O Recomeço da Vida
Um mês havia se passado desde que a notícia sobre a possibilidade de expedições externas foi divulgada, trazendo um novo ânimo à colônia. A equipe do laboratório de nanotecnologia trabalhou incansavelmente, desenvolvendo trajes e capacetes eficazes, capazes de proteger os exploradores no ambiente hostil criado pelo impacto do meteoro. Enquanto a colônia se preparava para essas expedições, algo muito especial estava acontecendo dentro da redoma, cuidadosamente mantido em segredo por Kara.
Durante esse mês, Eliza, Helena, e Gabriel dedicaram-se com carinho ao cuidado dos pequenos cães, gatos e coelhos, que trouxeram uma nova luz de vida e esperança para o laboratório de biotecnologia. Desde o primeiro momento em que abriram os olhos, suas frágeis existências começaram a se moldar em seres cheios de energia e curiosidade. Eliza, sempre atenta, garantia que cada detalhe fosse cuidado com perfeição, enquanto Helena e Gabriel, ainda maravilhados com a tarefa, faziam de tudo para que ninguém descobrisse a surpresa preparada por Kara.
Os filhotes de gatos da raça Bengal eram especialmente ativos. Seus corpos ágeis e musculosos logo se fortaleceram, e suas pelagens manchadas de marrom e dourado cintilavam sob a luz artificial do laboratório. Com cada salto e brincadeira, emitindo miados baixos e suaves, quase inaudíveis, preenchiam o ambiente com um toque de vida. Helena observava com um sorriso terno enquanto Gabriel, encantado, tentava segurar o riso ao ver os filhotes testando seus pequenos miados, ainda tão baixinhos que pareciam sussurros.
Bengal
Os cachorrinhos Shetland Sheepdog, com seus focinhos pretos e olhos expressivos, também estavam começando a explorar o mundo ao redor. Ainda não haviam começado a latir de verdade, mas estavam tentando. De vez em quando, um deles emitia um som engraçado, algo entre um latido e um gemido, como se estivesse tentando entender como usar sua própria voz. Gabriel não conseguia conter o riso ao ouvir esses primeiros sons, enquanto Helena, com os olhos brilhando de ternura, acariciava suas cabecinhas macias. Eles eram tão pequeninos, e ao serem tocados, seus corações batiam rápido contra as mãos de quem os carregava, confiantes e cheios de afeto.
Shetland Sheepdog
Os coelhinhos da raça Netherland Dwarf, com suas orelhas curtas e redondos olhos negros, eram uma visão de pura fofura. Eram animais delicados, mas curiosos, explorando com seus focinhos inquietos cada cantinho dos cercadinhos onde estavam. Helena e Gabriel se revezavam para alimentá-los com todo o cuidado, sentindo o calor suave de seus corpos pequenos e frágeis. Suas patas se moviam com delicadeza, e ao serem acariciados, os coelhinhos ficavam imóveis, fechando os olhos em puro contentamento, fazendo um pequeno som de satisfação, quase como um ronronar bem baixo.
Netherland Dwarf
Eliza, sempre a guia experiente, assegurava que cada um dos filhotes recebesse o cuidado necessário. A experiência de criar esses pequenos seres era uma tarefa que ela e seus pupilos abraçaram com dedicação, sabendo que estavam cuidando não apenas de animais, mas de futuros companheiros que trariam alegria e conforto para os membros da colônia. Eles mantinham tudo em segredo, cuidando para que os miados baixos dos gatinhos e os tentativos latidos dos cachorrinhos não chamassem atenção indesejada. As portas do laboratório eram sempre fechadas, e as conversas mantidas em sussurros, garantindo que a surpresa de Kara permanecesse intacta.
Kara, embora ocupada com suas responsabilidades como líder, fazia questão de acompanhar de perto o desenvolvimento dos filhotes. Ela sabia que, quando o momento chegasse, essa surpresa traria uma nova onda de felicidade e esperança para todos. Cada interação com os filhotes, cada pequeno progresso, trazia um sorriso ao seu rosto, sabendo que em breve, eles seriam uma fonte de alegria e renovação para toda a colônia.
E assim, sob os cuidados amorosos de Eliza, Helena e Gabriel, os pequenos animais se desenvolveram. Com cada dia que passava, ficavam mais fortes, mais curiosos, mais vivos. E embora a colônia ainda não soubesse de sua existência, a surpresa que Kara preparava estava quase pronta para ser revelada, trazendo consigo a mensagem de que, mesmo em meio às adversidades, a vida sempre encontra uma maneira de florescer.
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O dia havia finalmente chegado. Após um mês de intensas preparações e desenvolvimento, cinco trajes e capacetes foram finalizados pelo laboratório de nanotecnologia. Feitos com o maior cuidado, esses trajes eram a chave para a primeira expedição externa desde o impacto do meteoro, há dois anos. Kara, Alex, Barry, um biólogo ambiental e um zoologista foram selecionados para essa missão. Sabiam que tinham apenas uma hora, o tempo máximo que os trajes poderiam suportar, para explorar o mundo lá fora e coletar informações vitais.
Trajes
A tensão era palpável enquanto todos se preparavam. Kara, como líder da expedição, mantinha uma expressão serena, mas seus olhos revelavam uma mistura de ansiedade e determinação. "Vamos começar perto", ela anunciou, sua voz calma, mas firme. "Precisamos entender o que está acontecendo lá fora, o que sobreviveu e o que ainda pode ser recuperado."
Com os trajes selados, a equipe se moveu em direção à entrada da redoma. As portas se abriram lentamente, revelando o mundo devastado além da proteção da colônia. O ar era frio e seco, e a paisagem desolada se estendia em todas as direções, um lembrete sombrio do impacto do meteoro que transformou a Terra.
À medida que caminhavam, os primeiros sinais de recuperação começaram a aparecer. Barry, com seu olhar aguçado, foi o primeiro a notar. "Olhem ali", disse ele, apontando para o chão, onde pequenos musgos e líquens cobriam as pedras. "Essas são as plantas pioneiras. Elas estão preparando o solo para que plantas mais complexas possam crescer no futuro."
Musgos
Líquen
Alex se agachou, tocando o musgo com a ponta dos dedos. "É incrível ver como a vida começa a encontrar um caminho, mesmo em condições tão extremas." Sua voz era suave, refletindo uma reverência pela resiliência da natureza.
Pouco mais adiante, eles encontraram os primeiros sinais de vegetação mais complexa. Samambaias e pequenas plantas primitivas começavam a surgir entre as rochas e a poeira, suas folhas verdes se destacando contra o fundo cinzento e estéril. "Isso é um bom sinal", comentou o biólogo ambiental. "Se as samambaias estão voltando, significa que a luz solar está começando a penetrar, mesmo que ainda seja insuficiente."
Samambaias
Barry, que estava mais familiarizado com o ambiente pré-histórico, olhou em volta com uma expressão pensativa. "Estamos vendo o que poderia ter sido o início de uma nova era para a Terra... se não fosse pelo impacto."
Ao se aproximarem de um pequeno riacho que milagrosamente sobreviveu ao cataclismo, notaram sinais de recuperação no ecossistema aquático. Algas começavam a colonizar as margens, enquanto plantas aquáticas lutavam para se reestabelecer nas águas escuras. "É um ecossistema frágil", comentou o zoologista. "Mas é um começo. A natureza está tentando se reconstruir."
Mas nem tudo o que encontraram trouxe esperança. Ao virarem uma curva, o grupo parou subitamente, as respirações presas dentro dos capacetes. Diante deles, estendendo-se ao longo do solo, estavam os esqueletos de dinossauros e outros animais, testemunhas silenciosas do impacto devastador.
Kara se aproximou de um esqueleto particularmente grande, seus olhos fixos nas costelas expostas ao céu. "Esses esqueletos... Eles nos lembram do que foi perdido. A magnitude do que aconteceu aqui." Sua voz falhou por um momento, e ela precisou de um instante para se recompor.
Alex, ao lado dela, tocou de leve o crânio de um pequeno dinossauro, agora reduzido a ossos brancos. "Eles eram gigantes, mas nem mesmo eles foram páreos para a força do impacto. Somos todos tão vulneráveis, não importa quão fortes ou poderosos sejamos."
O zoologista tirou uma série de fotos, documentando o cenário diante deles. "Esses esqueletos podem nos contar muito sobre o que aconteceu. Como o impacto afetou as diferentes espécies, como alguns tentaram sobreviver e falharam."
Barry, observando os restos de insetos que já começavam a proliferar, comentou: "Os carniçais e decompositores estão fazendo seu trabalho, mas lentamente. Esses ossos são a prova de que a vida aqui fora ainda está longe de se recuperar completamente."
O grupo continuou sua exploração, cada descoberta trazendo à tona um misto de emoções. Havia esperança, sim, nas plantas que começavam a colonizar o solo novamente, nos pequenos sinais de vida aquática. Mas havia também um profundo senso de perda e de responsabilidade. Eles sabiam que tinham a tarefa monumental de ajudar a restaurar a Terra, de dar a ela uma nova chance de florescer.
Quando o relógio começou a se aproximar do limite de uma hora, Kara deu o comando para retornar à redoma. "Precisamos voltar", disse ela, sua voz firme, mas tingida com a emoção do que haviam acabado de testemunhar. "Mas o que vimos hoje... Isso é apenas o começo. Ainda há muito a ser feito."
Eles se reuniram para uma última foto em frente ao esqueleto de um dinossauro, uma imagem que serviria como um lembrete do que haviam visto e do trabalho que ainda os aguardava. A câmera especialmente projetada capturou a imagem, congelando aquele momento no tempo.
Ao reentrarem na redoma, houve um silêncio pesado entre o grupo. Cada um deles processava o que haviam testemunhado de forma diferente. Mas todos sabiam que aquela expedição era apenas o primeiro passo em um longo e árduo caminho para a recuperação.
E enquanto Kara removia seu capacete, sentiu uma profunda emoção inundar seu coração. Ver a luz do sol novamente, mesmo que fraca, e testemunhar o início da recuperação, foi mais do que ela poderia ter esperado. "Estamos fazendo história", disse ela, mais para si mesma do que para os outros. "E essa história ainda está sendo escrita."
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Assim que Kara retirou seu traje, ainda tomada pela emoção da expedição, não esperou sequer um momento para processar o que havia testemunhado. Sabia que a colônia estava ansiosa por respostas, por qualquer sinal de esperança em meio ao cenário devastado. Com o coração ainda acelerado, ela seguiu direto para o centro comunitário, onde os colonos já aguardavam ansiosamente por notícias.
Ao entrar no local, todos os olhares se voltaram para ela. Havia uma mistura de expectativa e temor nos rostos das pessoas. Eles sabiam que qualquer informação sobre o que existia lá fora seria crucial para o futuro da colônia.
Kara subiu ao pequeno palco improvisado e tomou um momento para reunir seus pensamentos. A sala estava em silêncio total, o ar carregado de tensão. Ela inspirou profundamente antes de começar a falar, sua voz ressoando com firmeza e clareza.
"Acabamos de retornar da nossa primeira expedição externa", começou ela, observando a reação do público. "O que vimos lá fora foi... uma mistura de desolação e esperança."
Os murmúrios começaram a se espalhar entre os colonos, mas Kara continuou, mantendo o tom firme. "Há sinais de vida. Pequenos, mas importantes. Musgos, líquens, samambaias... A natureza está começando a se recuperar, mesmo que de forma lenta e frágil."
Ela fez uma pausa, permitindo que as palavras se assentassem entre os colonos. "Mas também encontramos vestígios do que foi perdido. Esqueletos de dinossauros e outros animais, testemunhos silenciosos da destruição que o impacto causou."
Os rostos à sua frente mostravam uma gama de emoções: alívio por saber que a vida estava voltando, tristeza pelo que havia sido destruído, e uma determinação renovada para continuar lutando pelo futuro.
"Os ecossistemas aquáticos estão começando a mostrar sinais de recuperação também", continuou Kara. "Mas é um processo delicado. Precisamos de tempo, e precisamos trabalhar juntos para garantir que essa recuperação continue."
Ela então olhou para todos, fazendo contato visual com aqueles que mais precisavam de esperança. "Isso não será fácil, mas o que vimos hoje nos dá motivos para acreditar que há um caminho à frente. Um caminho que podemos trilhar juntos, como uma comunidade unida."
A sala permaneceu em silêncio por alguns momentos após Kara concluir. Então, lentamente, uma onda de aplausos começou a se espalhar pela multidão, crescendo em intensidade. Os colonos estavam gratos por finalmente terem respostas e, mais do que isso, por saberem que ainda havia esperança.
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Depois de seu discurso, Kara foi cercada por membros da colônia. Todos queriam saber mais, fazer perguntas, entender melhor o que ela havia visto lá fora. Ela respondeu o que pôde, explicando os detalhes sobre as plantas pioneiras que estavam surgindo e a lenta, mas real, recuperação do meio ambiente.
Eliza, Helena e Gabriel se aproximaram, com expressões que mesclavam preocupação e curiosidade. Kara se permitiu um breve sorriso ao vê-los, mas logo voltou ao assunto em questão. Eliza foi a primeira a falar.
“Kara, você acredita que teremos condições de começar a explorar mais áreas em breve?” A voz de Eliza era calma, mas carregava a urgência de quem compreendia a importância dessa recuperação.
Kara refletiu por um momento antes de responder. “Eu acho que ainda é cedo para pensarmos em expandir muito além da redoma. Precisamos de mais tempo para observar e entender o ambiente, ver como essas primeiras plantas e formas de vida estão reagindo à nova realidade.”
Helena, com sua natureza pragmática, perguntou: “E quanto aos esqueletos? Eles são um sinal de que ainda há muita devastação por aí?”
Kara assentiu lentamente. “Sim, eles são. Mas também são um lembrete do que perdemos e do que ainda precisamos proteger. Encontrar esses restos mortais nos mostra o impacto brutal que o meteoro causou, mas também que a Terra, mesmo que lentamente, está tentando se curar.”
Gabriel, sempre um pouco mais otimista, tentou trazer uma perspectiva positiva. “Mas, se a Terra está tentando se curar, isso significa que, eventualmente, poderemos ajudar a acelerar esse processo, certo? Talvez replantando vegetação ou reintroduzindo espécies?”
Kara sorriu, sentindo a esperança na voz de Gabriel. “Sim, essa é a nossa meta. A natureza está nos mostrando que há uma chance, e cabe a nós apoiar esse processo da melhor maneira possível.”
A conversa foi interrompida por Ruby, que se aproximou rapidamente, parecendo dividida entre o entusiasmo e a ansiedade. “Kara, o que faremos agora? Podemos sair mais vezes para explorar? E os outros, eles também podem ir?”
Kara olhou para Ruby, reconhecendo a mesma determinação que sentia em si mesma. “Vamos devagar, Ruby. Nossa primeira missão foi curta e em um ambiente ainda instável. Precisamos analisar os dados que coletamos e planejar cuidadosamente as próximas expedições. Mas não se preocupe, todos terão a oportunidade de contribuir.”
Ruby parecia satisfeita com a resposta, mas ainda havia uma curiosidade em seus olhos. Kara sabia que, como muitos ali, ela queria fazer parte da mudança, ajudar a reconstruir o que havia sido perdido.
Após mais alguns minutos de conversas e perguntas, Kara começou a se sentir sobrecarregada. Ela precisava de um momento para processar tudo o que havia visto e refletir sobre os próximos passos. Com uma desculpa educada, retirou-se do centro comunitário e foi até uma das áreas mais tranquilas da redoma, onde podia ter um pouco de privacidade.
Sentou-se em um banco improvisado e deixou que a realidade do que havia testemunhado começasse a se assentar. A visão dos esqueletos, as primeiras plantas surgindo, a luz do sol ainda fraca... Tudo aquilo a fazia sentir um misto de emoções: esperança, melancolia, e uma determinação feroz de proteger o que restava.
Sabia que, apesar dos desafios imensos que ainda enfrentariam, havia um caminho a ser trilhado. E ela estaria na linha de frente, guiando seu povo para um futuro onde a vida pudesse florescer novamente.
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Após o momento de reflexão , Kara se retirou para almoçar com Lena, Lionel e Lillian. Eles se reuniram na casa dos pais de Lena , onde uma refeição simples, mas saborosa, os aguardava. A mesa estava posta com pratos quentes, e o aroma da comida fresca era reconfortante.
Lena serviu um pouco de suco para Kara enquanto ela se sentava ao seu lado. "Você parecia muito concentrada durante a expedição," comentou Lena, observando-a com curiosidade.
"Sim," respondeu Kara, pegando o garfo e começando a comer. "Foi uma experiência intensa. Ver o mundo lá fora... é difícil descrever. Algumas áreas ainda são um deserto de cinzas, mas vimos sinais de vida retornando. Plantas pioneiras, musgos, líquens, até algumas pequenas samambaias tentando crescer onde a luz começa a penetrar."
Lionel, sentado do outro lado da mesa, inclinou-se um pouco para frente, interessado. "E os esqueletos? Você mencionou algo sobre isso na reunião."
Kara assentiu, seu olhar ficando mais sério. "Sim, encontramos alguns restos mortais, especialmente de grandes animais que não sobreviveram à destruição. Mas o que mais me chamou a atenção foram os sinais de regeneração. A natureza está tentando se curar, mesmo que lentamente."
Lillian, sempre atenta, observou Kara enquanto ela falava. "Isso deve ter sido difícil de ver," comentou ela, sua voz suave, mas cheia de empatia.
"Foi," admitiu Kara, "mas também me deu esperança. Se a natureza está se regenerando, talvez ainda tenhamos uma chance de ajudar a reconstruir o que foi perdido."
Lena pousou sua mão na de Kara, dando-lhe um aperto suave. "Você fez um trabalho incrível lá fora, Kara. Sei que isso não é fácil para você."
Kara sorriu, grata pelo apoio de sua namorada e pelos sogros. O almoço seguiu em um tom mais leve, com os quatro conversando sobre as possibilidades futuras, o que eles poderiam esperar das próximas expedições e como poderiam contribuir para a restauração do mundo além da redoma.
Quando a refeição terminou, Kara olhou para todos à mesa com um sorriso conspiratório. "Eu vou precisar me retirar por agora, mas antes de ir, quero dizer que mais tarde a colônia terá uma surpresa especial. E eu gostaria de ver minha namorada e meus sogros perto do centro comunitário para isso."
Lena arqueou uma sobrancelha, intrigada. "Uma surpresa?"
Kara apenas sorriu misteriosamente. "Vocês vão gostar. Até mais tarde." Ela se levantou, dando um beijo leve na testa de Lena e acenando para Lionel e Lillian antes de sair.
Enquanto ela se afastava, Lena trocou olhares curiosos com seus pais. Todos se perguntavam o que Kara estava planejando, mas uma coisa era certa: a expectativa já estava no ar, e eles mal podiam esperar para descobrir o que Kara tinha preparado.
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Kara se encontrava em frente ao centro comunitário, ajudando Gabriel, Helena, e Eliza a preparar os bichinhos para o grande momento. Com cuidado, eles colocaram os filhotes em caixas especiais, cobertas para manter a surpresa. Enquanto faziam isso, os filhotes se mexiam e soltavam pequenos sons, mal contendo a curiosidade sobre o que estava acontecendo ao seu redor.
Depois de garantir que tudo estava pronto, Kara pegou o rádio e, com um sorriso nos lábios, enviou uma mensagem para o centro de operações. “Aqui é Kara. Peço que comuniquem a todos os membros da colônia para se reunirem no centro comunitário. Temos uma surpresa especial esperando por eles.”
A resposta foi imediata, e em poucos minutos, as pessoas começaram a se reunir em frente ao centro comunitário. Havia um murmúrio de expectativa no ar, todos se perguntando o que Kara tinha preparado dessa vez. Lena estava entre eles, observando Kara com um olhar cheio de curiosidade e orgulho.
Kara subiu em uma pequena plataforma improvisada para que todos pudessem vê-la. Ela tomou um momento para respirar fundo, sentindo o peso das expectativas de todos ao seu redor. Quando começou a falar, sua voz era firme, mas carregada de emoção.
“Meus amigos,” ela começou, “sei que todos nós passamos por momentos incrivelmente difíceis. O caos que enfrentamos testou nossa força, nossa resiliência e, acima de tudo, nosso espírito. Mas, apesar de tudo, permanecemos unidos. Cada um de vocês mostrou uma coragem e uma determinação que me inspiram todos os dias.”
Ela fez uma pausa, olhando para os rostos familiares à sua frente, e continuou: “Mas também sei que, em meio a todo esse caos, todos nós sentimos falta de conforto, de carinho, de algo que nos lembre do que significa ter esperança. Por isso, hoje, queria trazer algo que acredito que pode nos ajudar a enfrentar os dias difíceis com um pouco mais de alegria.”
Com um aceno de cabeça, ela deu o sinal para Eliza, Gabriel, e Helena. Os três começaram a destampar as caixas, revelando os filhotes de cachorros, gatinhos e coelhinhos. Os pequenos animais, ainda um pouco desajeitados e curiosos, começaram a explorar o ambiente ao seu redor, soltando pequenos latidos, miados, e se aninhando uns nos outros.
O silêncio que havia dominado a multidão foi quebrado por murmúrios de surpresa e, em seguida, por um som coletivo de admiração. Olhos brilhavam de emoção, e alguns sorrisos largos começaram a aparecer entre os colonos.
Kara observava as reações com um sorriso de satisfação. Ela sabia que esses pequenos animais poderiam trazer não apenas alegria, mas também uma nova fonte de esperança para todos.
Após o primeiro momento de surpresa e admiração, Kara continuou seu discurso, observando os olhares curiosos e emocionados que se voltavam para os filhotes. "Eu sei que, para muitos de vocês, essa pode ser a primeira vez que veem um cachorrinho, um gatinho ou um coelhinho. No nosso tempo, em 2150, as coisas estavam tão difíceis que esses pequenos animais quase foram extintos. Eles se tornaram raros, e muitos de nós só conhecíamos histórias sobre eles."
As palavras de Kara tocaram fundo na comunidade. O murmúrio entre as pessoas cresceu, e agora havia um brilho nos olhos de todos, uma mistura de nostalgia por um passado que a maioria nunca conheceu e uma alegria pura ao ver algo tão precioso e delicado diante de seus olhos.
As crianças, em especial, estavam encantadas. Algumas apontavam para os filhotes com os olhos arregalados, outras já começavam a se aproximar, ansiosas para sentir o pelo macio e aconchegante dos pequenos animais. O som suave de latidos, miados e guinchos preenchia o ar, criando uma atmosfera de alegria que há muito tempo não era sentida naquela colônia.
Kara sorriu, satisfeita com a reação da colônia, e então anunciou: "É por isso que estou dando a cada família com crianças um bichinho para brincar e alegrar os nossos dias. Esses filhotes não são apenas companheiros; são símbolos de esperança, de um futuro onde a vida pode florescer novamente."
As famílias com crianças começaram a se aproximar, uma a uma, para pegar seus novos membros da família. A alegria e a emoção eram palpáveis. Cada criança que recebia um filhote segurava-o com carinho, os olhos brilhando de felicidade. Pais e mães olhavam para os animais com uma mistura de ternura e gratidão, como se tivessem recebido um presente inestimável.
No meio da multidão, Ruby estava visivelmente emocionada. Seus olhos, que haviam visto tanto caos e destruição, agora estavam fixos em um pequeno coelhinho branco com orelhas rosadas. "Ele é tão fofinho!" ela exclamou, pegando o animalzinho em seus braços e acariciando seu pelo macio. Barry, ao lado dela, sorria largamente. "Acho que a Hope vai adorar ter um amiguinho assim," disse ele, enquanto Caitlin, com os olhos marejados, se inclinava para tocar delicadamente o pequeno coelho.
"Olha, Hope," disse Caitlin, enquanto segurava o coelhinho para a filha ver. Hope, ainda pequena, deu risadinhas e tentou alcançar o coelhinho com suas mãozinhas curiosas. "Ele vai ser seu novo amiguinho, para te fazer companhia e te dar muitos momentos felizes," completou Caitlin, com um sorriso emocionado.
Enquanto isso, as outras famílias também iam recebendo seus filhotes, cada uma experimentando uma nova onda de felicidade. As crianças riam, brincavam, e já começavam a imaginar os nomes que dariam aos seus novos amigos. Para todos ali, esses pequenos seres representavam não apenas o renascimento de uma espécie, mas a renovação de suas próprias esperanças em um futuro mais brilhante.
Quando todas as 20 famílias com crianças receberam seus bichinhos, Kara começou a distribuir os filhotes restantes para outras famílias da colônia. Cada nova família que recebia um filhote agradecia com profunda gratidão, ciente do quão especial aquele momento era. Para Kara, ver as expressões de felicidade ao redor dela era mais que suficiente. Ela sabia que havia feito a coisa certa.
Continua...
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