O Despertar das Pequenas Vidas

O simulador de luz na redoma estava ajustado para simular a noite, uma adaptação necessária devido à poeira que ainda encobria o mundo exterior. Lena e Kara estavam em uma tranquila noite de sono, com Lena aninhada no peito de Kara, ambas mergulhadas em sonhos.

No entanto, na madrugada, Kara despertou com um leve sobressalto. O sonho que tivera a inquietava. Era com o Coronel Leonardo, seu mentor e pai de coração, que tinha deixado uma marca profunda em sua vida. Há anos não tinha um sonho com ele, e o reencontro, mesmo que em sonhos, trouxe à tona memórias dolorosas de quando se despediu dele pelo rádio. Ele estava no futuro, em 2150, enquanto Kara lutava para sobreviver no Cretáceo.

A lembrança da despedida de sua mãe, quando ela tinha apenas 9 anos, também aflorou. A dor de perder sua mãe um ano depois daquela missão, foi um dos momentos mais difíceis da sua vida. Mas, mesmo na dor, havia uma mensagem constante: "Seja feliz, Kara."

Kara deixou uma lágrima escorregar por seu rosto, sentindo a cicatriz que carregava como um lembrete das batalhas enfrentadas. Ela a limpou com a mão, tentando esconder a emoção que a dominava. Olhou para Lena, adormecida e tranquila ao seu lado, e sussurrou:

"Você é a minha felicidade, Lena Luthor. E está na hora de deixarmos de ser apenas namoradas para algo maior."

Com um sorriso de ternura e um coração cheio de esperança, Kara retornou ao seu sono, envolvida no conforto do quarto e ao lado da mulher que amava.

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Na manhã seguinte, Lena e Kara despertaram e se prepararam para o dia. Despertas e renovadas, ambas se dirigiram para a cozinha para tomar café juntas.

Lena, decidiu fazer uma brincadeira, lançando uma pergunta com um sorriso travesso:

"Quando você vai pedir para iniciar a construção do laboratório de engenharia? Todas as áreas têm seu laboratório, mas nós, engenheiros que damos vida a essa redoma e à colônia, fomos deixados para trás. Eu, John Anderson, Cisco e Winn, merecemos um laboratório também. Achei que agora que você é a líder e eu sendo a primeira dama, teríamos algumas vantagens!"

As duas caíram na gargalhada, o riso compartilhado preenchendo o ambiente com um caloroso senso de camaradagem. Kara, ainda rindo, respondeu:

"Eu sei, eu sei. O laboratório de engenharia será o próximo projeto na lista."

Lena então segurou a mão de Kara com carinho, sua expressão suavizando para um tom mais reconfortante:

"Estou brincando, amor. Tem coisas mais importantes do que esse laboratório por enquanto."

Com um olhar de compreensão e um sorriso que transmitia tanto afeto quanto alívio, Kara sentiu a tranquilidade que Lena sempre lhe proporcionava.

Após o café da manhã, Lena e Kara saíram de casa, cada uma com um propósito específico para o dia. Lena seguiu em direção ao local onde John, Winn e Cisco estavam trabalhando na construção do laboratório de botânica. Embora Lena fosse engenheira tecnóloga, ela sabia da importância de sua presença nas obras e estava determinada a colaborar. A oficina mecânica, concluída há uma semana, já estava em plena operação, e o novo laboratório de botânica estava prestes a se tornar mais um marco na colônia.

Enquanto isso, Kara se dirigia com expectativa ao laboratório de biotecnologia. Hoje era um dia especial; os embriões de cães e gatos que haviam sido cuidadosamente monitorados e cuidados estavam prestes a nascer. Para Kara, era um momento emocionante e único. Aos 33 anos, ela só havia visto um gatinho e um cachorrinho quando tinha apenas 6 anos, e a perspectiva de presenciar o nascimento desses pequenos animais a enchia de alegria e antecipação.

Chegando ao laboratório, Kara foi recebida por Eliza e seus pupilos, Helena e Gabriel, que estavam ajustando os últimos detalhes para o momento decisivo.

O laboratório de biotecnologia estava imerso em uma atmosfera de expectativa e entusiasmo. Os últimos quatro meses foram um período de intenso trabalho e paciência, e agora, finalmente, o momento tão aguardado havia chegado. O útero artificial, uma sofisticada matriz biotecnológica, estava prestes a revelar o resultado de todo esse esforço.

Eliza, Kara, Helena e Gabriel estavam prontos para o evento. A matriz havia começado a emitir sinais de contrações, indicando que o nascimento estava prestes a começar. A luz suave no ambiente simulava a iluminação do laboratório durante a madrugada, criando um ambiente calmo e controlado.

Helena, com olhos arregalados e um brilho de curiosidade, olhava para a matriz com uma mistura de nervosismo e empolgação. Gabriel, ao seu lado, estava igualmente ansioso, os dedos nervosos tocando a superfície da bancada. Ambos nunca haviam visto um gatinho recém-nascido antes.

"É incrível" murmurou Helena, seu tom carregado de admiração. "Nunca pensei que veria algo tão pequeno e frágil."

"Concordo" respondeu Gabriel, com uma voz quase reverente. "Eles são tão... indefesos."

A matriz começou a emitir um som característico, sinalizando que o processo de nascimento estava em andamento. Eliza, com um olhar experiente, se aproximou da matriz. Helena e Gabriel se posicionaram ao lado dela, tentando absorver cada detalhe do que estava acontecendo.

Quando o primeiro grupo de gatinhos Bengal começou a nascer, o ambiente ficou envolto em uma aura de silenciosa celebração. A visão dos pequenos animais sendo cuidadosamente removidos da matriz e colocados em uma mesa ao lado trouxe lágrimas de alegria aos olhos de Helena.

"Olhem para eles" sussurrou Helena, seus olhos brilhando com emoção. "São tão pequeninos, mas já têm uma aparência tão distinta."

Gabriel, com a mão ligeiramente tremendo, estendeu os dedos para tocar um dos gatinhos. A pele do animal era quente e macia ao toque, e o cheiro do líquido amniótico ainda estava presente. A sensação era quase mágica para ele.

"É como segurar uma pequena joia viva" comentou Gabriel, maravilhado.

Enquanto Eliza e seus pupilos limpavam os gatinhos com cuidado, usando panos esterilizados e líquidos morno, Kara com um olhar cheio de emoção e expectativa, ela observou a cena. A alegria em seu rosto era evidente.

"Posso dar o primeiro leitinho a um deles?" perguntou Kara, sua voz trêmula de emoção.

Helena e Gabriel, com um sorriso de entendimento, gentilmente cederam a Kara a oportunidade. Eliza entregou a Kara um pequeno gatinho Bengal, ainda um pouco úmido da limpeza, com um olhar que misturava orgulho e carinho. Kara, com luvas de procedimento, pegou o frágil animalzinho com extremo cuidado. Seus olhos se suavizaram ao sentir o calor do pequeno corpo contra suas mãos.

"Ele é tão delicado" sussurrou Kara, olhando para o gatinho com um brilho emocionado nos olhos. "Nunca imaginei que sentiria algo assim."

Com uma seringa pequena, Kara administrou cuidadosamente o primeiro leite ao gatinho, que começou a mamar lentamente. O som do pequeno "miau" e o movimento das patinhas, tentando se ajustar ao novo ambiente, tocaram profundamente o coração de Kara.

"Você é a nossa primeira pequena esperança" murmurou Kara para o gatinho, a voz cheia de ternura.

O ambiente estava imerso em um profundo sentimento de realização. Cada pequeno som, cada toque, era um lembrete do trabalho árduo e da dedicação que haviam sido necessários para chegar até ali. Helena e Gabriel, agora mais relaxados, observavam com sorrisos de satisfação, enquanto Eliza, com um olhar maternal, continuava a cuidar dos pequenos.

Os gatinhos Bengal, com suas pelagens marcantes e olhos curiosos, representavam o início de uma nova era para a colônia. A felicidade e o orgulho eram palpáveis, e o momento era um testemunho do sucesso do projeto.

Kara, ainda segurando o pequeno gatinho, sentiu uma onda de gratidão e alegria. Era um momento de triunfo e esperança, um lembrete do potencial para novos começos e da beleza da vida, mesmo nas circunstâncias mais desafiadoras.

Filhotinho de Bengal

Após Kara alimentar o primeiro gatinho e ver a primeira ninhada de sete Bengal sendo cuidadosamente acomodada no cercadinho, seu coração estava repleto de uma alegria pura. Cada pequeno movimento e cada som emitido pelos gatinhos contribuíam para uma sensação de realização e esperança renovada.

Eliza, Helena e Gabriel continuaram o trabalho de limpeza e cuidados, enquanto Kara se preparava para sair.

"Eu preciso ir ao laboratório de análise de dados agora" disse Kara, seu tom carregado de emoção ainda visível em seu rosto radiante. "Mas, por favor, me avisem assim que todos os bichinhos nascerem, incluindo os cães."

Eliza sorriu, compreendendo a importância do momento para Kara.

"Não se preocupe, Kara" respondeu Eliza com um tom tranquilizador. "Vamos cuidar de tudo aqui e te informaremos assim que a última ninhada nascer."

Kara deu um último olhar aos pequenos gatinhos antes de sair, seus olhos brilhando com a satisfação do trabalho bem-feito e da promessa de um futuro mais brilhante para a colônia.

Enquanto Kara se dirigia ao laboratório de análise de dados, Eliza, Helena e Gabriel se concentravam na tarefa de cuidar dos recém-nascidos. A sala estava cheia de uma atmosfera de dedicação e carinho.

Com precisão e paciência, Eliza e seus pupilos monitoravam a matriz artificial, aguardando a chegada da próxima ninhada. A luz suave e a temperatura controlada continuavam a criar um ambiente ideal para os nascimentos.

Então, dez minutos depois, o sinal da matriz indicou que a segunda ninhada de oito gatinhos Bengal estava prestes a nascer. Eliza, Helena e Gabriel se reuniram novamente em torno da matriz, ansiosos para ver a chegada dos novos pequenos habitantes.

Os gatinhos nasceram, um por um, com a mesma delicadeza e cuidado. A visão dos novos filhotes foi recebida com sorrisos e murmúrios de alegria.

"Eles são ainda mais adoráveis do que eu imaginava" disse Helena, com uma voz cheia de admiração.

"Eles realmente são maravilhosos" concordou Gabriel, seus olhos brilhando com emoção ao observar os pequenos.

Enquanto os novos gatinhos eram limpos e acomodados no cercadinho ao lado dos anteriores, a equipe se preparava para o próximo estágio do projeto. A chegada dos cães.

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Enquanto Kara chegava ao laboratório de análise de dados, ela foi recebida por uma equipe de pesquisadores que trabalhava arduamente nos últimos dados coletados. Hoje marcava um momento significativo: dois anos haviam se passado desde o impacto do meteoro que mudou o curso da história. Kara sentiu um peso de responsabilidade ao entrar na sala, sabendo que as informações obtidas poderiam moldar o futuro da colônia.

Os pesquisadores estavam ansiosos para compartilhar as novidades. Um dos cientistas, aproximou-se de Kara com uma expressão que mesclava esperança e cautela.

"Kara, temos algumas atualizações importantes sobre as condições atmosféricas fora da redoma" começou o cientista, gesticulando para as telas onde os dados eram exibidos. "A poeira e as partículas ejetadas pelo impacto começaram a se assentar gradualmente. A visibilidade da luz solar está melhorando, o que é uma boa notícia, mas ainda é insuficiente para suportar a vegetação complexa como antes do impacto."

Kara analisou as telas com atenção, vendo gráficos e números que confirmavam o que o cientista explicava.

"Isso é um progresso" respondeu Kara, seu tom ponderado. "Mas entendo que ainda temos um longo caminho a percorrer. Como isso está impactando o ambiente externo?"

O Dr. assentiu, concordando.

"A luz solar reduzida continua a limitar a fotossíntese, afetando o crescimento das plantas e a produtividade vegetal. O ambiente externo permanece instável, com variações significativas na luz solar e nas condições meteorológicas. As temperaturas, por exemplo, estão começando a subir lentamente, mas são voláteis. Podemos ter ondas de calor intenso seguidas de períodos de frio extremo."

Kara sentiu a gravidade da situação, mas também um lampejo de esperança. Essas informações, por mais desafiadoras que fossem, indicavam uma recuperação gradual, um retorno lento à normalidade.

"Sabemos que o clima errático torna a sobrevivência de plantas e animais muito mais difícil, e as condições de umidade e precipitação são irregulares. No entanto..." o Dr.  continuou, com uma nota de otimismo na voz, "com essas novidades, estamos começando a ver um caminho para missões de exploração mais longas fora da redoma."

Kara levantou o olhar das telas, sua mente já trabalhando nas possibilidades.

"Então, poderíamos considerar missões mais prolongadas?" perguntou ela, já começando a planejar os próximos passos.

"Sim" confirmou o Dr. "Mas essas missões precisariam de trajes especialmente adaptados para lidar com as condições voláteis. Com o equipamento certo, poderíamos expandir a exploração, coletar mais dados e, talvez, encontrar novas formas de acelerar a recuperação do ecossistema."

Kara sentiu seu coração acelerar com a perspectiva. Mesmo em meio às adversidades, a colônia continuava a avançar, impulsionada pela resiliência e pela determinação de seu povo.

"Vamos preparar tudo o que for necessário” disse Kara, sua voz firme e resoluta. "Se essas condições se mantiverem, podemos estar à beira de uma nova fase de exploração e descoberta."

Kara, ainda absorvendo as informações apresentadas pelo Dr., lembrou-se de um evento que havia ocorrido um ano atrás. Com um olhar pensativo, ela voltou-se para o pesquisador, pronta para fazer mais uma pergunta que poderia significar muito para todos na colônia.

"Dr., desde que a poeira se alastrou pelo nosso mundo, temos dependido do simulador ambiental para manter uma rotina de dia e noite aqui dentro da redoma. Mas lembro que há um ano, quando o simulador apresentou uma falha e ficou desligado por algumas horas, a Ruby notou uma claridade muito fraca vindo do exterior. Aquilo nos deu esperança na época. Você acha que, se desligarmos o simulador agora, poderemos ver uma claridade melhor?" Kara perguntou, com os olhos brilhando de expectativa. Ela estava ansiosa para ver a luz natural do sol novamente, algo que não experimentava há dois anos.

O Dr. ponderou por um momento, passando a mão pelo queixo enquanto analisava as possibilidades. Os demais pesquisadores na sala trocaram olhares curiosos, também interessados na resposta.

"É uma ideia interessante, Kara" começou o Dr. Alvarez, ajustando os óculos sobre o nariz. "Com base nos dados mais recentes, a densidade de poeira na atmosfera diminuiu significativamente. Isso tem permitido uma maior penetração da luz solar, embora ainda não seja como antes do impacto. Desligar o simulador nos daria uma medida mais realista de quanta luz está realmente alcançando a superfície."

Kara sentiu seu coração acelerar com a possibilidade. A simples ideia de sentir os raios solares naturais tocando sua pele novamente era revigorante.

"Então, poderíamos fazer um teste agora? Talvez por algumas horas, apenas para observar e coletar dados" sugeriu ela, seu tom carregado de entusiasmo.

O Dr. sorriu diante da empolgação de Kara. Ele olhou para os demais membros da equipe, que assentiram em concordância.

"Creio que sim. Podemos coordenar com a equipe de engenharia para desligar o simulador por um período controlado. Isso não apenas nos permitirá avaliar a intensidade da luz solar atual, mas também como isso afeta o interior da redoma em termos de temperatura e luminosidade" explicou ele.

Nesse momento, Kara não conseguiu conter um sorriso amplo que iluminou seu rosto. Ela imediatamente pegou seu comunicador e entrou em contato com Lena.

"Lena, aqui é a Kara. Estamos considerando desligar o simulador ambiental por algumas horas para verificar a quantidade de luz solar que está entrando na redoma. Você e sua equipe podem nos ajudar com isso?" perguntou Kara, tentando conter a excitação em sua voz.

Do outro lado da linha, Lena respondeu com igual entusiasmo.

"Claro, amor! Estávamos justamente finalizando alguns ajustes no sistema de energia. Podemos programar o desligamento e monitorar qualquer variação. Vai ser incrível ver a luz natural novamente" respondeu Lena, com uma risada suave.

Kara sentiu uma onda de felicidade percorrer seu corpo. Ela olhou ao redor do laboratório, vendo que todos compartilhavam do mesmo sentimento de esperança.

"Dr., vamos preparar tudo então. Informaremos a todos na colônia sobre o teste para que estejam cientes das mudanças temporárias na iluminação" disse Kara, assumindo seu papel de líder com determinação.

O Dr. assentiu, já começando a delegar tarefas aos outros pesquisadores.

"Excelente. Vamos também posicionar sensores adicionais para coletar dados precisos durante esse período. Isso pode nos fornecer informações valiosas sobre como proceder nas próximas etapas de recuperação do ambiente externo" acrescentou ele.

Enquanto todos se mobilizavam para organizar o teste, Kara não pôde deixar de imaginar como seria ver a verdadeira luz do sol depois de tanto tempo. A simples perspectiva de olhar para o céu e ver uma claridade natural enchia seu coração de esperança e renovava suas forças para continuar lutando pela sobrevivência e prosperidade da colônia.

Algumas horas depois, tudo estava pronto para o teste. Os comunicados foram enviados a todos os habitantes da redoma, informando sobre o breve desligamento do simulador e o propósito por trás disso. Lena e sua equipe estavam posicionados na sala de controle, prontos para desativar o sistema conforme programado.

No laboratório de análise de dados, Kara, Dr. e os demais pesquisadores estavam reunidos em frente a uma grande janela que dava vista para o interior da redoma. A expectativa era quase palpável no ar.

A voz de Lena soou através dos alto-falantes internos.

"Iniciando o desligamento do simulador em 3... 2... 1..."

No instante em que o simulador foi desligado, uma transformação sutil ocorreu. Inicialmente, uma penumbra tomou conta do ambiente, mas gradualmente, uma luz suave e dourada começou a infiltrar-se através da estrutura translúcida da redoma.

Kara sentiu seus olhos se encherem de lágrimas ao ver os primeiros raios de luz natural em anos. Ela levantou a mão, deixando que a luz tocasse sua pele, sentindo um calor reconfortante que havia esquecido.

"É... é lindo" sussurrou ela, a voz embargada pela emoção.

O Dr. observava maravilhado, enquanto os sensores registravam freneticamente os dados da nova luminosidade.

"A intensidade da luz é significativamente maior do que esperávamos. Isso é um ótimo sinal. Indica que a atmosfera está se limpando mais rápido do que prevíamos" comentou ele, sem desviar o olhar da cena à sua frente.

Outros membros da colônia começaram a sair de suas habitações e locais de trabalho, atraídos pela mudança na iluminação. Murmúrios de surpresa e alegria podiam ser ouvidos por toda a redoma, enquanto as pessoas erguiam os rostos para sentir a luz natural do sol.

Kara pegou seu comunicador novamente, querendo compartilhar aquele momento com Lena.

"Lena, você está vendo isso? É mais do que poderíamos ter imaginado" disse ela, com a voz cheia de alegria.

"Estou vendo, amor. É simplesmente maravilhoso. Talvez isso signifique que em breve poderemos começar a reconstruir não apenas nossa colônia, mas também o mundo lá fora" respondeu Lena, igualmente emocionada.

Kara respirou fundo, deixando que a esperança inundasse seu ser. A visão da luz solar penetrando a redoma não era apenas um fenômeno natural, mas um símbolo de resiliência e renovação. Um lembrete de que, mesmo após a mais profunda escuridão, a luz sempre encontra um caminho para retornar.

Com esse novo alento, Kara sabia que eles estavam no caminho certo. Havia ainda muito trabalho a ser feito, muitos desafios a serem superados, mas naquele momento, sob a luz suave e calorosa do sol, tudo parecia possível.

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Do lado de fora do laboratório de biotecnologia, Eliza, Gabriel e Helena se maravilhavam com a nova claridade que penetrava pela redoma. A luz do sol, embora ainda filtrada pela poeira remanescente na atmosfera, trazia uma sensação de renovação e esperança. O brilho suave iluminava suas expressões de alegria, e por um momento, todos eles se deixaram levar pelo simples prazer de sentir a luz natural em seus rostos.

No entanto, a tranquilidade foi interrompida por um som familiar: o apito de uma das matrizes artificiais. Eliza foi a primeira a perceber, seus instintos de cientista entrando em ação. Com um aceno rápido, ela chamou Gabriel e Helena de volta ao laboratório, a adrenalina pulsando em todos eles. Era hora do próximo grande momento.

Ao entrarem no laboratório, seus olhos imediatamente se voltaram para a matriz que estava emitindo o som. Ela indicava que os primeiros cachorrinhos estavam prontos para nascer. O laboratório, que momentos antes estava silencioso, agora se encheu de expectativa. Os gatinhos recém-nascidos, aconchegados em seu cercadinho, estavam profundamente adormecidos, alheios à agitação ao seu redor.

Eliza, com a experiência que vinha de anos de dedicação à biotecnologia e a genética, se aproximou da matriz com calma, mas com a prontidão de alguém que compreendia a importância do momento. Gabriel e Helena, ainda com a excitação brilhando em seus olhos após o nascimento dos gatinhos, se colocaram ao lado dela, prontos para ajudar no que fosse necessário.

Quando a matriz foi aberta, revelando os pequenos cachorrinhos da raça Shetland Sheepdog, uma onda de emoção percorreu o trio. Os filhotes, tão frágeis e pequenos, estavam prontos para ser apresentados ao mundo. O primeiro a sair era minúsculo, com um casaco macio e tricolor, típico da raça. Sua respiração era leve, quase imperceptível, mas o pequeno movimento de seu corpo indicava que estava saudável.

Filhotinho de Shetland Sheepdog

"São perfeitos, Eliza" sussurrou Helena, com os olhos brilhando de alegria enquanto observava o primeiro cachorrinho. "Eles são tão pequenos, tão frágeis..."

Eliza sorriu, tocando delicadamente a cabeça do filhote com a ponta dos dedos, sentindo a suavidade de seu pelo recém-formado.

"Sim, Helena. Eles são verdadeiros milagres da ciência e da natureza. E agora é nossa responsabilidade cuidar deles, garantir que cresçam fortes e saudáveis" respondeu Eliza, sua voz suave mas firme.

Gabriel, com mãos trêmulas de emoção, pegou uma das seringas preparadas com o leite especialmente formulado e olhou para Eliza em busca de aprovação.

"Posso dar o primeiro leitinho, Eliza?" perguntou ele, a emoção clara em sua voz.

Eliza sorriu com ternura, dando um leve aceno.

"Claro, Gabriel. É um privilégio poder cuidar desses pequenos desde o primeiro instante de vida" respondeu ela, incentivando-o.

Com extrema delicadeza, Gabriel aproximou a seringa da pequena boca do filhote, que instintivamente começou a sugar o leite. O sentimento de responsabilidade e a emoção de estar cuidando de uma vida tão frágil fez com que Gabriel se sentisse nas nuvens.

Helena, ao seu lado, pegou o próximo cachorrinho que havia saído da matriz. Seus dedos, cobertos por luvas esterilizadas, tocavam a pele macia do filhote enquanto ela o colocava cuidadosamente em uma manta aquecida. A sensação do pelo macio e do calor do pequeno corpo fazia com que seus olhos se enchessem de lágrimas.

"Eles são tão preciosos" murmurou Helena, sua voz embargada pela emoção. "Não consigo acreditar que estamos realmente vendo isso, cuidando deles."

Enquanto os filhotes continuavam a nascer, um após o outro, o laboratório se encheu de uma aura quase sagrada. Eliza coordenava os movimentos, ajudando a limpar os pequenos corpos e garantindo que cada filhote recebesse sua primeira alimentação adequada.

Cada novo filhote que nascia era recebido com um misto de admiração e cuidado. Eliza explicava a Gabriel e Helena sobre a raça Shetland Sheepdog, destacando como eles eram conhecidos por sua inteligência, lealdade e temperamento dócil.

"Esses cachorrinhos serão companheiros incríveis" disse Eliza, enquanto acomodava o último filhote no cercadinho ao lado dos gatinhos. "Eles vão crescer e se adaptar bem às nossas famílias aqui. São perfeitos para esse ambiente."

Gabriel, ao ouvir isso, sorriu, imaginando como seria ver esses filhotes correndo e brincando pela redoma um dia.

"Eles já parecem tão espertos" comentou Gabriel, observando os pequenos movimentos dos filhotes enquanto dormiam no cercadinho do lado do cercadinho dos gatinhos. "Mal posso esperar para ver como eles vão se desenvolver."

Nem se passaram muitos minutos desde o nascimento da primeira ninhada de cachorrinhos, quando outra matriz emitiu seu sinal característico. Todos no laboratório ficaram em silêncio, esperando com expectativa. Helena e Gabriel trocaram olhares animados, enquanto Eliza se adiantou para acompanhar o processo. O apito era a confirmação de que mais uma ninhada estava prestes a chegar ao mundo.

E assim, um a um, os cachorrinhos da segunda ninhada começaram a nascer. Sete pequenos Shetland Sheepdogs, cada um mais adorável que o outro, emergiram para a vida. Suas pequenas patinhas e olhos ainda fechados moviam-se em busca de calor e conforto. Helena, com um sorriso brilhante no rosto, ajudou a pegar o primeiro filhote, segurando-o contra seu peito com a mesma reverência que havia mostrado com os primeiros. Gabriel, não menos emocionado, fez o mesmo com o segundo, notando o pelo macio e a respiração suave do pequeno ser em suas mãos.

Duas horas se passaram enquanto os pequenos recém-nascidos eram delicadamente organizados em seus respectivos cercadinhos. Os gatinhos, que já haviam se alimentado e agora estavam em um sono profundo, estavam em um dos cercadinhos, e os cachorrinhos, igualmente exaustos, foram colocados no outro. O ambiente do laboratório parecia mais leve, repleto da serenidade dos filhotes adormecidos.

A exaustão começava a aparecer nos rostos de Eliza, Gabriel e Helena, mas a satisfação de terem desempenhado um papel crucial naquelas vidas recém-chegadas compensava qualquer cansaço. Todos começaram a arrumar o laboratório, prontos para encerrar o dia, quando o som de uma nova matriz apitando os surpreendeu. Eliza, com sua experiência, sabia que era a hora dos coelhinhos.

"Os coelhinhos já?" murmurou Gabriel, seus olhos brilhando de antecipação. "Pensei que ainda demoraria mais um pouco..."

"Os coelhos têm um desenvolvimento muito mais rápido" explicou Eliza enquanto se aproximava da matriz. "Mesmo que seus embriões tenham sido transferidos mais tarde, eles estavam prontos. Vamos dar as boas-vindas a esses pequeninos."

Quando a matriz foi aberta, uma ninhada de coelhinhos Netherland Dwarf, a menor das raças de coelhos domésticos, começou a aparecer. Com suas orelhas minúsculas e corpos arredondados, eles eram a imagem perfeita de delicadeza e fofura. Helena suspirou de alegria enquanto Gabriel não conseguia conter um sorriso largo. Eles rapidamente pegaram os coelhinhos, limpando-os com cuidado e carinho antes de colocá-los em um novo cercadinho.

Filhotinhos de Netherland Dwarf

"São tão pequenos" disse Helena, quase em um sussurro, enquanto acariciava um dos coelhinhos. "Nunca vi nada tão adorável."

"Eles parecem tão frágeis, mas são mais resistentes do que parecem" respondeu Eliza, observando os pupilos trabalharem com a mesma dedicação que demonstraram com os gatinhos e cachorrinhos.

Depois de alguns minutos de trabalho, todos os coelhinhos estavam seguros em seu cercadinho, aconchegados uns aos outros em busca de calor. O laboratório estava agora repleto de uma mistura de sons suaves e a visão de pequenas vidas se aquecendo e descansando.

Enquanto observava a cena, Gabriel sentiu um impulso de compartilhar aquele momento com Kara. Ele sabia o quanto ela se importava com cada detalhe, cada vida nascida ali. Então, ele se aproximou de Eliza e, com sua permissão, foi até o centro de operações para chamar Kara.

Chegando lá, Gabriel encontrou Kara ainda absorta na nova luz solar que se infiltrava pela redoma. Ele a chamou em particular, a emoção clara em sua voz.

"Kara, todos os bichinhos nasceram" disse ele, tentando conter a emoção. "Os cachorrinhos, os gatinhos, e agora os coelhinhos... É incrível. Você precisa ver."

Kara, já emocionada pela claridade que finalmente iluminava o mundo exterior, sentiu seu coração disparar ao ouvir a notícia. A combinação da luz do sol e das novas vidas que surgiram naquele dia era quase surreal para ela. Ela assentiu, sentindo uma mistura de felicidade e reverência.

"Eu vou para lá agora" respondeu ela, sua voz carregada de emoção.

Quando Kara chegou ao laboratório, a visão dos cercadinhos repletos de pequenas criaturas adormecidas a deixou sem palavras. Seus olhos encheram-se de lágrimas de alegria. Ela se aproximou lentamente, como se estivesse entrando em um santuário, e observou as três ninhadas com uma expressão de pura admiração.

Eliza se aproximou de Kara, sorrindo, enquanto Gabriel e Helena também observavam silenciosamente.

"Eles são todos perfeitos" murmurou Kara, ajoelhando-se para observar os coelhinhos mais de perto. "Isso é... é tudo o que poderíamos ter esperado e mais."

Ela estendeu uma mão enluvada e tocou suavemente um dos coelhinhos, sentindo o calor e a vida pulsando ali. A sensação era indescritível.

"Obrigada, Eliza... obrigada a todos vocês" disse Kara, olhando para os três com gratidão. "Isso é mais do que eu poderia sonhar."

O dia estava terminando, mas o sentimento de realização e esperança preenchia cada canto do laboratório. As novas vidas que tinham começado ali eram um símbolo poderoso de renovação, em um mundo que estava começando a redescobrir a luz.

Com o coração leve, Kara sabia que, por mais que os desafios fossem grandes, havia um futuro pela frente, iluminado pela luz do sol e pelo nascimento de cada nova vida.

Continua...

É muita fofura em um capítulo só!

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