Prólogo
Hoseok
Tenho perfeita noção de como o universo é abrangente e surpreendente em seu todo, como cada detalhe está ali para complementar outro detalhe. Que tudo está interligado. Eu queria realmente ser capaz de poder apreciar mais isso, não só o universo exterior como meu próprio universo. Mas algo está muito errado. Parece que em algum momento eu me perdi. Deixei tudo que eu já tinha construído cair, perdi todos meus esforços, foi tudo em vão. Eu sou uma nova pessoa, evolui em alguns pensamentos e não mudei minha essência, mas ainda falta algo.
Queria ser capaz de entender como é possível passar de uma fase relativamente boa para outra ruim de forma tão abrupta. Não me sinto mais conectado a tudo como eu costumava sentir; não me odeio como antes, mas também não me sinto completamente realizado.
Estou ansiando por alguma coisa que me faça sentir vivo.
Dormir, acordar, se alimentar, andar, cumprir tarefas, tudo rápido pra que não seja necessário pensar sobre isso. Com "isso" eu me refiro a simplesmente tudo. Ao sentido de estarmos aqui, aos problemas do mundo, a desigualdade, a violência, ao meu vazio interior, a falta de empatia das pessoas, tudo. Porque é doloroso pensar em tudo e não ter uma solução pra nada. Ou uma válvula de escape.
Sei muito bem que nossa válvula de escape não pode ser uma pessoa. Nosso porto seguro não pode ser outro ser humano igualmente imperfeito. Pessoas vão embora, te decepcionam e não foram feitas pra te complementar e ser a sua "alma gêmea". Não é romântico pensar assim, eu sei, mas é necessário. Enquanto existir esse pensamento de que pessoas complementam umas às outras vai existir sofrimento, e pessoas achando que não são suficientemente boas sozinhas.
O ponto é: só você pode se complementar. Existe um universo inteiro dentro de você, como uma extensão do próprio cosmos, um caos organizado e bonito à sua maneira. Mas a pergunta é: você está dando a devida atenção à sua própria galáxia? Ou está tentando se encontrar no universo de outra pessoa?
Eu já me afoguei no meu próprio universo a muito tempo. Posso dizer que a parte mais difícil dessa fase já passou. No entanto, eu ainda me sinto sozinho. Não porque eu não saiba apreciar minha própria companhia, mas porque raramente alguém sabe como fazê-lo.
Tudo é superficial, desde complementos á interações reais. A essência não é mais importante e é por isso que eu permaneço sozinho, mesmo quando estou cercado de pessoas. Estou á espera do meu efeito borboleta.
Mesmo sem querer ser romântico eu me pergunto se existe alguém que não seja superficial, e que seja capaz de me compreender mesmo quando eu me expressar de forma confusa. Alguém capaz de não julgar minha complexidade, e não me pressionar. Alguém que entenda que eu não preciso de ninguém pra completar meu mundo, que eu preciso de tempo pra me entender ás vezes, que o silêncio e a "solidão" dos meus pensamentos não são ruins, mas necessários. Alguém que também entenda que, apesar de tudo isso, não tem sentido apreciar todo esse mundo sozinho.
Virei na cama mais uma vez, já apreensivo com todos esses pensamentos me preenchendo. Claramente não ia conseguir dormir nem tão cedo. Busquei por meu celular no criado mudo que ficava ao lado da cama e olhei a hora, já passava de duas da manhã. Madrugadas sempre tinham esse efeito sobre mim. Me deixavam com uma inspiração enorme e o poder de pensar sem parar, apenas deixando essa estrada de reflexões me levar para onde pretendesse.
O ruim de estar preso em uma rotina monótona (isso por minha própria escolha, devo ressaltar) é que tudo se torna tão desinteressante que sua única escolha é se isolar dentro de si mesmo.
Eu tenho amigos, um grupo pequeno, mas significativo e verdadeiro. No entanto, acabei me afastando de quase todos eles. Não sei como aconteceu. Posso dizer que foi um processo de fases, primeiro fiquei em casa alegando que iria focar nos estudos, caso eu não conseguisse passar na segunda chamada do teste de admissão da universidade, e realmente o fiz. Antes de procrastinar e ficar fazendo absolutamente nada produtivo. Então Seokjin foi chamado para fazer um curso em uma cidade um tanto quanto distante, fazendo com que perdêssemos contato. Jin é um dos meus amigos mais próximos, depois de Lisa, e eu realmente sinto sua falta.
Depois neguei meus problemas interiores e continuei em casa por pura falta de vontade de fazer qualquer coisa. Falta de vontade, é diferente de preguiça, entende?
Posso dizer que a única que não se afastou de mim, ou deixou esses acontecimentos afetarem diretamente nossa amizade, foi Lisa. Pelo contrário, nossa relação apenas se fortaleceu e eu agradeço muito a ela por isso, porque eu mesmo teria desistido de mim se pudesse.
Enfim chegou a minha fase de auto aceitação, e posso dizer que agora eu estou bem melhor que antes. Mas isso não significa que esteja tudo bem. Afinal, se estivesse tudo bem eu não estaria a essa hora da madrugada me remoendo por causa desses pensamentos.
Desistindo de tentar dormir, me levantei de supetão e calcei meus chinelos. Peguei o celular, fones e um casaco que pus sobre o pijama pois estava fazendo um frio gutural. Precisava esvaziar a cabeça ou seria consumido por tudo aquilo.
Minha mãe dormia no quarto vizinho ao meu e meu irmão mais novo estava lá junto a ela. Pelo que eu conhecia deles, não acordariam nem que uma bomba explodisse logo acima do nosso teto.
Sem me preocupar muito fui em direção a porta da frente e sai, trancando-a pelo lado de fora e levando a chave. A rua estava deserta como era de se esperar e a lua minguante brilhava em meio a um céu estrelado. Respirei o ar da noite e andei sem exatamente nenhum rumo.
As ruas da cidade onde eu morava desde sempre eram simples, mas ao mesmo tempo acolhedoras. Eu não vivia em uma cidade grande, mas em um lugar que vinha crescendo cada dia mais. Os casos de assaltos também vinham crescendo e eu deveria ter me preocupado mais com isso antes de sair de casa em plena madrugada pra andar por ai sem rumo.
Mas o céu estava tão lindo...
Continuei andando enquanto olhava pras estrelas, um tanto absorto naquilo e um pouco mais tranquilo.
Foi quando, mesmo com os fones de ouvido, eu fui capaz de ouvir um grito. Assustado, olhei ao redor achando que tinha alguém sendo assaltado, mas tudo que vi foi um garoto bêbado caindo no chão enquanto chorava e gritava que tinha estragado tudo. Ele estava agora ajoelhado sobre o meio fio do outro lado da rua e eu só conseguia ver seus cabelos verdes menta.
Passei um tempo parado pensando no que eu deveria fazer. Continuar andando e deixar aquele garoto perambulando por ai até cair de bêbado em alguma vala e acordar no outro dia se perguntando como diabos chegou ali. Ou ir até ele e tentar ajudar. A segunda opção me parecia estranhamente tentadora, até que comecei a pensar em como aquilo poderia de alguma forma me causar problemas e considerei voltar e ir pra casa. O garoto bêbado provavelmente tinha amigos procurando por ele e iria ficar bem.
Quando decidi me fazer de desentendido e voltar de vez para o conforto de minha casa, um jovem de cabelos castanhos e vestido todo de preto se aproximou do garoto que ainda jazia sobre o meio fio. Achei que era um de seus amigos e que ia o ajudar, mas, ao invés disso, ele agarrou a gola da camisa do de cabelos verdes e o levantou do chão de forma nada gentil, jogando-o na parede logo depois.
— Você realmente acha que tem esse direito? — perguntou o de cabelos castanhos em um tom de voz alto o suficiente para que eu, mesmo ainda plantado do outro lado da rua, fosse capaz de ouvi-lo perfeitamente.
O garoto de cabelos verdes, mesmo prensado contra a parede e com uma mão enorme o segurando pela gola da camisa, deu uma risada debochada.
— Você sempre tão arrogante e sempre machucando as pessoas ao seu redor, não é Yoongi? Esse deve ser seu passatempo favorito. — continuou o de cabelos castanhos.
Então o nome dele é Yoongi.
Yoongi apenas deu outra risada, e recebeu um soco logo em seguida. Fiquei estático, não tinha a menor ideia do que fazer. Aquela era uma briga que não me envolvia e eu nem conhecia aquele cara, então por que estava considerando ir até lá e me intrometer?
Observei Yoongi receber outro soco, e mais outro em seguida, sem fazer absolutamente nada para se defender. Quando comecei a me mover em direção à confusão, outro garoto, este com cabelos platinados, chegou correndo e tirou o moreno de cima de Yoongi.
— Já chega, Jungkook. Olha o que você fez com ele, não precisava disso. — disse o platinado enquanto segurava Jungkook pelos braços.
— Claro que precisava, ele foi um perfeito idiota. Não acredito que você ainda o defende depois de tudo que ele fez.
Depois disso, Jungkook e o garoto de cabelos platinados começaram a discutir em um tom de voz mais baixo e não fui capaz de ouvi-los de onde estava. Alguns minutos mais se passaram e os dois saíram, deixando um Yoongi caído e machucado pra trás.
Finalmente criei coragem de me mover e praticamente corri de encontro a Yoongi, me abaixando ao seu lado. Quando prestei atenção em seu rosto fiquei perdido por uns instantes. Mesmo com os olhos inchados de chorar, a boca e o nariz sangrando devido aos socos que tinha levado do tal Jungkook, ele era lindo e era impossível negar isso. Yoongi tinha um rosto suave, mas ao mesmo tempo marcante. Simplesmente inexplicável.
Naquele momento eu soube que, não importava quanto tempo passasse, eu não iria esquecer aquele rosto nem tão cedo.
Tentei me aproximar mais, para tentar ajudá-lo a levantar, mas fui empurrado de forma fraca. Mesmo caindo de bêbado Yoongi me olhava com uma expressão nada amigável.
— Seja lá quem você for não preciso da sua ajuda – ele disse com a voz arrastada.
— Eu sei que isso é bem estranho, que a gente não se conhece, mas olha só pra você. — comecei a tagarelar de nervoso — Não vou deixar você andando por ai nesse estado sozinho, bêbado e machucado. Juro que não sou um assassino nem um estuprador nem nada do tipo. Mesmo que eu ache que você esteja bêbado o suficiente pra não se preocupar com isso.
"Hoseok você é um completo idiota" minha mente fazia questão de me lembrar. Mas pelo menos, eu estava fazendo uma boa ação no mundo, certo?
Yoongi deu uma risada e não pude deixar de reparar em seu sorriso gengival. Tão lindo. Como ele, nesse estado tão deplorável, consegue ser lindo assim?
— Com esse pijama de ursinhos que você ta usando por baixo do casaco eu realmente duvido que você seja qualquer uma dessas coisas. Ainda assim, vou recusar sua ajuda.
— Qual o preconceito com a minha roupa? Sua mãe nunca te ensinou a não confiar em estranhos? Eu podia ser realmente perigoso, a sua sorte que eu não sou. Mas poderia ser.
Yoongi lançou-me um olhar cortante e tentou se levantar sozinho, mas cambaleou e teria caído caso eu não houvesse o segurado firmemente pela cintura. Por um momento pareceu que ele ia contestar, antes de perceber que realmente não conseguia nem ficar em pé sozinho.
— Viu, você precisa da minha ajuda no fim das contas.
— Não sei do que você está falando, garoto.
Suas palavras saíram emboladas e ele usava meu corpo de apoio para permanecer em pé.
— Me diz teu endereço logo e eu te deixo lá. Você consegue raciocinar o suficiente pra lembrar onde mora?
Desistindo de resistir, ele finalmente me disse um endereço de forma tanto quanto confusa, mas que consegui entender. Uma das vantagens de só ter amigos alcoólatras é que acabei desenvolvendo uma habilidade deveras útil de lidar com pessoas bêbadas, visto que eu sempre era o único que ficava sóbrio quase todas as vezes. Beber não era meu forte, definitivamente.
Depois de caminharmos em silêncio por alguns minutos, Yoongi apontou na direção de um prédio que ficava a duas casas de distância de onde estávamos.
— É ali.
Logo chegamos a porta do lugar um tanto maltratado pelo tempo. Yoongi morava em uma rua um tanto esquisita e senti um arrepio percorrer minha espinha.
— Vamos, eu levo você até seu apartamento.
Subimos dois lances de escadas, e quando chegamos em frente a porta de número 314 Yoongi tirou as chaves de seu bolso com um tanto de dificuldade. Vendo que aquilo não daria certo, peguei o chaveiro de sua mão e abri a porta.
— Está entregue.
Ele entrou cambaleante e acho que ouvi um "obrigado" baixinho antes de a porta ser fechada.
Notas Finais
Então gente, é minha primeira fanfic publicada e eu estou um tanto nervosa. Mas quero pedir que sejam pacientes comigo, que comentem e votem e façam essa pobre escritora iniciante feliz.
Espero que vocês gostem e que perdoem qualquer errinho que aparecer.
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