PRÓLOGO

A noite anterior era um borrão na mente de Marjori.

Ela sabia que tinha ido a alguma festa da faculdade, beijado muitas bocas e, acima de tudo, bebido mais do que deveria. No entanto, não conseguia se lembrar de como o sangue havia manchado sua roupa ou de como os hematomas apareceram em suas costelas.

De pé, no banheiro do pequeno apartamento, ela encarava o espelho com olhos vidrados, procurando respostas na mente fragmentada. Seus cabelos negros estavam oleosos e desgrenhados, mais um reflexo do caos que sentia por dentro.

Ligou o chuveiro, desejando que a água quente apagasse as marcas da noite passada. Foi quando notou algo incomum: um nome estava escrito em sua coxa esquerda.

"Jão."

*******

Taiko abriu os olhos e precisou de um momento para entender onde estava. Deitado de bruços no corredor, diante da porta do seu apartamento, ainda vestia o uniforme azul da enfermagem.

Com uma ressaca latejando em sua cabeça, ele se levantou devagar, coçando a nuca e passando os dedos pelos cachos negros e desgrenhados, tingidos de um loiro que começava a desbotar. As roupas estavam rígidas, endurecidas por algo que ele não teve energia para inspecionar.

Cambaleou para dentro do apartamento. A geladeira quase vazia não oferecia nada além de promessas quebradas de comida, mas isso não o impediu de abrir e fechar a porta repetidas vezes. Sentia-se fraco, mais do que o normal. Ainda assim, o sofá parecia mais convidativo que qualquer outra coisa.

Jogou-se sobre ele e suspirou, massageando o maxilar dolorido. A lembrança da discussão com a namorada na noite anterior voltou como um soco, o soco que havia tomado. Ela não aceitava seus desaparecimentos ocasionais, mesmo que ele sempre voltasse. E por mais que tentou explicar que foi só uma punhetinha na broderagem, ela não o ouviu.

O som da TV preencheu o silêncio enquanto tentava cochilar. Foi quando o noticiário o fez congelar.

— "Lutadora de MMA é encontrada morta."

O sangue coagulado em sua camisa parecia ganhar peso.

*******

"Serasse que é ele? Mas..."

Lapam estava sentado no chão de seu quarto, a respiração ofegante. A memória da noite anterior o torturava com lacunas impossíveis de preencher.

Ele sabia que tinha ido à festa da faculdade de enfermagem. Sabia que Melissa estava com ele. Sabia também que tinha visto alguém que, de acordo com todas as regras do mundo, não deveria estar ali.

Pensar em Chico o fez tremer.

Levantou-se com dificuldade e encarou o espelho, ignorando os cabelos negros bagunçados e a palidez que tomava seu rosto. Pegou o celular, discando rapidamente o número de Melissa. Fechou os olhos para se concentrar.

— Lissa, eu preciso saber o que aconteceu ontem. — Sua voz saiu presa e aguda. Ele precisava de respostas. — Tem hortênsias aqui em casa.

Do outro lado, Melissa demorou a responder.

— Pam? — A hesitação na voz dela fez seu peito apertar. — Você está bem? Cadê o Jão?

O nome caiu como uma lâmina afiada em sua mente. Ele piscou, sentindo uma dor de cabeça lancinante que o jogou de joelhos.

— Quem é Jão? — murmurou, mas a resposta não veio.

O silêncio parecia mais alto que qualquer grito.

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