32
Hoseok
Todo e qualquer vestígio de raiva que eu poderia sentir por ter sido interrompido naquele momento desapareceu quando abri a porta. Apesar do policial que habitava a calçada da minha casa ser especialmente grande, minha atenção foi imediatamente direcionada para o garotinho ao seu lado.
Yoongi tinha me explicado, mesmo que de forma breve e hesitante, o que tinha acontecido com Jisung nos últimos dias. Senti meu interior se revirar de repulsa quando o ouvi dizer que meu pai havia tirado meu irmão de nossa casa. Apenas fiquei mais calmo quando ele me explicou que tinha prestado depoimento, já que eu não estava em condições, e que em breve estaria tudo resolvido. Eu só não esperava que fosse tão breve assim, visto toda a burocracia que esses processos tendem a envolver.
- Você é Jung Hoseok, certo? - o policial perguntou.
Assenti com a cabeça, sendo atacado por um abraço poderoso de meu irmão logo em seguida. Eu tinha sentido tanta falta daquilo.
- O que houve?
- Eu estava fazendo meu turno e encontrei esse garoto na rua, parecendo meio perdido. Quando perguntei a ele se estava tudo bem, ele disse que precisava conversar com Jung Hoseok, que tinha que mostrar algo a você, mas que não podia. - ele fez uma pausa e olhou para o corredor atrás de mim, onde Yoongi estava - No caminho, pedi que ele me explicasse o que tinha acontecido.
Eu não tinha certeza se estava pronto para ouvir o que ele tinha a dizer, ou se estava com medo, mas perguntei assim mesmo.
- E exatamente o que aconteceu?
- Ele disse que não o deixavam mais viver com você, e que era injusto. Porque o pai de vocês te colocou no hospital. - o policial parecia cada vez mais confuso - Ele disse que fugiu, porque ficou com medo...
- Ele bate na outra mulher dele também, Hobi - Jisung, que até então estava calado, interrompeu - Ele ameaçou me bater como fez com você, porque eu disse que ele não podia machucar você, nem ninguém. Então eu fugi.
Fiquei em silêncio por alguns momentos, absorvendo a informação. Por um instante, uma lembrança amarga de meu pai ameaçou voltar, mas foi tão breve que mal fez cócegas.
- Ele fez o quê? - Yoongi perguntou, segurando meu braço sutilmente - Nós temos que ir até a delegacia reportar isso.
- Eu recomendo que seja rápido então, - o policial sugeriu - pode ajudar bastante.
- Ajudar o quê? - uma voz feminina e sonolenta interrompeu a conversa.
Minha mãe surgia na sala com um roupão e uma expressão preocupada.
- O que está acontecendo aqui? - ela perguntou, seu olhar se iluminando ao ver meu irmão na porta - Jisung?
Tão rápido quanto havia chegado, Jisung correu de encontro a nossa mãe e a abraçou. Olhei para Yoongi, parado perto de mim, e consegui ver em sua expressão como ele parecia desconfortável e perdido na situação. Eram tantas coisas acontecendo simultaneamente que eu nem mesmo sabia como deveria agir.
- Eu ouvi vocês dizendo que precisam ir à delegacia? - minha mãe disse - O que está acontecendo aqui?
- Meu pai ameaçou bater nele também, no Jisung. Acho que devemos ir agora, no caminho podem explicar melhor tudo.
Minha mãe fez que sim com a cabeça, rapidamente assimilando tudo, e correu até seu quarto, para trocar de roupa. Senti pena do policial parado à porta, perdido em toda a história que minha família envolvia.
A verdade era que meu corpo ainda doía, minha cabeça estava girando com tudo que acontecia, e algumas memórias aleatórias pareciam querer voltar, mas nunca se solidificavam. Eu não me sentia preparado, ou disposto, a ir até a delegacia. Porém, queria como nunca ver o desfecho daquilo. Queria ver meu pai ser apreendido, finalmente sendo condenado a pagar por tudo que já fez.
- Acho que vocês têm muito que fazer - Yoongi falou, firme, buscando por sua mochila, que estava jogada no sofá - É melhor eu ir embora.
- Tem certeza? - eu não queria que ele fosse embora - Yoongi?
Ele parou em minha frente, um casaco em mãos, e deu um sorriso vacilante. Um sorriso como aquele que ele dava quando estava bêbado e me pedia para ficar...
- Uma vez, você disse que queria que eu ficasse e dormisse com você - comecei a falar, segurando a lembrança como podia, impedindo que ela escapasse de mim como areia - Eu preciso de você aqui agora, Yoongi. Então, não vai embora, por favor.
- Você lembra? - seus olhos brilhavam. -Você lembra desse dia?
- Um pouco, apenas. Você estava bêbado, me pedia para passar a noite com você em seu apartamento...
Yoongi riu, antes mesmo que eu pudesse concluir o pensamento.
- Então você lembra mesmo - ele parecia envergonhado - Logo desse dia.
- Eu vou ter que partir pra chantagem emocional?
- Não precisa, eu fico.
Assim que ele disse tais palavras, minha mãe reapareceu na sala, já pronta. Ela parecia disposta a matar um homem, um em específico.
- Vamos.
•••
A viagem de poucos minutos até a delegacia foi tão tranquila quanto podia ser. Meu irmão, com minha ajuda e do policial, contou toda a história a minha mãe. Tivemos que ser levados na viatura do oficial, e Yoongi negou-se a soltar minha mão por um minuto sequer. Ele também me deu seu moletom no meio do caminho, quando notou que eu tremia, mesmo que o motivo para isso não fosse o frio.
Metade de minha consciência estava assimilando tudo o que podia do momento, enquanto a outra metade estava perdida tentando formular hipóteses. Tentando pensar no que aconteceria dali em diante. Dispersa em pensamentos e, bem, lembranças.
Ao chegar na delegacia, não demorou para que fossemos recebidos pelo delegado. Foi um pouco complicado explicar toda a situação, desde o pedido de guarda provisória de Jisung, até o acontecimento que me mandou para o hospital.
Todos nós fomos chamados a prestar depoimento, todos nós demos nossa versão dos fatos. Eu contei tudo aquilo de que podia me lembrar, inclusive a primeira vez que ele me bateu. Foi desafiante falar sobre aquilo, ao mesmo tempo que libertador.
No final de tudo, o delegado tinha motivos mais do que suficientes para mandar oficiais até a casa de meu pai. E foi o que ele fez.
- Se encontrarem a sua madrasta machucada - o delegado começou a falar, se referindo a Jisung - será uma apreensão em flagrante. Ele será declarado culpado, portanto perde sua guarda. Provavelmente isso acontecerá de qualquer maneira, por conta do que já aconteceu com seu irmão.
- Ainda terá um julgamento, certo? - minha mãe perguntou.
- Exatamente. Hoje é o começo de processos chatos e complicados. Legalmente, você pode levar o Jisung para casa hoje. Já temos depoimentos o suficiente contra Jung Sehun, é apenas questão de tempo e advogados.
- Obrigado, delegado.
- Aliás, eu recomendo que levem essa criança para fora daqui também. Não é um ambiente bom.
Jisung fez uma careta, mas seus olhos inchados de sono entregavam como ele precisava de uma cama para dormir.
- Hoseok, acho que você devia ir pra casa agora - minha mãe disse, sorrindo fracamente - Leve o Jisung e seu namo... Yoongi, eu vou acertar os últimos detalhes aqui e volto logo.
- Mas, mãe...
- Ela está certa - o delegado interrompeu - Estão liberados, vocês.
Sendo vencido, e entendendo que não tínhamos mais nada que fazer ali, deixei Yoongi me guiar até o lado de fora. Segurei a mão de um Jisung completamente sonolento como se minha vida dependesse disso. Apesar da dor, do cansaço e da confusão mental, eu sentia que as coisas finalmente tomariam um rumo bom.
Quando atravessamos a porta da frente da delegacia, no entanto, minhas mãos começaram a tremer. Havia uma viatura parada a alguns metros de distância, suas sirenes ainda ligadas, e meu pai saindo de dentro do carro algemado. Nem mesmo o olhar que ele me lançou foi capaz de me fazer voltar a andar, pelo contrário, eu estava completamente paralisado.
"Eu sinto nojo de você."
"Eu te odeio."
- Hoseok? Ta tudo bem? - Yoongi segurou meu rosto, me fazendo olhar para ele - Vamos embora logo, não deixa...
- Arrumou um namorado pra te defender, Hoseok? - meu progenitor gritou, interrompendo o momento - Ou mais uma putinha pra te agradar?
Meu sangue ferveu, subiu a cabeça, e quase pulei em cima daquele homem por pura raiva, sem me importar com laços de sangue.
Nojo, tudo que eu conseguia sentir era nojo.
- Vamos embora daqui - Yoongi segurou minha mão e a de Jisung - Ele só falou isso porque é um babaca sem argumentos e princípios.
- Ele só acertou na parte de namorado - Jisung entrou na conversa - Afinal, vocês são namorados ne? Namorados cuidam um do outro, e ele tem cuidado de você, Hobi.
- Você precisa dormir.
- Você precisa admitir logo que gosta muito dele - meu irmão juntou a mão de Yoongi com a minha - Pronto, agora sim.
Yoongi não conseguia parar de rir, completamente envergonhado, e eu não conseguia parar de pensar em como crianças podiam ser daquele jeito. No entanto, pelo resto do caminho, continuei segurando a mão do garoto ao meu lado.
Notas Finais
eai coisinhas lindas? eclipse ta tão perto do final que da até uma dor no coração, mas ainda tem muita coisa pra acontecer rs
sera q rola pedido de namoro em breve....?
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