017

~Olha onde isso nos levou ~

Aviso: alta descrição de violência e sofrimento.

Preparem a coleção de palavrões e talvez um lencinho.

Memórias ruins contém coisas boas. E momentos bons, são acompanhados de detalhes ruins.

No dia em que ralou o joelho, brigou com algum amigo, perdeu alguém importante em sua vida, teve algum detalhe bom, alguma coisinha que te fez sorrir. O problema é que o momento ruim ofuscou tudo.

No dia em que fez uma nova amizade, viu um filme bom, beijou alguém que queria muito, ou ganhou um presente... Em algum momento, se estressou, tropeçou em alguma pedra, viu alguém que não gosta. Enfim, seu momento bom ganhou essa batalha.

Coisas boas, estarão sempre acompanhadas de coisas ruins. É a balança da vida, felicidade e tristeza, amor e ódio, vitória e derrota.

Ninguém ganha todas as batalhas na vida real, não estamos falando de super-heróis de quadrinhos, e até esses perdem guerras, o mundo é assim. Preparados ou não, algo vai te alegrar, ou decepcionar, te levantar ou destruir.

Há uma decisão a ser tomada sobre esses momentos, essas coisas, e ela te pergunta se esse detalhe vai te assombrar a vida toda ou vai ser apenas uma memória. Vai seguir em frente ou deixar de dormir por isso?

O seu dia foi ruim mesmo, ou foi uma coisa que o deixou assim?

Se for apenas um detalhe... crie uma nova memória, faça uma pipoca, escolha um livro, e aprenda algo novo. Ninguém para a vida por um momento seu, não de verdade, independentemente de algo bom ou ruim, o ser humano está pré programado para seguir adiante.

Bem-vindos a brutal realidade do mundo, concordando ou não, esse é o fim.

As paredes cobertas de musgo e rachaduras, pareciam sussurrar histórias de dor e sofrimento. De um ano que passou ali, não foi de um todo ruim, mas cada passo ecoava como um lembrete dos horrores que ali viveram. Moon caminhava pelos corredores escuros e úmidos do subterrâneo do estádio, sentindo o peso do passado em seus ombros, cada um uma facada em seu coração.

Haviam luzes piscantes surgindo em sua visão novamente, sua cabeça doendo suficiente para fazê-la escostar a testa no gelado de uma curva, puxando o oxigênio com força.

Ele estava próximo, ela sentia isso em cada músculo dolorido, latejar em sua cabeça e disparo de seu coração. Jang Jae-jun a esperava, e isso a deixava com medo.

Han Moon, a lenda daquele mesmo estádio, nunca sentiu tanto medo em sua vida. Antes, ela não ligaria em morrer, nem se colocaria em metade das situações em que se envolveu nos últimos meses, mas a versão que se pôs a andar novamente, tinha por quem lutar, e desejava viver, sentia merecer coisas boas em sua vida.

Havia uma imagem do homem em um dia a ensinou a andar de bicicleta, que a fazia rir com suas histórias militares, e dizia lhe amar. Agora, essas memórias estavas distorcidas pela crueldade e ganância que ele havia abraçado, tomado como mais importante do que família.

Moon lembrava-se de como ele havia destruído a vida de sua irmã, Sun, e a sua própria, como as de milhões de pessoas pelo mundo, transformando amor em ódio.

Sua cabeça doeu mais, e a mulher chiou de dor, uma mão sobre sua testa para tentar amenizar o incômodo presente. Ele estava ali.

A Han respirou fundo, tentando controlar a raiva que queimava em seu peito, e a dor insuportável que fazia presente em seu cérebro, abrindo uma porta de metal, que levava a área onde os Corvos viviam antes, seu campo de batalha agora.

Seus olhos encontraram os dele no mesmo segundo. Antes castanhos como os dela, agora vermelhos como o de Sun, e ele sorria, sentado na cadeira que um dia foi do Sargento Kim.

Todos os pelos dos braços de Moon se arrepiaram com aquele sorriso, era perverso, falso, estranho. A Han quase correu para de volta de Eunhyuk, pedindo por um abraço e ajuda, mas sabia que aquela era uma briga de família.

—— Moon, minha querida! —— a voz era suave, mas mecânica, a mulher quase pulou de susto, já que não parecia nada com suas memórias —— Sabia que viria minha menina, sempre soube que era a mais especial.

Era como se ela tivesse 7 anos novamente, ouvindo ele dizer palavras gentis e amorosas. Moon sentiu uma onda de raiva e nojo ao ouvir aquelas palavras. Ela sabia que cada palavra dele era uma mentira, uma tentativa de manipulação.

Suas mãos tremeram enquanto fechava a porta atrás de si, mas sua expressão permaneceu dura, os olhos frios nele.

—— Não me chame de querida —— ela respondeu, sua voz tremendo de emoção. —— Você destruiu minha vida, a vida da Sun. Como pode ter a audácia de dizer que me ama?

Jang Jae-jun manteve o sorriso, mas seus olhos brilhavam com uma frieza calculista.

—— Tudo o que fiz foi pelo bem da humanidade —— ele continuou, ignorando a dor evidente na voz de Moon. —— Você tem um poder dentro de você, Moon.

A mulher franziu o cenho, confusa. Seu namorado havia dito que era especial, Hyun-su estava agindo de forma estranha, mas poder, era uma coisa que não entendia ainda. Que poder?

Aquilo fez o mais velho sorrir, se levantando. Moon ofegou encarando ele, seu corpo não era humano, era como uma montanha de carne humana, em formato de pessoa, mas não humano.

Haviam tantas tentáculos com garras saindo de suas costas, e o som de rastejo era tão grotesco, que Moon fechou os olhos por dois segundos para não vomitar.

Ele refletia o que era por dentro. Podridão, nojeira, e tudo o que dava nojo.

—— Tem sentido dores de cabeça? Náusea? Tem descoberto neo-humano antes de outros?

Ele listou, seus passos pesados e gosmentos tentando se aproximar dela.

Moon reconheceu os sintomas, mas negou com a cabeça, se afastando dele, suas mãos indo para sua bolsa, pronta para sacar alguma arma a qualquer momento.

—— Já começou a ouvir vozes?

Moon sentiu as luzes ofuscando sua visão novamente, as dores de cabeça atingindo com força seu cérebro. Não havia vozes. Não.

Mas tinha algo acontecendo. Seus olhos castanhos piscando em lágrimas de dor.

Jang sorriu novamente, mas seus dentes agora eram mais pontudos, e havia sangue neles.

Moon engoliu em seco, seus dedos encontrando uma arma calibre 38, sabendo que aquilo mal daria tempo de fuga a ela.

—— Meu amor —— disse grosseiramente a ela, a fazendo levantar a arma, ele riu —— Não me irrite Moon, nós sabemos que você tá fraca de mais para me vencer, mal consegue lidar com aquele neo-humano idiota que te trouxe, não vai conseguir lutar contra quem te ensinou tudo o que sabe sobre luta.

A expressão de Moon endureceu quando ele citou Eunhyuk, seu coração batia tão forte que ela pensou que Hyun-su ouvia do lado de fora do estádio.

Jang viu como a abalou, e deu outro passo em direção a ela, a fazendo engatilhar a arma, um de seus dedos no gatilho.

Ele precisava dela viva para seus planos, mas Moon estava o estressado, e o fazendo perder o controle.

—— Podemos trazer a paz e a ordem que este mundo tanto precisa —— tentou sorrir, Moon balançou a cabeça, lágrimas de ódio escorrendo por seu rosto. —— Posso até ser bonzinho e deixar a fraca da sua irmã viva, quem sabe até seu namoradinho estúpido.

Um tiro ecoou pelo estádio, e até os garotos que lutavam do lado de fora ouviram, Lee Eunhyuk travou por um segundo, antes de se obrigar a continuar lutando, prometendo que iria até Moon em seguida.

A expressão de Jang Jae-jun mudou instantaneamente. O sorriso desapareceu, substituído por uma máscara de raiva. Seus músculos se contorceram, e sua pele adquiriu um tom vermelho, sangue, monstruoso.

—— Você vai se arrepender de me desafiar, Moon —— ele rosnou, sua voz agora cheia de ódio, suas inumeras garras perigosas e grotescas apontadas para ela. —— Eu te dei tudo, e você me traiu!

Corra garota! Corra.

Moon correu, jogando o corpo em um dos destroços ali, suas costas batendo contra uma pedra enorme, escapando de uma das garras que quase a acertou. A mulher segurou a respiração, os olhos arregalados e adrenalina tomando conta de seu corpo, ela pegou sua arma de choque em seguida, sabendo que aquilo era apenas o começo.

—— Você é patética... Não era para se apaixonar por um pobre coitado netinha, era só ficar viva por uns dias e sair daquele prédio.

A mulher se arrastou para atrás de uma pilastra, tentando fugir do dono da voz que se aproximava de onde ela estava antes, quebrando o solo com facilidade, a fazendo estremecer com o pensamento de ser a próxima coisa a ser destruída.

—— Depois ficou no estádio, quando poderia muito bem abandonar todos e ficar sozinha. —— debochou, saliva e sangue escorrendo por sua boca, enquanto tentava encontrar seu alvo —— ficou fraca igual sua irmã, o maior problema da sua mãe também... vocês amam de mais.

Moon estremeceu de ódio. Ouvindo-o zombar das mulheres de sua família, de pessoas que sempre estariam acima dele.

Içou seu corpo para cima para ver se o encontrava, arma em seus braços levantada, Moon torceu para que a voltagem lhe desse tempo de fuga ou plano, porque aquela versão de monstro, não parecia ser como as que lidou até então.

E não era.

—— Te peguei!

Suas pernas foram enroladas por um tentáculo nojento, Moon tentou desviar, mas ele era rápido demais, seu grito cortou o ar quando o som do osso esmagado emergiu pelo ambiente frio.

A arma escorregou de suas mãos, e a Han fechou os olhos esperando por uma garra no meio de seu peito. Não aconteceu.

Uma pena.

Sua cabeça atingiu uma parede com força, quando Jang a jogou para o outro lado, um sorriso perverso em seu rosto, quando ouviu o choro doloroso de Moon, que segurava o tornozelo com o rosto vermelho e molhado em lágrimas, dor irradiando seu corpo.

O gosto metálico tomou conta de sua boca, e sentia sangue escorrer por sua cabeça. Moon sentiu um primeiro soluço tomar conta de seu corpo, a fazendo sentir uma dor estrondosa em sua coluna, a obrigando a se deitar no chão quebrado.

—— Deus —— soluçou após um segundo, sentindo que iria engasgar no próprio sangue.

Sun, Eunyu, Chan-yeong, Hyun-su...

—— Por favor... por favor...

Lee Eunhyuk.

Moon lutou para se levantar, sua visão turva pelas lágrimas de dor e frustração. Cada movimento parecia um esforço monumental, e ela sentia suas forças se esvaindo. Por um momento, a desesperança tomou conta dela. Parecia que tudo estava perdido, que ela não tinha chance contra o monstro que seu avô havia se tornado.

Nunca havia sentindo tanta dor e tanto medo.

Moon ainda era a menina que sonhava em psicologia para famílias de baixa renda, que tinha um projeto de extensão com crianças abandonadas em abrigos, e que queria jogar vôlei aos fins de semana. Ainda era a criança que pedia aos pais por um dia de folga, que chorava de medo de escuro, e dizia que iria se casar com um príncipe encantado.

Que chorava quando um personagem favorito morria, acompanhava a irmã mais velha nas brincadeiras e fazia tranças no cabelo de sua mamãe.

Ela ainda era uma pequena menina que sempre se apaixonaria pelo líder do residencial verde. Que havia aprendido a amar no meio de um caos apocalíptico e que confiava no amor, na família, nos amigos.

Moon sentia tanta dor e tanto medo, que teve pena de sua versão pequena, que nunca entenderia como o avô pode fazer isso com ela.

Ainda era a adolescente que lia fanfics e chorava por livros românticos.

Moon queria não ser naquele momento. Ela desejou não sentir tanta dor, tanto cansaço e tanta traição em sua pele, quando o avô se aproximou novamente, o rosto próximo ao choro dela, com nada além de maldade e desejo por sangue.

O sangue dela.

Moon desejou estar morta. Porque queria que todas suas versões ainda vivas dentro de si, não se machucassem mais.

Todas elas mereciam um mundo em que pudessem se sentir realizadas e seguras. Não deveriam ser uma heroína machucada e a um passo de seu fim.

—— Eu preciso do seu sangue, não de você viva —— a voz fria disse lentamente, enquanto puxava a neta para si, as presas quase tocando seu rosto machucado. —— tão tola, eu deveria ter tirado todo seu sangue quando matei seus pais, assim não teria tantos problemas.

A dor atravessa seu corpo, e pela primeira vez, o medo genuíno se infiltra. Não só do monstro diante dela, mas do monstro dentro dela.

De uma parte sua, que sempre lutaria pelos fragmentos das outras, para que a pequena Moon ainda possa ter medo de escuro, e a Moon adolescente se case com um médico inteligente, e por fim, que a Moon adulta, tenha paz.

Eai?

Não acabou o sofrimento das irmãs....

Moon:

Vocês e eu agora:

Acreditem ou não, eu choro escrevendo meus personagens sofrer kk, e a Moon ainda é a minha favorita...

Beijos.

Até amanhã.

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