Barco
Sabe aquele ditado que diz para não tomar uma decisão na empolgação ou quando está com raiva? Neste exato momento eu posso garantir que é a mais pura verdade.
Ano passado a minha turma se formou no Ensino Médio e eu fazia parte de um grupo de cinco colegas de turma que ficaram juntos durante todo o tempo do Ensino Médio. E, quando eu digo que foi "todo o tempo", foi todo o tempo MESMO! A gente saía juntos, comemorávamos juntos, estudávamos juntos, passávamos os finais de semana juntos... Enfim, nós sempre fomos muito unidos!
No final do nosso terceiro ano caiu a ficha de que as coisas iriam mudar. Por mais que a gente se falasse todo o dia e o tempo inteiro no nosso grupo (às vezes, mesmo quando estávamos juntos, nós trocávamos mensagens pelo grupo só para garantir que certas coisas ficariam salvas caso precisássemos usá-las no futuro), a gente sabia que, aquele período em que a gente se via de segunda a sexta-feira dentro da sala de aula, nunca mais iria acontecer.
Isso mexeu com a gente e fez os meninos terem uma ideia: fazer uma viagem nas nossas férias de Janeiro, para representar a comemoração do fim da nossa "carreira" de estudantes e do início da nossa "carreira" de universitários.
Lembro que a Carolina, a mais inteligente dos cinco, chegou a argumentar que, mesmo universitários, a gente continuaria a ser estudantes, mas os meninos só estavam em busca de uma desculpa para viajar nas férias, então eles retrucaram que não importavam os nomes, apenas que a gente passasse um tempo a mais juntos.
Claro que todo mundo gostou da ideia.
Claro que a gente começou a fazer os planos antes mesmo de falar com os nossos pais!
Claro que não foi fácil convencer os nossos pais, mas, com a ajuda de cada um, conseguimos convencer a todos!
E é claro que os meninos deram ideia de irmos para um lugar de praia e as meninas aceitaram sem pensar duas vezes. Afinal, a gente queria estar com o bronzeado em dia para começar a Universidade com a cor bonita!
Esse foi o erro. Pelo menos, para mim.
O principal objetivo deles era se divertir e fazer o máximo de coisas que coubessem no nosso bolso e tempo de viagem. Ok, esse também era o meu objetivo...
Depois que a gente definiu o lugar, eles vieram com a ideia de acampar. Sendo sincera, quando a gente começou a falar sobre a viagem, eu sempre imaginei a gente em um hotel, daqueles bem simples mesmo, porque a gente só ia entrar lá para dormir, tomar café da manhã e tomar banho... Só que a ideia de acampar não era TÃO ruim. Eu nunca tinha acampado, mas apenas porque nunca tinha aparecido uma oportunidade. Até aí, tudo bem também. Eu estava disposta a encarar essa aventura.
Outra novidade que apareceu foi a presença dos primos do Thales. Assim que eles souberam, eles pediram para viajar também e, quando o Thales falou com a gente, ninguém viu problema em ter três pessoas a mais. A gente nem conhecia os primos dele, mas, como o Thales garantiu que eles não causariam problemas, a gente acreditou na palavra dele.
O problema começou quando a gente chegou e eles viram o anúncio de um passeio de barco. Todo mundo se empolgou! Todo mundo... menos eu.
Eu não me considerava medrosa. Muito menos mimada ou cheia de frescuras.
Só que a gente estava falando de entrar em um barco e ir para o meio do mar (ou do oceano? Não sei dizer exatamente em que parte da água os barcos navegam!) e eu não sabia nadar!
Pode ser difícil de acreditar que uma pessoa que está prestes a entrar na Universidade não faça a mínima ideia de como nadar, como bater as pernas, como mexer os braços, como abrir os olhos embaixo d'água ou como não se afogar!
Peguei um pouco pesado?
Talvez...
Só que, na minha cabeça, só o que passava era: E se desse alguma coisa errada? E se o barco quebrasse e a gente ficasse preso no meio da água? E se o barco virasse? E se eu caísse do barco? E se surgisse uma tsunami?
Agora eu realmente exagerei...
Minha cabeça já não está mais raciocinando direito e bem na hora em que eu preciso que ela funcione com força total para eu poder pensar em uma saída.
Qualquer saída que salve a minha vida!
(No caso de alguma coisa dar errado, claro!)
- Oi!
Quase dou um pulo de susto.
- Desculpa! Não queria te assustar!
- Ah, não! Tudo bem. - Era um dos primos do Thales.
- Você tá com medo?
- Tá tão na cara assim?
- Tá... - Ele respondeu um pouco envergonhado.
- Hummm.
- Do que você tem medo?
- Olha, se eu te contar todas as teorias que já passaram pela minha cabeça desde que a gente saiu do acampamento e entrou nesse barco, você provavelmente vai se assustar e não vai querer estar dentro do mesmo barco que eu.
- Será que você consegue me surpreender tanto assim? - Percebo o tom de desafio na pergunta dele.
- Com certeza.
- Bem, a gente não se conhece, então preciso te dizer que filmes de terror são os meus preferidos... E eu assisto a todos tranquilamente.
- Eu também assisto a filmes de terror... - Pontuo.
- É mesmo?
- Sim.
- Então por que um passeio de barco te apavora tanto?
- Porque nos filmes o terror está dentro da televisão e, neste momento, o terror está acontecendo na minha vida! - Respondo sarcástica, olhando para ele pela primeira vez.
- Uau!
- Pois é... - Continuo com o sarcasmo.
- Bem, ainda está faltando você me surpreender com os perigos que podem acontecer...
- Isso aqui pode virar.
- A onda na praia pode te derrubar. - Ele argumenta
- Se eu tomar um caixote, o pior que vai acontecer é eu chegar no acampamento com areia em lugares bem inapropriados para se ter areia, já aqui eu vou afundar, afundar e afundar, mas a areia nunca vai chegar...
- Uma hora vai chegar... - Ele responde tranquilo.
- Provavelmente quando eu já estiver desmaiada, então, teoricamente, não vai chegar nunca.
- Ok... - Ele dá de ombros. - Ainda assim não me assustou.
- O motor pode quebrar e a gente ficar preso! - Dou outro argumento.
- Aí vamos ficar aqui dentro, esperando outro barco se aproximar para resgatar a gente.
- E se o barco virar enquanto a gente espera?
- Como o barco viraria? - Ele finge estar curioso.
- Um tubarão.
- Onde o tubarão se encaixa nessa teoria?
- Ué... Ele passa aqui embaixo e o barco vira! - Ele segura um riso e eu o encaro com um olhar nada amigável.
- Continuo não estando nem um pouco assustado.
- Ok! - Me viro irritada para poder encará-lo melhor. - E se tiver uma tsunami?!
- Aí tá todo mundo ferrado...
- Viu só? - Fiz minha cara de vencedora.
- Quando eu digo todo mundo, é todo mundo mesmo! A gente, o pessoal da praia, dos quiosques, das pousadas... Então não sei se estar no barco vai fazer muita diferença.
- Quer saber? Eu desisto! Não vou ficar aqui argumentando com você!
- Também acho uma perda de tempo.
- Primeiro cara que eu ouço assumir que argumentar com ele é perda de tempo! - Digo surpresa.
- Eu não disse isso.
- Disse sim!
- Não mesmo!
- Cara, eu ouvi muito bem! - Me aproximo dele e ele também se aproxima de mim. A gente fica com os nossos rostos bem próximos um ao outro.
- Eu acho que é perda de tempo você tentar arranjar uma situação para me assustar por estar dentro desse barco, quando o que mais quero é justamente estar aqui dentro.
- Você gosta tanto assim de barcos?
- Primeira vez.
- Hummm. Por isso que está tão empolgado assim?
- Não.
- Por que então?
- Porque desde que eu conheci os amigos do meu primo, eu me interessei por uma das amigas dele. Só que o grupo dele realmente é muito unido e não tem um único minuto que ela fique sozinha para eu poder conversar a sós com ela.
- Tem três amigas do Thales nesse grupo aqui... - Encaro os olhos castanhos do menino que nem chegava a piscar enquanto me encarava.
- Eu só tô vendo uma dentro do barco. - Automaticamente viro minha cabeça e percebo que nós dois estamos sozinhos. - Enquanto você estava perdida pensando nas suas hipóteses catastróficas, o barco parou para o pessoal mergulhar. - Ele sorriu.
- E aí você aproveitou que eu tava morrendo de medo para...
- Para mostrar para você que quando a gente está com medo o melhor a fazer é se distrair. - Ele me cortou.
- Conversando sobre as "hipóteses catastróficas"?
- Não.
- Como então? - Endireitei meu corpo, me afastando dele.
- Eu quero aproveitar passando o único tempo que eu consegui a sós com você durante esses dias. - Ele se aproximou novamente de mim. - E quero muito fazer uma coisa se você quiser e deixar...
- E o que é? - Pergunto em um sussurro.
- Posso te beijar?
Ahhhhhhhhhhhhhhh, esse é fofo demais!!
Eu não sei nem o que perguntar para vocês além de: se apaixonaram por ele?!
Quero ver muitas estrelinhas e comentários!
Até o próximo conto!
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