Capítulo Único
Ela estava andado pela sua casa, sabia que estava sozinha e não se preocupava em parecer uma louca caminhando de um lado para o outro. Ela não o estava fazendo apenas preencher os espaços vazios na casa, apesar de não gostar de ficar sozinha. E ironicamente, na realidade, odiava estar perto das pessoas; não pelas pessoas em si, muito pelo contrário, detestava tanto a si própria que era insuportável imaginar o quão forçoso era seu encaixe em sociedade.
Finalmente achou o que tanto queria, passou cerca de meia hora procurando pela maldita caixinha e ela estava no lugar de sempre, no chão do quarto de sua tia, sob a tábua de passar roupa. Pegou-a e correu pelo micro-corredor que conecta os principais cômodos da casa, como a cozinha por exemplo, que é o exato local para qual estava se deslocando.
Chegando lá ela apenas põe a caixa na mesa, deixando-a momentaneamente de lado. Pega então uma caneca no armário, tendo que ficar na ponta dos pés durante o processo, e segue em direção à geladeira, abrindo o freezer e retirando alguns cubos de gelo, os colocando na caneca. Pôs a caneca sobre a mesa e, após certificar-se de que todas as portas da casa estavam trancadas, ela se sentou à mesa, de frente para tudo o que tinha pego.
Levou um susto quando escutou seu celular apitar, havia recebido uma mensagem. O pegou e desbloqueou, vendo que era apenas a operadora com suas habituais propagandas de seus incontáveis pacotes. Desligou o aparelho e dirigiu a atenção novamente aos itens que havia apanhado.
Ela tocou na caixa, deslizou sua mão sobre a tampa e, quando alcançou o fecho desta, abriu-a rapidamente, como fazia quando tinha que remover os curativos que cobriam seus ainda dolorosos machucados. Retirou de lá um rolo fino de linha branca, juntamente com uma agulha de upholstery que já estava enganchada no rolo. Ela retirou a agulha do rolo, separando em seguida a ponta da linha, pondo-a na língua para umedecer e, depois de frustrantes tentativas falhas, conseguiu atravessar a bunda da agulha com a linha.
Naquele momento, naquele exato momento, seus olhos se encheram de lágrimas. Ela queria alguém ao seu lado, qualquer pessoa que fosse, mas ela sabia que estava sozinha em sua casa, no mundo, em sua vida. E nem com mil pessoas ao redor de si, nem mesmo com um milhão, ela estaria menos só.
Suas lágrimas rolaram e cairam sobre a mesa; com a cabeça levemente inclinada para baixo e próxima do móvel ela se xingou, amaldiçoou, e depois gritou, gritou à plenos pulmões em um urro de dor e ódio. Ela levou as mãos aos olhos e os tapou, estancando a água, encerrando o choro. Respirou fundo e voltou ao que fazia; pegou a caneca e retirou de lá um dos cubos de gelo, tendo um pequeno choque térmico nos dedos. Levou o cubo em direção aos lábios, alisando-os diretamente com a água congelada, sentindo ambos os lábios ficarem trêmulos, doloridos, frios demais. O gelo derreteu e ela pegou outro, repetindo o processo até não sobrar um único cubo no copo.
A região externa de sua boca estava completamente dormente e, após tomar fôlego com uma profunda inspiração nasal, ela pegou novamente a agulha. Seus olhos, apesar de cheios d'água, não transbordaram naquele instante. Ela levou a agulha até seu lábio inferior, posicionando o metal finíssimo neste e, sem pensar duas vezes, atravessou-o rapidamente e com força. Seu grunhido foi mais que audível, acompanhado de soluços e um choro pesaroso. Mas isso não impediu que prosseguisse.
Suas mãos e boca estavam sujas de sangue, a linha havia perdido seu branco para o vermelho escarlate como rosas que foram pintadas. O sangue escorria belamente, contornando o queixo pálido e o pescoço como em uma magnífica dança mórbida com movimentos suaves e contraste entre as cores.
Tudo estava feito e, a conclusão foi, estava mais que perfeito.
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