Parte 1


Já se passaram 5 semanas desde aquele fatídico dia em que me deixei ser seduzida por George Hoffmann. Justo ele que, além de ser meu chefe, é o cara mais cobiçado da cidade. Ele é jovem, vem de família rica, bonito, bem-sucedido no trabalho, e a lista de qualidades ainda é extensa.

Seu único defeito comigo até hoje foi não ter corrido atrás de mim quando praticamente fugi do seu apartamento naquela manhã. Ele tinha uma obrigação moral de falar qualquer coisa. Mas a verdade é que ele apenas fingiu que nada aconteceu.

Quer dizer, volta e meia ele ainda me lança olhares furtivos e uns sorrisinhos como quem diz "eu sei o que fizemos, mas não vou me pronunciar até que você o faça primeiro". Ele só esqueceu que eu não costumo dar o braço a torcer em hipótese alguma.

Quando chego na cafeteria, pela primeira vez decido trocar minha tapioca de queijo branco por um gigante e maravilhoso croissant de chocolate. Eu sei que não devo, mas ver aquela bandeja recém-saída do forno ser arrumada na vitrine foi simplesmente irresistível. E não é como se uma única escapulida fosse arruinar com toda a dieta de uma vida, certo?

Apesar de ter acordado um pouco indisposta, estou revigorada depois do banho pós corrida. Meu cabelo está incrivelmente brilhoso e macio e eu nem preciso passar muita maquiagem para me sentir bonita. Uma camada de rímel e um batom vinho e voilà.

Escolhi propositalmente minha blusa preferida, um modelo branco de seda, e uma saia lápis. Confesso que tenho me vestido de forma um pouco mais ousada, embora dentro do dress code profissional do escritório. Quero que George me note, que ele venha falar comigo sobre aquela noite.

E, quando ele vira o pescoço para me acompanhar com o olhar andar enquanto ando até minha sala, eu sei que consegui o que queria.

Temos uma reunião importantíssima com nosso principal cliente do momento. Como eu o estou auxiliando no caso, isso significa que vamos passar muito tempo juntos pelas próximas semanas.

- Guten morgen, Lela. – Ele diz, me pegando desprevenida.

- Bom dia, George. – Respondo em um tom que espero ser provocante e profissional ao mesmo tempo.

Tudo já está pronto para receber o cliente e essa constante tensão sexual não é capaz de se dissipar entre nós.

George chega a afrouxar o nó da gravata algumas vezes, embora arrume logo depois. Enquanto isso, eu cruzo e descruzo as pernas, revelando vez ou outra um pouco mais da pele coberta pela fina meia-calça.

Sei que ele está ligeiramente desconcertado, porque em intervalos curtos precisa limpar a garganta e desviar o olhar de mim.

O que não tenho certeza é de onde isso vai me levar. Se ele não comentou nada até hoje, das duas uma: ou ele é está fazendo de propósito para brincar comigo, ou realmente não quer nada. De qualquer forma, George está agindo como um completo babaca.

- Hmm... Lela... Você quer um café? – Ele pergunta, me puxando de volta à realidade.

- Por favor.

Quando volta à sala de reunião, George está acompanhado de Ricardo Bonetti – o tal cliente, que por acaso é um executivo nacionalmente famoso, envolvido em um escândalo político.

Então eu não sei se é a mistura do perfume amadeirado com café, mas todo o mal-estar de mais cedo volta e eu preciso sair daqui.

Ricardo se inclina para me cumprimentar, mas eu não tenho qualquer reação além de me virar de costas para ele. A verdade é que ele está bloqueando a saída da sala e eu não tenho para onde correr. Tento respirar fundo e fazer o enjoo passar, mas isso só piora e tudo o que posso fazer é me inclinar sobre o pequeno lixo e despejar todo o meu café da manhã.

Eu não fiquei na sala tempo suficiente para ouvir o pedido de desculpas de George para Ricardo Bonetti. Apenas corri para minha mesa e pensei seriamente na possibilidade de me esconder debaixo do tapete até o final do expediente para que ninguém me visse sair arrastada pela vergonha até minha casa.

Mas é claro que George mandou sua secretária me passar o recado que era para eu voltar para casa imediatamente e só retornar quando estivesse curada da minha virose. Talvez seja essa a história que ele tenha contado para amenizar o fato de que eu quase vomitei nos pés de Ricardo Bonetti.

Então, visto uma máscara impassível e atravesso o mar de advogados e estagiários até o elevador. Bom, pelo menos dessa vez a náusea é controlável e eu consigo não vomitar no saguão do prédio enquanto espero um táxi.

Naná me espera em casa com um chá de boldo recém feito, a Netflix preparada na televisão e nosso sofá da sala arrumado com cobertores e almofadas.

- Achei que você ia precisar de uma tarde confortável.

Ela dá de ombros quando eu ameaço chorar ao abraçá-la. Eu já disse que Naná é a melhor amiga que alguém pode ter no planeta?

- Obrigada. – Falo novamente.

- Relaxa. – Ela sorri. – Acha que seu estômago aguenta uma pipoca?

Assim que ela menciona, me vem à cabeça uma imagem quase obscena de uma calda amanteigada sendo derramada sobre um balde gigantesco de pipoca quente. Talvez eu esteja salivando.

- Só se for com muita manteiga.

- Quem é você e o que fez com a Lela fit que mora comigo? – Ela ri.

Em algum momento entre o primeiro e o segundo filme, conto para Naná sobre George. Eu sei que devia ter contado antes, mas confesso que não quis ser julgada por ficar bêbada, transar com meu chefe e ser ignorada por isso. Eu costumava prezar bastante pela minha dignidade, mas não é como se ela ainda existisse depois de hoje.

Ela ri e fala algumas vezes que não acredita. Realmente, é quase inacreditável que eu tenha ficado com George. Ele já deu em cima de Naná uma vez quando nos encontrou na festa de final de ano do escritório, mas graças a Deus minha amiga teve a clareza de não dar bola para o meu chefe. Que pena que minha carne é fraca e eu caí de quatro por ele depois de alguns drinks.

- Há quem diga que a verdade sai quando o álcool entra.

- Talvez. Quer dizer, quem não quer tirar uma casquinha de George Hoffmann? Se bem que... De repente, é até melhor ele não ter tocado no assunto. Vai que ele vira pra mim e fala "querida, você está demitida porque violou a regra que proíbe relacionamento entre funcionários".

- Já imaginou que plot twist se você aparece grávida no escritório? – Ela ri.

- Você ficou louca?

Mas o pânico começa a crescer em mim em forma de náusea e eu só tenho tempo de correr até o banheiro.

- Manoela Mancini, você não tá grávida, né? Diz que vocês, pelo menos, usaram camisinha.

Quando eu ergo o olhar para Naná, ela imediatamente sabe a resposta. Eu não lembro de ter usado a droga da camisinha. Em minha defesa, eu não lembrava sequer de ter transado com George.

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