07
Hoseok
Minha playlist era reproduzida no aparelho de som do carro e, no momento, a batida relaxante de I feel It coming reverberava no ambiente. Eu cantava enquanto dirigia em direção à escola pública na qual minha mãe dava aula pela manhã.
Foi relativamente simples depois que ela saiu de casa. Após um tempo no banheiro com Taehyung, que insistiu em tomar banho comigo dizendo que "quanto mais limpo melhor", eu tive que ajudar Jisung a conferir se estava tudo certo antes de sair. Meu irmão, mesmo tendo apenas 9 anos, já fazia tudo sozinho e precisava de ajuda só na hora de conferir o material que ia levar a escola. O problema é que Jisung era também muito observador, e não tive como esconder Taehyung dele.
Quando meu irmão viu o garoto alto e bonito que me acompanhava, foi logo me enchendo de perguntas embaraçosas, típico de qualquer criança. "É seu amigo? Seu namorado? Mamãe sabe? Ele dormiu aqui?". No fim das contas tive que subordiná-lo com uma visita ao parque na semana que vem e dinheiro. Coitado de quem acha que comprar o silêncio de uma criança é fácil. O mais importante é que ele concordou em não me explanar e pude deixá-lo no colégio sem mais preocupações.
No caminho até o campus onde Taehyung estudava, conversamos sobre vários assuntos fúteis e descobri que ele desde sempre teve um amor muito grande pela arte. Era interessante descobrir como ele era afeiçoado a museus, pinturas e teatro. Também descobri algo que na verdade já era bem óbvio; Taehyung adora aproveitar a vida e não perde nenhuma oportunidade. Isso me fez pensar que posso ter sido apenas mais uma aventura, mas surpreendentemente não fiquei abalado. Até porque todos os pensamentos sobre Taehyung que percorriam minha mente desapareceram no momento que esbarrei, dessa vez literalmente, em Yoongi.
O universo vivia me jogando no caminho do garoto, e era sempre aquele misto de confusão e estranheza quando isso acontecia. Principalmente porque tudo nele parecia ser oposto.
A áurea que transparecia de Yoongi era diferente.
Minha mãe me aguardava no estacionamento a frente do colégio. Estacionei o carro e andei em sua direção.
— Finalmente, Hoseok. Você demorou dessa vez. — ela disse com os braços cruzados provavelmente por causa do frio.
— Desculpa, me compliquei no trânsito.
A expressão dela me dizia que ela não havia acreditado no que eu tinha dito, nunca fui um bom mentiroso. No entanto, ela não prolongou o assunto.
— Então, Hobi, eu vou ser direta. Fui demitida da outra escola.
Quê?
— Com isso, só me sobra esse emprego, mas... é escola pública, então não é o suficiente para manter nossas despesas. Eu mandei alguns currículos para outros colégios, mas provavelmente vão demorar pra me mandar algum retorno.
Quanta informação em tão pouco tempo.
— Mas espera, por que te demitiram? Sempre achei que seu emprego lá fosse estável. Mãe, você é a professora de história mais venerada daquele colégio.
— Eu sei que sou, mas o diretor não acha isso. Depois que fiz aquela campanha e palestra sobre a comunidade LGBT, alertando como o apoio dos pais é importante e tudo o mais... Ele disse que eu estava sendo uma má influência aos jovens, que pais estavam insatisfeitos, simplesmente por eu ter feito a coisa certa. Então, ele disse que eu devia me ater fielmente ao que era necessário ensinar, e eu pedi demissão.
Eu não sabia se abraçava minha mãe, se chorava ou se ria. Provavelmente eu devia chorar porque estávamos no fundo do poço, mas eu estava muito orgulhoso. A mulher que estava na minha frente havia perdido o marido e agora o emprego pra me defender e defender minha causa. Justamente por isso eu não podia mais deixar ela fazer todo esse esforço sozinha.
— Eu vou arrumar um emprego pra ajudar com as despesas. — digo sem hesitar.
Minha mãe franziu as sobrancelhas num misto de preocupação e estranheza. Pra ela devia ser complicado decidir se minha súbita notícia é boa ou não, considerando que passei os últimos meses num estado quase que vegetativo, enquanto ela respeitava meu espaço e fazia de tudo pra não me pressionar. Agora, porém, era questão de necessidade; já estava na hora de começar a retribuir tudo que ela fazia por mim.
— Tem certeza, Hoseok?
— Sim, eu já devia ter feito isso antes.
Ela solta um suspiro cansado e me abraça. Fico meio sem reação, mas aceito o carinho de minha mãe e a abraço de volta, até que ela tem que voltar a escola. Com um misto de medo, orgulho e culpa caminho até o ponto de ônibus mais próximo.
Yoongi
Taehyung era um borrão atravessando o estacionamento do campus. Cabelos castanhos sob uma boina (ele era a única pessoa que eu conhecia que ficava bonito usando esse negócio), cachecol e casaco voando por culpa do forte vento de inverno. Corri atrás dele, dessa vez tomando o cuidado de não esbarrar em ninguém.
Quando já estávamos praticamente fora do campus consegui alcançá-lo. Mesmo naquela temperatura nada agradável, jovens andavam de um lado para o outro; alguns conversavam sobre assuntos da faculdade, outros carregavam copinhos de café enquanto caminhavam apressados.
Taehyung pareceu feliz em me ver e abriu seu sorriso quadrado, sua feição se iluminando. Ao contrário dele, eu não estava tão contente assim.
— Oi Yoonie...
— Que ideia maluca foi aquela de mandar Jimin direto pra onde eu estava ontem?
A frase saiu num rompante e Taehyung levantou uma sobrancelha, surpreso com meu acesso. Conhecendo-o como eu conhecia, não acharia nada estranho se ele me dissesse que havia na verdade me feito um favor. O problema é que ele não podia fazer nada, e tentar me juntar com Jimin de novo não era um favor.
— Você pediu por isso, Yoongi. Para vocês se resolverem. — a voz dele era séria — Se deu merda, você não pode jogar a culpa em mim.
— Claro que posso jogar a culpa em você! Eu não pedi pra você marcar justamente ontem. Eu tinha terminado com ele fazia só um dia, como você esperava que não desse merda?
Eu tinha que me esforçar pra não deixar meu tom de voz se elevar uma oitava. O rosto de Taehyung assumiu uma expressão de culpa e ele abriu a boca pra falar algo, mas foi interrompido por uma voz ainda mais irritada que a minha. Uma voz que eu conhecia muito bem.
— Você realmente não cansa de foder com a vida dos outros, Yoongi?
Levei um susto ao perceber que Jungkook estava parado ao meu lado, o rosto jovem e bonito contorcido de raiva. Jeon não ingressou na faculdade ainda, está esperando o resultado do curso de fotografia em que se inscreveu. Provavelmente só estava ali pra outra confusão comigo, com certeza porque soube do que aconteceu.
— Tudo bem, Jungkook. Justo. Eu só faço merda, já sei disso...
— Eu achei que você não podia fazer pior, mas você incrivelmente ultrapassou as expectativas.
Olhei ao redor envergonhado e sentindo a culpa me afogar novamente. Felizmente, a maior parte dos jovens que vagavam por ali já havia seguido seu caminho e não havia ninguém próximo o suficiente para conseguir escutar o que dizíamos. Pensei em dizer que havia sido Taehyung quem havia marcado aquilo cedo demais, mas não era justo.
— Jimin merece alguém melhor, entendeu Jungkook? Eu não entendo porque você está tão irritado com tudo, mas não te culpo. Talvez você queira protegê-lo...
Assim que essas palavras saíram da minha boca eu soube o real motivo de toda a revolta de Jungkook, fazia todo o sentido.
— Você gosta dele, não gosta? — falei um tanto incrédulo — Então você devia compreender que eu não sou bom o suficiente pra ele. Foi por isso que fiz o que fiz, não pretendia magoá-lo, mas não teve outro jeito. Eu não posso deixar que ele tente me ajudar e acabe se perdendo no caminho, Jungkook.
Falei tudo num impulso repentino e, antes que eu pudesse sequer olhar pra cara do garoto a minha frente, fui atingido por um abraço de Taehyung.
— Ah, Yoonie. Por que você não me disse nada, seu projeto de vegetal rabugento?
Soltei uma risada engasgada. Eu precisava pintar meu cabelo de uma cor mais "normal", desde que apareci com aquele tom de cor verde ganhei o carinhoso apelido de 'vegetal'.
Olhei pra Jungkook e ele parecia muito afetado por tudo que eu havia dito, mesmo que, se você pensasse direito sobre o assunto, não era surpreendente o fato de eu não ser suficiente para Jimin. Meu maior talento era ser um babaca, era óbvio que ele merecia mais do que eu podia oferecer.
Jeon começou a falar algo num tom de voz um tanto envergonhado.
— Não é isso que você está dizendo, eu não estou...
— Caidinho pelo Jimin? — Taehyung o interrompeu — Ah, mas não precisa ser nenhum gênio pra perceber isso, Jungkook. Você praticamente baba quando Jimin passa, eu só não me pronunciei antes por causa do namoro dele com o Yoongi.
Tenho que confessar que eu estava surpreso por não ter percebido antes, mas ainda assim estava aliviado. A atmosfera ao meu redor estava bem menos tensa, mesmo que Jungkook ainda parecesse intrigado.
— É tão óbvio assim?
— Sim, ficou ainda mais óbvio quando você deixou a cara do Yoongi roxa por causa disso.
Eu sentia que minhas mãos começavam a congelar por causa do frio, e que eu e meus amigos tínhamos muito o que conversar. Então fomos até o ponto de ônibus e surpreendentemente pegamos o caminho do meu apartamento.
Notas Finais
Oi galera, estão gostando?
Eu particularmente achei esse capitulo um pouco chato, mas espero que gostem.
Até a próxima e Stream em Epiphany.
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