A Jornada para a Maternidade

Em uma manhã tranquila, Lena e Kara estavam na cozinha de sua casa, aproveitando o momento. O aroma do café recém-passado preenchia o ambiente, misturando-se ao som suave da cachorrinha Serena brincando aos seus pés. Era um momento simples, mas carregado de carinho, enquanto trocavam risos e conversavam sobre o cotidiano da colônia.

Entre uma brincadeira com Serena e uma mordida no pão fresco, Lena finalmente decidiu expressar um sentimento que vinha crescendo dentro dela. Observando Kara de soslaio, respirou fundo e, com um sorriso tímido, começou a falar.

“Kara, eu tenho pensado muito sobre o que aconteceu naquele dia... quando todos nós saímos da redoma para sentir o ar puro novamente. Ver Hope lá fora, correndo e brincando, me fez perceber algo... algo que eu não tinha considerado antes”, Lena disse, seus olhos refletindo uma mistura de nervosismo e esperança.

Kara a observava atentamente, notando a seriedade no olhar de Lena. Ela colocou sua xícara de café de lado e segurou a mão da esposa com delicadeza, encorajando-a a continuar.

“Eu... eu quero ser mãe, Kara,” Lena admitiu, finalmente, com uma suavidade que contrastava com a força de sua convicção. “Aquele momento com Hope me fez sentir um desejo profundo de construir uma família, de termos um filho nosso...”

Kara ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras de Lena. Seus olhos brilharam com uma emoção profunda e, em seguida, um sorriso amplo e radiante tomou conta de seu rosto. “Lena, isso é maravilhoso! Adoraria ser mãe. Se você quer mesmo, podemos ir agora mesmo falar com Eliza sobre a possibilidade de ter um bebê nosso. Vamos descobrir o que precisamos fazer!”

Lena sorriu, sentindo o alívio e a alegria se espalharem por seu peito ao ver a animação de Kara. “Você acha que podemos fazer isso, Kara? Que realmente podemos ter um filho aqui, na colônia?”

“Claro que sim!” Kara respondeu com entusiasmo. “Estamos num lugar onde a ciência e a esperança se encontram todos os dias. Se há uma chance, vamos explorá-la juntas. Vamos conversar com Eliza, saber mais sobre os embriões in vitro e o que seria necessário para tornar isso realidade. E faremos isso juntas, como sempre.”

Elas se levantaram, um novo entusiasmo alimentando seus movimentos. Kara pegava a mão da esposa e juntas saíram da cozinha com um propósito renovado, prontas para dar o próximo passo na construção da família que tanto sonhavam. Elas se dirigiam ao laboratório, coração batendo forte com a expectativa e o amor.

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Lena e Kara caminharam juntas, seus passos ecoando pelos caminhos de estrada da colônia, enquanto suas mentes fervilhavam com a nova possibilidade que estavam prestes a explorar.

Ao entrarem no laboratório, viram Eliza concentrada em seu trabalho, enquanto seus pupilos, Helena e Gabriel, organizavam cuidadosamente amostras em uma mesa próxima. Eliza levantou os olhos ao ouvir as duas entrarem e sorriu calorosamente, limpando as mãos no jaleco antes de se aproximar.

“Kara, Lena, que bom ver vocês!” disse Eliza, sua voz carregada de curiosidade. “O que as traz aqui tão cedo?”

Kara trocou um olhar significativo com Lena antes de falar. “Viemos para tirar algumas dúvidas sobre a fertilização in vitro. Queremos saber mais sobre o procedimento, como funciona para um casal como o nosso. Temos algumas perguntas.”

Eliza arregalou os olhos, surpresa, mas claramente animada. “Isso é maravilhoso! Vocês são as primeiras na colônia a demonstrar interesse em seguir adiante com esse processo. Alguns casais (homo/heterossexual) vieram perguntar, mas nenhum teve coragem de prosseguir. Estou muito feliz por vocês considerarem isso.”

Lena assentiu, sorrindo um pouco nervosa. “Sim, estamos realmente interessadas. Queremos entender tudo antes de tomar uma decisão final.”

“Claro, eu explico tudo para vocês,” Eliza respondeu, gesticulando para que se sentassem. Helena e Gabriel se aproximaram um pouco mais, atentos ao que seria uma aula prática importante. “Para um casal LGBTQ+, como vocês, o processo de fertilização in vitro envolve algumas etapas adicionais em comparação com casais heterossexuais. Basicamente, precisamos de óvulos de uma de vocês, que serão fertilizados com esperma de um doador.”

Helena, aproveitando a deixa, continuou: “No caso de vocês duas, temos a opção de usar óvulos de qualquer uma de vocês. Após a coleta dos óvulos, eles são fertilizados in vitro com esperma de um doador anônimo. Temos um banco de esperma selecionado, o que nos permite escolher um doador que corresponda aos traços que vocês desejam, se tiverem alguma preferência.”

Kara franziu a testa, pensativa. “Então, o embrião que seria implantado poderia ser geneticamente relacionado a apenas uma de nós?”

Eliza assentiu. “Isso mesmo. Uma opção que temos discutido é a ‘Recepção de Óvulos da Parceira’. Isso significa que podemos usar o óvulo de uma de vocês e fertilizá-lo com esperma do doador, e então o embrião resultante seria implantado no útero da outra parceira. Dessa forma, ambas estariam envolvidas diretamente no processo, uma fornecendo o óvulo e a outra carregando o bebê.”

Lena sorriu, seus olhos brilhando com a ideia. "Isso é... incrível. Nunca imaginei que poderíamos ambas estar envolvidas dessa forma.”

Kara apertou a mão de Lena, seus dedos entrelaçados formando um elo de apoio e afeto. “Então, poderíamos usar os óvulos de uma de nós e o outro embrião seria implantado, e assim estaríamos ambas participando do processo... isso é maravilhoso,” disse Kara, visivelmente emocionada.

Eliza sorriu ao ver a empolgação no rosto das duas. “Sim, exatamente. E podemos monitorar cuidadosamente todo o processo, desde a fertilização até o desenvolvimento do embrião. A nossa tecnologia aqui na colônia é avançada o suficiente para garantir as melhores chances de sucesso.”

Gabriel, que estava ouvindo atentamente, interveio com um tom encorajador. “Além disso, como o ar e o ambiente estão se tornando mais estáveis, o ambiente ideal para uma gravidez saudável está cada vez mais próximo. Podemos fazer isso de maneira segura e com grande sucesso.”

Lena olhou para Kara, seu olhar transbordando de amor e esperança. “O que você acha, Kara? É isso que queremos?”

Kara sentiu uma onda de emoção subir em seu peito. “Sim, Lena. Eu quero isso mais do que qualquer coisa. Quero construir uma família com você, e trazer uma nova vida para esse mundo que estamos reconstruindo juntas.”

Eliza interrompeu com suavidade. “Há algumas outras coisas que vocês precisam saber. O procedimento de fertilização in vitro pode ser emocionalmente e fisicamente desafiador. Há a estimulação ovariana, a coleta de óvulos, a fertilização, e então o momento da implantação do embrião. Também devemos considerar a saúde da mãe que irá carregar o bebê, monitorando qualquer risco potencial.”

Helena acrescentou: “E quanto à seleção de características, podemos escolher um doador que tenha semelhanças com a genética de vocês, se isso for importante. Mas claro, nem tudo é garantido. A natureza tem suas próprias formas misteriosas de trabalhar.”

Kara assentiu, absorvendo todas as informações. “Estamos prontas para enfrentar o que for necessário. E sabemos que com sua orientação e apoio, Eliza, vamos conseguir.”

Eliza se aproximou, tocando os ombros de ambas com um carinho maternal. “Estou aqui para vocês, em cada passo do caminho. Vamos agendar os primeiros exames e começar o processo de coleta de óvulos. Vocês têm tempo para pensar mais sobre isso, mas sinto que vocês já sabem o que querem.”

Lena segurou a mão de Kara com mais firmeza, seus dedos apertando com determinação. “Sim, sabemos. Vamos em frente.”

Kara sorriu, olhando profundamente nos olhos de Lena. “Vamos trazer uma nova luz para esse mundo.”

A conversa continuou por mais um tempo, com Eliza explicando todos os detalhes minuciosos do procedimento, desde as injeções hormonais para estimular a produção de óvulos até a coleta e fertilização. A empolgação e o nervosismo se misturavam enquanto Lena e Kara absorviam cada informação, imaginando o futuro que estavam prestes a criar juntas.

Finalmente, quando todas as perguntas foram respondidas e o plano estava traçado, Lena e Kara saíram do laboratório de mãos dadas, seus corações cheios de esperança e seus espíritos revigorados. O sol brilhou mais forte sobre a colônia naquele dia, como se até o próprio céu estivesse celebrando sua decisão.

Eliza os observou partir, um sorriso suave em seu rosto. “Mal posso esperar para ver o que o futuro reserva para vocês duas,” murmurou ela para si mesma.

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Nas semanas que se seguiram à sua decisão, Lena e Kara começaram a se preparar para o processo de fertilização in vitro. Elas decidiram que Kara doaria o óvulo e que Lena seria a responsável por carregar o bebê. A decisão parecia perfeita para ambas. Lena sempre sentiu uma conexão especial com a ideia de gerar uma nova vida, enquanto Kara estava emocionada em contribuir diretamente para essa jornada. Ambas sabiam que não seria um processo fácil, mas o amor e a determinação que compartilhavam tornavam tudo possível.

Uma manhã, enquanto tomavam café na cozinha, Kara olhou para Lena com um sorriso malicioso. "Eu tenho um pedido", começou ela, seus olhos brilhando de expectativa. Lena sorriu, divertida. "E o que seria, amor?"

Kara respirou fundo, tentando não parecer muito emotiva, mas suas palavras carregavam um peso especial. "Se vamos usar um doador... eu gostaria que ele tivesse olhos verdes. Como os seus."

Lena ficou surpresa e emocionada com o pedido de Kara. Seus olhos brilharam com lágrimas de alegria, e ela segurou a mão de Kara com força. "Você sempre sabe como me surpreender", disse Lena com um sorriso terno. "Claro, vamos procurar por isso. Adoraria que o nosso bebê tivesse um pouquinho de nós duas, mesmo que seja só uma pequena parte."

Com o coração cheio de amor e esperança, elas foram até o laboratório para discutir o próximo passo com Eliza. Quando chegaram, Eliza estava revisando alguns dados em um tablet, e ao vê-las, seu rosto se iluminou. "Meninas, que bom vê-las! Já tomaram uma decisão sobre o próximo passo?"

Kara assentiu, segurando a mão de Lena. "Sim, decidimos que eu vou doar o óvulo e que Lena vai carregar o bebê."

"Além disso queremos um doador que tenha olhos verdes" disse Kara, expressando sua vontade.

"Excelente", disse Eliza, com um sorriso animado. "Nós temos amostras tanto masculinas quanto femininas congeladas do banco de dados que trouxemos de 2150.

Eliza os levou para a sala de amostras, onde um grande painel digital exibia informações detalhadas sobre os doadores. "Como vocês sabem, o banco de dados contém amostras congeladas de esperma e óvulos de 2150. Podemos escolher um doador com base nas características que desejarem. No caso de vocês, podemos buscar alguém com olhos verdes."

Lena olhou para o painel com curiosidade, absorvendo a enormidade da decisão que estavam prestes a tomar. "Como o procedimento funciona exatamente?" perguntou ela. "Queremos entender cada detalhe."

Eliza explicou: "Vamos começar estimulando os ovários de Kara para que ela produza mais óvulos. Isso envolve algumas injeções hormonais, que ajudarão a amadurecer vários óvulos ao mesmo tempo. Depois, coletaremos os óvulos em um procedimento simples e os fertilizaremos com o esperma do doador que escolhermos. Os embriões resultantes serão cultivados por alguns dias antes de implantarmos um no útero de Lena."

Kara olhou para Lena, seus dedos entrelaçados com os dela. "E se houver mais de um embrião viável?"

"Podemos congelar os embriões restantes para possíveis tentativas futuras", respondeu Eliza, sorrindo. "Mas vamos torcer para que a primeira tentativa dê certo."

Com a decisão tomada, Kara iniciou o processo de estimulação ovariana. Lena estava ao seu lado a cada passo, oferecendo apoio e carinho incondicional. Kara se mostrava corajosa, mas não escondia o cansaço e o desconforto causados pelas injeções hormonais. "Estou me sentindo como uma fábrica de hormônios ambulante", brincou ela, tentando manter o bom humor. Lena apenas riu, segurando sua mão com firmeza. "Você é a minha heroína", respondeu Lena suavemente.

Depois de algumas semanas, chegou o dia da coleta dos óvulos. Kara estava um pouco nervosa, mas Lena ficou ao seu lado, sussurrando palavras de encorajamento. O procedimento correu bem, e logo os óvulos de Kara estavam prontos para serem fertilizados com o esperma do doador de olhos verdes.

"Encontramos um bom doador", informou Eliza com um sorriso. "Ele tem olhos verdes, é saudável e possui um bom histórico genético. Acredito que seja uma ótima escolha."

A fertilização foi realizada com sucesso e, alguns dias depois, Eliza as chamou ao laboratório novamente. "Os embriões estão se desenvolvendo muito bem", disse ela, com entusiasmo. "Temos alguns embriões saudáveis prontos para a implantação."

O coração de Lena disparou ao ouvir aquelas palavras. Ela olhou para Kara, que sorriu e apertou sua mão com carinho. "Estamos prontas", disse Lena, sua voz cheia de emoção e determinação.

Na sala de procedimentos, o ambiente era calmo e acolhedor. Lena deitou-se na cama preparada, enquanto Kara segurava sua mão com firmeza. Eliza, com sua presença tranquilizadora, explicou cada passo do procedimento, garantindo que Lena se sentisse confortável.

"Respire fundo e relaxe", instruiu Eliza suavemente. "Vai ser rápido e simples."

O procedimento foi concluído com sucesso, e agora restava apenas esperar. Nos dias que se seguiram, Kara e Lena voltaram à sua rotina, mas havia uma nova esperança e expectativa em seus corações. Cada pequeno sinal do corpo de Lena era cuidadosamente observado, um misto de esperança e ansiedade enchendo seus dias.

Algumas semanas depois, chegou o momento do teste. Lena e Kara entraram na clínica, onde Caitlin as aguardava com um sorriso acolhedor. "Vamos ver como está tudo", disse ela, guiando Lena para o exame.

O silêncio na sala era palpável enquanto Caitlin realizava o exame. Finalmente, ela sorriu e se virou para as duas. "Parabéns, Lena. Você está grávida."

As palavras mal foram absorvidas antes de um sorriso gigante aparecer no rosto de Lena. Kara deixou escapar um suspiro de alívio, seus olhos se enchendo de lágrimas. Ela puxou Lena para um abraço apertado, seu coração explodindo de alegria.

"Nós vamos ser mães", sussurrou Lena, a voz cheia de emoção.

"Sim", respondeu Kara, acariciando o rosto de Lena com ternura. "Vamos ser mães."

Com essa notícia incrível, a vida na colônia tomava um novo rumo. Lena agora passaria a ter consultas regulares com Caitlin para monitorar a gravidez, enquanto ela e Kara começavam a planejar a chegada de um novo membro à sua família. O amor e a esperança que compartilhavam se tornaram ainda mais fortes, prontas para enfrentar qualquer desafio que o futuro pudesse trazer, juntas.

Continua...

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