O Declínio de 2150
Pedro Gonçalves, tenente de 33 anos, sentou-se pesadamente em sua cadeira na sala de comando. Diante dele, uma câmera estava posicionada para registrar seu relato. Ele sabia que o que estava prestes a contar era uma história de luta, desespero e esperança perdida. Com um suspiro profundo, começou a falar.
"Meu nome é Pedro Gonçalves. Tenho 33 anos e fui um dos amigos de Kara Zor-El. Conheci Kara quando éramos jovens recrutas, e vi de perto sua coragem quando partiu para o Cretáceo há cinco anos."
Ele fez uma pausa, seus olhos se perdendo por um momento nas lembranças. "Naquela época, 2150 ainda tinha uma aparência de normalidade. Os purificadores de ar funcionavam bem, as pessoas ainda trabalhavam, e a proteção da cidade, apesar da poluição, ainda era eficaz. Parecia que podíamos resistir."
Pedro olhou pela janela, onde a visão desoladora do presente contrastava amargamente com suas memórias. "Mas as coisas começaram a piorar. Os purificadores de ar, que antes eram nossa salvação, começaram a falhar. Lembro-me claramente do primeiro grande colapso, há três anos. As doenças respiratórias, já preocupantes, triplicaram de um dia para o outro. As pessoas começaram a lutar para respirar, até mesmo dentro de suas próprias casas."
Ele esfregou o rosto, sentindo a aspereza de sua pele, um lembrete constante da deterioração ambiental. "Dois anos após a criação da colônia Nova Aurora no Cretáceo, o primeiro-ministro adoeceu gravemente devido à poluição do ar. Seu estado se deteriorou rapidamente, e ele não resistiu. Foi um golpe devastador."
Pedro respirou fundo, a amargura evidente em sua voz. "Com a morte do primeiro-ministro, o Coronel Leonardo assumiu o comando. Ele era um líder forte e conseguiu manter a cidade em ordem, apesar da crise crescente. Sob seu comando, ainda tínhamos uma centelha de esperança. Mas a cada ano, tudo continuava a piorar. A poluição aumentava, e a cidade se deteriorava diante de nossos olhos."
A voz de Pedro ficou mais sombria. "Então, a alguns meses atrás, o Coronel Leonardo também caiu. Sua saúde, antes robusta, não resistiu à poluição crescente. Quando ele se foi, a liderança foi deixada vaga e o caos tomou conta de 2150."
Pedro olhou para suas mãos, relembrando as noites sem dormir, tentando manter a ordem. "Eu, como tenente, tive que assumir o comando. Rebeliões começaram a estourar. As pessoas, desesperadas e sem esperança, pararam de trabalhar. A situação era insustentável. Prisioneiros fugiram, cidadãos se revoltaram, e a cidade estava à beira do colapso completo."
Ele fez uma pausa, sentindo o peso das responsabilidades sobre seus ombros. "Assumir a liderança em um momento de tanta desesperança foi o maior desafio da minha vida. Cada decisão era crucial, e cada erro poderia ser fatal para o que restava da nossa sociedade."
Pedro respirou fundo, o ar pesado e poluído enchendo seus pulmões, e prosseguiu. "Minha amizade com Kara, e a lembrança de sua coragem e determinação, foi o que me manteve firme. Ela foi a pioneira, a primeira a explorar o Cretáceo. Seu espírito de luta me inspirava a cada dia."
Com um olhar determinado, Pedro concluiu, "Sabia que precisávamos de um plano para salvar o que restava da nossa civilização. Sabia que a única esperança estava na colônia Nova Aurora, no Cretáceo. Era hora de fazer contato e planejar a maior expedição que já havíamos feito. O futuro de nossa espécie dependia disso."
Pedro respirou fundo, sentindo o peso do relato. "E assim começamos a planejar. A próxima etapa era crucial, e o que viria a seguir seria um desafio ainda maior. Mas sabíamos que não tínhamos escolha."
Pedro ajustou-se na cadeira, exalando um suspiro pesado antes de começar a relatar a próxima fase dos acontecimentos.
"Após a comunicação com Kara, Alex e Oliver, fiquei aliviado ao saber que Nova Aurora aceitaria famílias com crianças. As crianças em 2150 estavam sofrendo demais com o ar poluído. Quando a chamada terminou, sabia que os próximos meses seriam cruciais para preparar a expedição."
Pedro lembrou-se do momento com clareza. "Solicitei que os militares fossem de porta em porta, contatando cada família com crianças. Precisávamos informá-las de que seriam levadas para o Cretáceo. A princípio, muitas famílias não acreditavam. 'Como assim, vamos para o Cretáceo?', perguntavam, com uma mistura de esperança e incredulidade nos olhos."
Ele fez uma pausa, a memória viva na sua mente. "As reações variavam. Alguns pais choravam de alívio, abraçando seus filhos com a promessa de um futuro melhor. Outros olhavam desconfiados, incapazes de acreditar que havia uma saída para o inferno em que vivíamos. 'Só podem ir pessoas saudáveis ou com problemas respiratórios que podem melhorar no Cretáceo', explicávamos."
Pedro olhou para suas mãos calejadas, lembrando das noites de insônia. "A situação em 2150 só piorava. A fuligem no ar se tornava cada vez mais densa, as doenças respiratórias aumentavam. Respirar era uma tarefa dolorosa e cada vez mais difícil. Havia dias em que o céu estava tão coberto de poluição que parecia noite em pleno dia."
Ele recordou um encontro em particular. "Lembro-me de bater na porta de uma família. O pai abriu, com o rosto marcado pela fadiga. 'O que vocês querem agora?', perguntou, sem esconder a desconfiança. Expliquei a situação, e quando mencionei que ele, sua esposa e seus filhos poderiam ser levados para um lugar seguro, ele caiu de joelhos, chorando. 'Você está falando sério? Nós realmente temos uma chance?'."
Pedro sentiu a emoção inundar sua voz. "Ver essa esperança, mesmo que frágil, nos olhos das pessoas, dava força para continuar. Mas também havia aqueles que recusavam. 'Não vou deixar vocês levarem minha família para um lugar desconhecido!', gritavam alguns. O medo do desconhecido era tão grande quanto o desespero pela situação atual."
Ele olhou para a câmera, a voz firme. "Os especialistas que Nova Aurora solicitou também foram contactados. Muitos estavam com dificuldades respiratórias, mas que podiam melhorar quando saíssem desse caos, e estavam dispostos a contribuir. 'Se há uma chance de reconstruir algo, eu estou dentro', disseram vários deles."
Pedro recordou-se de uma conversa em particular com um microbiologista. "Ele estava fraco, respiração difícil . 'Eu vou, tenente. Eu vou, porque sei que lá posso fazer a diferença'."
As dificuldades aumentavam a cada dia. "Houve momentos em que pensei que não conseguiríamos. A poluição estava matando mais rápido do que podíamos reagir. Rebeliões começaram a estourar por toda a cidade. As pessoas, desesperadas, atacavam umas às outras por comida e água limpa. Os prisioneiros que haviam fugido tornaram-se uma ameaça constante."
Ele fez uma pausa, sentindo o peso das memórias. "A preparação para a expedição foi extenuante. Os militares batiam de porta em porta, enfrentando não apenas a desconfiança, mas também o perigo iminente de ataques. Vimos coisas que nenhum ser humano deveria ver. Famílias destruídas, crianças órfãs vagando pelas ruas, doentes morrendo sem qualquer assistência."
Pedro respirou fundo, sentindo o ar pesado e poluído encher seus pulmões. "Mas, de alguma forma, conseguimos. Conseguimos reunir as famílias, os especialistas, os professores de educação básica que Kara havia pedido. Cada passo era uma vitória, cada pequeno progresso, uma luz em meio à escuridão."
Ele olhou diretamente para a câmera, com uma determinação renovada. "E assim, com o sacrifício de muitos e a coragem de todos, estávamos prontos. A maior expedição de nossas vidas estava prestes a começar. Sabíamos que não havia volta, que era a nossa última chance. E estávamos dispostos a tudo para garantir um futuro para nossas crianças."
Pedro ajustou a câmera, ciente da importância de cada palavra que diria. Ele se acomodou na cadeira, tentando encontrar um ponto de calma em meio ao caos que o cercava.
"Alguns dias atrás, uma epidemia assolou nossa única cidade na Terra de 2150," começou, a voz carregada de pesar. "Colocamos todos os especialistas e as famílias com crianças em quarentena, para evitar que fossem contaminados. Foi um esforço desesperado, mas necessário. Não podíamos arriscar a saúde dos poucos que tinham uma chance de sobreviver no Cretáceo."
Ele passou a mão pelo rosto, sentindo o peso da responsabilidade. "As rebeliões dos presidiários, liderados por James Olsen, estavam cada vez mais violentas. Eles tentavam incessantemente invadir os centros de operações, determinados a entrar na fenda. Não podíamos permitir isso. Usamos armas de choque, mas em alguns casos, tivemos que atirar. O caos era constante."
Pedro fez uma pausa, ouvindo ao fundo o som distante de gritos e disparos. "E hoje é o dia em que a última expedição acontecerá. É por isso que estou gravando este vídeo, para agradecer a você, Kara, por sua coragem. Sou muito grato por ser seu amigo. Não sei se vou sobreviver, mas peço que cuide da minha esposa e filhos."
Ele respirou fundo, a voz embargando. "Para minha família, quero dizer que os amo muito. Farei tudo para que vocês possam sobreviver. Se para isso eu tiver que ficar, eu ficarei. Eu os amo."
Um barulho de armas foi ouvido do lado de fora da sala, fazendo Pedro olhar rapidamente em direção ao som. Ele voltou-se para a câmera, a expressão determinada. "2150 não tem mais salvação. O futuro da humanidade agora está no Cretáceo. Obrigado a todos."
Com isso, ele desligou a câmera, sabendo que aquelas palavras poderiam ser suas últimas.
Pedro guardou a câmera cuidadosamente na caixa e a colocou junto com os equipamentos que seriam enviados para o Cretáceo. Com um último olhar em sua sala, ele saiu, pronto para dar início à expedição. Quando chegou à ponte do portal, viu que todos estavam prontos. As famílias, os especialistas, todos aguardavam ansiosamente a travessia.
Os militares que não iriam, por estarem fracos demais ou por terem escolhido se sacrificar pelo futuro da humanidade, faziam a guarda, determinados a impedir que James e seus comparsas interferissem na missão. Pedro sentiu um nó na garganta ao ver a determinação nos olhos de seus homens.
"Estamos prontos," disse um dos soldados, levantando a mão em saudação.
Pedro assentiu. "Comecem a travessia."
Diante disso, as famílias e os especialistas começaram a atravessar o portal. A tensão era palpável. Durante a passagem, gritos e barulhos de tiros ecoaram pela ponte. James e sua gangue haviam invadido a área, correndo em direção ao portal.
Pedro, em sua autoridade, deu a ordem decisiva: "Parem eles a qualquer custo!"
O caos se instaurou. O som de tiros e gritos enchia o ar. Pedro observou James se aproximar perigosamente do portal. Sem outra escolha, Pedro ergueu sua arma, mirando com precisão. O disparo ressoou e James caiu, um tiro certeiro na cabeça.
Pedro olhou para trás e viu que todos haviam passado, inclusive sua família. Um misto de alívio e dor percorreu seu corpo. "Coloquem os rebeldes em seu lugar!" ordenou.
Após um tempo, os militares conseguiram deter os invasores. Exausto, Pedro entrou em contato com o Cretáceo para saber se todos haviam chegado bem. Kara respondeu, sua voz trazendo um conforto inesperado.
"Todos chegaram bem, Pedro. Inclusive sua família," disse ela.
Pedro sentiu um alívio imenso e uma lágrima solitária escorreu por seu rosto. "Obrigado, Kara. Mas 2150 não tem salvação. Todos estão se rebelando. Não posso permitir que os presidiários entrem na fenda."
Ele suspirou profundamente. "Acabou, Kara. Não haverá mais 2150 e o Cretáceo. Eu irei destruir a fenda. Vou colocar bombas em volta de todo o portal. Esse impacto deve acabar com a fenda. Só quero que você prometa que minha família ficará bem."
Kara, com a voz trêmula, respondeu: "Eu prometo, Pedro. Mas, por favor, não desista. Não posso perder mais um amigo. Coloque as bombas e, quando for ativá-las, pule na fenda a qualquer custo. Eu estarei do outro lado te esperando. Promete que vai tentar?"
Pedro, com lágrimas nos olhos, disse: "Prometo, Kara."
A comunicação foi encerrada.
Pedro respirou fundo, sabendo que estava prestes a fazer o maior sacrifício de sua vida. As bombas foram postas ao redor da fenda. No momento crucial, ele ativou o detonador e correu em direção à fenda. O som das explosões ecoou por toda a cidade, enquanto Pedro se lançava na fenda, em um salto desesperado para a sobrevivência.
Continua...
O destino de Pedro ficou suspenso no ar, envolto em um mistério. Será que ele conseguiu atravessar a fenda e se reunir com Kara e sua família no Cretáceo?
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