ESSA É A MINHA MÚSICA
— Com vocês, Jorge! — exclamou o barbudo dono do bar.
Eu costumava escrever canções, mas não esperava que as pessoas gostassem das mesmas. Também nunca me interessou tocar parar as pessoas, a não ser que tivesse algum interesse em algo que gostava de cantores, foi assim que comecei a tocar no bar.
Antes de tudo isso, eu queria saber se eu era "viado". Pois não importava o quanto a mulher fosse melhor que a outra, eu não me interessava por ela depois. O rapaz com quem tentei sentir algo, saiu do bar como alguém sai do altar depois de ser abandonado pelo companheiro. Os toques dele não me resultaram em nada. Mas de uma coisa eu sabia, aquilo, certamente, não era para mim. - O nosso encontro aconteceu nesse bar.
Meses se passaram depois que conheci este bar, foi aí que depois de horas embriagado eu peguei uma guitarra do palco, nas passadas 4:00 horas da manhã. Comecei a desferir as cordas levemente para sentir em meus dedos cada detalhe daquelas formas. O som precisava ser afinado, e as cordas pareciam mais duras, diferente da guitarra que eu costumava usar. Depois do sustenido menor de Fá, comecei a soltar o emaranhado de minha voz. A voz seca e grossa, presa e arrastada como a de um velho cansado. A bebida nunca agradava os tons suaves que a minha voz alcançava, pois agudos são pouco deprimentes, e toda bebida era entornada por magoa.
Na minha primeira experiência em cantar no bar, toquei uma música que gostava de tocar só para mim. Eu havia escrito ela para sentar na frente de casa e fingir que fumava cigarro. As pessoas se interessavam mais por aqueles que não pareciam se importar com o futuro. Mas não era um hábito meu. Não depois de anos desgostando da cara de meu pai, sentado na poltrona ridícula e desconfortável, que somente famílias ricas poderiam ter. — Agradeçam pelo luxo que vocês tem, outras famílias não tem a capacidade de trabalhar para comprar a vida que vocês tem – dizia o velho necessitado. Acredito que éramos a família rica que não era feliz com o dinheiro. – Pai, se você pode me escutar, nós éramos ricos?
"Nome", foi o nome pouco criativo da letra. Pra tocar no bar, montei um arranjo para a letra em inglês, o que chamei de "An Name". No bar era muito comum as bandas tocarem covers americanos. Vez, ou outra, aparecia alguém como eu, compositor, mas estes tinham um sonho. Saiam com um cachê, e quem sabe com o reconhecimento do público. Mas nenhum dos que passaram pelo bar fora tão reconhecido quanto meu nome. Minha música estava no "Hall da Fama" — estava mais para o hall da drama. E não é para isso que serve um ambiente fedido, cozinhando os corações partidos e desalinhando a estrutura mental para que, por pelo menos duas horas seu cérebro esqueça o significado da vida, o que entendemos como dor.
— ... com a música "An Name" ... – continuava o dono barbudo.
A recepção calorosa dos aplausos me deixava animado até o momento em que minha voz se tragou após um sorriso. Uma sensação esquisita e tediosa se sobressaltava em meu corpo e voz. O que era pra ser algo emocionante se transformou em um desastre. Mas eu nem havia percebido até que as bebidas fossem arremessadas em minha direção. Ensopado, fedendo a álcool, perdi de vista aquela mulher incrível. O som de tudo desaparecia mesmo quando meus dedos esticavam as cordas sem nenhuma estrutura de ensino. Apenas um barulho ensurdecedor me estapeava pra fora daquela sensação, os malditos gritos, seguidos pelos desagradáveis tapas de Tatiane. Quando enfim minha atenção voltava pra ela, Tatiane apenas sussurrou no meu ouvido – cante pra ela. Era como ascender o fogão pra um receita de tapioca. — quem gosta de tapioca pode vir a entender, mas nunca entendi esse ditado, apenas me ensinaram.
— Essa canção me emociona pelo simples motivo de se desabrochar em palavras. Ela é como abrir uma flor e apropriar-se de seu perfume doce, mas existe uma acidez, e essa acidez é o que a torna especial. E para noites especiais e pessoas especiais como a moça de franja com o casaco de couro vermelho escondida atrás da parede da recepção, eu canto essa noite, apenas no acústico.
Todos aplaudiram novamente. Mas, desta vez não havia barulho de vozes, diminuíram a capacidade das luzes... E aquele momento foi tão desprovido de realidade que, eu não via pessoas; diferentes cabelos, diferentes cores e estilos, tão pouco as formas como agiam diante das pessoas. Os tons pairavam ao redor deles como uma sombra, e ela os desencapava — "tire a casca da fruta para comê-la". Por um breve momento me senti fora daqui. Nem a mulher que me fora a grande atração da noite — por ser o espetáculo — já caminhava pelos meus pensamentos como antes. Era como enxergar a ferida, e, enfim, saber que doeu. Essa era a diferença entre o real e o simbolismo daquela lembrança.
— Oi... — comecei o assunto. Logo fora interrompido pela moça de franja.
— Sim... Eu vi você lá em cima. São 3 degraus com uma espessura de 15 centímetros cada? ...
Tentei tornar a falar no silencio de seus pensamentos. Mas ela estava entre aqueles pensamentos que não podem ser interrompidos. Era um bom truque para me manter entediado e confuso. Teoricamente, a mulher me dava ali, os cotonetes e a pasta de dentes para que deixasse no meu banheiro, e a escova de cabelo com o seu sabonete para o dela. Em poucas palavras foi um "cai fora, mané", o que se difere de um "não", pois o "não" desajusta as pessoas.
— ... Você não estava tão "alto" assim. Na verdade, era o que eu procurava, alguém que entendesse como pensar e viver. Quero alguém que não precise se mostrar pra ser quem é.
— Você está me flertando? E se estiver, como tem tanta certeza de que serão dois copos na pia, assim como seriam duas escovas e dois travesseiros separados na mesma cama?
A moça deu uma bela entornada no whisky que pedira. Era mais um detalhe que a fazia especial. Roberta era uma mulher sem rótulos, o que a diferenciava das mulheres que queriam ser "mulheres" e as mulheres que queriam ser livres e apreciar a vida. Em meus pensamentos, um relacionamento não a traria liberdade. Mas, futuramente viria a aprender que união era um tipo de liberdade.
Depois da golada final de Roberta, meus olhos estalados procuravam por Tatiane, surpresos.
— Na verdade, diminui a sua pessoa para que alguém como eu pudesse viver em seu mundo... — tornou Roberta a falar.
— Alguém como você? — perguntei em tom lisonjeado.
— Sim... Sou melhor do que qualquer coisa com que tenha esbarrado na sua existência. E, isso já responde a sua pergunta anterior, a qual deixei como resposta final para que soubesse que ai dentro só vai ter espaço para esse mulherão aqui.
Roberta falava com tantas certezas que trazia a sensação de já ter tudo. Eu já vi truques e flertes bem de perto, mas não acreditava em como mergulhava nessa ideia, mesmo sabendo que já estava submerso em suas palavras.
Dançamos e bebemos. Tudo parecia ter sepassado em menos de 15 minutos. Agora eram roupas arremessadas e arranhões.Colo e empurrões. Os travesseiros e cobertas acompanhavam nossos movimentos, amassavamcom a força e o peso. Com ela no poder, foi este homem aqui, quem acordou doavesso. Roberta deu um pulo da cama, e por um breve momento ela fez parecer quetudo fora um erro. Houve a batida de duas portas, do quarto e da sala por ondeela saiu. Foi com o eco das portas que eu soube que era atrás dessa mulher queeu correria.
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