MARJORI E MELISSA
Marjori parou no hall de entrada da faculdade olhando para o memorial que haviam feito para Natalia.
— Amiga, adorável, carinhosa, forte e gentil. — Leu a moça, sentindo náuseas. — Esqueceram de colocar mau-caráter e desgraçada. — Sussurrou.
A moça tinha cicatrizes físicas e mentais, todas feitas por Natalia.
Ela deu a volta nos vasos de flores, nas velas e nas centenas de presentes ao redor, se forçando a continuar e não chutar tudo.
Rumou para as salas de pesquisa, mas no meio do caminho sentiu um arrepio na nuca.
— Ei, gatinha medrosa. — Alguém a chamou. — Precisamos conversar.
Marjori não precisava se virar para saber de quem se tratava. Era uma pessoa que ela detestava tanto quanto detestava Natalia.
— Você não devia estar aos prantos? — Perguntou, ainda de costas.
— Quem disse que eu não estou? — Devolveu a outra, com firmeza. — Mas só vou chorar quando eu puder. Agora, temos coisas para resolver.
— Eu não tenho nada para resolver com você ou com os outros. — Respondeu Marjori, se virando e ficando cara a cara com Valentina. — Agora, eu tenho que ir. Como você sabe, o nosso tempo é precioso.
— Você sabia que o Taiko acordou com uma roupa muito parecida com a sua? Estava manchada de sangue. — Valentina se aproximou, ficando a poucos centímetros da amiga. — E nessa roupa tinha um bisturi, e você cursa enfermagem. Você estava na festa de ontem e também esteve com Natalia, e ela morreu por uma lâmina. — A moça fechou a cara. — Você é bem inteligente para juntar os fatos.
— Eu sei que os outros te acham a fodona e a nossa salvadora, mas, para mim, você não é nada disso. Para falar a verdade, não vejo diferença entre você e a Eloah. — Devolveu Marjori, com firmeza. — E para sua informação, enfermeiros não usam bisturis, mas médicos sim. E, até onde eu sei, o Taiko estava saindo com um tal de Carlos. Ele sim faz medicina.
— Mas você estava na festa e com Natalia. — Afirmou Valentina. — O que aconteceu?
— Eu não te devo explicações. — Gritou a moça, indignada. — Mas aí vai outra informação: assim que vi a Natalia, fui embora para casa.
— Mas não era seu dia? Como você estava lá? — Valentina tiraria tudo que podia dela.
— Eu também não sei. — Respondeu Marjori, dando de ombros. — Desde que o Chico fez a regressão na sua vida passada e se foi, as coisas andam estranhas. Mas, como o dia dele fica vago, pega quem quiser.
— Marjori, preste atenção. — Falou a outra, com um tom sério. — No mesmo dia e lugar estavam você, a Melissa, o Lapam e o Jão. Todos juntos e no mesmo lugar. Isso é impossível. Era para ser no máximo dois.
— Eu sei, mas as coisas não estão como antes. — A moça cruzou os braços, criando uma proteção entre as duas. — O Erik morreu, a Eloah foi banida e o Chico sumiu, sabe os Orixás para onde. — Ela suspirou, cansada. — Tá tudo diferente, mas eu não me importo. É mais tempo que eu tenho.
— Por que você é tão egoísta? — Perguntou Valentina, sincera. — Você é como a gente, e há mais tempo. Devia ser nossa bússola.
— Porque eu só quero fingir que tenho uma vida normal, pelo menos no pouco tempo que tenho. — Marjori virou as costas e começou a andar, mas parou de repente. — Você pede que eu os guie, mas sabe tudo que Natalia fez para mim e para o Lapam só para ter você, e depois o Taiko. Você, que devia ser nossa protetora no lugar da Eloah, não fez nada. — Ela sorriu debochadamente. — Na verdade, fez muitas coisas... Com ela.
Valentina não sabia mais o que dizer.
Marjori olhou para a amiga por cima dos ombros e continuou o seu caminho.
*******
Melissa tirou o salto alto para correr melhor e atravessou toda a quadra da faculdade como uma atleta, indo direto para o apê de Taiko.
Ela não podia perder tempo. Eloah estava de volta e precisava contar isso para os outros.
Assim que parou em frente às portas do prédio onde Taiko morava, sentiu um arrepio na nuca.
— Me aju... — Sussurrou alguém à sua esquerda.
Ela virou a cabeça na direção do som e tomou um susto. Encostado na parede estava Jão, todo ensanguentado.
Melissa se aproximou do menino, tirando os cabelos negros e enrolados sujos de sangue do rosto dele. Ele estava todo machucado, e o sangue escorria de um corte fundo na lateral do tórax.
— Jão?!
— Ela quer... Mat... A El... A Marjor... Não acredit...
O corpo do menino amoleceu sem vida em seus braços. Melissa entrou em pânico, começando a chorar descontroladamente e a tremer.
— Alguém me ajuda! — Berrou entre soluços.
Sentiu dois pares de mãos sobre os ombros e, ao levantar o olhar, viu Valentina e Lapam ao seu lado.
— Está tudo bem, Mel. — Disse Lapam, com ternura. — Deixe com a gente, vá descansar.
— Foi a Eloah, e ela está indo atrás da Marjori. — Melissa passou a mão pelo rosto ainda quente de Jão. — Ele se sacrificou para nos avisar.
— Vamos chorar por ele depois. — Falou Valentina, firme, mas com a garganta presa por um choro reprimido. — Primeiro temos que conversar com Taiko, e depois ir atrás da Marjori.
— Tá. — Concordaram os outros.
— Dessa vez eu não serei mole e bani-la. Eu vou matá-la.
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