Parte 4
Talvez eu esteja há mais de uma semana na casa de George.
Quem sabe já se passaram quase dois meses?
O quartinho do bebê na minha casa já está pronto e completamente decorado com pinturas de balões, nuvens e mais uma porção de coisas fofas e delicadas. O berço que eu queria, de metal espelhado, está devidamente posto na parede contrária à janela, de modo que não há perigo da chuva ou sol excessivo atrapalharem.
Minha mãe inclusive veio passar um final de semana para lavar todas as roupinhas e colchinhas para que tudo esteja pronto quando chegar a hora.
Aliás, esse é o grande motivo pelo qual não deixei a casa de George. Ao mesmo tempo que me sinto super destemida e capaz de enfrentar qualquer coisa pelo meu pequeno bebê, um medo intenso de que algo aconteça comigo enquanto estou sozinha se apossou de mim.
Por causa de um pequeno sangramento inesperado, George pediu que eu entrasse em licença maternidade agora no início do oitavo mês. Então eu fico vagando pelo seu apartamento e pelo catálogo da Netflix o dia todo enquanto ele não chega.
- Lela, cheguei! – George grita no exato minuto que termino de assistir o último episódio de House.
Hoje passei o dia inteiro me sentindo estranha, e essa sensação parece não querer ir embora. Não consegui comer nada além da tapioca que George praticamente me fez engolir de manhã, e me senti um tanto quanto letárgica o resto do dia.
- Olá. – Dou um sorriso amarelo quando ele aparece na porta do quarto.
- Como vocês passaram o dia? – George beija minha barriga e ergue o olhar para mim. Sua voz soa preocupada quando diz: – Você está quente... Está com febre?
- Não. Só estou meio molinha.
A verdade é que parece que um caminhão me atropelou em algum momento dessa tarde. Não sei se sou capaz de sequer me levantar se ele me pedir.
- Bom, eu comprei aquela massa que você gosta. Vou trazer aqui no quarto.
Só a lembrança do gosto é o suficiente para eu querer vomitar. Então George parece entender quando olho para em tom de súplica e tira o sapato para se aninhar comigo na cama.
Nós nos aproximamos muito durante essas semanas em que estamos dividindo o mesmo teto. Acho que ainda não somos o que pode ser considerado um casal, mas eu definitivamente me sinto mais segura quando ele deita assim na cama, com os braços ao redor dos meus ombros, e seus dedos ficam imaginando figuras imaginárias em minha barriga. Ele também me acompanha nos médicos, me mima de todas as formas que consegue e, bom, não tem um momento livre em sua agenda que ele passe longe de mim.
- Ei, você sentiu isso? – Ele pergunta, a voz levemente mais aguda do que o normal.
Minha barriga está completamente rígida e eu sinto uma pressão muito forte na parte de baixo.
Eu olho assustada na direção de George apenas para encontrar uma expressão tão espantada quanto a minha em seu rosto.
- Você acha que...
- Eu acho que.
Minha voz sai estrangulada e eu começo a chorar. Não sei bem se por causa do susto ou se pela dor aguda que eu sinto em seguida.
Tudo acontece muito rápido. George passa a mão no celular e enquanto fala com o meu médico, ele pega a mala do bebê e a minha e desaparece.
Eu fico sozinha por apenas alguns minutos, mas parece uma eternidade. Está muito cedo! Eu tenho 34 semanas ainda e, por mais que os exames indiquem que está tudo bem com o bebê, o medo me toma por completo.
Quando George volta para o quarto, estou soluçando tanto que meu corpo treme incontrolavelmente.
Graças a Deus ele assume uma postura inabalável e não se deixa atingir pela minha insegurança. Ele me pega no colo e percebo que estamos na garagem só quando ele me coloca sentada no banco da frente do seu carro e se inclina sobre mim para prender o cinto.
- Fica calma, ok? Vai dar tudo certo. – Ele promete.
Apesar de ainda não estar com o tempo ideal de gestação, meu obstetra fala que está tudo bem com o bebê e eu realmente estou em trabalho de parto. Ele explica que a medicina não é uma ciência exata e que cada corpo reage de uma maneira diferente a diversas situações e que eu não deveria me preocupar.
Philipe nasceu pequeno, com 2,400kgs e 47cm, de parto normal.
George não soltou minha mão em momento nenhum e eu vi as lágrimas se formarem em seus olhos quando nosso filho veio ao mundo algumas – muitas – horas depois que chegamos no hospital.
O sentimento de dar à luz um serzinho tão pequeno e tão perfeito é algo que nunca vou conseguir colocar em palavras com exatidão.
Apesar de extremamente cansada, eu me senti poderosíssima e logo após o parto senti a famosa descarga de adrenalina se apossar de mim.
Todo o medo, o cansaço e insegurança deram lugar a uma alegria gigantesca. Algo dentro de mim explodiu quando George me entregou Philipe pela primeira vez e eu senti como se nunca mais pudesse soltá-los. Sim, nenhum dos dois.
George depositou um breve beijo em minha testa e me abraçou de forma torta, porém seu gesto significou um mundo para mim.
Do jeito certo ou errado, agora sou mãe, e essa é uma forma de amor que até então eu só achava que conhecia. E, de algum modo, me sinto completa com minha família extraordinária e fora dos padrões.
- Eu amo vocês. – George diz ao apertar o abraço.
E o que eu posso responder de volta? Nenhuma palavra parece fazer jus ao sentimento que tenho pelos dois homens em minha frente, o pequenininho que eu dei a vida, e o cara que me deu o melhor presente que eu jamais poderia ter imaginado – com quem, inclusive, construí uma relação no mínimo inusitada.
- Eu também amo vocês. – Digo por fim, com a certeza de que isso não representa nem metade do amor que nasceu em meu.
❤❤❤
FIM!
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