27

Yoongi

Seokjin, que estava sentado no banco da frente, parecia quase tão estático quanto eu. Vez ou outra, ele deixava escapar alguma pergunta que eu não sabia como responder. Tudo que eu podia fazer era murmurar "sim" ou "não". Hoseok não tinha sido específico em sua mensagem - decifrar as abreviações desesperadas já foi bastante difícil - como eu podia saber com detalhes tudo que tinha acontecido?

Os dez minutos que passamos no trânsito pareceram uma eternidade. Quando o outro professor de Taehyung, que eu não conhecia na verdade, estacionou o carro, abri a porta e corri até a entrada da casa de Hoseok imediatamente.

A porta estava encostada, mas não fechada à chave. Girei a maçaneta, e entrei. Enquanto dava passos vacilantes pelo corredor que levava à sala, me dei conta de como nunca havia colocado os pés ali antes. Ainda assim, tudo remetia a Hoseok e sua áurea antes revigorante.

Na primeira vez que avaliei o lugar com o olhar, apenas notei que a TV estava ligada em um seriado qualquer. Na segunda vez, notei o braço de Hoseok estirado no chão. Corri até ele, em choque, sem querer tocá-lo com medo de piorar tudo.

Era difícil assimilar a situação, acreditar naquilo. Hoseok tinha machucados pelo rosto, sangue escorrendo pelo canto da boca, e a camiseta suja e amarrotada. No fundo, eu não queria saber exatamente o que tinha acontecido, só queria vê-lo bem o mais rápido possível.

- Acho melhor levar ele pra um hospital - Taehyung disse - No carro do Namjoon pode ser mais rápido.

Desviei o olhar de Hoseok, não conseguia mais o encarar naquele estado, e assenti com a cabeça para meu amigo. Ele estava certo, afinal. Devíamos levá-lo a um hospital logo, ele devia ficar bem logo.

Seokjin então pegou Hoseok no colo, como se não pesasse nada, o levando para fora daquela casa.

Por mais que eu tentasse evitar, era impossível não criar um cenário com tudo que havia acontecido. Era impossível não sentir minhas vísceras se contorcerem de raiva do homem que tinha feito aquilo. No fundo de meu subconsciente, eu só conseguia sentir repulsa e tristeza.

Novamente no carro do professor, apoiei Hoseok como consegui em meu ombro. O hospital não ficava tão longe dali, pelo que eu me lembrava.

Quão sérios podiam ser os danos físicos que ele havia sofrido? Será que chegavam a ser piores que os psicológicos?

Eu não conhecia Hoseok a tanto tempo assim, não sabia como ele vinha se sentindo. Ainda havia muita coisa não falada entre nós, mas eu tinha certeza de uma coisa: faria sempre meu melhor para vê-lo bem.

Assim que o carro foi estacionado outra vez, Taehyung puxou Hoseok com delicadeza até o lado de fora. Demorei um pouco para conseguir deixar o veículo, observando eles o levarem para além das grandes portas de vidro do hospital.

Respirando fundo, criei coragem para os acompanhar. Dentro do estabelecimento, Seokjin conversava com uma enfermeira. Hoseok estava sendo colocado em uma maca por alguns médicos.

- O que exatamente aconteceu? - ela perguntava.

- Ele foi espancado - interrompi - Não podemos falar com detalhes o que houve, não estávamos lá.

- Você é...?

- O namorado dele. - falei num impulso - Será que dá pra simplesmente ajudar? Eu não sei a quanto tempo ele está desacordado.

A mulher fez uma cara de contragosto, parecia não ter gostado de saber da informação.

- Ele precisa do acompanhamento da família nesse caso - ela continuou - mas vamos fazer nosso melhor. Caso forem esperar, podem ficar naquela recepção.

Taehyung deu um sorriso falso para a mulher e Seokjin respirou fundo assim que ela saiu. O outro professor chegou logo em seguida, as mãos nos bolsos, parecendo deslocado.

- Obrigada pela carona, Namjoon - Jin agradeceu - Realmente, desculpa por tudo isso.

- Eu gosto de saber que ajudei em alguma coisa - Namjoon sorriu fraco - Se precisar eu vou estar aqui. Quer que eu fique?

- Seria bom - foi Tae quem respondeu - Sabe, mais apoio.

- Temos que ligar pra mãe dele - murmurei, ainda estático demais pra assimilar algo - Você tem o número dela, Jin?

- Tenho sim. Ela me conhece a mais tempo, vou ligar e contar a situação. Volto já.

Seokjin se afastou um pouco para conseguir privacidade, o telefone nas mãos trêmulas. Suspirando, caminhei até a recepção e sentei em uma das cadeiras desconfortáveis. Afinal, eu só podia esperar. Taehyung chegou logo em seguida, acompanhado do cara alto, e ambos se sentaram ao meu lado.

Senti a mão de Tae alcançar a minha e a segurei.

- Você sabe que vai ficar tudo bem, não sabe? - ele perguntou baixinho, para que só eu pudesse ouvir.

- Acho que sim.

- Ele vai melhorar logo - Tae continuou - vai ficar tudo bem.

- Você acha que eu devia ter insistido mais em falar com ele?

- Como assim?

- Ele passou vários dias sumido - respirei fundo - talvez eu devesse ter mandado mais mensagens. Ido atrás dele?

Taehyung balançou a cabeça e apertou minha mão com mais força.

- Eu não acho - ele respondeu - Você deu o espaço que ele queria. O único culpado é o nojento que fez isso com ele.

Bem, aquilo era razão. Não era como se eu me culpasse, na verdade. Apenas queria que Hoseok tivesse o que merecia, um pai melhor, compreensão. Era impossível pensar que, talvez, se eu estivesse mais próximo dele aquilo pudesse ter sido evitado de alguma forma.

Alguns minutos depois, Seokjin apareceu novamente na recepção. Sua feição exibia preocupação e tensão, mas ele tentava disfarçar bem.

- A mãe dele já está vindo pra cá - ele falou, a voz cansada - Já está chegando. Ela pediu pra que pelo menos algum de nós ficasse enquanto ela não chega.

- Não tenho pressa pra sair daqui mesmo - falei, apoiando as costas na cadeira - Não até saber que está tudo bem.

***

Os minutos correram vagarosamente, como se houvessem congelado, e eu já começava a me perguntar se o tempo havia parado mesmo. Depois de uma breve discussão, decidimos que Seokjin ficaria esperando comigo e que Namjoon levaria Taehyung para casa.

Não tinha muita coisa para ser falada, então mergulhamos em um silêncio que beirava o desconfortável, mas que parecia ser o mais correto no momento. Porém, a falta de palavras dava espaço para meus pensamentos, o que era a pior coisa que podia acontecer. Eles se espalhavam como hera, contaminando todo meu subconsciente, trazendo à tona tudo que eu não queria reviver.

Lembrei de como já tinha visitado aquela mesma recepção daquele mesmo hospital incontáveis vezes quando criança. Até o dia que não precisei mais voltar. Lembro de como chorei quando a enfermeira me deu a noticia, parecia que meu mundo tinha despencado. Eu era tão novo, e ainda assim já estava perdido.

Mesmo assim, ali estava eu novamente. Esperando por uma noticia, sentindo a ansiedade corroer minhas células. Era impossível não pensar em como todo mundo ao meu redor sempre se machucava, fisicamente ou psicologicamente.

Quando a mãe de Hoseok finalmente ultrapassou as portas do hospital e veio em nossa direção, senti uma mescla de alivio e tristeza. Alivio por, finalmente, ter alguém da família dele ali, e tristeza por notar sua expressão extremamente abalada, com lágrimas nos cantos dos olhos, e uma postura cabisbaixa. No entanto, apesar de tudo isso, ela deixou um sorriso aparecer quando nos viu.

A mãe de Hoseok parecia ser uma mulher incrível, capaz de brilhar apesar de todas as dificuldades. Não era muito difícil de saber de onde ele tinha puxado seu carisma e sua personalidade.

Depois de explicar com mais detalhes como tínhamos chegado até ali, voltamos ao nosso silêncio inicial, mas daquela vez era denso e desconfortável.

Cerca de uma hora depois, a mesma enfermeira que tinha conversado com Seokjin apareceu acompanhada de um médico. Eles caminharam em nossa direção, as feições sérias. Depois que chegaram ao nosso encontro, a mulher saiu, nos deixando com um pouco de privacidade.

- A senhora é a mãe do garoto que chegou machucado? - o médico perguntou, a voz suave.

- Sim, como ele está?

No momento de hesitação que se seguiu, tentei extrair algo da expressão dele, mas não consegui captar nada.

- Não é nada com que vocês devam se preocupar de verdade - ele começou - Inicialmente, descobrimos que ele sofreu uma hemorragia interna por conta dos chutes que provavelmente levou no abdômen. Como não sabemos com exatidão o que aconteceu, fica difícil dizer. Porém, tal hemorragia já está sendo tratada e não é motivo de preocupação. Além disso, com a ajuda de exames mais detalhados, encontramos evidências de uma suposta pancada na cabeça. Quem foi que encontrou o garoto?

Minha cabeça girava com todas aquelas informações, mas criei coragem pra responder.

- Fui eu.

- Bem, você consegue me contar o máximo de informações que puder sobre isso?

- O que eu sei é que foi o pai dele quem fez isso. A mensagem que ele me mandou não esclarecia muita coisa, era quase incompreensível. Apenas dizia que ele precisava de ajuda porque tinha apanhado do pai. Então, eu fui até a casa dele o mais rápido que pude e quando cheguei lá ele já estava assim, deitado no chão.

- Pois bem, - o médico suspirou - provavelmente, no meio disso, o agressor pode tê-lo derrubado com força no chão. Como estava incapaz de formular algum mecanismo de defesa, ele acabou sofrendo um grande impacto na cabeça. Enquanto o paciente não acordar, é difícil dizer com clareza quais sequelas ele pode ter desenvolvido. No entanto, meu palpite e de que ele pode vir a perder algumas memórias mais recentes. Talvez temporariamente, talvez permanentemente.

Eu não sabia, novamente, como devia reagir àquela informação, então apenas escutei enquanto a mãe de Hoseok e o médico conversavam sobre consequências da perda de memória, alta, quando ele iria acordar, detalhes da internação e o boletim de ocorrência que devia ser prestado sobre a agressão. Seokjin, vez ou outra dava uma opinião, usando todos seus talentos artísticos para esconder qualquer outra emoção.

Naquele momento, no entanto, meu cérebro era capaz de formular apenas uma pergunta, repetidamente. Quando acordasse, Hoseok ainda seria capaz de se lembrar de mim?



Notas Finais

entaokkkkkkkk oi

olha gente, antes de tudo, confiem em mim, o final NAO vai ser triste ok? eu ja disse e repito: final feliz em eclipse

porem, nem tudo são flores (q brega) e algumas coisinhas vão acontecer, tá?

eu fiz esse cap as pressas, se tiver erro me perdoem, eu nao revisei direito

até a proxima xuxus


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