felicidade por tirar onda com a minha cara...

  — Mas que amiga, do que é que você está falando? Pensei que íamos, até sem você — disse afastando as mãos que usava para apoiar o rosto.

  — Daquela menina de franja que estava comigo quando você fez aquele bolo por encomenda pra mim... Falando em bolo, pode anotar ai que eu quero outro pra segunda-feira. Eu não sei como você faz o lance das nozes, mas eu quero aquilo de novo. Isso ficou esquisito?

  — Foi meio atirada, mas não se preocupe, você não é uma mulher pra casar...

  Tatiane me olhara com uma expressão meio irritada, meio sentida.

  — Você é uma mulher que eu respeito...

  — Essa doeu. Mas eu sei que você não é assim, então... vou tentar não te odiar. E eu soube que você disse isso pra Daniela logo após transar com ela.

  — O que queria que eu fizesse? Ligasse pra ela? Sua amiga é muito mimada, não existem homens apaixonados...

  — Homens apaixonado é o que mais tem nessa droga de mundo. O que realmente não tem nesse mundo, é um homem bonito, rico e que saiba amar... – disse Tatiane, procurando adjetivos para acrescentar em seu homem perfeito — e que tenha uma vantagem do que os demais por trás das calças...

  — Por favor, Tati, nunca mais repita sobre o homem que você deseja...

  Em um breve momento com os olhos vagando no "nada" da realidade, Tatiane volta de seu desejo sombrio e me questiona novamente o motivo de ainda não estar arrumado.

  — Você falou que era a menina de franja, não está falando daquela menina meio gospel ...

  — Você nunca fora preconceituoso para com as religiosas, Jorge... – disse Carlinhos em um tom de "sabe tudo".

  — E você nunca fora intelectual – respondi com raiva.

  Depois de trocarmos olhares de ódio, reparamos por alguns instantes na peculiaridade de Tatiane olhando pela janela.

 Já arrumado, chamava a atenção dos dois para que se apressassem...

  — Se apressar para que? – perguntou Carlinhos.

  — para a noite do rock – disse Tatiane enquanto me olhava rindo.

  Parecia que a noite com a "gata" tinha se acabado. 

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